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Congresso de Viena
Com a Revolução Francesa há uma rotura quer na ordem internacional quer na ordem interna francesa. Com
a decapitação dos reis e a implementação do liberalismo, nomeadamente com a constituição francesa, a França
torna-se um centro dos ideais liberais para toda a Europa. Essa transmissão é feita através da conquista (de
territórios) e da influência do pensamento francês, que alcança as elites, que ficam seduzidas por este novo
pensamento político.
No entanto, com a derrota de Napoleão temos o fim da ordem liberal da qual Napoleão tinha sido o principal
mentor. Esta é uma dupla derrota, não só para os projetos políticos franceses e para a mudança do regime político
em França, mas também para o liberalismo, uma vez que o liberalismo está associado à França. Assim, após a
abdicação de Napoleão a 6 de abril de 1814 em Fountainebleau, os vencedores absolutistas vão pretender, em
termos políticos, não só recuperar os tronos e as fronteiras como ainda repor o absolutismo. Por isso, reúnem-se
não só para determinar as sanções à França como também para recuperar e repor o modelo absolutista na Europa.
Essas são as duas principais razões para a realização do Congresso de Viena, que decorre de setembro de 1814 a
junho de 1815.
O Congresso de Viena vai por isso definir uma nova ordem internacional. Essa nova ordem internacional em
termos normativos assenta no principio da legitimidade.
O principio da legitimidade significa legitimidade absolutista, ou seja, os Estados só serão aceites pela
comunidade internacional se forem absolutistas. Este princípio subentende outros três princípios:
o principio da restauração, ou seja, pretende-se que a partir de 1815 se restaure as monarquias absolutistas
que foram afastadas por Napoleão, quer isto dizer que se te como objetivo a restauração da ordem
internacional pré revolução francesa. Em suma pretende-se o retorno do antigo regime (Ancien Regime);
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o principio da solidariedade, ou seja, o Congresso estabelece uma solidariedade entre todos os Estados de
forma a promover uma aliança tendo por objetivo o consenso e cooperação comum contra qualquer
tentativa de restabelecimento do liberalismo em qualquer Estado;
o principio do equilíbrio europeu, ou seja os Estados presentes no Congresso de Viena aceitam limitar os
seus interesses hegemónicos, ou seja, aceitam que haja uma distribuição racional de forças mutuamente
reconhecidas (apesar de haver uma desigualdade de poderes entre Estados, nenhum Estado vai tentar
aumentar o seu poder ou desequilibrar a balançada de poder).
Santa Aliança (Rússia, Prússia e Áustria): estabelecida em 1815, esta aliança que tem também uma base
religiosa é liderada pela Rússia. Pretende reunir uma cooperação destes três grandes Estados que têm a
legitimidade de intervir militarmente em qualquer Estado que tente restabelecer o liberalismo. Como o
próprio nome indica esta aliança também atua em nome de Deus, procura uma legitimidade religiosa e não
apenas política.
Simultaneamente, em 1815, estabelece-se outra aliança, a Quádrupla Aliança, que como o próprio nome
indica é composta por quatro Estados, os três da Santa Aliança mais o Reino Unido. Esta quadrupla aliança
vai ser liderada pelo Reino Unido, uma vez que este não tinha aceite participar na Santa Aliança devido aos
fundamentos religiosos e à liderança da Rússia. Os objetivos desta aliança são contrariar quaisquer
tentativas agressivas da França, recorrendo se necessário à força e a libertação de grande parte do
continente europeu do domínio militar francês.
Em suma, o que existe na pratica é uma aliança apenas, uma aliança entre os Estados do Congresso de Viena
no sentido de cooperarem contra qualquer tentativa de restabelecimento liberal. Essa intervenção caberá à
responsabilidade das grandes potências, Rússia, Prússia, Áustria e Reino Unido. Contudo, se essa intervenção for do
interesse da Rússia, estaremos perante uma intervenção da Santa Aliança, e se essa intervenção for do interesse do
Reino Unido então estamos perante uma intervenção da Quádrupla Aliança.
Alem disso, o Congresso de Viena também estabeleceu outros princípios, nomeadamente o de negociações
permanentes entre eles. Em Viena estabeleceu-se que os Estados europeus doravante iriam continuamente reforçar
o sistema de Viena reunindo-se periodicamente para reavaliarem a balança de poderes, por exemplo. Há uma série
de congressos a seguir ao de Viena denominados por Sistema dos Congressos (ou o Sistema Meternich). O objetivo
destas conferências que se seguem ao Congresso de seria reavaliar a ordem europeia e legitimar novas
intervenções, quer da Santa Aliança quer da Quádrupla Aliança. Assim sendo, ao Congresso de Viena, aos princípios
saídos deste congresso, às duas alianças e às conferências pós Congresso de Viena em conjunto, dá-se o que
denominamos por Sistema Meternich ou Sistema de Viena. Chamamos sistema Meternich porque quem definiu todo
este plano foi o chanceler da Áustria, Meternich.
Sistema Metternich
Metternich, chanceler da Áustria, desempenhou papel decisivo na condução do sistema internacional com
extraordinária habilidade diplomática. Identificava a paz com os governos legítimos, esperava que as cabeças
coroadas das antigas dinastias, se não fossem capazes de preservar a paz, pelo menos guardassem a estrutura básica
das relações internacionais e foi assim que a legitimidade se tornou o cimento da ordem internacional, componente
este necessário para a manutenção do equilíbrio de poder.
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Esta decisão dá lugar a uma série de congressos, que durante mais de meio século quase constituíram o
"governo da Europa". Apesar de não ter uma estrutura institucional formal, o seu objectivo era claramente de gestão
– controlar, através de consultas mútuas, a balança de poder na Europa pós-Napoleónica, contrariando os
objetivos/interesses russos e britânicos. O que se tornou conhecido como "Sistema de Congressos" procurou forjar
consenso nos assuntos que a Europa enfrentava e abrir caminho para lidar com eles numa base multilateral e seu
objetivo seria o de reavaliar a ordem europeia e legitimar novas intervenções, quer da Santa Aliança quer da
Quádrupla Aliança.
A partir do de Verona em 1822 a solidariedade criada em 1815 vai começar a quebrar-se, não só pela
inevitabilidade das revoltas liberais e nacionalistas mas também pelas ambições individuais dos Estados, começando
pelo Reino Unido, e depois por parte da Rússia cujas pretensões expansionistas se confirmam, e pelos interesses
divergentes da Áustria, da Prússia e da França face a esta nova visão da Europa.
Em suma, ao Congresso de Viena, aos princípios saídos deste congresso, às duas alianças e às conferências
pós-Congresso em conjunto, dá-se o que denominamos por "Sistema Metternich" ou "Sistema de Viena". Claro está
que o nome atribuído vem de Klemens Wenzel von Metternich, o grande arquiteto deste sistema e do sistema
internacional pós-Congresso de Viena. O "seu" sistema consiste em fazer admitir a intervenção militar de uma das
potências, mandatada por todas as outras, contra todo e qualquer movimento liberal ou nacional na Europa de
modo a garantir a ordem no statos quo.
Vagas Revolucionárias
A partir do Congresso de Viena, apesar do reforço do liberalismo e do reforço da solidariedade absolutista
nos congressos, o absolutismo vai entrar em crise porque vão acontecer na Europa uma série de revoluções e
revoltas liberais. Essas revoltas vão restabelecer nalguns Estados o liberalismo, como aconteceu em Portugal em
1820 com a revolta liberal no Porto, que rapidamente se transformou numa revolução nacional que restabeleceu o
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liberalismo em Portugal, formalizado com a Constituição Portuguesa de 1822. Além das vagas revolucionárias, há
outra causa para a crise do Sistema de Viena, que são os interesses dos Estados que põem em causa o princípio da
solidariedade. Como exemplo destaca-se o interesse da Rússia em chegar aos mares quentes, ou seja, o interesse
expansionista russo, uma vez que é um Estado epirocrata e que vai tentar desequilibrar a balança de poderes,
tentando, por exemplo, acelerar a queda do Império Otomano, de forma a poder entrar na divisão da herança do
Império Otomano caso este entrasse em rutura, como ira acontecer na 1ª Guerra Mundial, dando origem à atual
Turquia. Este expansionismo russo será a causa para a guerra da Crimeia na década de 50 do séc. XIX.
Em 1820 uma revolta liberal em Portugal, chamada "revolução do porto" que se transformou numa
revolução nacional, a Revolução Liberal Portuguesa, que pretende afirmar os princípios liberais, que vai
conseguir impor em Portugal a Constituição de 1822, e a partir desse ano temos um sistema político liberal.
Esta revolução vai ter o apoio britânico, caso contrario seriamos alvo de um ataque de uma das alianças. Esta
revolução é também o exemplo de uma revolução que tem outras causas. Esta pretende o retorno do rei a
Portugal. Por isso, mais que liberal, é também uma revolução nacionalista que pretende a expulsão dos
ingleses, o retorno da Coroa a Portugal e do Brasil ao estatuto de colónia (uma vez que desde 1808, quando
a Coroa fugiu para lá, foi sendo concedida alguma autonomia ao Brasil, tendo este se transformado mesmo
num reino, Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarve). Os liberais pretendem um retrocesso na autonomia do
Brasil. Vão conseguir, só que simultaneamente dá-se em 1822 a independência do Brasil. Assim, nesta vaga
revolucionárias de 1820 temos que também acrescentar como exemplo a vaga liberal do Brasil que leva à
independência do Brasil em 1822 e é, por isso, um exemplo de revolução liberal e nacionalista no Brasil. Este
é um bom exemplo da vaga de 20, uma vez que para os liberais brasileiros os portugueses são autoritários e
por isso, os liberais brasileiros revoltam-se contra os liberais portugueses.
Em 1821 temos outra revolução que dá origem à independência da Grécia face ao Império Otomano (atual
Turquia). Esta revolução dos gregos vai contar com o apoio francês, do Reino Unido e sobretudo o russo. A
independência da Grécia é um exemplo do comportamento da mãe Rússia que apoia sempre os povos
ortodoxos, ou seja, é um exemplo do expansionismo russo, que vê esta revolução como uma forma de levar
à queda do Império Otomano. As restantes potencias passam a estar divididas entre o apoio à Rússia e o
apoio ao Império Otomano.
Ainda na década de 20 há uma tentativa de revolta liberal na Rússia contra o czar Nicolau I mas que vai ser
rapidamente cessada pela autoridade russa.
Outro exemplo desta vaga foi a independência da Bélgica face aos Países Baixos.
Outro exemplo ainda são algumas revoltas liberais que eclodem em vários estados alemães, em 1832, e são
revoltas liberais mas sobretudo revoltas nacionalistas, que pretendem o fim do domínio austríaco e da
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Prússia e pretendem a formação de um novo estado unificado. Vão ser duramente reprimidas pelas forças
militares austríacas.
Ainda na vaga de 30 acontece a Guerra Civil portuguesa entre liberais e absolutistas. Ou seja, entre 1832 e
1834 Portugal atravessa uma guerra civil entre as forças liberais lideradas por D. Pedro que era imperador do
Brasil e abdica e vem para Portugal, contra o seu irmão D. Miguel, absolutista, ambos filhos de D. João VI.
Esta guerra vai ser vencida pelas forcas de D. Pedro, o que confirma assim o liberalismo em Portugal
Chegamos então à década de 50. Temos ainda alguns vestígios do absolutismo juridicamente confirmado no
Congresso de Viena, mas simultaneamente uma vaga de liberalismo a atravessar a Europa. Temos ainda a saída do
xadrez de Metternich, o grande planeador do Sistema de Viena. Depois temos na hierarquia grandes peões que são a
Rússia, a Áustria, agora a França com Napoleão III, e depois o Reino Unido que, apesar de se ter marginalizado das
questões europeias, está atento aos movimentos políticos na Europa.
Além de todos estes fatores temos mais um muito importante, que é a fragilidade do Império Otomano. No
séc. XIX vamos ter uma variável que vai por em causa juntamente com a cobiça russa o equilíbrio de poderes e
mesmo a solidariedade entre os Estados. Este grande império está a atravessar uma crise económica, logo social e
política, porque o sultão vê-se confrontado com um período de reformas económicas muito duras para a população,
e consequentemente com a insatisfação popular, mas também com movimentos nacionalistas dentro do Império
Otomano que pretendem a autonomia face ao império e consequente independência. Esses movimentos teriam
como consequência a fragmentação do Império Otomano. Por isso, o sultão otomano ou combate esses conflitos ou
permite a independência e o seu império cai. Essas lutas internas vão aumentar a sua fragilidade.
Outro fator explicativo desta questão do oriente é a cobiça russa, como sabemos em termos geopolíticos a
Rússia é um estado epirocrata (continental com acesso limitado ao mar) e por isso tem como objetivo contínuo o
acesso aos mares quentes. Por isso é um Estado naturalmente conquistador e invasor. O acesso aos mares quentes
implica o controlo sobre a Turquia para ter controlo sobre os estreitos de Bósforo e Dardanelos. Sendo assim, a
Rússia precisa que o Império Otomano se desmembre para poder entrar na corrida aos despojos do império e por
isso tenta acelerar essa crise. Por outro lado, a Rússia é defensora dos povos ortodoxos e dos povos eslavos, uma vez
que os atuais Estados balcânicos estão submetidos ao Império Otomano. Os povos balcânicos ao pretenderem a
independência face ao império vão ter a ajuda da Rússia, que garante assim duas vitórias, a separação do Império
Otomano, logo o acesso aos mares quentes, e a confirmação do seu apoio aos povos eslavos.
Este intervencionismo russo põe em causa a Ordem de Viena, que apesar de tudo ainda se mantinha, e vai
ser posta em causa essa aliança e dar origem a um novo conflito europeu, a Guerra da Crimeia. Assim sendo, apesar
de formalmente o Sistema de Viena terminar mais tarde, consideramos que a Guerra da Crimeia em 1853 na prática
põe um fim na Ordem de Viena, uma vez que cai o último bastião da ordem que era a aliança entre as grandes
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potências. Nicolau I, o czar russo, morre em 1855 e após a sua morte sucede-lhe o czar Alexandre II a protagonizar a
Guerra da Crimeia.
Guerra da Crimeia
A Guerra da Crimeia é um ponto final na Ordem de Viena uma vez que põe em causa o alicerce do sistema, a
aliança da grandes potências, devido ao expansionismo russo que vai acelerar a queda do Império Otomano, já por si
muito frágil, pela instabilidade económica quer pelos separatismos independentistas e nacionalistas da região dos
Balcãs, e que conta ainda com a oposição russa que pretende a aceleração do desmembramento do Império
Otomano por isso vai apoiar esses nacionalismos independentistas da região dos Balcãs. Essas independências a
confirmarem-se levariam ao desmembramento do império e assim a um desequilíbrio na ordem internacional, caía
um grande império e os seus despojos iriam reforçar o poder russo, pondo em causa o status quo europeu, e como
vamos ver as grandes potências vão se aliar contra esta Rússia expansionista.
Apesar de serem todos absolutistas, este conflito criou uma aliança entre as varias potências da Ordem de
Viena contra uma das principais, a Rússia, patrocinadora e fundadora da Santa Aliança. Assim a Rússia tenta que
qualquer questão ou problema que surja nos Balcãs seja um pretexto para a sua intervenção, essa questão é
chamada de questão dos lugares santos, questão essa com que se inicia a Guerra da Crimeia.
Como sabemos, o Império Otomano, além da sua grande dimensão, é versado pela diversidade, agregando
dentro de si várias culturas mas também várias religiões, quer a muçulmana, quer a judaica, quer a cristã,
nomeadamente a ortodoxa e, também no seu território estão os lugares santos destas varias religiões, permitindo
uma diversidade religiosa que o sultão tem de respeitar. Pertenciam ao império muitos dos lugares santos da fé
cristã, a zona da Palestina e de Belém, onde nasceu Cristo nomeadamente, e onde estão as principais igrejas da fé
cristã. Quando falamos de cristãos falamos simultaneamente dos católicos romanos mas também dos católicos
ortodoxos. Assim sendo, em Belém, estes lugares santos são geridos tanto pela Igreja cristã católica como também
pela Igreja cristã ortodoxa, e como isso gera grandes rendimentos pelas esmolas que os fiéis deixam, há uma disputa
entre os cristãos católicos e os cristãos ortodoxos. Como o sultão não pode interferir ele atribui uma gestão
revezada dos lugares. Essa gestão é chamada de firmão, um documento que atribui a gestão dos lugares, ou seja,
atribui as chaves dos lugares santos. Por haver esta disputa, há uma grande pressão quer dos monges cristãos
católicos, apoiados por potências europeias, nomeadamente a França (Napoleão III), como também são disputadas
pelos monges cristãos ortodoxos, apoiados pela Rússia.
Assim, face a esta pressão internacional sob o sultão na atribuição da chave dos lugares santos, o sultão vai
sucessivamente mudando o seu firmão. Esta sucessiva emissão de firmãos coloca o Império Otomano entre a espada
e a parede, com a oposição ora dos europeus ocidentais ora da Rússia, e por isso a Rússia em 1853 envia um
ultimato exigindo a gestão total dos lugares santos para os ortodoxos. Este ultimato não vai ser aceite pelo sultão
otomano e por isso leva a um corte de relações entre a Rússia e o império Otomano. A questão dos lugares santos
mas sobretudo o ultimato russo e consequente corte de relações diplomáticas e invasão da Rússia no Império
Otomano leva ao início da Guerra da Crimeia, em 1853.
Essa intervenção russa que começa a Guerra da Crimeia faz-se através da invasão da Rússia sob os
principados de Moldávia e Valáquia do Império Otomano, e assim esta invasão significa o inicio da guerra com a
resposta do Império Otomano para repelir esta intervenção. Por isso, temos como data 23 de outubro de 1853 o
início da Guerra da Crimeia, o inicio das hostilidades. O Reino Unido, vendo o perigo que representava este conflito,
porque se a Rússia conseguisse vencer a guerra da Crimeia levaria a um desmembramento do Império e chegaria aos
estreitos, o que poderia por em causa o equilíbrio da balança de poderes e a liberdade de navegação que a Grã
Bretanha precisa uma vez que é a uma potência naval.
As restantes potências europeias, por força das alianças do Congresso de Viena estariam obrigadas a apoiar
a Rússia, aliás é essa a expectativa da Rússia quando invade o Império Otomano. Contudo, vai se passar exatamente
o contrário. As potências europeias vão apoiar o Império Otomano. A Grã Bretanha antevendo que uma vitória russa
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levaria ao desmembramento do império, logo a um desequilíbrio da balança de poderes e em segundo lugar a um
domínio russo sobre os estreitos e assim bloqueando a navegabilidade pela marinha inglesa. Desta forma, a
Inglaterra apressa-se a apoiar o Império Otomano, enviando a sua marinha de guerra para o estreito de Dardanelos.
A justificação inglesa paradoxalmente está em que a Rússia estava a violar os princípios de Viena. Esta violação
arrasta as outras potências europeias que direta ou indiretamente apoiavam o Império Otomano.
A Guerra da Crimeia na realidade traduz-se num conjunto de batalhas. As mais importantes pelo seu impacto
foram a de Sinop, em novembro de 1853, que se traduziu numa derrota das forças do Império Otomano, mas é uma
vitória política e diplomática, uma vez que consegue o apoio do Reino Unido e da França. Face a essa derrota o Reino
Unido vai se aliar ao Império Otomano (este apoio vai ser fundamental), e vai contar ainda com o apoio da França,
liderada por Napoleão III, que pretende por um lado protagonismo pessoal, por outro restabelecer o protagonismo
francês. França e Reino Unido enviam uma força naval conjunta para o Mar Negro e apoio ao Império Otomano
contra a Rússia. Esta força franco-britânica conta ainda com o apoio do reino de Piemonte-Sardenha liderado por
Vítor Emanuel II e o seu primeiro ministro Cavour. O rei de Piemonte e Sardenha será a génese da futura Itália unida.
Vítor Emanuel pretende um futuro apoio europeu para o seu projeto de unificação italiana. Finalmente a Áustria e
Hungria, apesar de inicialmente neutras vão se aproximar do lado do Império Otomano e dos seus aliados europeus
contra a Rússia.
Verdadeiramente começa agora a Guerra da Crimeia, na zona da Crimeia. Das várias batalhas destaca-se a de
Sebastopol (1854-1855), que se traduziu numa derrota russa. Esta derrota russa leva ao fim da Guerra da Crimeia
que é cancelada pelo Tratado de Paris a 30 de março de 1856. Este Tratado de Paris é muito importante porque põe
fim à Guerra da Crimeia mas também tutela as alterações na ordem internacional. Em 1º lugar marca a derrota da
Rússia que é obrigada a devolver os territórios anexados e a renunciar a qualquer pretensão sobre os Balcãs. Em 2º
lugar a Rússia é proibida de ter forças navais no Mar Negro. O Império Otomano mantém assim a sua integridade e
passa a integrar o Concerto Europeu, ou seja, a partir de 1856 o Império Otomano além da posição asiática passa a
ter também uma posição europeia.
Este conflito vai ser uma vitória para a Inglaterra, para a França e para o Reino de Piemonte e Sardenha. A
Rússia vai ainda tentar um novo conflito com o Império Otomano em 1877 mas perde. O Império Otomano vai se
manter ate à 1ª Guerra Mundial dando depois lugar à atual Turquia.
Outras consequências:
Com o conflito os povos balcânicos reforçam o seu nacionalismo contra o Império Otomano que vão dar
origem no futuro às guerras nos Balcãs e à sua independência.
Outra consequência é a desordem internacional uma vez que a Guerra da Crimeia representa o colapso do
Sistema de Viena.
Unificação italiana
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No século XIX não existia uma Itália mas sim vários reinos e ducados italianos, alguns sob domínio austríaco,
outros com alguma autonomia como é o caso do reino de Piemomte e Sardenha, liderados por Vítor Emanuel e pelo
Primeiro Ministro Cavour. Vítor Emanuel tem um projeto nacionalista de unificação da Itália sob a sua liderança,
porém não é o único que tem esta pretensão. Este nacionalismo italiano está presente na maior parte dos reinos e
ducados. Neste "risorgimento" temos três protagonistas/projetos/mentores:
Gioberti (neogelfos): este movimento pretendia esta unificação italiana mas sob a forma de uma monarquia
constitucional que estaria sob liderança do papado.
Marzzini (movimento republicano): pretende esta unidade da Itália mas procurando que no futuro fosse
uma república, este movimento mais revolucionário que vai levar a criação da Jovem Itália, vai contar com o
apoio de Garivaldi.
Monarquistas: sob liderança de Vítor Emanuel que pretende esta unificação italiana mas focada no reino de
Piemonte e Sardenha e por isso dirigida pelo próprio.
A unificação italiana vai ter sucesso em 1861 uma vez que o movimento as forças do projeto republicano
submetem-se/ integram as forças monárquicas de Vítor Emanuel. Assim sendo, Vítor Emanuel e o seu Primeiro
Ministro começam uma campanha internacional a favor da questão italiana.
Nesse sentido, vão se aproximar da França porque sabem que precisam do apoio francês contra a Áustria.
Vítor Emanuel sabe que tem de ter apoios internacionais porque a Áustria não vai deixar acontecer o projeto de
unificação. Assim, apressa-se a entrar na Guerra da Crimeia não só demonstrando qualidades de líder como também
o apoio dos aliados europeus, França e mesmo Reino Unido. Ao mesmo tempo vai modernizar o reino de Piemonte-
Sardenha, vai garantir o desenvolvimento do reino e inicia, além da Guerra da Crimeia, vários conflitos, desde logo a
segunda guerra da independência (a unificação italiana é feita por fases nas chamadas guerras da independência).
A primeira ainda foi feita pelo seu pai, Carlos Alberto contra a Áustria e que resultou numa derrota e por isso
Vítor Emanuel sobe ao poder após a abdicação do seu pai. Esta derrota foi chancelada pelo armistício de Vignale.
Esta derrota foi importante porque permitiu que subisse ao poder Vítor Emanuel e a consagração do liberalismo em
Piemonte.
Depois temos a 2ª guerra da independência a 26 de abril de 1859. Esta foi a mais importante contra a
Áustria, em que contou com o apoio de Napoleão III, que estabeleceram uma aliança militar no chamado encontro
de Pomiere. Desta vitória das forças italianas e francesas, a Áustria cede Lombardia e Modena pelo tratado de
Zurique de novembro de 1859. Com a derrota austríaca na 2ª guerra pela independência ganham ânimo os
movimentos dos outros reinos, nomeadamente Parma e Tuscana que se revoltam contra a Áustria, unindo-se ao
reino de Piemonte e Sardenha. Simultaneamente temos uma expedição revolucionário liderada por Caribaldi, que
consegue conquistar o reino das Cecílias, entregando-as a Vítor Emanuel.
As unificações vão ser mais uma quebra/ rutura na Ordem Internacional. São um exemplo da vitória do
nacionalismo, este nacionalismo que põe em causa o statos quo de Viena e do séc. XIX. Antes da unificação não
existia uma Itália mas sim vários reinos e ducados. Desde o fim do Império Romano que a Itália está dividida. Há uma
vontade de unidade acompanhada de uma vontade de se tornarem autónomos da dependência da Áustria., uma vez
que após o Congresso de Viena os Estados italianos ficaram dependentes da Áustria e por isso na unificação italiana
temos que entender as suas causas e fatores porque é um fenómeno novo, contra natura.
Em 1º lugar o nacionalismo, fazer corresponder a nação ao Estado. No caso italiano este nacionalismo
tornou-se num movimento político, cultural, social conhecido como rissorgimento;
Em 2º lugar o liberalismo;
Em 3º lugar, o fator económico. Nos vários reinos italianos assiste-se durante o séc. XIX a um grande
desenvolvimento económico, nomeadamente industrial. Esse desenvolvimento económico faz ver às elites
que a unidade seria indispensável para consolidar esse mesmo desenvolvimento, ou seja seria necessário
haver um só mercado italiano;
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Em 4º lugar, a desordem internacional resultante da Guerra da Crimeia. Na Guerra da Crimeia tinha se
desfeito as alianças de Viena. Os nacionalistas italianos perceberam a oportunidade para iniciar o seu
movimento nacionalista, tendo em conta a fragilidade da aliança das potências conservadoras;
Em 5º lugar, os protagonistas políticos. Metternich tinha se demitido durante a vaga revolucionária de 40.
Por outro lado, o rei de Piemonte-Sardenha, Carlos Alberto, queria ser rei de uma grande Itália e vai ser
ajudado pelo seu Primeiro Ministro Cavour. Nesse reino temos que destacar o papel dos reis Carlos Alberto
que abdica na 1ª guerra com a Áustria, em favor do filho Vítor Emanuel II, que sobe ao poder em 1849 após
a derrota na 1º guerra de unificação contra a Áustria. Devemos destacar ainda vários nacionalistas italianos
que vão ajudar o projeto de Vítor Emanuel II, nomeadamente Mazzini. Além disso, ainda, Garibaldi, outro
rebelde nacionalista;
Em último lugar, as guerras da unificação. A unificação italiana resulta não só deste movimento político e do
desenvolvimento económico mas também da vitória das forças nacionalistas italianas nos vários conflitos,
quer participem diretamente ou não.
2ª guerra em 1859 contra a Áustria agora com a vitoria do reino de Piemonte e Sardenha, que teve o apoio
francês e que como prémio o reino consegue a Bombardia e Modena. Simultaneamente Garibaldi chefiando
uma exposição conhecida como os camisas vermelhas conquista o reino das cecilias e entrega a Vítor
Emanuel II, assim em 1861, Vítor Emanuel II autoproclama-se rei de Itália, contudo, a Itália ainda não tem a
configuração que hoje tem;
3ª guerra em 1866 numa guerra entre a Prússia (vencedor) e a Áustria, a Itália consegue obter Veneza;
4ª guerra em 1870, entre a França e a Prússia, Itália consegue Roma, que passa a integrar o Estado italiano a
partir de 1871, contudo esta anexação de Roma não é pacífica, uma vez que em Roma está a sede da Santa
Sé. Esta aceitação do Papa só vai acontecer em 1929 pelos Acordos de Latrão, com a criação do Estado do
Vaticano. Finalmente, no final da 1ª Guerra Mundial, com o desmembramento do Império Austro-húngaro
juntam-se ao reino italiano as regiões de Trentino, Quiromeriodional, o Trieste e a Istria.
Na 4ª guerra, entre a França e a Prússia (vencedor) que permitiu retirar à França a região de Alsácia Lorena.
Esta região muito rica é até aos dias de hoje uma questão de disputa entre a França e a Alemanha, na altura Prússia.
É uma questão que vai estar na base das guerras mundiais. Em 1648 Alsácia Lorena é atribuída à França, na 4ª guerra
em 1870 a Prússia consegue conquistá-la, no final da 1ª Guerra Mundial com a derrota da Alemanha, a Alsácia
Lorena volta para a França, durante a 2ª Guerra Mundial, a Alemanha volta a conquistar a Alsácia Lorena, no final da
2ª Guerra Mundial, com a derrota alemã a Alsácia Lorena volta para a França.
Em 1861 temos mais um Estado unificado em Itália soba a liderança de Vítor Emanuel II. Além da unidade
italiana devemos entender como consequência a vontade de Vítor Emanuel II de protagonismo nas questões
europeias como fora de afirmação enquanto monarca neste novo Estado, como acontecera com Napoleão III após a
Revolução Francesa de 1848. Dai que neste ultimo quartel do séc. XIX vamos ter vários conflitos onde se vai
envolver Vítor Emanuel II.
Unificação alemã
O outro fenómeno muito importante foi a unificação alemã em 1871, 10 anos depois da unificação italiana. A
unificação alemã é mais um argumento que justifica na ordem internacional do século XIX a força do nacionalismo. A
unificação Alemã resulta dos mesmos fatores explicativos da Unificação Italiana:
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O nacionalismo, à semelhança da unificação italiana tem por um lado como principal fator explicativo o
nacionalismo – vontade de um povo fazer corresponder a nação a um Estado – por outro lado no século XIX
este nacionalismo é também sinónimo de independência face às potências estrangeiras nomeadamente a
Áustria.
O liberalismo, associado ao nacionalismo temos o liberalismo. A essa liberdade proposta pela Revolução
Francesa enquanto princípio que justifica e legitima as pretensões nacionalistas, opondo-se por isso aos
princípios de Viena, nomeadamente ao da restauração ou da legitimidade.
O exemplo antecedente da Itália porque se os Estados Italianos conseguiram formar uma Itália unida, os
Estados alemães sentem que também vão conseguir replicar o exemplo italiano.
O fator económico, o grande desenvolvimento económico dos Estados alemães catalisa/acelera a unificação
porque entendem que a unidade entre todos os Estados alemães, na altura 39, vai consolidar esse
desenvolvimento. Por outro lado, o desenvolvimento económico permite que o Estado alemão em projeto
tenha condições económicas de autonomia.
A precariedade da Ordem Internacional, tínhamos saído da Guerra da Crimeia com uma profunda divisão na
Europa, as alianças estavam quebradas, o equilíbrio estava cada vez mais posto em causa.
Os interesses de vários líderes europeus, não só da Itália como também da própria Prússia, nomeadamente
do rei da Prússia Guilherme I. Estes 39 Estados estão desde 1815 (Congresso), associados na confederação
germânica, esta confederação é dominada simultaneamente pela Prússia e pela Áustria.
A atual Alemanha no séc. XIX está, à semelhança da Itália, pulverizada por vários Estados, no total de 39
estados germânicos, que após o Congresso de Viena formam a Confederação Germânica. Apesar desta unidade, o
Congresso atribui o domínio simultaneamente à Áustria e à Prússia. Este nacionalismo germânico é, por um lado,
uma resistência ao domínio austríaco, e simultaneamente uma vontade de unidade. Desde 1815, mas sobretudo a
partir das vagas revolucionárias, os defensores da unidade germânica estão divididos em duas fações. Aliás, existem
dois projetos nacionalistas germânicos:
A principal diferença, além da dimensão, é a liderança. Enquanto que o projeto da grande Alemanha seria
liderado pela Áustria, o projeto da pequena Alemanha seria liderado pela Prússia – este é o que vai acontecer. Este
projeto, da pequena Alemanha, designa-se assim por oposição ao da grande Alemanha que incluía a Áustria, porém,
não devemos confundir esta pequena Alemanha que vai ser um grande Estado, uma das potências mas importantes
da Europa.
O 1º passo desta unificação vai ser a criação de uma união aduaneira. Em 1834 esta Confederação
Germânica ganha um novo patamar em termos de unidade ao ser criada uma união aduaneira chamada Zollverein, e
esta agrupa os 39 Estados incluindo a Prússia ficando à margem desta união aduaneira a Áustria, o que revela a
vitória de um de dois projetos de unidade política.
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Este projeto de unidade Alemã, à semelhança do que aconteceu na Unificação Italiana, surge no seguimento
também de vários conflitos que acompanham o nascimento desta Alemanha unificada:
1. Anteriormente às guerras de unificação, temos a primeira tentativa de Unificação Alemã, liderada pela
Prússia, vai-se dar em 1848, mas fracassou por causa da interferência da Áustria. Esta primeira tentativa
Liberal e liderada pelo rei da Prússia Frederico Guilherme IV que se mantém no poder até 1861 sendo
substituído em 1862 pelo futuro rei Alemão Guilherme I. Após esta derrota sobe ao poder o futuro rei
Alemão Guilherme I na Prússia assim como o seu Primeiro Ministro Otto Von Bismark. Estes dois vão ser os
grandes protagonistas da Unificação Alemã e simultaneamente do desenvolvimento económico e militar da
Alemanha. Guilherme I vai preparar todo o seu projeto nacionalista da unificação não só fundamentando o
desenvolvimento económico como também fazendo um grande esforço diplomático com os vários Estados
Europeus de forma a obter apoios externos para a unificação Alemã e vai fazer ainda um investimento nas
forças militares da Prússia o que lhe permite entrar em conflito com vários Estados e assim, à semelhança da
Itália, conseguir a unificação.
2. Temos uma 1ª guerra em 1864, que é a guerra dos Ducados, que opõe a Prússia à Dinamarca. Na verdade a
questão dos Ducados foi apenas um pretexto para a Prússia poder entrar em conflito. Nesta guerra, em que
a Prússia apoiou a Áustria, consegue alargar o seu território nomeadamente na região de Schleswig e ainda
Lauenburg enquanto a Áustria obtinha Holstein.
3. Após esta vitória da Prússia e da Áustria sobre a Dinamarca, começa o conflito entre estas (Prússia e Áustria)
justamente sobre os ducados, levando em 1866 à 2ª guerra de Unificação Alemã que a Prússia vence a
Áustria, e que conseguiu uma divisão da Confederação Germânica, conseguindo a Prússia já a liderança da
região norte enquanto a região sul ainda ficava sobre o domínio da Áustria apesar de se considerarem
independentes. Está desfeita a aliança Prússia com a Áustria, fica desfeita a Confederação Germânica, uma
vez que com a vitória da Prússia sobre a Áustria, uma parte dos 39 Estados aliam-se à Prússia contra a
Áustria, a chamada Confederação Germânica do norte. É também na sequência desta guerra que se dá
formalmente a união Austro-Húngara, e por isso desde 1867, começamos a falar não de Áustria mas de
império Austro-Húngaro.
4. A 3ª guerra em 1870 é uma guerra entre a França e a Prússia, em que é uma vitória da Prússia sobre a
França. Nesta batalha de 1870, novamente há um incidente que leva a Prússia a entrar em guerra com a
Françaa propósito da sucessão ao trono espanhol. A sucessão ao trono espanhol leva a uma disputa pelo
trono após a deposição da rainha Isabel II de Espanha. Um dos pretendestes ao trono tem ligações familiares
à Prússia e por isso esta defende-o contra o pretendente apoiado pela França. Deste conflito destaca-se a
batalha decisiva para a derrota francesa que foi a batalha de Sedan.O fracasso francês após esta batalha,
leva à deposição do imperador francês Napoleão III e a sua saída do xadrez europeu. Assim a partir de 1870
inicia-se a III República Francesa. Esta derrota da França é simbólica não só porque perde Alsácia-Lorena,
mas também porque a coroação de Guilherme I, é feito no palácio de Versalhes que é o símbolo da
monarquia francesa desde o período das luzes.
O desenvolvimento económico,
A unidade da Alemanha,
A aposta no poder militar como manifestação de poder;
A diplomacia, procurando criar alianças na Europa, para garantir o não isolamento Alemão;
O expansionismo Alemão, já com Guilherme II, sucessor de Guilherme I.
O Imperialismo Europeu
Esta poderosa Alemanha entende que a afirmação do seu poder tem que ser feito transformando a
Alemanha num império, para isso tem de se expandir tendo deste modo duas soluções: ou se expande dentro ou
fora da Europa – é fora que escolhe.
Assim, após a unificação, temos a continuação do desenvolvimento económico e militar da Alemanha e
também o aumento do seu poder político, de tal forma que a Alemanha agora já unida pretenda expandir o seu
poder para além da Europa levando a uma tentativa de expansionismo, nomeadamente no continente africano, ou
seja, tentando obter colónias. Por isso, a partir das décadas de 70, 80 e 90 vamos ver a Alemanha a apostar em
colónias, nomeadamente no continente Africano, colonizando as colónias da França, do Reino Unido, da Itália e
Portugal.
Esta corrida alemã às colónias de África vai estar na base da Conferência de Berlim de 1885, da partilha do
continente Africano, e a delimitação definitiva dos impérios europeus em África. É desta conferência que surge a
divisão tal como a conhecemos hoje praticamente das fronteiras do continente africano. Esta cobiça Alemã nas
colónias é que culmina com a conferência de Berlim em 1885, com a partilha do continente Africano “a régua e
esquadro” (até às guerras mundiais). É a partir desta altura que começamos a falar do Imperialismo Europeu.
Esta corrida às colónias da África já existia entre as potências europeias, mas agora com este impulso por
parte da Alemanha dá origem a um fenómeno que nós chamamos de Imperialismo. Sendo assim quando falamos da
Ordem Internacional do século XIX, vemos uma evolução na Ordem Normativa – antes vimos absolutismo,
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liberalismo, nacionalismo, republicanismo e vemos agora o imperialismo a partir da cobiça Alemã em pretender ter
colónias. Por isso este esforço de Bismark diplomático é que resulta na Conferência de Berlim.
Apesar de ser um pequeno império, o legado alemão é muito pequeno, mas é o suficiente para a Alemanha
se afirmar como um império.
Esta questão da corrida à África é justificada por:
Uma questão de prestígio. A Alemanha tem que se afirmar como um estado forte e poderoso, como
garantia até da sua independência, para não correr o risco de ser atacada pelas outras potências. Ao afirmar-
se como grande potência quer-se afirmar como império, tendo colónias.
Uma questão económica, associado ao imperialismo que é a necessidade de matérias-primas mais baratas.
E por isso o outro fenómeno do séc. XIX é este imperialismo que significa por um lado a expansão dos
Estados europeus, em termos geográficos, aumentando as fronteiras dos estados para fora do continente
europeu, formando impérios.
Este imperialismo é também sinónimo de colonização/colonialismo. Do Imperialismo surgem dois
conceitos diferentes para a mesma realidade:
Temos o conceito de colonização como sinónimo de desenvolvimento; é um conceito com uma
conotação positiva. Os Europeus foram para África colonizá-la mas numa perspetiva positiva e foram
porque sendo mais desenvolvidos tecnologicamente, politicamente e juridicamente teriam uma
missão que era a de desenvolver este continente, e por isso é o chamado “fardo do homem branco”,
o Europeu por ser mais desenvolvido tem a obrigação de espalhar esse desenvolvimento aos povos
não desenvolvidos ligados à fé.
Colonialismo é utilizado como sinónimo de exploração. Segundo esta perspetiva, os Europeus
foram para a África e para a Ásia para explorarem os recursos destes povos, para os saquearem e
portanto é uma visão negativa deste imperialismo.
Este imperialismo significa também uma transposição para fora da Europa e da diplomacia europeia,
portanto até aqui os grandes fóruns da diplomacia europeia eram sempre restritas às questões dentro das
fronteiras da Europa, mas a partir de 1870 esta diplomacia passa a ser mundial, passa a inserir a questão das
colónias e os diferentes conflitos ultrapassam as fronteiras.
Esta corrida pelas colónias por parte das potências europeias vai ser mais um fator para a 1ª Guerra Mundial.
Formam-se aqui alguns impérios e portanto há datas importantes:
Em 1881 a França conquista a Tunísia;
Em 1882 o Reino Unido conquista o Egito;
Em 84/85, o Reino Unido conquista a zona Norte do Litoral da Birmânia;
No mesmo ano, em 85, a França e a Bélgica concorrem por colónias na África equatorial;
Em 84/85 há a conferência colonial de Berlim em que há uma definição definitiva das fronteiras dos
impérios Europeus em África, seja o Império Francês, Italiano, Belga, Alemão e também o Português. É nesta
conferência que surge o diferendo entre Portugal e o Reino Unido que é a chamada questão do mapa cor-
de-rosa. Portugal que foi pioneiro da colonização, com os descobrimentos e por isso alega, legitima a sua
colonização nos chamados direitos históricos (chegou 1º por isso tem direito) sobrepõe-se a este princípio
dos direitos históricos o princípio que vence no congresso de Berlim que é o da ocupação efetiva. Quem tem
legitimidade de ocupar a colónia é quem a ocupa de facto; tem que a administrar e formar um governo,
desenvolver o território com infraestruturas como escolas para o ensino ou igrejas, povoá-lo e defendê-lo e
não ter apenas uma feitoria como fazia Portugal.
Desta conferência de Berlim saem por isso as fronteiras das colónias. Temos assim por isso, neste período
este imperialismo a fazer uma divisão dos territórios por acordo, por negociação, por isso fazemos um paralelo entre
o congresso de Viena e o congresso de Berlim, novamente a negociação como princípio legitimador, mas também
do status quo. Bismark à semelhança de Metternich tenta criar uma ordem internacional assente na diplomacia.
Parece um regresso à paz de Viena de 1815.
Este imperialismo é mais um aspeto da Ordem Internacional, é muito importante na diplomacia europeia e
em particular na Alemanha, que vai ser anfitriã do congresso de Berlim. Esta divisão marca não só o século XIX, mas
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tem consequências também na atualidade porque vai moldar a África, temos uma África Inglesa, Portuguesa,
Francófona e também a Germânica (apesar de não significativa). Marca pela positiva e negativa o continente
africano.
A Realpolitik e a Welpolitik
Temos que perceber que há dois momentos na política externa Alemã:
1. Um primeiro momento que corresponde à liderança de Bismark, que vai da unificação alemã em 1871, até
1890. É a Realpolitik (a política realista). Este período é liderado pelas ideias de Bismark em que ele aposta
na diplomacia sempre acima da guerra, uma diplomacia inteligente, que se preocupa não apenas em ser
reativa mas também proativa. Ele provoca os acontecimentos, e antecipa os conflitos para tirar proveito
para a Alemanha. É um jogo político feito por Bismarck, é o chamado Sistema de Alianças de Bismarck dado
que ele vai sobretudo apoiar-se na diplomacia e nas alianças que é uma afirmação do poder através da
diplomacia, do jogo das alianças que conseguia por um lado isolar a França e por isso faz tratados com vários
Estados impedindo que estes se aliassem à mesma e por isso tenta-a isolar porque assim esta não seria um
perigo. Estas alianças permitem também colocar os Estados à beira da Alemanha mas uns contra os outros.
2. A partir de 1890, com a queda de Bismarck, há uma mudança da política externa, em que já com Guilherme
II aposta numa política de força, em que a afirmação do poder alemão é feita numa projeção de força, uma
ameaça de conflito, a Weltpolitik. Temos a afirmação do poder alemão através de todos os meios, inclusive
o militar. Enquanto que Bismarck prefere o domínio através de um jogo de alianças e de tentar isolar a
França e criar conflitos entre as potências sem criar conflitos dirigidos à Alemanha, agora a Alemanha reforça
o poder alemão com uma nova estratégia de afirmação – esta estará na base da 1ª Guerra Mundial
Realpolitik
- Em termos internos:
Bismark promove o desenvolvimento económico da Alemanha, dando continuidade ao desenvolvimento
económico que cada um dos reinos e estados alemães/germânicos tinham antes da unificação. Este
desenvolvimento económico é uma aposta de Bismark com objetivos não só económicos, mas também políticos.
Entende Bismark que a Alemanha só podia ser uma grande potência política se tivesse força económica. Por outro
lado, este desenvolvimento económico permite a Alemanha financiar uma política armamentista, torna se a
Alemanha um estado fortemente militarizado.
- Em termos externos:
Bismark é também responsável pela definição da política externa alemã dirigindo-a doravante.
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eventualmente da Áustria que havia sido prejudicada com a unificação alemã. Podemos dizer Bismark
privilegia uma política continental apesar de ter uma esporádica política colonial tentando expandir o
império para o continente africano nomeadamente promovendo a conferência de Berlim de 1885. A questão
do imperialismo é motivada pela Alemanha, por Bismark. Apenas queriam afirmar ter poder, e por isso é um
pequeno império colonial.
Tem como objetivo tentar isolar a França, tem a perceção que a França é inimiga uma vez que tem a certeza
de que esta, sempre que tiver oportunidade, vai tentar recuperar Alsácia-Lorena. Em 1870, a Alemanha
recupera a Alsácia e Lorena, mas após a 1ª guerra mundial é devolvida à França. Durante a 2ª guerra mundial
a Alemanha conquista, mas no final desta guerra, a região regressa à França. Pretende então evitar que a
França criasse uma coligação com outro Estado e virasse contra a Alemanha. Por isso vai continuamente
fazer alianças com varias potências antes da França. Antecipa-se à França, sempre que esta procura um
aliado.
Por outro lado tenta diplomaticamente criar conflito entre as potências europeias, porque se elas
estiverem em conflito, não se vão aliar à França ou entre elas contra a Alemanha. É uma perspetiva genial
mas ao mesmo tempo perigosa. Ele tem a perceção que se pode aliar às duas partes em conflito. Ele
provoca o conflito e depois entre as duas que estão em conflito ele faz um tratado com ambas. Pretende
portanto apaziguar os Estados vizinhos, procurando assim, através da manutenção do status quo na Europa,
evitar coligações contra a Alemanha e ao mesmo tempo conseguir o isolamento francês. Para isso
desenvolve uma série de alianças inconciliáveis entre si para tentar isolar a França, ou seja, retirar-lhe todos
os potenciais aliados. Torna-se também aqui relevante a aventura colonial alemã durante o período de
Bismark que é também entendida como uma tentativa de deslocar para fora do continente europeu as
rivalidades dos Estados europeus, e por isso, vai nalguns casos aproveitar-se das rivalidades históricas entre
a França, Itália e a Rússia, fora da Europa, para bilateralmente fazer alianças com todos e contra todos. Para
isso, esta projeção para fora do continente europeu, para as colónias Africanas é vista também como uma
tentativa de aumentar os diferendos entre estas potências, aliás, esta política de fomento da disputa entre
as potências europeias fora do continente europeu é a única característica da politica externa de Bismark
que perdura e até é reforçada a partir de 1890 após a sua demissão.
Quando estudamos a política externa alemã, a de Bismark e após Bismark temos que ver que há sempre um
grande objetivo que é: afirmar a Alemanha como uma grande potência na Europa não só por uma questão de
prestígio mas também por uma questão de segurança uma vez que a Alemanha tinha sido unificada contra o
domínio da Áustria, e tinha sido unificada numa das guerras contra a França, é nessa guerra que por exemplo a
Prússia consegue resgatar a região de Alsácia- Lorena, daí que a principal preocupação da Alemanha seja evitar uma
contra ofensiva austríaca mas sobretudo uma contra ofensiva francesa.
Assim é uma política externa que assenta no instrumento diplomático apesar de internamente se assistir a um
esforço do desenvolvimento militar da Alemanha, com grandes investimentos em termos de armamento.
Algumas datas importantes:
Em 1873: a Liga dos Três Imperadores com a Áustria-Hungria, Rússia e Alemanha;
Em 1879: a Dúplice Aliança, aliança dual ou dupla entre a Alemanha e a Áustria;
Em 1882: a Tríplice Aliança com a Alemanha, Áustria e Itália em 1882;
Em 1887: a Entente do Mediterrâneo entre o Reino unido, Itália, Espanha, Áustria-Hungria
Em 1887: o Tratado de Resseguro entre a Alemanha e a Rússia
Em 1894: Já na segunda fase da Política Externa, sem Bismark a aliança da França com a Rússia;
Em 1904: a Entente Cordiale a que se junta a Rússia e que vai dar origem à Tríplice Entente (Reino Unido +
França + Rússia).
Os Sistemas de Bismark
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No plano diplomático a consolidação do império alemão passava por uma política de isolamento da França
impedindo uma vingança Francesa e estimulando a Alemanha a desenvolver uma política de grandeza também fora
da Europa em direção ao mundo colonial como forma de aumentar o nacionalismo Alemão.
Esta política externa foi implementada através de uma hábil política de alianças que perdurou até 1890 com a queda
de Bismark. Iniciava-se assim a partir de 1871 um período de preponderância alemã na Europa conduzindo a um
desequilíbrio da política de poderes estabelecida em Viena por Metternich. É sobretudo esta preponderância alemã
que vai acelerar o desequilíbrio europeu responsável pela eclosão da 1º Guerra Mundial.
Consequentemente a estratégia de Bismark seria assim isolar a França criando ligações com todas as grandes
potências europeias que pudessem ser no futuro aliados da França e assim inimigos da Alemanha. Procurava assim
evitar uma guerra em duas frentes: ocidental e oriental. Assim começa a desenvolver um conjunto de alianças. Nós
chamamos Sistemas de Bismarke dividimos em três sistemas porque todas estas alianças que se sucedem formam 3
grandes etapas uma vez que cegamente Bismark tenta fazer alianças com todos e muitas vezes estas alianças
pressupõe uma aliança contra um antigo aliado ou uma aliança anterior.
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No fundo renasce a Liga dos Três Imperadores agora em 1881 que nós chamamos através de um acordo de
neutralidade com um prazo de três anos e que fica à margem da questão balcânica que é sempre uma questão de
litigio entre a Áustria e a Rússia.
Em relação à Dúplice Aliança (Alemanha + Áustria), aproxima-se a Itália em 1882 formando a Tríplice Aliança. Esta
aproximação da Itália, resulta da ameaça de uma possível invasão Francesa em Saboia, Nice ou mesmo em África na
Tunísia. No ano seguinte a Roménia adere a esta Tríplice Aliança.
Toda esta aliança é feita em segredo da aliada Rússia e continua para além da Liga dos 3 Imperadores. Esta aliança
vai sobreviver até 1915.
Em 1888 Guilherme II assume-se como imperador e vai haver com este uma grande mudança na política
interna e externa alemã. Esta nova visão de Guilherme II que prioriza o desenvolvimento industrial e financeiro
alemão, mas a nível mundial e que se for preciso usa a força, a chamada Welpolitik. É uma visão que contraria a
visão de realpolitik de Bismark, ou seja, o recurso à diplomacia, haver um equilíbrio europeu que não origine
conflitos que possam se virar contra a Alemanha.
Guilherme II, pelo contrário quer a imposição do poder alemão a todo o custo, não se importado com
conflitos. Guilherme II tinha a clara perceção que nunca iria haver alianças na Europa entre as grandes potências e a
França uma vez que esta era republicana e liberal enquanto que por exemplo a Rússia é absolutista, é contra o
republicanismo francês. Foi um claro erro de cálculo de Guilherme II uma vez que se deu uma aproximação entre a
Rússia e a França.
Assim esta nova política vai levar ao fim da Realpolitik e à demissão de Bismark em 1890. A partir daqui
temos uma aproximação diplomática entre a Rússia e a França o que marca o fim e o fracasso dos sistemas de
Bismark.
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Balanço entre os Pontos Positivos e Negativos da Política de Bismark
Pontos positivos
Fazendo um balanço da política externa, consideramos que foi positiva uma vez que esta diplomacia de
Bismark garantiu uma paz relativa no continente Europeu uma vez que estas alianças conseguiram fazer ultrapassar
as tensões entre os Estados e por isso Bismark conseguiu um certo equilíbrio Europeu nomeadamente face à tensão
entre a Áustria e a Rússia, ou mesmo, a pretensão da guerra entre a Rússia e o Imperio Otomano.
Por isso por duas vezes Bismark consegue evitar uma guerra europeia em 1878, na crise entre a Áustria-Hungria e a
Rússia após o tratado secreto, e novamente em 1886.
Pontos negativos
Esta política externa alemã diplomática, apostando na diplomacia a todo o custo, contudo significou que
Bismark muda a sua imagem pública, uma imagem de força, que prestigiou o investimento militar para permitir a
unificação alemã, e agora apresenta-se com uma postura branda. Esta postura vai ser criticada quer pela população,
quer pelo imperador Guilherme II, não seguindo as exigências do nacionalismo alemão com vias expansionistas e
agora era obrigado a ficar acomodado entre fronteiras sem o propósito que tinham de conquistar todos os
territórios onde houvesse povos germânicos.
Com a unificação alemã esses guerreiros que participaram nas guerras acreditam que esta unificação se iria
prolongar com a Alemanha a conquistar outros Estados onde houvesse povos germânicos e Bismark desvalorizou
esse nacionalismo pangermânico porque estava mais preocupado em manter Alsácia-Lorena, ou seja, tentar evitar
invasões externas que lhe retirariam esse território.
O outro aspeto negativo é que com estes sistemas, expandiu-se o exército alemão. Houve um grande
investimento no exército, que leva a uma corrida ao armamento generalizado no final do século XIX tentando
acompanhar este investimento militar da Alemanha nomeadamente pela Rússia, mas também pelo Reino Unido e
França.
Em pouco mais de uma década de alianças, Bismark vai conseguir os seus objetivos. A 1882 a França estava
isolada, sem o apoio de qualquer potência europeia. Os ingleses voltaram à sua política tradicional de “esplêndido
isolamento”. Por conseguinte no que dizia respeito ao perigo de uma guerra de vingança, a Alemanha pouca tinha a
temer uma vez que tinha conseguido nomeadamente o apoio da Inglaterra e da Rússia e da Áustria. Contudo essa
segurança também é precária. A partir de 1890, cai Bismark, e a partir daí a Europa passa por uma revolução
diplomática que praticamente aniquilou a obra de Bismark. É certo que a Alemanha tinha a Áustria como parceira,
mas vai perdendo a aliança com a Rússia e com a Itália. Ao mesmo tempo a Inglaterra sai do isolamento para entrar
no concerto europeu contra a Rússia e a França. Esta alteração do equilíbrio de poderes vai ter consequências
negativas.
Apesar de Bismark ter convencido os Alemães, estavam rodeados de inimigos, por isso tinham que manter a
aliança com a Áustria. Para garantir o apoio da Áustria, tinham que a apoiar no seu expansionismo nos Balcãs. Tal
como com as outras potências, também faz parte da política alemã o expansionismo colonial. Este expansionismo
colonial de Berlim é a partir sobretudo de 1884.
Apesar desse expansionismo alemão, Bismark estava focado sobretudo nas questões europeias e não tanto
nas questões coloniais. Contudo, realiza-se o congresso de Berlim de 1885, que é um congresso de partilha do
continente africano por zonas de influência, colónias europeias.
Welpolitik
Esta Welpolitik, a segunda fase da Política Externa alemã, é caraterizada:
1. Pela reversão das alianças criadas por Bismark
Nesta nova etapa a partir de 1890, com a Welpolitik, Guilherme II irá assumir uma nova Política Externa, de
prestígio, que vai agradar aos críticos de Bismark, uma política externa que aposta no prestígio da Alemanha, como a
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afirmação de uma grande poderosa Alemanha, e por isso vai apostar numa política de força abandonado o sistema
de alianças.
Guilherme II vai tentar aumentar a rivalidade entre estas potências – França, Reino Unido e Rússia – para
evitar coligações entre elas contra a Alemanha, mas sem sucesso. Guilherme II teve em conta que dadas as
diferenças históricas nunca haveria uma aliança entre a Rússia e França, Itália e França, uma vez que a França é a
pátria do liberalismo, do republicanismo, por isso as potências conservadoras como a Rússia e a Áustria nunca se
iriam aproximar da França, era esta expectativa de Guilherme II, mas ele estava errado. Foi este seu erro de calculo
que dá origem à 1ª Guerra Mundial.
Guilherme II por isso irá desde logo acabar com as alianças, desvalorizando-as, por exemplo uma das últimas
alianças feitas por Bismark era o chamado Tratado de Resseguro com a Rússia. Este tratado de 1887 era, como todos
os tratados de alianças, periodicamente renovado e em 1890 Guilherme II não assina a renovação do mesmo. A
consequência é que vai levar a um afastamento relativamente à Rússia e a uma aproximação da Rússia à França. A
Rússia sem esta ligação formal do tratado à Alemanha, tem espaço de manobra para se aproximar da França.
Em 1891 temos uma Entente Dupla entre a Rússia e a França, que em 1892 se transforma numa aliança
militar. Estava assim ressuscitado o pior fantasma de Bismark, ou seja, a França fez um aliado, a Rússia.
Além do fim desta aliança com a Rússia Guilherme II, nesta Welpolitik, vai, progressivamente, revertendo todas as
alianças que Bismark tinha feito nomeadamente com o próprio Reino Unido, o que leva, contra as expectativas de
Guilherme II, uma aproximação deste à França. É agora a vez de ficar a Alemanha isolada.
Em 1892 é a vez da Itália se aproximar da França. Em 1904 é a vez do Reino Unido se aproximar da França, formando
a Entente Cordiale, que é um acordo colonial, é uma aliança entre o Reino Unido e França cooperando numa
partilha em relação à Africa. Esta Entente Cordiale vai ser complementada com a aliança com a Rússia, formando a
Tríplice Aliança.
Esta política, mostrando o perigo desta aproximação da França às grandes potências, vai ter como
consequência a tentativa tardia de Guilherme II de afastar os novos aliados da França, nomeadamente a Rússia.
Guilherme II, apercebendo-se do erro que cometeu, tenta relançar conflitos entre eles, o chamado “dividir para
reinar”, e vai tentar promover conflitos dirigindo-se nomeadamente para as colónias.
Por isso, como estas potências, sobretudo a Rússia, têm pretensões expansionistas, nomeadamente no
Império Otomano, a Alemanha aproxima-se do Império Otomano (onde há vários povos Eslavos que querem a
autonomia) através de apoios à integridade do mesmo e ao apoio à negociação das questões coloniais para
exacerbar os conflitos divergentes– tenta criar focos de conflito entre estes aliados da França, que vai dar origem às
Questões Marroquinas e às Questões Balcânicas porque Guilherme II sabe que qualquer problema nestas regiões
poderá levar a um conflito entre os aliados, desfazendo assim as alianças.
Estas questões que foram promovidas pelas Alemanha além de não terem tido o fim desejado, que era dividir a
aliança, ainda consegue levar a Europa a uma guerra, a 1ª guerra mundial.
A esta aproximação da França à Rússia e da França ao Reino Unido temos ainda que somar a aliança da Itália com a
França em 1902, do Reino Unido em 1904, faz a chamada Entente Cordiale, que faz um acordo colonial a que se
junta a Rússia formando a Tríplice Aliança.
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A Welpolitik de Guilherme II, aposta no prestígio e poder alemão sobre o status quo europeu, é uma política
externa mais coerente, mais ideológica e por outro lado, o que foi o grande erro de Guilherme II, apostava na
impossibilidade de as grandes potências conservadoras europeias como a Rússia ou a Áustria ou mesmo a Inglaterra
se aliassem à França tendo em conta as grandes contradições de uma aliança desse tipo (a França, liberal e
republicana).
3. Por uma política de força, um reforço do exército alemão e grande investimento no armamento alemão
Há um reforço nos investimentos militares, sobretudo na marinha. Esta aposta militar de Guilherme II irá
preocupar os restantes decisores políticos europeus, que em resposta vão tentar também investir no seu
armamento, reforçando os seus exércitos. Em consequência a partir de 1890, temos uma corrida armamentista na
Europa. Esta corrida armamentista vai ser uma das causas da 1ª GM.
Em suma
A Welpolitik, ou política mundial, baseava-se numa posição alemã mais coerente apoiando-se no prestígio e
poder económico e militar alemão para impor os interesses alemães não necessitando da construção de alianças
precárias para garantir esses interesses alemães. Por isso, não renova a aliança com a Rússia, não assina o tratado de
Resseguro. Todas as alianças têm um prazo, no fim desse prazo as partes da aliança têm que renovar o tratado.
Quando chega essa altura, Guilherme II pensa que se pode impor. Não assina porque não acredita que a Rússia se
aproximasse da França dadas as diferenças abismais entre os dois Estados e que não precisa da Rússia para impor os
seus objetivos. Foi um erro de cálculo porque a França consegue seduzir a Rússia para uma aliança em 1891.
Assim, o fantasma de Bismarck surge, o perigo Francês. Numa manobra política mas também com motivos
económicos Guilherme II tenta aproximar-se do Império Otomano tentando alargar a influência alemã para o Médio
Oriente.
Esta estratégia de Guilherme II tenta por um lado alargar o mercado Oriental das exportações alemãs. Em
segundo lugar, tenta expandir o seu poder, o seu prestígio e a sua influência extravasando as fronteiras europeias.
Em terceiro lugar, tentando remediar o erro uma vez que o Império Otomano – o “doente da Europa” – era cobiçado
pelas várias potências europeias. Assim, apoiando o Império Otomano, dificultava o aumento de poder das potências
europeias.
Progressivamente, Guilherme II vai revertendo/ignorando/quebrando o resto das alianças construídas por
Bismarck e que progressivamente se vão aproximar da França contra a Alemanha. Nomeadamente, a própria Itália
que se aproxima da França em 1902 e o Reino Unido que se aproxima da aliança dupla em 1907.
Este erro estratégico de Guilherme II irá ter duas consequências:
A primeira é a divisão da Europa em dois blocos ora em torno da França, ora em torno da Alemanha e vão
ser essas alianças que serão as duas partes em confronto na Primeira Guerra Mundial. Temos desde 1882 a
Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) e temos desde 1907 a Tríplice Entente (França, Reino
Unido, Rússia).
A segunda consequência foi a tentativa de dividir os aliados da França e por isso vai promover diferendos
nomeadamente na região de Marrocos (as questões Marroquinas).
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incidente de Fashoda e finalmente do acordo entre o Reino Unido e a Rússia em 1907. É essencial perceber isto por
causa da ordem empírica com a hierarquia dos Estados e da divisão. Porque surge na Europa esta divisão? Esta
divisão surge na sequência de conflitos de interesses. Resulta também do erro de cálculo de Guilherme II da
Alemanha e que progressivamente foi quebrando as alianças de Bismark dando espaço de manobra para a França se
aproximar da Rússia e do Reino Unido. Há uma terceira leitura que diz que estas alianças foram surgindo
arbitrariamente, contudo destaca-se sempre o oportunismo da França que soube aproveitar.
A segunda grande causa/conjunto de razões que levam à primeira guerra mundial são os conflitos/questões
marroquinas e balcânicas, ou seja, uma série de questões que vão pôr em causa sucessivamente os interesses das
grandes potências europeias e qualquer uma destas questões poderia ter sido o gatilho da Primeira Guerra Mundial.
Paradoxalmente vai-se assistir até à terceira questão balcânica uma relativa paz semelhante à do Sistema de
Metternich porque sucessivamente as grandes potências tomam consciência da inevitabilidade de uma Guerra
Mundial e por isso a todo o custo tentam evitá-la. Por isso, de 1905 a 1914 há uma relativa paz gelada com vários
conflitos a acontecer mas sempre com negociações de forma a evitar uma Guerra Mundial. Segundo alguns autores
é o retorno à Europa dos Congressos.
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movimento centrípeto (de fora para dentro) de desintegração, ou seja, de emancipação (independência) desta
região face ao Império Otomano. Simultaneamente, um movimento centrífugo e um movimento centrípeto que
pretende manter o status quo (congelar a situação).
As questões balcânicas, que são 3, resultam do nacionalismo balcânico face/contra o domínio do Império
Otomano destacando-se aqui a grande impulsionadora deste nacionalismo balcânico: a Sérvia que estava
independente do Império Otomano desde 1882. Esta, quer uma saída para o mar e por isso quer um expansionismo
formando uma grande Sérvia que obrigaria a ter a Bósnia-Herzegovina que era ocupada pela Áustria desde 1908 e
vai ter a oposição da Rússia.
Portanto por um lado temos povos Eslavos liderados pela Sérvia que querem a independência (nacionalismo
– fazer equivaler o Estado à Nação – e Eslavismo – solidariedade entre os povos Eslavos) dos Balcãs contando com o
apoio da “Mãe Rússia”. Em oposição temos o Império Otomano que quer manter a integridade territorial e a
Alemanha que quer manter a aliança política mas também económica com o Império Otomano.
Neste contexto, a Sérvia, independente desde 1882, tem um projeto político da construção da grande Sérvia
e por isso abrangendo os povos Balcânicos nomeadamente e principalmente a Bósnia-Herzegovina (que estava sob
domínio austro-húngaro desde 1908) garantindo assim uma saída para o mar. A Sérvia (epirocrata) formalmente
quer a independência dos Balcãs todos, mas na verdade, o que precisa mesmo é da Bósnia para alcançar o mar e
para isso tem que haver uma guerra contra o Império Otomano e o austro-húngaro.
É esta vontade da Sérvia de criar a grande Sérvia e da independência dos povos eslavos que obriga um
regresso da Rússia aos Balcãs e por isso o regresso do conflito da Rússia com o Império Otomano. Assim temos uma
grande coligação entre os povos balcânicos contra o Império Otomano: a chamada Liga Balcânica. Esta, composta
pela Sérvia, Roménia, Montenegro e Grécia, vai celebrar um tratado em 1912 que consiste numa aliança defensiva
contra o Império Otomano. Esta conta ainda com a arbitragem/apoio Russa no caso de conflito na partilha de
despojos caso conseguissem numa guerra contra o Império Otomano.
São questões dos Estados eslávicos contra o Império Otomano onde é chamada a Rússia e
consequentemente também a França e por oposição a Alemanha.
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Esta estratégia Alemã e a lógica das alianças obrigou o Reino Unido a entrar na guerra em apoio à França
(Entente Cordiale e Tríplice Entente). Em 1917, os Estados Unidos entram na guerra ao lado da Tríplice Entente. É um
momento de viragem da guerra uma vez que é o reforço que garante a vitória da Tríplice Entente.
Temos assim uma guerra entre estes dois blocos – Tríplice Entente a que se junta o Japão em 1914, o
Canadá, a Sérvia, a Bélgica e a Itália (que abandonara a Tríplice Aliança) em 1915, Portugal e Roménia em 1916, os
EUA em 1917, a Austrália, a Nova Zelândia, o Brasil, Montenegro, a Polónia, Cuba, a Grécia e por outro lado, nós
temos a Tríplice Aliança com a Áustria-hungria, a Itália (que sai em 1915), o Império Otomano e a Bulgária em 1915.
A Guerra Mundial pode ser dividida em 3 fases:
1. 1914 – 1915: chamada guerra de movimento, ou seja, movimentação de forças que dá a ilusão que seria
uma guerra rápida.
2. 1915 – 1917: chamada guerra de trincheiras ou também chamada guerra de posições ou guerra de desgaste.
3. 1917 – 1918: marcada pela entrada de novos países, nomeadamente os EUA, a saída da Rússia, que pelo
Tratado de Brest-Litovski sai da guerra pedindo uma paz separada por força dos problemas internos
nomeadamente da Revolução Bolchevique de 1917 que tornou a Rússia Comunista (futura URSS). Nesta
fase, a eminente derrota dos Alemães força o Kaiser Guilherme II a abdicar e força o governo Alemão em
Novembro de 1918 a aceitar o armistício de Compiègne que assegura a derrota da Tríplice Aliança. É o fim da
Guerra Mundial.
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