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Tópicos em Direito 1

Sumário
TÓPICO 1 – Constitucional.............................................................................................05

1 Constitucionalismo e direitos e garantias fundamentais.................................................05

1.1 Constitucionalismo....................................................................................................05

1.2 Direitos e Deveres Individuais e Coletivos....................................................................07

1.3 Nacionalidade..........................................................................................................08

1.4 Direitos Políticos (Juliana Ribeiro Bastos)......................................................................10

2 Organização dos poderes.........................................................................................12

2.1 Funções típicas, funções atípicas e o sistema de freios e contrapesos..............................12

2.2 Poder Legislativo.......................................................................................................13

2.2.1 Estrutura do Poder Legislativo............................................................................13

2.2.2 Comissões parlamentares..................................................................................13

2.2.3 Estatuto dos parlamentares................................................................................14

2.2.4 Tribunal de contas............................................................................................16

2.2.5 Espécies normativas..........................................................................................17

2.3 Poder Executivo.........................................................................................................20

2.3.1 Composição do Poder Executivo........................................................................20

2.3.2 Presidencialismo e Parlamentarismo....................................................................20

2.3.3 Eleição, posse e sucessão.................................................................................21

2.3.4 Atribuições do chefe do Poder Executivo..............................................................21

2.3.5 Conselho da República e Conselho da Defesa Nacional.......................................22

2.3.6 Processo de julgamento do presidente da República


nos crimes de responsabilidade..................................................................................23

2.3.7 Processo e julgamento do presidente da República nos crimes comuns...................24

2.4 Poder Judiciário........................................................................................................24

2.4.1 Estrutura do Poder Judiciário.............................................................................24

2.4.2 A reforma do Poder Judiciário (EC 45/2004).......................................................25

2.4.3 Conselho Nacional de Justiça............................................................................27

2.4.4 Garantias funcionais do judiciário......................................................................27

2.4.5 A regra do quinto constitucional.........................................................................28

2.4.6 Supremo Tribunal Federal..................................................................................28

03
2.4.7 Superior Tribunal de Justiça...............................................................................28

2.4.8 Reclamação.....................................................................................................28

3 Ações constitucionais................................................................................................29

3.1 Remédios constitucionais............................................................................................29

3.1.1 Habeas corpus.................................................................................................29

3.1.2 Habeas data....................................................................................................30

3.1.3 Mandado de Segurança....................................................................................31

3.1.4 Mandado de Injunção.......................................................................................32

3.1.5 Ação Popular...................................................................................................33

3.1.6 Ação Civil Pública............................................................................................33

4 Organização do estado (artigos 18/36, CF)................................................................34

4.1 Federação................................................................................................................34

4.2 Entes federativos.......................................................................................................35

4.3 Repartição de competências.......................................................................................38

4.4 Intervenção federal e estadual....................................................................................42

5 Controle de constitucionalidade.................................................................................43

5.1 Controle de constitucionalidade..................................................................................43

5.2 Controle incidental....................................................................................................46

5.3 Controle principal.....................................................................................................49

5.4 Súmula vinculante.....................................................................................................55


Tópico 1 Constitucional

1 Constitucionalismo e direitos e
garantias fundamentais

1.1 Constitucionalismo
Conceito: o constitucionalismo pode ser entendido como um movimento de caráter político e
jurídico, verificado com maior vigor nos séculos XVIII e XIX, que, em reação ao absolutismo, pro-
punha a limitação do poder estatal por meio da edição de Constituições escritas.

Constituição é palavra que denota estrutura de algum objeto. Trata-se da estrutura do Estado,
que deveria ser moldado de tal modo que fosse limitado por normas jurídicas, evitando-se o
arbítrio típico da Idade Moderna. Essa ideia forjou a noção de Estado de Direito, ou seja, de
Estado submetido ao Direito.

A concretização do ideal exigiu medidas voltadas ao combate da concentração de poderes esta-


tais nas mãos de um agente ou órgão e ao desenvolvimento de uma esfera de liberdade indivi-
dual intocável pelo Estado. Para isso, as Constituições deveriam prever a separação de poderes
e a declaração de direitos que o Estado, ao agir, deveria respeitar. O afastamento do Estado da
vida do indivíduo teve como contrapartida o desenvolvimento de diversas liberdades inerentes
à instauração do liberalismo também no plano econômico. Por isso, em um primeiro momento,
fala-se em Estado liberal de Direito e, portanto, em constitucionalismo liberal, voltado à
preservação dos direitos individuais, de primeira geração.

O acirramento das desigualdades econômicas e sociais trouxe a noção de que caberia ao Estado
promover um mínimo de igualdade material, o que exigia uma série de ações e intervenções
nas relações econômicas. Assim, o desenvolvimento dos direitos sociais, de segunda geração,
transforma também o constitucionalismo, que, de liberal, passa a ser adjetivado de social, dan-
do início, entre o século XIX e o século XX, ao Estado social de Direito. Os primeiros exemplos
de documentos jurídicos desse tipo de constitucionalismo que proclama, dentre outros, o direito
do trabalho, à saúde, à educação e à previdência são as Constituições de Querétaro (México,
1917) e de Weimar (Alemanha, 1919).

Aos direitos de primeira e segunda geração foram adicionados os direitos difusos – terceira ge-
ração – como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e à paz. Apesar de terem
sido incorporados às Constituições, não houve a instituição de um novo tipo de constitucionalis-
mo. A doutrina tem utilizado a expressão neoconstitucionalismo para sustentar que, entre o fim
do século XX e o início do século XXI, houve uma grande mudança em razão da valorização dos
princípios constitucionais, utilizados na jurisdição constitucional para a produção de soluções
justas, para a efetivação de direitos fundamentais. Para fins de prova, mais do que discutir a
existência de um novo constitucionalismo, o que é bastante questionado por parcela dos autores,
importa associar as expressões neoconstitucionalismo e pós-positivismo às ideias narradas.

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No Brasil, o constitucionalismo também acompanhou esses passos, com a edição de oito Cons-
tituições escritas.

• Constituição política do Império do Brazil (1824): primeira norma constitucional escrita


brasileira, outorgada após a independência, foi uma Constituição liberal, já que previu
separação de poderes e declaração de direitos.

»» Poder Moderador: a separação de poderes, nessa Constituição, era diferente do


modelo atual, porquanto havia o Poder Moderador, também nas mãos do Imperador.

»» Alteração do texto: a Constituição de 1824 é classificada como semirrígida, ou


semi-flexível. Parte dela poderia ser alterada pelo mesmo procedimento de edição das
leis, e a outra parte só poderia ser alterada por Emenda Constitucional.

• Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891): Constituição liberal


promulgada após a proclamação da República, previu a federação no Brasil.

• Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1934): primeira Constituição


social do Brasil, preocupou-se com a implementação de direitos sociais pelo Estado. Teve
breve vigência, pois foi substituída com a implementação do Estado Novo por Getúlio
Vargas.

• Constituição dos Estados Unidos do Brasil (1937): outorgada por Getúlio Vargas e
conhecida como “polaca”, nunca chegou a viger plenamente. Isso porque previa um
dispositivo dizendo que deveria ser submetida à consulta popular, convocada pelo
Congresso. Ocorre que, com o Estado Novo, o Congresso Nacional foi fechado, e a
Constituição estabelecia que, enquanto essa circunstância permanecesse, todas as
competências congressuais seriam exercidas pelo presidente da República. Com base
nisso, Getúlio Vargas editou toda a legislação do período, até 1945, sem convocar a
consulta popular.

• Constituição dos Estados Unidos do Brasil (1946): a redemocratização trouxe a


promulgação de nova Constituição social, alterada amplamente a partir de 1964, com a
implantação do regime militar, e substituída em 1967.

• Constituição do Brasil (1967): apesar de aprovada pelo Congresso Nacional, é


classificada como outorgada. Isso porque o Congresso estava fechado e foi convocado
pelo presidente da República, mediante o Ato Institucional nº 4/66, especificamente
para votar o projeto de Constituição encaminhado por ele mesmo. Não houve, assim,
participação popular em sua edição.

• Constituição da República Federativa do Brasil (1969): formalmente, não poderia ser


considerada nova Constituição, pois se trata da Emenda Constitucional nº 1, de 1969.
Todavia, considerando que essa Emenda alterou integralmente a numeração dos artigos
constitucionais de 1967, inserindo novos e modificando o nome da Constituição, parte da
doutrina a considera como a sétima Constituição brasileira.

• Constituição da República Federativa do Brasil (1988): promulgada em razão da


redemocratização, é também uma Constituição social, prevendo normas programáticas
que a permitem classificar também como Constituição dirigente. É o texto constitucional
vigente até o momento.

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1.2 Direitos e Deveres Individuais e Coletivos
No título relativo aos direitos e às garantias fundamentais, a Constituição prevê tanto normas
que atribuem alguma vantagem, algum bem ao indivíduo, a grupos sociais ou à coletividade
(direitos), bem como normas que asseguram o exercício desses direitos (garantias). Por vezes,
as garantias podem ser processuais, como no caso do habeas corpus ou do mandado de segu-
rança, chamados de remédios constitucionais. Em outras situações, há garantias que não têm
relação com o processo. Seria o caso, por exemplo, da liberdade de culto, um dos meios para
assegurar a liberdade de crença.

Para fins de prova, a leitura atenta de todo o art. 5º da CF é essencial. Há alguns pontos, porém,
que merecem menção especial.

• Abrangência do art. 5º: no caput do dispositivo, a Constituição estipula que todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos dos incisos. Note que o constituinte
disse menos do que deveria, pois esses direitos são garantidos a todos os brasileiros e a
todos os estrangeiros, não apenas os que residam no Brasil. Há proteção, também, às
pessoas jurídicas, desde que os direitos sejam compatíveis com a sua condição.

• Liberdade de consciência (inciso VI): todos têm liberdade de pensamento. Por conta
disso, o indivíduo pode também crer naquilo que quiser, bem como expressar o seu
pensamento livremente, independentemente de censura ou licença (incisos IV e IX). Veda-
se apenas o anonimato, assegurando-se também direito de resposta, em caso de ofensas,
bem como indenização por dano material, moral ou à imagem (inciso V). Além disso,
ninguém pode ser privado de direitos em razão de sua crença ou convicção, exceto se
as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa fixada em lei (inciso VIII – é o caso, por exemplo, do serviço militar
obrigatório).

• Inviolabilidade domiciliar (inciso XI): sem o consentimento do morador, é possível


ingressar na casa, a qualquer momento, em razão de flagrante delito, desastre ou para
prestar socorro. Durante o dia, o ingresso também é permitido mediante autorização
judicial. Note que o conceito de casa é extenso, abrangendo também quartos de hotéis,
escritórios etc.

• Liberdade de profissão (inciso XIII): é o exemplo de norma constitucional de eficácia


contida, pois, na ausência de regramentos legais, a liberdade é plena.

• Liberdade de reunião (inciso XVI): a reunião em locais abertos ao público independe


de autorização do Estado. Porém, deve haver prévio aviso à autoridade competente,
de modo que o seu exercício não frustre outra reunião anteriormente convocada para o
local. Além disso, a reunião deve ser pacífica e sem armas.

• Direitos petição e certidão (inciso XXXIV): atente-se para a imunidade tributária presente
no dispositivo.

• Tratados e convenções sobre direitos humanos (§ 3º): se versarem sobre essa matéria
e forem aprovados, em cada casa do Congresso Nacional, em duplo turno, por 3/5 dos
membros, os tratados terão a mesma força de emendas constitucionais. Farão parte,
assim, do chamado bloco de constitucionalidade, podendo servir de parâmetro de
controle na jurisdição constitucional. O exemplo é a Convenção de Nova Iorque sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência.

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1.3 Nacionalidade
Nacionalidade é o vínculo que une o indivíduo a determinado Estado, e pode ser adquirida de
duas maneiras diversas.

• Nacionalidade primária (originária)

»» Sua aquisição independe da vontade, decorrendo do nascimento.

»» Critérios:

·· Jus soli: origem territorial. Nacional é aquele que nasceu no território do Estado.
Típico de países que receberam forte imigração.

·· Jus sanguinis: origem sanguínea. Nacional é o descendente de um nacional.


Típico de países que tiveram forte emigração.

»» Brasil: adota como regra o jus soli, admitindo hipóteses de jus sanguinis. Assim, nos
termos da Constituição (art. 12), é brasileiro nato:

·· Nascidos no Brasil, mesmo que de pais estrangeiros.

-- Exceção: se os pais forem estrangeiros e estiverem a serviço de seu país, o


nascido no Brasil não será brasileiro.

·· Nascidos no estrangeiro:

-- de pai ou mãe brasileira, desde que qualquer um deles esteja a serviço do


Brasil;

-- de pai ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira


competente (ex: consulado, embaixada ou cartório);

-- de pai ou mãe brasileiros, desde que venham a residir no Brasil e optem, em


qualquer tempo, depois da maioridade, pela nacionalidade brasileira.

• Nacionalidade secundária

»» Sua aquisição depende da vontade do indivíduo. É a naturalização.

»» Brasileiro naturalizado

·· Estrangeiro que, na forma da lei, adquira a nacionalidade brasileira (a lei que


regulamenta o tema é o Estatuto do Estrangeiro – Lei nº 6.815/80). Para os
originários dos países de língua portuguesa, a Constituição exige apenas residência
no Brasil por um ano ininterrupto e idoneidade moral.

·· Estrangeiro, de qualquer nacionalidade, residente no Brasil há mais de quinze anos


ininterruptos e sem condenação penal que requeira a nacionalidade brasileira.

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Entre brasileiros natos e naturalizados, existem apenas as distinções previstas na Constituição,
não podendo haver a criação de novas diferenças por meio de lei. No texto constitucional, são
encontradas as seguintes distinções:

• Acesso a cargos públicos: art. 12, § 3º, CF. Note que o dispositivo veda o acesso
de brasileiros naturalizados a determinados cargos ligados, em geral, ao presidente da
República e àqueles que podem substituí-lo. Nesse sentido, é possível, por exemplo, que
brasileiro naturalizado seja deputado ou senador, mas não presidente da Câmara ou do
Senado. Além disso, a Constituição proíbe que brasileiros naturalizados sejam diplomatas,
oficiais das Forças Armadas ou Ministro de Estado da Defesa.

• Exercício de função: art. 89, VII, CF.

• Proteção contra extradição: art. 5º, LI, CF. Note que o brasileiro nato jamais poderá
ser extraditado. O brasileiro naturalizado, por sua vez, possui proteção menor, podendo
ser extraditado por crime comum cometido antes da naturalização ou por comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes, na forma da lei. No último caso, para
fins de extradição, o envolvimento pode ocorrer antes ou depois da naturalização.

• Propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão: art. 222, CF. O brasileiro


naturalizado somente poderá ser proprietário, nessa hipótese, se tiver obtido a naturalização
há mais de dez anos.

Quase nacionalidade (Português equiparado): o art. 12, § 1º, da CF, prevê que o português
com residência permanente no Brasil terá os “[...] direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos
previstos nesta Constituição”, se houver reciprocidade em favor de brasileiros em Portugal. Isso
significa que, atendidas as condições narradas, o português terá os mesmos direitos do brasileiro
naturalizado, sem precisar obter a naturalização.

Perda da nacionalidade: o brasileiro poderá perder a nacionalidade em duas hipóteses (art.


12, § 4º, CF).

• Cancelamento da naturalização: ocorre por meio de sentença judicial, em virtude de


atividade nociva ao interesse nacional.

• Aquisição de outra nacionalidade, exceto nas situações de:

»» reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira. Nesse caso, o


indivíduo ficará com as duas nacionalidades;

»» imposição de naturalização pela norma estrangeira ao brasileiro residente em Estado


estrangeiro como condição para permanência em seu território ou para o exercício de
direitos civis. Nesse caso, também haverá dupla nacionalidade.

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1.4 Direitos Políticos (Juliana Ribeiro Bastos)


Democracia significa um governo em que há a participação do povo na tomada das decisões
políticas de uma sociedade.

Democracia direta e democracia indireta

Quanto ao modo de exercício, a democracia pode ser direta ou indireta. A democracia direta
é aquela em que o povo participa da vida política de uma sociedade sem intermediários (re-
presentantes), ele por si exercerá o poder. Já a democracia indireta ocorre quando o poder em
uma sociedade é exercido por meio dos representantes do povo. Neste caso, o povo escolherá
os seus representantes para atuarem em seu nome. Atente-se que o Brasil adota a democracia
semidireta, que é concomitante à democracia representativa, e que também possui mecanismos
de participação direta, como a iniciativa de leis, o plebiscito e o referendo, segundo a previsão
do art. 14 da Constituição. Observe que se pode acrescentar, entre outros, a ação popular como
instrumento de participação popular.

Aquisição da cidadania

A cidadania designa o indivíduo dotado de capacidade eleitoral ativa, ou seja, aquele que pode
votar, e também o indivíduo dotado de capacidade eleitoral passiva, ou seja, aquele que pode
ser votado caso preencha as exigências legais.

A aquisição da cidadania, segundo a Constituição, ocorre por meio do alistamento eleitoral, isto
é, o indivíduo deve fazer a sua inscrição como eleitor perante a Justiça Eleitoral (título eleitoral).
Isso pressupõe a nacionalidade brasileira (não podem se alistar como eleitores os estrangeiros),
idade mínima de 16 anos e não ser conscrito durante o serviço militar obrigatório.

Direitos políticos positivos

Os direitos políticos positivos referem-se à alistabilidade e à elegibilidade. A alistabilidade diz


respeito à capacidade eleitoral ativa, segundo a qual há a possibilidade de o indivíduo ser elei-
tor. O alistamento é obrigatório para os brasileiros de ambos os sexos, maiores de 18 anos de
idade, e facultativo para os analfabetos, os maiores de 70 anos de idade e os maiores de 16 e
menores de 18 anos de idade (art.14, §1°, I e II, da CF).

Não podem se alistar como eleitores os estrangeiros e os conscritos durante o serviço militar
obrigatório (art.14, §2° CF). Os conscritos são os nacionais convocados para o serviço militar
obrigatório, porém, caso se trate de serviço militar permanente, há a obrigação de realizar o
alistamento eleitoral.

A elegibilidade diz respeito à capacidade eleitoral passiva, a qual prevê a possibilidade de ser
eleito. Deve-se observar que nem sempre, da alistabilidade, decorre a elegibilidade. Isso porque
a Constituição (art. 14, §3° CF) é expressa quanto às condições de elegibilidade, sendo elas:
a nacionalidade brasileira; o pleno exercício dos direitos políticos; o alistamento eleitoral; o
domicílio eleitoral na circunscrição; a filiação partidária e a idade mínima para os cargos de
presidente e vice-presidente da República e senador (35 anos), governador e vice-governador de
Estado e do Distrito Federal (30 anos), deputado federal (21 anos), deputado estadual ou distrital
(21 anos), prefeito e vice-prefeito (21 anos); e juiz de paz (21 anos).

Ressalta-se que a Constituição (art. 14, §4°) prevê que os inalistáveis e os analfabetos são ine-
legíveis.

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Direitos políticos negativos

Os direitos políticos negativos são relativos às inelegibilidades. As inelegibilidades são as cir-


cunstâncias, constitucionais ou previstas em lei, que impedem o cidadão de se eleger, restringin-
do o exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva. As normas constitucionais sobre
inelegibilidades estão previstas no art. 14, §4° ao §7° da Constituição.

Inelegibilidades absolutas dizem respeito àquelas pessoas que não podem concorrer à eleição
alguma (art. 14, §4° CF). Desse modo, não podem exercer a capacidade eleitoral passiva os
inalistáveis (estrangeiros, conscritos durante o serviço militar obrigatório, menores de 16 anos e
os menores de 18 anos não alistados) e os analfabetos (lembre-se que o analfabeto tem direito à
alistabilidade e, portanto, direito de votar, mas não pode ser eleito, pois não possui capacidade
eleitoral passiva).

Inelegibilidades relativas são restrições específicas a certos tipos de cargos ou funções em que o
cidadão se encontra no momento da eleição.

• Restrição por motivos funcionais: para o mesmo cargo, o presidente da República, os


governadores de Estado e do Distrito Federal, os prefeitos e quem os houver sucedido
ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período
subsequente (art. 14, §5° CF). Para concorrerem a outros cargos, devem renunciar
aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito (art. 14, §6° CF). Trata-se
da desincompatibilização, por meio da qual o candidato se desvencilha de alguma
circunstância que o impede de se eleger.

• Restrição por motivo de casamento, parentesco ou afinidade: são inelegíveis, no


território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos, ou afins, até
o segundo grau ou por adoção, do presidente da República, do governador de Estado
ou Território, do Distrito Federal, de prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos
seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à
reeleição (art. 14, §6° CF). Como exemplo, o cônjuge e os parentes até o segundo grau
consanguíneos ou afins de governador não poderão se candidatar a qualquer cargo
eletivo no Estado (vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e
governador do mesmo Estado). Fique atento à Súmula Vinculante nº 18/2009, que dispõe
que “[...] a dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não
afasta a inelegibilidade prevista no §7° do art. 14 da Constituição Federal”.

• Restrição dos militares: o militar alistável é elegível, desde que, se contar com menos de
dez anos de serviço, afaste-se da atividade; e se contar com mais de dez anos de serviço,
será agregado pela autoridade superior; e, se eleito, passará automaticamente, no ato da
diplomação, para a inatividade (art. 14, §8°, CF).

• Restrição por previsões de ordem legal: a Constituição Federal autorizou a criação de


outros casos de inelegibilidades relativas e os prazos de sua cessação por Lei Complementar,
a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato,
considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições
contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta.

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A LC nº 135/2010, conhecida como “Lei da Ficha Limpa”, inova com o amparo da constitu-
cionalidade já afirmada pelo STF em relação às inelegibilidades relativas. A partir da referida
Lei, entende-se que é inelegível o cidadão que tenha decisão condenatória proferida por órgão
judicial colegiado, mesmo que ainda não tenha ocorrido o trânsito em julgado. Outra novidade
trata-se da inelegibilidade daquele que for condenado, em decisão proferida por órgão cole-
giado da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por doação,
captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou por conduta vedada aos agentes públi-
cos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma.

A perda ou suspensão de direitos políticos refere-se aos casos em que, respectivamente, há a


privação definitiva e temporária dos direitos políticos. A Constituição elenca os casos em seu
art. 15 sem apontar quais são os casos de perda e de suspensão. Contudo, a doutrina procura
esclarecer, reconhecendo como os casos de suspensão: a. incapacidade civil absoluta (inc. II);
b. condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos (inc. III); c. recusa
em cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5°, VIII, da
CF (inc. IV); d. improbidade administrativa, nos termos do art. 37, §4° da CF. Desse modo, seria
hipótese de perda dos direitos políticos apenas o cancelamento da naturalização por sentença
transitada em julgado.

Já a reaquisição dos direitos políticos suspensos se dará automaticamente, com a cessação dos
motivos que determinaram a suspensão. Quanto à hipótese de perda dos direitos políticos por
cancelamento da naturalização, só será possível por meio de ação rescisória (prazo de dois anos
do trânsito em julgado).

2 Organização dos poderes

2.1 Funções típicas, funções atípicas e o sistema


de freios e contrapesos
Uma das pedras de toque do Estado de Direito é o modelo de separação de poderes. Esse mo-
delo foi necessário a partir dos abusos cometidos pelos governantes do período absolutista que
o exerciam de forma ilimitada, incondicionada e irresponsável. A identificação de que o Estado
exercia três funções principais remonta a Aristóteles (em sua obra “Política”), a John Locke (em
sua obra “Tratado sobre governo”) e a Jean-Jacques Rousseau (em sua obra “Contrato social”).
Contudo, foi com Charles Louis de Secondat Montesquieu, em sua obra “O espírito das leis”,
que a teoria ganha espaço na realidade como forma de descentralizar o poder exercido pelo
governante. Sua grande contribuição foi identificar que, para conter o poder absoluto exercido
pelo governante, o ideal seria que essas funções fossem realizadas por três distintos órgãos.

Observe que é possível repensar na própria utilização da expressão separação de poderes, já


que se verifica que a divisão é das funções do Estado, e não do seu poder, que é uno e indivisível.
Assim, a forma correta de expressar a organização do poder, a partir da superação do Estado
Absoluto, é separação das funções. São as funções legislativa, executiva e judiciária.

Com a finalidade de impedir abusos no exercício dessas três funções, Montesquieu lança as ba-
ses de um sistema de freios e contrapesos que, com o tempo, vem sendo aperfeiçoado. Reconhe-
ce-se a independência dos três órgãos, que exercem cada uma das funções, mas os apresenta
subordinados a uma relação harmônica, na qual se estabelece uma relação de controle recípro-
co entre eles. Isso não significa o domínio de um em relação ao outro, mas sim uma consciente
colaboração entre eles.

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Cada um dos órgãos é responsável por uma função principal, inerente e ínsita à sua natureza,
e que, por isso, será exercida com primazia (não com exclusividade), e outras duas funções
que exercerão de modo secundário. A primeira é chamada de função típica, e as segundas são
chamadas de funções atípicas. O Legislativo, por exemplo, exerce a função típica de inovar no
ordenamento jurídico (legislar) e fiscalizar as questões contábil, financeira, orçamentária e pa-
trimonial do Executivo e Judiciário, enquanto que exerce de forma atípica funções de natureza
executiva (quando dispõe sobre sua organização) e funções de natureza judiciária (quando o
Senado julga o presidente da República nos crimes de responsabilidade).

2.2 Poder Legislativo


2.2.1 Estrutura do Poder Legislativo
O Poder Legislativo se organiza nas esferas Federal, Estadual, Distrital e Municipal. Na esfera
Federal, é o Congresso Nacional que exerce as atividades legislativas, o qual se compõe da Câ-
mara dos Deputados (Deputados Federais – sistema proporcional de eleição – representantes do
povo) e do Senado Federal (Senadores – sistema majoritário de eleição – número fixo de Sena-
dores por unidade federativa – representantes dos Estados), sendo, assim, um sistema bicameral
– não há predominância substancial de uma Casa sobre a outra. Já nas esferas Estadual, Distrital
e Municipal, adota-se o unicameralismo, sendo os seus órgãos, respectivamente, denominados
como Assembleia Legislativa, Câmara Legislativa e Câmara Municipal (ou Câmara dos Vereado-
res). Os membros dessas esferas são eleitos pelo sistema proporcional de eleição.

2.2.2 Comissões parlamentares


O Poder Legislativo, internamente, organiza-se por meio das denominadas comissões parla-
mentares, para estudar e examinar as proposições legislativas, apresentar pareceres e, quando
houver delegação interna corporis por parte do plenário (e se não houver recurso de um décimo
dos membros da Casa), aprovar projetos de lei. Elas podem ser temporárias ou permanentes (art.
58, caput, da CF).

As comissões permanentes, conhecidas como comissões temáticas, são as que subsistem através
das legislaturas, organizando-se em razão da matéria. A Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania, responsável pelo controle preventivo de constitucionalidade, é um exemplo.

As comissões parlamentares temporárias são constituídas a partir de um prazo certo. Direcionam-


-se para opinar sobre determinada matéria e se extinguem quando o seu objetivo for alcançado.
São exemplos as comissões especiais e, também, as comissões parlamentares de inquérito, entre
outras.

As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) são comissões temporárias (prazo certo), destina-
das a investigar fato certo e determinado, sendo aquele de relevante interesse para a vida pública
e a ordem constitucional, legal, econômica e social do País. Ela pode ser constituída nos âmbitos
federal, estadual, distrital e municipal. Além do fato determinado, para serem constituídas preci-
sam de um terço dos membros da respectiva casa e do prazo certo.

Nos termos da Constituição, as CPIs terão poderes de investigação próprios das autoridades ju-
diciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas. Não obstante, exercerem
poderes de investigação próprios das autoridades judiciais (exemplo: determinar a realização de
perícia), e deve-se respeitar a cláusula de reserva constitucional de jurisdição, segundo a qual
determinados atos só podem ser praticados pela autoridade judiciária, por exemplo, quebra do
sigilo das comunicações. Contudo, o Supremo Tribunal Federal, reconheceu não fazer parte da
referida cláusula a possibilidade de a CPI realizar as quebras dos sigilos: fiscal, de dados telefô-

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Tópicos em Direito 1

nicos e bancário. Por fim, as suas conclusões, se for o caso, serão encaminhadas ao Ministério
Público, que promoverá a responsabilidade civil e criminal dos infratores (art. 53, §3°, CF).

Existem, também, as chamadas comissões parlamentares mistas, formadas por Deputados e Se-
nadores, com o objetivo de atuarem conjuntamente na apreciação de determinados conteúdos,
como aqueles previstos nos arts. 62, §9°, 72 e 166, §1° da Constituição.

2.2.3 Estatuto dos parlamentares


O estatuto dos parlamentares prevê prerrogativas, incompatibilidades e a perda do mandato dos
parlamentares.

2.2.3.1 Prerrogativas parlamentares


As prerrogativas parlamentares dizem respeito a imunidades, limitações e isenções.

Imunidade material: os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quais-
quer de suas opiniões, palavras e votos. Isso significa que não serão responsabilizados nas ordens
civil e penal quando praticarem esses atos no exercício da função parlamentar. Por isso, também
é denominada como inviolabilidade ou imunidade absoluta. Esta prerrogativa proporciona a
representatividade da forma mais ampla possível, permitindo que os parlamentares defendam
as ideias pelas quais foram eleitos. Dessa forma, observe que há a necessidade do vínculo com
o exercício do mandato parlamentar (art. 53, caput, CF). Contudo, em relação aos vereadores,
essa proteção é restringida à circunscrição do Município (art. 29, VIII, CF).

Imunidade formal: a imunidade formal é a proteção conferida ao parlamentar quanto ao pro-


cesso e à possibilidade de prisão. É garantida a todos os parlamentares, exceto aos vereadores,
porque em relação a eles não há previsão constitucional.

Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos,
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de 24
horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão
(art. 53, §2°, CF).

Recebida a denúncia contra Senador ou Deputado por crime ocorrido após a diplomação, o
Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político
nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
andamento da ação (art. 53, §3°, CF). O pedido de sustação será apreciado pela Casa respecti-
va no prazo improrrogável de 45 dias do seu recebimento pela Mesa Diretora (art. 53, §4°, CF),
e a sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o mandato (art. 53, §5°, CF).

As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser


suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos
praticados fora do recinto do Congresso Nacional que sejam incompatíveis com a execução da
medida.

Foro por prerrogativa: os Deputados e Senadores Federais, desde a expedição do diploma, são
julgados perante o Supremo Tribunal Federal (art. 53, §1°, CF).

Limitação do dever de testemunhar: os congressistas não são obrigados a testemunhar sobre


informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas
que lhes confiaram ou deles receberam informações (art. 53, §6°, CF).

Isenção do serviço militar: a incorporação dos congressistas (mesmo se militares e ainda que
em tempo de guerra) às Forças Armadas depende da prévia licença da respectiva Casa legislati-
va, salvo se renunciarem ao mandato (art. 53, §7°, CF).

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2.2.3.2 Incompatibilidades dos parlamentares
As vedações impostas aos parlamentares são de natureza negocial, funcional e profissional. Nos
termos em que dispõe a Constituição, em seu art. 54, os congressistas não poderão, desde a
expedição do diploma: a. firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, au-
tarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço
público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; b. aceitar ou exercer cargo,
função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis ad nutum nas entidades
mencionadas.

Além disso, também lhes é vedado, só que desde a posse: a. ser proprietários, controladores ou
diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito
público, ou nela exercer função remunerada; b. ocupar cargo ou função de que sejam demissí-
veis ad nutum nas entidades mencionadas no parágrafo anterior; c. patrocinar causa em que seja
interessada qualquer das entidades mencionadas no parágrafo anterior; d. ser titulares de mais
de um cargo ou mandato público eletivo.

2.2.3.3 Perda do mandato parlamentar


As hipóteses de perda de mandato parlamentar estão previstas no art. 55 da CF. Contudo, sua
leitura deve ser combinada com a dos parágrafos 2° e 3° desse mesmo artigo, que tratam, res-
pectivamente, de hipóteses de perda que serão decididas pela Casa parlamentar à qual se per-
tença e hipóteses de perda que serão declaradas pela Mesa da Casa à qual se pertença.

Os casos que envolvem uma decisão por parte da Casa parlamentar são aqueles em que o par-
lamentar infringir as proibições estabelecidas no art. 54 CF (situações de incompatibilidades);
cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar; e que sofrer condena-
ção criminal em sentença transitada em julgado.

Os casos em que a perda do mandato será apenas declarada são, primeiramente, quando o
parlamentar deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordi-
nárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; que perder ou
tiver suspensos os direitos políticos; e quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos
constitucionalmente.

É importante lembrar que o Supremo Tribunal Federal alterou sua jurisprudência e confirmou en-
tendimento do Tribunal Superior Eleitoral no sentido da perda do mandato por infidelidade parti-
dária, mesmo não sendo hipótese prevista entre as causas de perda de mandato apresentadas no
art. 55 da Constituição. Pondera o Ministro das Relações, Celso de Mello, que “[...] o ato de infi-
delidade, seja ao ético-político, representa um inadmissível ultraje ao princípio democrático e ao
exercício legítimo do poder, na medida em que migrações inesperadas, nem sempre motivadas
por razões justas, não só surpreendem o próprio corpo eleitoral e as agremiações partidárias de
origem [...], vindo até em clara fraude à vontade popular [...]” (MS 26.603-1/DF, 04.10.2007).

Note que não perderá o mandato o deputado ou senador investido no cargo de Ministro de Esta-
do, governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura
de Capital ou chefe de missão diplomática (o congressista poderá optar pela remuneração do
mandato). E, também, aquele licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para
tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultra-
passe 120 dias por sessão legislativa.

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Tópicos em Direito 1

2.2.4 Tribunal de contas


O Tribunal de Contas é o órgão auxiliar e essencial de orientação do Poder Legislativo, embo-
ra a ele não subordinado, praticando atos de natureza administrativa, voltadas à atividade de
fiscalização financeira e orçamentária. Exerce o chamado controle externo das contas públicas.

O Tribunal de Contas da União é composto de nove Ministros e tem sede no Distrito Federal.
Tem quadro próprio de pessoal e jurisdição (competência) em todo o território nacional e, no
que couber, exerce as atribuições previstas no art. 96 da CF (art. 73, caput da Constituição).
Os Ministros do Tribunal de Contas da União, não são magistrados, mas terão as mesmas ga-
rantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal
de Justiça, aplicando-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40
(art. 73, §3°, CF).

Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam
os seguintes requisitos: a. maior de 35 e menor de 65 anos de idade; b. idoneidade moral e
reputação ilibada; c. notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou
de administração pública; d. mais de 10 anos de exercício de função ou de efetiva atividade
profissional que exija os conhecimentos já mencionados (art. 73, §1°, CF).

Deverão ser escolhidos da seguinte forma: 1/3 pelo presidente da República, com aprovação do
Senado, sendo dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao
Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e mereci-
mento; e 2/3 pelo Congresso Nacional.

Entre as atribuições previstas para o Tribunal de Contas da União, estão previstas no art. 71
da Constituição a apreciação das contas prestadas anualmente pelo presidente da República,
mediante parecer prévio, e, também, o julgamento das contas dos administradores e demais res-
ponsáveis por dinheiros, bens e valores da administração direta e indireta, incluídas as fundações
e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Federal, e as contas daqueles que derem
causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público.

Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da
lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União (art. 74,
§2°, CF).

As Constituições Estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integra-
dos por sete Conselheiros (art. 75, parágrafo único, CF). Poderão existir, também, os Tribunais
de Contas do Distrito Federal.

O Tribunal de Contas nos Municípios possui algumas particularidades. Primeiramente, o art. 31,
§4°, da Constituição vigente veda a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Mu-
nicipais. Contudo, quando da criação da atual Constituição, alguns municípios, como o de São
Paulo, possuíam Tribunal de Contas Municipal, e, em relação a esses já existentes, a Constituição
de 1988 não proibiu que continuassem a existir. Já em relação aos Municípios que, à época
da promulgação da Constituição, não tinha o seu respectivo Tribunal de Contas Municipal, não
poderão mais criá-los. Nesses casos, ficará a cargo dos Tribunais de Contas dos respectivos
Estados. Por isso que, segundo a Constituição (art. 31, §1°), o controle externo da Câmara Mu-
nicipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos
Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver.

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2.2.5 Espécies normativas

2.2.5.1 Emenda constitucional


A emenda constitucional é o instrumento, previsto pelo poder constituinte originário, para realizar
a reforma formal da Constituição. Trata-se do poder constituinte derivado de reforma previsto
no art. 60 da Constituição. Contudo, o exercício desse poder encontra-se limitado aos aspectos
formal, material e circunstancial.

As limitações formais são aquelas que dizem respeito ao processo legislativo que se deve obser-
var para a produção da emenda constitucional. O art. 60, incisos I, II e III, trata da iniciativa para
apresentar uma proposta de emenda constitucional, sendo, respectivamente: um terço, no míni-
mo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; do presidente da República;
de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se,
cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. A fase constitutiva encontra-se prevista
no §2°, segundo o qual a proposta será discutida e votada, em cada Casa do Congresso Na-
cional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos
dos respectivos membros. Observe que não há no processo de emenda a fase de Deliberação
Executiva. Por fim, a fase complementar é formada pela promulgação e publicação da Emenda
Constitucional. A emenda constitucional, nos termos do §3°, será promulgada pelas Mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.

Verifica-se que o §5° dispõe que a matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida
por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.

As limitações materiais são aquelas referentes ao conteúdo inviolável da Constituição, denomi-


nadas como cláusulas pétreas e, também, reconhecidas como limitações materiais explícitas. As
cláusulas pétreas estão previstas no §4°, que aponta que não poderá ser objeto de deliberação
a proposta de emenda tendente a abolir: a. a forma federativa de Estado; b. o voto direto, se-
creto, universal e periódico; c. a separação de Poderes; d. os direitos e as garantias individuais.
Também existem as chamadas cláusulas pétreas implícitas, aquelas identificadas a partir do
sistemática constitucional, por exemplo, o próprio procedimento das emendas constitucionais.

Por fim, as limitações circunstanciais configuram-se pela impossibilidade de emendar a Cons-


tituição na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio (art. 60,
§1°, CF).

2.2.5.2 Lei ordinária


A lei ordinária é aquela que não tem previsão específica. Assume um caráter residual em relação
à utilização da lei complementar. Sua elaboração abrange três fases: a iniciativa, a deliberativa
e a complementar.

A fase de iniciativa consiste na apresentação do projeto de lei por pessoa legitimada pela Cons-
tituição. Tem-se a iniciativa geral, ou competência concorrente, nas situações previstas pelo art.
61, caput e §2° da Constituição, e, também, a iniciativa reservada, quando apenas determinadas
autoridades podem apresentar projeto de lei, como a iniciativa privativa do presidente da Repú-
blica para as matérias do art. 61, §1° da Constituição.

A fase deliberativa divide-se em deliberação parlamentar e deliberação executiva. A deliberação


parlamentar é a discussão e votação do projeto de lei pelos parlamentares. A aprovação de lei
ordinária deve obedecer ao quórum de maioria simples (art. 47, CF). Dentro de cada uma das
Casas, o projeto será discutido pelas comissões temáticas relacionadas à matéria debatida e,
também, pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, que examina a sua constitucio-
nalidade. O projeto depois é remetido ao Plenário para a votação. Contudo, a depender da
matéria, pode ser dispensada a apreciação do Plenário (art. 58, §2°, I, da CF), e passará em
cada uma das Casas do Congresso. O projeto só será analisado pela Casa Revisora se obtiver

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Tópicos em Direito 1

a sua aprovação pela Casa Iniciadora. A Casa Revisora pode rejeitar o projeto e, neste caso,
ele será arquivado, só podendo ser reapresentado na mesma sessão legislativa por manifestação
da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional (art. 67, CF).
Pode emendar o projeto e, neste caso, voltará para a apreciação da Casa Iniciadora, que ana-
lisará apenas as emendas feitas ao projeto inicial, e, também, pode aprovar o projeto, e neste
caso seguirá para a fase de deliberação executiva.

A fase de deliberação executiva é a sanção ou o veto pelo presidente da República. A sanção é a


concordância com o projeto de lei aprovado pelo parlamento, e pode ser tácita ou expressa. Não
há um prazo expresso para a realização da sanção, mas considerando que a Constituição prevê
o prazo de 15 dias para a realização do veto, entende-se que esse seria o prazo para manifestar
expressamente a sanção ou o veto, já que ultrapassados os 15 dias sem qualquer manifestação,
entender-se-á a sua aprovação tácita.

O veto é a discordância do presidente da República em relação ao projeto de lei aprovado. Ele


deve ser sempre motivado, podendo ser o veto jurídico (fundamentado na inconstitucionalidade)
ou político (fundamentado na falta de interesse público). Ainda, o veto poder ser total (abrange
todo o projeto) ou parcial (abrange parte do projeto, mas sendo permitido apenas o veto de
texto integral de artigo, parágrafo e inciso ou de alínea – art. 66, §6°, CF). Uma vez realizado o
veto, ele poderá ser derrubado pelo Congresso Nacional, pela apreciação em sessão conjunta,
dentro de 30 dias a contar do seu recebimento, pelo voto de rejeição da maioria absoluta dos
Deputados e Senadores.

Por fim, a fase complementar é aquela em que se realiza a promulgação e a publicação da lei.
O projeto é promulgado pelo presidente da República, e se não o fizer, caberá ao presidente do
Senado. Se houver negativa deste, caberá ao Vice-presidente do Senado.

Nos casos dos projetos de lei de iniciativa do presidente da República, ele poderá solicitar urgên-
cia na apreciação (art. 64, §1°, CF).

2.2.5.3 Lei complementar


As leis complementares se diferenciam em dois aspectos em relação às leis ordinárias. Uma
primeira diferença, de caráter formal, diz respeito ao quórum de aprovação das leis complemen-
tares, que exige maioria absoluta (art. 69, CF). A segunda, é de caráter material, porque ela
veicula normas que não poderiam comportar constantes alterações por meio de um processo
legislativo ordinário. Assim, quando se está diante desses conteúdos, a Constituição é expressa
ao exigir a lei complementar.

2.2.5.4 Medida provisória


O art. 62 da CF disciplina as medidas provisórias e determina que, em caso de relevância e
urgência, o presidente da República poderá adotá-las, com força de lei, devendo submetê-las de
imediato ao Congresso Nacional.

Em seu §1° dispõe as matérias que não podem ser objeto de medida provisória, sendo elas: a.
relativa à nacionalidade, cidadania, direito políticos, partidos políticos e direito eleitoral; direi-
to penal, processual penal e processual civil; organização do Poder Judiciário e do Ministério
Público, a carreira e a garantia de seus membros; planos plurianuais, diretrizes orçamentárias,
orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, §3° da CF;
b. que vise a detenção ou o sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo
financeiro; c. reservada a lei complementar; d. já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo
Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do presidente da República.

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O prazo para a aprovação das medias provisórias pelo Congresso Nacional é de 30 dias, prorro-
gável uma vez por igual período, nos termos do §7°. O prazo contar-se-á da publicação da me-
dida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional (§§ 3° e
4°). Passado esse prazo, com a ressalva dos §§ 11 e 12, perderão eficácia, desde a edição, de-
vendo o Congresso nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas decorrentes.

O §11 prevê que, se não for editado o decreto legislativo a que se refere o §3° até sessenta dias
após rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e de-
correntes de atos praticados durante a sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.

O §12 prevê que, aprovado projeto de lei de conservação alterando o texto original da medida
provisória, esta se manterá integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.

A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas provi-
sórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais (§5°).

Se a medida provisória não for apreciada em até 45 dias contados de sua publicação, entrará
em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional,
ficando sobestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da
Casa em que estiver tramitando.

Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medias provisórias e sobre


elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma
das Casas do Congresso Nacional (§9°). Sua votação inicia-se na Câmara dos Deputados (§8°).

Veda-se a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada
ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo (§10).

Se a medida provisória for aprovada sem alteração em seu texto original, haverá a promulgação
pelo presidente da Mesa do Congresso Nacional para a publicação no Diário Oficial da União.
Se houver alteração no projeto de conversão da medida provisória, deverá ser seguido o proces-
so legislativo comum.

2.2.5.5 Lei delegada


A Lei Delegada é espécie normativa (art. 59, IV, da Constituição) elaborada pelo presidente da
República que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. Nesses termos, o presidente
da República precisa da autorização do Poder legislativo para poder criar a Lei Delegada. Essa
autorização formaliza-se por meio de Resolução (art. 68, §2°, da CF), a qual apontará os limi-
tes a serem observados na criação da Lei Delegada. Eventualmente, o Poder Legislativo pode,
também, condicionar a sua criação a posterior apreciação por parte do Congresso, em votação
única, vedada qualquer emenda (art. 68, §3°, da CF).

Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os


de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada
à lei complementar, nem a legislação sobre: organização do Poder Judiciário e do Ministério
Público, a carreira e a garantia de seus membros; nacionalidade, cidadania, direitos individuais,
políticos e eleitorais; planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.

2.2.5.6 Decreto legislativo


É uma espécie normativa, prevista no art. 59, VI, da Constituição, de competência exclusiva do
Congresso Nacional, sendo promulgado pelo presidente do Senado, e não sujeito a sanção ou
veto. Destina-se a veicular as matérias previstas, basicamente, no art. 49 da Constituição. Além des-
tas, também é de sua competência a regulamentação exigida pelo art. 62 do Texto Constitucional.

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2.2.5.7 Resolução
É uma espécie normativa, prevista no art. 59, VII, da Constituição, utilizada para tratar das com-
petências privativas de cada uma das Casas do Congresso Nacional (arts. 51 e 52 da CF). Não
está sujeita a sanção ou veto, sendo promulgada pela Mesa da casa que a editou. No caso de a
resolução ser ato do Congresso Nacional, será promulgada pela Mesa do Senado (art. 68, §2°,
da CF). Também utiliza-se a Resolução nas hipóteses constitucionalmente previstas nos arts. 68,
§2°, 52, X, e 155, §2°, IV, da CF).

2.3 Poder Executivo


2.3.1 Composição do Poder Executivo
O Poder Executivo tem como função típica administrar o Estado, e também exerce as funções de
legislar e julgar de forma atípica.

Tendo em vista a forma federativa de Estado, o exercício do Poder Executivo divide-se nas esferas
federal, estadual, distrital e municipal.

Na esfera federal, é chefiado pelo presidente da República (cidadão brasileiro nato, idade mí-
nima de 35 anos – art.14, §3°, VI, “a”, CF), auxiliado pelo Vice-presidente e pelos Ministros de
Estado. Na esfera estadual, é chefiado pelo governador do Estado (cidadão brasileiro, idade mí-
nima de 30 anos – art. 14, §3°, VI, “b”, CF), auxiliado pelo Vice-governador e pelos Secretários
Estaduais. No Distrito Federal, tem-se o governador e Vice-governador, os quais são auxiliados
pelos Secretários Distritais. Na esfera municipal, é chefiado pelo prefeito do Município (cidadão
brasileiro, idade mínima de 21 anos – art. 14, §3°, VI, “c”, CF), auxiliado pelo Vice-prefeito e
pelos Secretários Municipais.

A direção dos Territórios Federais será realizada por governador, nomeado pelo presidente da
República, após a aprovação pelo Senado (arts. 33, §3°; 52, III, “c”, e 84, XIV, CF).

2.3.2 Presidencialismo e Parlamentarismo


Os sistemas de governo disciplinam a forma por meio da qual irão se relacionar os Poderes Exe-
cutivo e Legislativo no modelo de Separação de Poderes.

No sistema presidencialista de governo, as funções de Chefe de Estado (representação inter-


nacional) e Chefe de Governo (representação interna) encontram-se nas mãos de uma única
pessoa, o presidente da República.

No sistema parlamentarista, a função de Chefe de Governo será desempenhada pelo Primei-


ro Ministro, enquanto que a função de Chefe de Estado poderá ser exercida pelo presidente
da República (República parlamentarista) ou pelo Monarca (Monarquia parlamentarista). Assim,
verifica-se que há uma separação maior entre os poderes por meio do sistema presidencialista
de governo, isso porque, no parlamentarismo, há um deslocamento de parcela das atribuições
executivas (chefe de governo) para o Legislativo.

No Brasil, por determinação do art. 2° do ADCT, foi realizado plebiscito para a escolha do siste-
ma e da forma de governo, em que se afirmou o sistema presidencialista e a forma republicana
de governo.

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2.3.3 Eleição, posse e sucessão
A eleição do presidente da República e do Vice-presidente será realizada no primeiro domingo de
outubro (primeiro turno) e, se necessário (observar o art. 77, §3°, CF), também no último domin-
go de outubro (segundo turno) do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente,
e será considerado eleito o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria
absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos. Se remanescer, em segundo lugar,
mais de um candidato com a mesma votação, será qualificado o mais idoso. O mandado do
presidente da República é de 4 anos.

Observe que, se ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato antes de reali-
zado o segundo turno, será convocado, dentre os remanescentes, o de maior votação. A posse
ocorrerá em 1° de janeiro do ano subsequente (art. 77 CF). O presidente e o Vice-presidente to-
marão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender
e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar
a união, a integridade e a independência do Brasil. Se decorridos dez dias da data fixada para
a posse e o presidente ou o Vice-presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o
cargo, este será declarado vago (art. 78, caput e parágrafo único).

O presidente será substituído (impedimento) e sucedido (vacância) pelo Vice-presidente, e na fal-


ta deste, sucessivamente, pelo presidente da Câmara dos Deputados, pelo presidente do Senado
Federal, pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (art. 80, CF). Estes últimos são chamados
de “substitutos temporários”, já que a sucessão por eles será sempre provisória. Isso porque, se
houver vacância dos cargos (ausência definitiva do cargo – exemplos: morte e renúncia) de pre-
sidente ou de Vice-presidente da República nos dois primeiros anos do mandato, haverá novas
eleições diretas. Se a vacância ocorrer nos dois últimos anos do mandato, a eleição será indire-
ta, pelo Congresso Nacional, em 30 dias (art. 81, caput e §1°, CF). Em qualquer dos casos, os
eleitos deverão completar o período de seus antecessores.

O presidente e o Vice-presidente não poderão, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se


do País por período superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo.

As regras previstas para eleição, posse e sucessão do presidente da República aplicam-se, com
as devidas adaptações, aos governadores e Vice-governadores.

Aos prefeitos e Vice-prefeitos, também serão aplicadas as regras do art. 77 da Constituição. Con-
tudo, se nos casos de Municípios com mais de duzentos mil eleitores (art. 29, II, CF) a eleição ocor-
rer por meio do sistema majoritário de maioria absoluta, em relação aos Municípios com menos
de duzentos mil eleitores, deverá ser aplicado o sistema majoritário de eleição de maioria simples.

2.3.4 Atribuições do chefe do Poder Executivo


As atribuições do presidente da República encontram-se previstas no art. 84 da Constituição.
Contudo, trata-se de rol exemplificativo, pois prevê poder o presidente da República exercer
outras atribuições previstas constitucionalmente. Salienta-se que ele apenas pode delegar as
atribuições previstas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procu-
rador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que, inclusive, observarão os limites
traçados nas respectivas delegações.

21
Tópicos em Direito 1

Nesse sentido, entre as principais atribuições do presidente da república, compete a ele privati-
vamente:

• nomear e exonerar os Ministros de Estado;

• participar do processo legislativo: seja para iniciar o processo legislativo, na forma e nos
casos previstos na Constituição, seja para sancionar, promulgar e fazer publicar as leis,
bem como para expedir decretos e regulamentos para a sua fiel execução;

• atuar no plano internacional: para manter relações com Estados estrangeiros e acreditar
seus representantes diplomáticos, seja para celebrar tratados, convenções e atos
internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;

• exercer o comando superior das Forças Armadas;

• nomear, com a aprovação do Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e


dos Tribunais Superiores, os governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República,
o presidente e os Diretores do Banco Central, os Ministros do Tribunal de Contas da
União, e nomear livremente os magistrados, o Advogado-Geral da União, nos casos
previstos na Constituição, os dois cidadãos a comporem o Conselho da República (art.
89, VII, CF), os membros do Conselho Nacional do Ministério Público (art. 130-A. CF) e
do Conselho Nacional de Justiça (art. 103-B, CF).

2.3.5 Conselho da República e Conselho da Defesa Nacional


Ambos são órgãos superiores de consulta do presidente da República, responsáveis por produzi-
rem pareceres de caráter não vinculativo. Participam do Conselho da República o Vice-presidente
da República, o presidente da Câmara dos deputados, o presidente do Senado Federal, os líderes
da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados e, também, no Senado Federal, Ministro da
Justiça e seis cidadãos brasileiros natos, com mais de 35 anos de idade, sendo dois nomeados
pelo presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos
Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução. O presidente da República
poderá convocar Ministro de Estado para participar da reunião do Conselho, quando constar da
pauta questão relacionada com o respectivo Ministério.

Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre intervenção federal, estado de defesa


e estado de sítio e, também, sobre as questões relevantes para a estabilidade das instituições
democráticas.

Já o Conselho de Defesa Nacional atua nos assuntos relacionados com a soberania nacional e
a defesa do Estado democrático, competindo-lhe opinar nas hipóteses de declaração de guerra
e de celebração da paz, nos termos da Constituição; opinar sobre a decretação do estado de
defesa, do estado de sítio e intervenção federal; propor os critérios e as condições de utilização
de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, espe-
cialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recur-
sos naturais de qualquer tipo; e estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas
necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático.

Participam do Conselho de Defesa Nacional: o Vice-presidente da República, o presidente da


Câmara dos Deputados, o presidente do Senado Federal, o Ministro da Justiça, o Ministro de Es-
tado da Defesa, o Ministro das Relações Exteriores, o Ministro do Planejamento, os Comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

22 Laureate- International Universities


2.3.6 Processo de julgamento do presidente da República nos crimes de
responsabilidade
Em uma República, uma das suas características marcantes é a responsabilidade dos governantes
pelos atos que ele pratica na condução da administração da sociedade.

O processo adequado para apurar a prática de crime de responsabilidade é o processo de


impeachment, desenvolvido no âmbito do Poder Legislativo, previsto nos arts. 85 e 86 da Cons-
tituição e na Lei nº 1.079/50. Qualquer cidadão pode apresentar a acusação da prática de um
crime de responsabilidade.

Configura-se crime de responsabilidade os atos que atentem contra a Constituição e, especial-


mente, contra: a existência da União; o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário,
do Ministério Público e dos Poderes constitucionais da Federação; o exercício dos direitos po-
líticos, individuais e sociais; a segurança interna do País; a probidade na administração; a lei
orçamentária; e o cumprimento das leis e decisões judiciais. Além de ser um rol exemplificativo
de atos, previstos no art. 85 da Constituição, são normas abertas em sua textura normativa.

Não é apenas o presidente que pode sofrer o processo de impeachment, mas também o Vice-
-presidente da República, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles, e também os
Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Con-
selho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da
União (art. 52, I e II, CF).

O art. 86 da Constituição divide o processo de impeachment em duas fases: a. juízo de admis-


sibilidade na Câmara dos Deputados; b. submissão a julgamento no Senado Federal. Nesse
sentido, admitida a acusação contra o presidente da República por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Senado Federal, e quem irá presidir o
julgamento no Senado será o presidente do Supremo Tribunal Federal.

Nota-se que, se houver a instauração do processo pelo Senado Federal, o presidente da Re-
pública ficará suspenso de suas funções pelo período de 180 dias. Decorrido este prazo sem a
conclusão do julgamento, cessará o afastamento do presidente, sem prejuízo do regular prosse-
guimento do processo.

A condenação no processo de impeachment será proferida por 2/3 dos votos do Senado Federal
e ensejará a aplicação de penalidade de natureza política, a perda do cargo, com inabilitação,
por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais
cabíveis (art. 52, parágrafo único, CF).

Na ADPF nº 378, o Supremo Tribunal Federal, ao analisar a recepção da Lei nº 1.079/1950,


definiu alguns aspectos em relação ao processo de impeachment, entre os quais se destacam:

• apresentada a denúncia contra o presidente da República por crime de responsabilidade,


compete à Câmara dos Deputados autorizar a instauração do processo. A Câmara exerce,
assim, um juízo eminentemente político sobre os fatos narrados, que constitui condição
para o prosseguimento da denúncia. Ao Senado compete, privativamente, processar e
julgar o presidente, locução que abrange a realização de um juízo inicial de instauração
ou não do processo, isto é, de recebimento ou não da denúncia autorizada pela Câmara;

• rito do impeachment na Câmara dos Deputados: o Plenário da Câmara deve deliberar


uma única vez, por maioria qualificada de seus integrantes, sem necessitar, porém,
desincumbir-se de grande ônus probatório. Compete à Casa Legislativa apenas autorizar
ou não a instauração do processo (condição de procedibilidade);

23
Tópicos em Direito 1

• rito do impeachment no Senado: a instauração do processo pelo Senado se dá por


deliberação de maioria simples de seus membros, a partir de parecer elaborado por
Comissão Especial.

2.3.7 Processo e julgamento do presidente da República nos crimes comuns


Como característica de uma República, verifica-se a responsabilidade dos governantes pelos atos
que ele pratica. Contudo, a depender do cargo, a Constituição garante imunidade, com a finali-
dade de garantir a proteção de quem o exerce. As infrações comuns abrangem todas as infrações
penais, inclusive os delitos eleitorais, crimes contra a vida e as contravenções penais. Além da
previsão constitucional por meio dos arts. 85 e 86, a Lei nº 8.038/90 também regulamenta a
matéria ao tratar de normas procedimentais para processos perante o STF e o STJ.

O processo para responsabilizar o presidente da República pela prática de crime comum é divi-
dido em duas fases: a. juízo de admissibilidade na Câmara dos Deputados; e b. julgamento pelo
Supremo Tribunal Federal. Admitida a acusação contra o presidente da República, por 2/3 da
Câmara dos Deputados, pela prática de infração penal comum, será ele submetido a julgamento
perante o Supremo Tribunal Federal (art. 86, CF).

Se a denúncia ou queixa-crime for recebida pelo Supremo Tribunal Federal, o presidente da Re-
pública ficará suspenso de suas atribuições pelo período de 180 dias. Decorrido o prazo sem que
se tenha concluído o julgamento, cessará o afastamento do presidente, sem prejuízo do regular
prosseguimento do processo. Em caso de condenação, a penalidade a ser aplicada a esses casos
é aquela prevista na norma penal.

Há que observar que a Constituição, na vigência do mandato, só permite que o presidente da


República seja responsabilizado pela prática de um crime comum em razão da função. Por isso
é chamada de irresponsabilidade relativa, já que, enquanto durar o mandato, não será respon-
sabilizado pelas infrações cometidas antes do início do mandato e aquelas cometidas durante o
exercício do mandato mas que não tenham correlação com as funções do presidente da Repúbli-
ca. Ficará suspensa a prescrição durante o período do mandato.

Destaca-se a inexistência de foro privilegiado para as ações populares, ações civis públicas e
ações por ato de improbidade movidas contra o presidente da República.

Outro aspecto importante de ser ressaltado é em relação à possibilidade de o presidente da


República ser preso. Nesse sentido, enquanto não sobrevier sentença condenatória nas infrações
comuns, o presidente da República não estará sujeito à prisão.

2.4 Poder Judiciário


2.4.1 Estrutura do Poder Judiciário
O Poder Judiciário exerce a jurisdição como função típica. Isso quer dizer que é o Poder respon-
sável por aplicar o direito ao caso concreto, com a finalidade de resolver as lides. Estrutura-se
por meio de uma justiça comum (Estadual e Federal) e outra especializada (Justiça do Trabalho,
Justiça Eleitoral e Justiça Militar).

A Justiça Federal, primeira instância, tem como competência o estabelecido no art. 109 da
Constituição, enquanto que a Justiça Estadual tem caráter residual. As justiças especializadas se
destacam pela matéria específica que envolve suas respectivas atuações. Nota-se que há autori-
zação constitucional para a criação de Juizados Especiais e da Justiça de Paz (art. 98, I e II, CF),
bem como para a criação da Justiça Militar Estadual (art. 125, §3°, CF).

24 Laureate- International Universities


Nos termos do art. 92 da Constituição, são órgãos do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal
Federal, o Conselho Nacional de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, os
Tribunais e Juízes do Trabalho, os Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes Militares, os
Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacio-
nal. Contudo, apenas as decisões do Supremo Tribunal Federal é que se sobrepõem a todas as
Justiças e os Tribunais.

Deve-se observar que nos tribunais com número superior a 25 julgadores, poderá ser constituído
órgão especial, com o mínimo de 11 e o máximo de 25 membros, para o exercício das atribuições
administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade
das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno (art. 93, XI, CF).

O ingresso na carreira da magistratura, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, ocorrerá me-
diante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do
Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em Direito, no mínimo, três anos de atividade
jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação. A promoção de entrância
para entrância será, alternadamente, por antiguidade e merecimento, atendidas as normas pre-
vistas no art. 93, II, da Constituição.

2.4.2 A reforma do Poder Judiciário (EC 45/2004)


A Reforma do Poder Judiciário, implementada pela Emenda Constitucional nº 45 de 17 de no-
vembro de 2004, trouxe significativas alterações à Constituição, sendo elas:

• instituição do princípio da celeridade ou razoável duração do processo (art. 5°, LXXVIII,


CF), segundo o qual “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”;

• o reconhecimento aos tratados de direitos humanos, aprovados pelo processo de emenda


constitucional, de status de Emenda Constitucional (art. 5°, §3°, CF – “Os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros,
serão equivalentes às emendas constitucionais”);

• submissão do Brasil à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha


manifestado adesão (art. 5°, §4°, CF);

• exigência ao bacharel em Direito de três anos de atividade jurídica para ingresso na


magistratura e no Ministério Público (arts. 93, I, e 129, §3°, CF);

• fim das férias coletivas no Judiciário (art. 93, XII, CF – “[...] a atividade jurisdicional
será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau,
funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão
permanente”);

• passa a constituir etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a participação em


curso oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de
magistrados (art. 93, IV, CF);

• não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do
prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão
(art. 93, II, “e”, CF);

25
Tópicos em Direito 1

• controle externo da magistratura e do Ministério Público, que será exercido pelos Conselhos
Nacionais da Magistratura (CNJ – art. 103-B, §1° a §7°) e do Ministério Público (CNMP
– art. 130-A, §1° a §5°);

• a federalização de crimes contra direitos humanos (art. 109, V-A e §5°, CF – “Nas
hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República,
com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante
o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal”);

• justiça itinerante e descentralizada (arts. 107, §2° e §3°, 115, §1° e §2°, 125, § 6° e §7°,
CF), e possibilidade de o Tribunal de Justiça propor a criação de varas especializadas para
dirimir conflitos fundiários, com competência exclusiva para questões agrárias (art. 126, CF);

• extinção dos Tribunais de Alçada (art. 4°, EC n° 45/04);

• instituição da “quarentena de saída” dos membros da magistratura e do Ministério Público


de três anos para o exercício da advocacia nos juízos ou tribunais de que se afastaram
(art. 95, parágrafo único, V e art. 128, §6°, CF);

• ampliação da legitimidade ativa da ação declaratória de constitucionalidade (art. 103,


CF) e, também, a constitucionalização do efeito dúplice ou ambivalente da ADI e da ADC;

• o Supremo Tribunal Federal julgará, mediante recurso extraordinário, a decisão recorrida


que julgar válida lei local contestada em face de lei federal (art. 102, III, “d”, CF);

• no recurso extraordinário, o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das


questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal
examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois
terços de seus membros (art. 102, §3°, CF);

• no que tange a competência do Superior Tribunal de Justiça, ele julgará, em recurso


especial a decisão recorrida que julgou válido ato de governo local contestado em face
de lei federal e processará e julgará, originariamente, a homologação de sentenças
estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias (art. 105, III, “b”, e I, “i”, CF);

• ampliação da competência da Justiça do Trabalho (art. 114) e do número de Ministros do


Tribunal Superior do Trabalho (de 17 para 27) e estabelecimento do quinto constitucional
na área trabalhista (art. 111-A, I e II, e 115, I e II, CF);

• criação da Súmula Vinculante do STF – o Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou


por provocação, mediante decisão de 2/3 dos seus membros, após reiteradas decisões
sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa
oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem
como proceder a sua revisão ou seu cancelamento, na forma estabelecida em lei (art.
103-A, CF). A EC nº 45/04 (art. 8°) também trouxe a possibilidade de que as súmulas
do STF possam produzir efeito vinculante após sua confirmação por dois terços de seus
integrantes e publicação na imprensa oficial;

• exigência de maioria absoluta (somada ao interesse público) para violação da


inamovibilidade dos magistrados e membros do Ministério Público (arts. 93, VIII, e 128,
§5°, I, “b”, CF);

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• às Defensorias Públicas Estaduais, da União e do DF são asseguradas autonomia
funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99,
§2° (art. 134, §2° e §3°, CF).

2.4.3 Conselho Nacional de Justiça


O Conselho Nacional de Justiça, criado pela EC nº 45/04, é órgão de natureza administrativa
do Poder Judiciário. Compete a ele exercer o controle da atuação administrativa e financeira do
Poder Judiciário, bem como dar cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe
outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura (art. 103-B, §4°, CF).

Por ser órgão administrativo do Poder Judiciário, ressalta-se que ele não possui funções jurisdi-
cionais e, também, a ele não é permitido interferir nas funções típicas do Poder Judiciário. Ao
contrário, suas decisões podem ser controladas pelos órgãos jurisdicionais.

Compõe-se de 15 membros com mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo eles:
o presidente do Supremo Tribunal Federal; um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado
pelo respectivo tribunal; um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo
tribunal; um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;
um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; um juiz de Tribunal Regional Federal,
indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de
Justiça; um juiz de Tribunal Regional do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do trabalho; um membro do Ministério Pú-
blico da União, indicado pelo Procurador-Geral da República; um membro do Ministério Público
estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão
competente de cada instituição estadual; dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da
ordem dos Advogados do Brasil; dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada,
indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal (art. 103-B, CF).

O Conselho será presidido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e
nos seus impedimentos, pelo Vice-presidente do Supremo Tribunal Federal. Os demais membros
do Conselho serão nomeados pelo presidente da República, depois de aprovada a escolha pela
maioria absoluta do Senado.

2.4.4 Garantias funcionais do judiciário


Os magistrados possuem constitucionalmente as garantias da vitaliciedade, inamovibilidade e
irredutibilidade de subsídio, com a finalidade de lhe garantir a imparcialidade no exercício de
suas funções (art. 95, CF).

A vitaliciedade garante ao magistrado que só perderá o seu cargo por meio de decisão judicial
transitada em julgado. No primeiro grau de jurisdição, só será adquirida após dois anos de
exercício, dependendo, a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz
estiver vinculado. Já no segundo grau, ela é garantida com o efetivo exercício (quinto constitu-
cional).

A inamovibilidade é a vedação de remoção do magistrado de um cargo para outro, salvo por


motivo de interesse público, mediante decisão por voto da maioria absoluta do respectivo Tribu-
nal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada a ampla defesa (art. 93, VIII, CF).

A irredutibilidade de subsídio consiste na impossibilidade de redução do subsídio dos magis-


trados, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, §4°, 150, II, 153, III, e 153, §2°, I, da
Constituição.

27
Tópicos em Direito 1

2.4.5 A regra do quinto constitucional


O art. 94 da Constituição disciplina a regra do quinto constitucional, segundo a qual 1/5 dos
lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Ter-
ritórios será composto de membros do Ministério Público com mais de dez anos de carreira e
de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas
classes. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo,
que, nos 20 dias subsequentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação. Fique atento,
porque com a EC nº 45/2004 foi acrescentada a regra do quinto constitucional nos Tribunais
Regionais do Trabalho (art. 115, I, CF) e no Tribunal Superior do Trabalho (art. 111-A, I, CF).

2.4.6 Supremo Tribunal Federal


O Supremo Tribunal Federal é órgão de cúpula do Judiciário que tem como função primordial a
guarda da Constituição Federal.

Compõe-se de 11 Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de
sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Seus membros são
nomeados pelo presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta
do Senado Federal.

Sua competência divide-se em competência originária (art. 102, I, CF) e recursal, por meio de
recurso ordinário e recurso extraordinário (art. 102, II e III, CF).

2.4.7 Superior Tribunal de Justiça


O Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi criado pela Constituição de 1988 para assegurar a su-
premacia da Legislação Federal em todo o País.

Compõe-se de no mínimo 33 Ministros que serão nomeados pelo presidente da República, den-
tre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurí-
dico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado, sendo
1/3 dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e 1/3 dentre desembargadores dos Tribunais
de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal e, ainda, 1/3, em partes
iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal
e Territórios, alternadamente, indicados na forma do art. 94.

Sua competência divide-se em competência originária (art. 105, I, CF) e recursal, por meio de
recurso ordinário e recurso especial (art. 105, II e III, CF).

2.4.8 Reclamação
A reclamação tem por objetivo preservar a competência e garantir a autoridade das decisões do
Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça (arts. 102, I, “l”, e 105, I, “f”, CF).
Após a EC nº 45/04, que acrescentou o §3° ao art. 103-A, ela caberá, também, contra ato ad-
ministrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar.
Julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada,
e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.

28 Laureate- International Universities


3 Ações constitucionais

3.1 Remédios constitucionais


3.1.1 Habeas corpus
O habeas corpus tem seu nascimento com a “Magna Carta” (1215) e, também, com o “habeas
corpus act” (1679). Desde a Constituição Brasileira de 1824, protege-se a liberdade de locomo-
ção, mas o habeas corpus, como instrumento constitucional, teve sua proteção primeiramente
garantida com a Constituição Brasileira de 1891, sendo mantida a partir de então pelos demais
diplomas constitucionais criados posteriormente. Na atual Constituição, encontra sua previsão
no art. 5°, LXVIII, segundo o qual: “[...] conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer
ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ile-
galidade ou abuso de poder”.

Tem como objeto a proteção da liberdade de locomoção do indivíduo, cuja finalidade é fazer
cessar violência ou coação da liberdade, decorrente de abuso de poder e de ilegalidade. Nesse
sentido, é garantia individual que tem por objeto de proteção a liberdade de ir e vir das pessoas.

As hipóteses de cabimento referem-se a: a. ato lesivo ou sua ameaça à liberdade de locomoção;


b. ameaça ou lesão decorrente de violência ou coação e que estas tenham origem na ilegalidade
ou no abuso do poder.

Quanto aos aspectos formais, salienta-se que esta garantia não exige formalidades para sua
impetração. Não há a exigência de capacidade postulatória nem dependência de representação
por advogado. É uma ação gratuita (art. 5°, LXXVII, CF). Contudo, deve-se ressaltar que, apesar
da informalidade que rege esse instrumento, não há possibilidade de impetração apócrifa, não
assinada pelo impetrante e que não contenha qualquer autenticação. Trata-se de ação sumarís-
sima e que, por isso, exige prova pré-constituída.

São duas as modalidades dessa garantia: repressiva e preventiva. Na modalidade repressiva,


também chamada de liberatória, ocorre com o objetivo de afastar constrangimento ilegal à liber-
dade de locomoção. Já na modalidade preventiva, o objetivo é afastar a ameaça à liberdade de
locomoção, hipótese em que é possível expedir, por autoridade competente, um salvo conduto
para garantir o livre trânsito de ir e vir.

O autor do habeas corpus denomina-se impetrante; o indivíduo em favor do qual se impetra,


paciente. Observa-se que o paciente pode ser o próprio impetrante; e, denomina-se autoridade
coatora, ou impetrado, a autoridade que pratica a ilegalidade ou abuso de poder.

• Quanto à legitimidade ativa: qualquer pessoa física (nacional ou estrangeira), em seu


favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público (art. 654, CPP) ou pessoa jurídica
em favor de pessoa física. Outra situação é a possibilidade de juiz competente, que pode
expedir de ofício o habeas corpus, e, também, o escrevente judicial ou o funcionário
público, no caso de estarem sendo impedidos de postular em juízo, no desempenho de
suas funções. Observe que o art. 192 do Regimento Interno do STF aponta que impetrado
o habeas corpus por estranho, dele não se conhecerá se desautorizado pelo paciente.

• Quanto à legitimidade passiva: é a autoridade ou o agente público. Trata-se do coator,


aquele que exerce ou ameaça exercer o constrangimento ilegal, sendo omissivo ou
comissivo. Alerta-se para a possibilidade de o habeas corpus ser impetrado em face de
particular, por exemplo, hospital psiquiátrico que priva o paciente de sua liberdade de ir e
vir, ilegalmente, atendendo aos pedidos desumanos de filhos que abandonam os seus pais.

29
Tópicos em Direito 1

O órgão competente para apreciar a ação de habeas corpus será determinado de acordo com
a autoridade coatora.

O prazo para a impetração é o período em que o indivíduo sofrer ou se achar ameaçado de


sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

3.1.2 Habeas data


O habeas data é garantia constitucional, instituída pela Constituição de 1988, que encontra
previsão no seu art. 5°, LXXII, segundo o qual, regulamentado pela Lei nº 9507/1997,

[...] conceder-se-á habeas data: a. para assegurar o conhecimento de informações relativas à


pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais
ou de caráter público; b. para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo.

São hipóteses de cabimento: a. para assegurar o conhecimento de informações relativas à pes-


soa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou
de caráter público; b. para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo; c. para a anotação nos assentamentos do interessado, de
contestação ou explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável e que esteja sob pendência
judicial ou amigável.

Como condição de procedibilidade, observa-se que deve haver a recusa por parte dos bancos
de dados de entidades governamentais ou de caráter público e, também, a inexistência de sigilo
que comprometa à segurança do Estado e sociedade.

É importante frisar que, havendo decisão de indeferimento por parte da autoridade no prazo
legal, o requerente deve exigir a formalização da negativa do pleito. Isso significa que esse do-
cumento será fundamental para a interposição do habeas data no poder judiciário, sem o qual
o juízo ou tribunal não dará andamento ao processo, indeferindo liminarmente a peça inicial.

Por força do art. 5°, LXXVII, da Constituição, o requerimento administrativo e a ação de habeas
data são inteiramente gratuitos.

• Legitimidade ativa: qualquer pessoa, física ou jurídica, poderá ajuizar a ação constitucional
de habeas data para ter acesso às informações a seu respeito.

• Legitimidade passiva: dependerá da natureza jurídica do banco de dados. Lembre-se que


pode ser impetrado contra entidade governamental ou entidades privadas prestadoras de
serviço público, por exemplo, as empresas de serviço de proteção ao crédito (SPC).

• Competência: dependerá da qualidade da autoridade que tem as informações


armazenadas.

• Prazo para a impetração: não há prazo para impetração. Entretanto, uma vez dada
entrada com a ação de habeas data, o juiz notificará a autoridade para que ela preste
a(s) informação(s) no prazo improrrogável de 10 dias.

30 Laureate- International Universities


3.1.3 Mandado de Segurança
O Mandado de Segurança tem seu nascimento com a Constituição de 1934, sendo mantido
pelos diplomas constitucionais que vieram em sequência. Na atual Constituição, encontra sua
previsão no art. 5°, LXIX, segundo o qual:

[...] conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder
Público.

O Mandado de Segurança encontra-se regulamentado pela Lei nº 12.016/2009.

As hipóteses de cabimento são:

• Direito líquido e certo: é aquele que pode ser comprovado, pelo julgador, tão logo a
impetração do mandado de segurança, não cabendo, assim, comprovação posterior, pois
não seria líquido e certo. Cabe salientar que o mandado de segurança deve apresentar-
se com prova pré-constituída, ou seja, reafirmando o fato de não haver possibilidade de
se juntar prova aos autos após a sua impetração. Neste sentido, é o direito comprovado
juntamente com a petição inicial. Também observa-se que a liquidez e certeza referem-
se a fatos (Súmula 625, STF). Entretanto, nada impede que o interessado procure outros
meios judiciais, tendo em vista que o mandado de segurança não obsta o acesso a
possíveis vias judiciais;

• Direito não amparável por habeas corpus ou habeas data: a utilização do Mandado de
Segurança é residual.

• Ilegalidade ou abuso de poder: a ilegalidade configura-se com os desvios de padrões de


legalidade (relacionada aos atos vinculados), enquanto que o abuso de poder revela-se
quando há a extrapolação de determinada competência, assim entendida como o desvio
de sua finalidade (relacionada com os atos discricionários).

Há duas modalidades de Mandado de Segurança: repressivo e preventivo. Trata-se de mandado


de segurança repressivo quando já tiver ocorrido a ilegalidade ou o abuso de poder. Ao contrá-
rio, será o mandado de segurança preventivo quando se pretender prevenir a violação de direito
líquido e certo.

• Legitimidade ativa: é o impetrante do mandado de segurança, o detentor do direito


líquido e certo não amparado por habeas corpus e habeas data. Pode ser: pessoas físicas
(brasileiras ou não, residentes ou não, domiciliadas ou não), jurídicas, órgãos públicos
despersonalizados, porém com capacidade processual (Chefias dos Executivos, Mesas
do Legislativo), universalidades de bens e direitos (espólio, massa falida, condomínio),
agentes políticos (governadores, parlamentares), Ministério Público, entre outros.

• Legitimidade passiva: é a autoridade coatora, a qual pode ser integrante do Poder Público
em qualquer grau, seja da Administração Direta ou Indireta, assim como delegatários de
funções públicas ou particulares que executem, a qualquer título, atividades, serviços e
obras públicas. Exemplo: universidades privadas.

• Competência: o órgão competente para apreciar o mandado de segurança será


determinado de acordo com a autoridade coatora e sua sede funcional.

• Prazo para a impetração: o prazo é decadencial de 120 dias, a contar da data em que
o interessado tiver conhecimento oficial do ato a ser impugnado. Não há suspensão ou
interrupção desse prazo.

31
Tópicos em Direito 1

O Mandado de Segurança Coletivo diferencia-se do Mandado de Segurança Individual apenas


quanto à legitimidade ativa e seu objeto de proteção. Sua hipótese de cabimento se refere à pro-
teção aos direitos transindividuais, sejam eles coletivos ou individuais homogêneos. Os direitos
coletivos são aqueles de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica. Já os individuais homo-
gêneos são os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade
ou de parte dos associados ou membros do impetrante.

• Legitimidade ativa: partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa


de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou
por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há, pelo menos, um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados.

3.1.4 Mandado de Injunção


O Mandado de Injunção é novidade da Constituição de 1988, que tem por finalidade assegurar
a fruição de direitos garantidos constitucionalmente. Encontra-se previsto no art. 5°, LXXI, nos
seguintes termos: “Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regula-
mentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”. A novidade é sua recente regulamentação
pela Lei nº 13.300, publicada em 23.06.2016.

Verifica-se, como hipótese de cabimento, que essa garantia constitucional tem por finalidade
efetivar direitos e liberdades constitucionais que não podem ser usufruídos em razão da falta de
norma regulamentadora. Em outras palavras, é utilizado quando há omissão normativa de nor-
ma constitucional de eficácia limitada, impedindo o exercício de um direito em caso concreto.
Ademais, deve-se lembrar que a omissão poderá ser parcial, sendo aquela em que a regulamen-
tação for insuficiente.

• Legitimidade ativa: qualquer pessoa (física ou jurídica). Alerta-se que a pessoa jurídica
de direito público também tem legitimidade ativa para a propositura de mandado de
injunção, e é necessária a atuação do advogado.

• Legitimidade passiva: em face de órgão ou poder incumbido de elaborar a norma.


Portanto, nunca em relação ao particular.

• Competência: será determinada com base na fonte de onde deveria ter emanado a norma
faltante (art. 102, I, “q”, II, “a”, art. 105, I, “h”, e art. 125, CF).

• Prazo para a impetração: enquanto persistir a omissão normativa. Não há prazo de


prescrição ou decadência.

• Efeitos da decisão: reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção


para: a. determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma
regulamentadora (será dispensada essa determinação quando comprovado que o
impetrado deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido
para a edição da norma); b. estabelecer as condições em que se dará o exercício dos
direitos, das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições
em que poderá o interessado promover ação própria visando exercê-los, caso não seja
suprida a mora legislativa no prazo determinado.

Observar a evolução da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto à sua posição em rela-
ção às decisões proferidas em mandado de injunção. São elas: a. posição não concretista; b. posi-
ção concretista individual intermediária; c. posição concretista direta; d. posição concretista geral.

32 Laureate- International Universities


Já o Mandado de Injunção Coletivo é aquele que pode ser promovido: a. pelo Ministério Público,
quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem jurídica, do regi-
me democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis; b. por partido político com
representação no Congresso Nacional, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prer-
rogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade partidária; c. por organização
sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo
menos um ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da
totalidade ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que
pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial; d. pela Defensoria
Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a promoção dos direitos
humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados.

3.1.5 Ação Popular


A Ação Popular encontra previsão no art. 5°, LXXIII, segundo o qual:

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

Encontra-se regulamentada pela Lei nº 4717/65.

Tem como hipótese de cabimento: é utilizada na proteção de interesses difusos. Isso significa que
é garantia voltada à impugnar atos lesivos ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Por
lesividade, deve-se entender, também, ilegalidade.

Cumpre observar que não é possível a sua utilização na defesa de interesses particulares, contra
atos jurisdicionais, contra lei em tese e tendo como finalidade o controle de constitucionalidade.

São duas as modalidades: repressiva e preventiva. Trata-se de ação popular repressiva quando
visa corrigir os atos danosos consumados. Ao contrário, será ação popular preventiva quando
ajuizada antes da consumação dos efeitos do ato lesivo.

• Legitimidade ativa: é do cidadão. Compreende os brasileiros natos ou naturalizados e,


também, os portugueses equiparados. É necessária a atuação de advogado.

• Legitimidade passiva: o agente público que praticou ou ato lesivo ao patrimônio público,
a entidade lesada e os beneficiários de tal ato.

• Competência: dependerá da autoridade que poderá desfazer o ato impugnado. Assim,


deve-se verificar a origem do ato impugnado, sendo a regra o juízo de primeiro grau.

• Prazo para a impetração: a ação popular prescreve em cinco anos.

3.1.6 Ação Civil Pública


A Ação Civil Pública foi introduzida no Brasil pela Lei nº 7347/1985. Contudo, a Constituição
de 1988 a incorporou em seu art. 129, III, o qual prevê que: “São funções institucionais do
Ministério Público: [...] III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção
do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.
Atualmente, a Lei nº 7347/1985 (modificada pela Lei nº 8078/1990) possui apenas caráter pro-
cessual. Inclusive, posteriormente, também foram criadas outras Leis com o objetivo de ampliar
o seu âmbito de proteção.

33
Tópicos em Direito 1

Hipótese de cabimento: trata-se de instrumento utilizado para impedir danos ao meio ambiente,
ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e
por infrações da ordem econômica, à ordem urbanística e à honra e dignidade de grupos raciais,
étnicos ou religiosos, protegendo-se, assim, os interesses difusos, coletivos e individuais homogê-
neos, desde que socialmente relevantes.

• Inquérito civil: é um procedimento administrativo preliminar para a apuração dos atos


lesivos. Assim, se houver provas suficientes para a ação, o inquérito civil será dispensável.

• Legitimidade ativa: Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estados, Distrito Federal,
Municípios, autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista ou
associações constituídas há pelo menos um ano, nos termos da Lei Civil, que tenham por
fim a proteção de interesses difusos e coletivos.

• Legitimidade passiva: em face da Administração Pública ou de particular.

• Competência: a ação civil pública deve ser proposta no foro do local onde ocorrer o
dano. Trata-se de natureza funcional e, portanto, absoluta e improrrogável.

A ação civil pública pode ser utilizada como instrumento de controle de constitucionalidade das
leis, desde que seja incidentalmente, ou seja, no curso de um processo concreto. Nesse caso, os
efeitos estarão vinculados às partes do processo. Cabe observar que, se a questão constitucional
for o objeto principal da demanda, não se admitirá a ação civil pública, pois os seus efeitos são
erga omnes, e desse modo haveria a equiparação aos efeitos do controle concentrado e usurpa-
ção da competência do Supremo Tribunal Federal (RCL 633-6, SP).

4 Organização do estado (artigos 18/36,


CF)

4.1 Federação
No estudo das formas de Estado, distingue-se claramente o Estado unitário do Estado federal. No
primeiro, existe um único centro de poder político, que pode criar e extinguir, de acordo com a
vontade de seus titulares, pessoas jurídicas para gerir serviços públicos locais, por exemplo. No
segundo, por sua vez, o poder político é descentralizado por força da Constituição Federal, que
prevê a existência de entes federativos autônomos, todos integrantes da federação, que repartem
competências entre eles.

A origem próxima da Federação pode ser encontrada na formação dos Estados Unidos da Amé-
rica, quando as treze colônias britânicas da América do Norte, lutando contra o que conside-
ravam arbítrio do rei inglês, declaram independência à metrópole (1776), tornando-se Estados
soberanos. A partir daí, unem esforços para vencer definitivamente a guerra estabelecida contra
os ingleses, formando, por exemplo, um exército comum. Ocorre que toda a atuação conjunta
estava regida por um tratado internacional (Artigos de Confederação), o qual poderia ser rompi-
do a qualquer momento pelos signatários.

Algum tempo depois do fim da guerra, buscando aprofundar e trazer maior estabilidade ao vín-
culo entre eles, os treze novos Estados abrem mão da soberania e retêm a autonomia para editar
a Constituição dos Estados Unidos da América. Com isso, há a criação de um novo Estado (EUA),
uma Federação composta pelos Estados-membros que aderiram, bem como por um novo ente,
a União, criada para desempenhar de modo centralizado certas tarefas.
34 Laureate- International Universities
Dos Estados Unidos da América, a Federação se espalhou pelo mundo, alcançando inclusive
o Brasil, conforme será analisado a seguir. Desse processo histórico, porém, são extraídos dois
conceitos diversos e muito relevantes para o estudo da Federação.

• Soberania: é o poder supremo de todo Estado independente, abrangendo a capacidade


ilimitada de criação do próprio ordenamento jurídico. Ideologicamente, o titular do poder
soberano, nas democracias, é o povo, que pode optar, por exemplo, pela edição de nova
Constituição. Estados soberanos podem estabelecer relações entre si por meio de tratados
internacionais, formando confederações das quais podem voluntariamente sair (direito de
denúncia ao tratado). Justamente em razão da soberania, jamais formarão federações.

• Autonomia: é o poder atribuído aos entes federativos, abrangendo a capacidade de


criação do próprio ordenamento jurídico, limitada aos ditames da Constituição Federal.
É, portanto, um poder menor do que a soberania. Nesse sentido, os Estados-membros de
uma federação estão submetidos à Constituição e não podem sair do novo Estado ao qual
pertencem (não há direito de secessão – vide artigo 1º da Constituição Federal, que fala
em “união indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal”).

4.2 Entes federativos


Toda federação tem como partes componentes, ou seja, como entes federativos, no mínimo a
União e os Estados. No Brasil, porém, há entes adicionais. De fato, nos termos do artigo 18 da
Constituição Federal, “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil
compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos ter-
mos desta Constituição”. Note que, além da União e dos Estados, o poder constituinte optou
pela inserção do Distrito Federal e dos Municípios no pacto federativo, o que não é comum nas
federações clássicas.

a) Características gerais dos entes federativos

• Todos eles são pessoas jurídicas de direito público interno: entes federativos são
pessoas jurídicas – capazes, portanto, de direitos e deveres – compostas por órgãos,
como o Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Ministério Público. Juntos, os entes
federativos formam a federação.

• Todos eles são autônomos: União, Estados, Municípios e Distrito Federal têm poder
para criar as próprias normas jurídicas, nos limites dados pela Constituição Federal. A
autonomia atribui aos entes federativos três capacidades:

»» auto-organização: capacidade de edição da própria Constituição. Isso é bastante


nítido em relação aos Estados-membros, que editam Constituições Estaduais. Já no
que diz respeito aos demais entes, a União não editou a Constituição Federal, mas
tem competência para alterar o seu teor por meio do Congresso Nacional, que exerce
o poder constituinte derivado reformador realizando emendas à Constituição. Por sua
vez, a organização dos Municípios e do Distrito Federal está disciplinada por meio de
Leis Orgânicas, que versam sobre matéria constitucional.

»» autogoverno: capacidade de editar as próprias leis e de tomar as próprias decisões


políticas, por meio de representantes eleitos pelo povo respectivo. Todos os entes
federativos legislam, nos termos da Constituição Federal, e reparte as competências.

»» autoadministração: capacidade de edição dos próprios atos administrativos. Todos


os entes federativos têm a própria Administração Pública.

35
Tópicos em Direito 1

»» Atenção: nenhum ente federativo é soberano, nem a União, que também é autônoma.
A soberania é reconhecida apenas à federação, ou seja, à República Federativa do
Brasil como um todo. Nesse sentido, o artigo 1º, inciso I, do texto constitucional traz
explicitamente a soberania como fundamento da República Federativa do Brasil. Não
se pode confundir a União (parte) com a federação (todo), nem mesmo se utilizar
do fato de que a Constituição Federal confere à União competência para exercer as
relações exteriores (art. 21, I, CF) para sustentar sua soberania. A União, nesse aspecto,
representa a República Federativa do Brasil. Esta é que será, por exemplo, a signatária
do tratado internacional, figurando como pessoa jurídica de direito público externo.

• Não há subordinação hierárquica entre eles: todos têm poderes dados pela Constituição
Federal, que reparte as competências nos moldes estudados adiante. Assim, apesar de
a ordem jurídica da União ser aplicada no território brasileiro inteiro, isso não significa
que ela é hierarquicamente superior aos Estados e aos Municípios, já que cada um desses
entes trabalha com competências distintas.

b) Características individuais dos entes federativos

• União

»» Ente federativo incumbido das atividades de interesse geral.

»» Regida pela Constituição Federal.

»» Dotada pela Poder Legislativo, Executivo, Judiciário, Ministério Público e Tribunal de


Contas.

»» Bens disciplinados no art. 20, CF.

• Estados

»» Entes federativos incumbidos das atividades de interesse regional.

»» Regidos pelas Constituições Estaduais, que devem obediência aos princípios da


Constituição Federal.

»» Dotados de Poder Legislativo, Executivo, Judiciário, Ministério Público e Tribunal de


Contas.

»» Bens disciplinados no art. 26, CF, de modo residual aos da União.

• Municípios

»» Entes federativos incumbidos das atividades de interesse local.

»» Regidos pelas Leis Orgânicas Municipais, que devem obediência aos princípios fixados
na Constituição Estadual e na Constituição Federal.

»» Dotados de Poder Legislativo e Executivo.

ATENÇÃO: Não há Judiciário nem Ministério Público Municipal. Municípios que, antes
de 1988, tinham Tribunais ou Conselhos de Contas, podem mantê-los, sendo proibida a
criação de novos. Assim, nos Municípios que não tiverem Tribunais de Contas, a função
será desempenhada pelo Tribunal de Contas estadual (art. 31, §§ 2º e 4º, CF).

36 Laureate- International Universities


• Distrito Federal (art. 32)

»» Ente federativo incumbido de sediar Brasília, a Capital Federal, abrigando o centro


de poder da União.

»» Regido pela Lei Orgânica do Distrito Federal, que deve obediência aos princípios da
Constituição Federal.

»» Dotado de Poder Legislativo, Executivo, Judiciário, Ministério Público e Tribunal de


Contas.

ATENÇÃO: cabe à União organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público, a


Polícia Civil, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros militar do Distrito Federal e dos
Territórios (art. 21, XIII e XIV, e art. 22, XVII, CF).

»» Não se confunde com Estados nem com Municípios, constituindo outra espécie de
ente federativo.

»» Não pode se dividir em Municípios, embora tenha cidades (como Brasília), que não
têm personalidade jurídica.

c) Operações territoriais do art. 18, CF

• Operações com Estados: a Constituição Federal prevê que os Estados podem incorporar-
se entre si (fusão), subdividir-se (cisão) ou desmembrar-se (partes que saem podem formar
outro Estado ou se anexar a Estado existente). O procedimento envolve três etapas:

»» aprovação da população diretamente interessada, por plebiscito: note que a Constituição


fala em aprovação, de modo que a rejeição impede a continuidade do processo;

»» oitiva das Assembleias Legislativas dos Estados envolvidos (art. 48, VI, CF): observe
que é obrigatório ouvir as Assembleias, mas a posição do órgão estadual não vincula
o Congresso Nacional;

»» aprovação do Congresso Nacional, mediante lei complementar: existe ampla


discricionariedade do Congresso, não está vinculado às etapas anteriores, podendo
não editar a lei complementar mesmo se houver ampla aceitação popular no plebiscito,
por exemplo.

• Operações com Municípios: de modo semelhante aos Estados, a Constituição Federal


fala em criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios. Há diferença,
porém, no que diz respeito ao procedimento, com etapas diversas.

»» Realização e divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, na forma da lei.

»» Consulta mediante plebiscito às populações dos Municípios envolvidos.

»» Efetivação da operação mediante lei estadual, dentro do período determinado por


lei complementar federal.

ATENÇÃO: a redação original do texto constitucional não exigia a atuação normativa


da União nesse aspecto. Porém, com a EC nº 15/1996, a legislação complementar
federal passou a ser imprescindível no que tange à regulação do processo de criação de
Municípios. Existe, porém, omissão normativa da União a esse respeito, de modo que o
Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade de Municípios criados após
1996. Modulando os efeitos da decisão, o Supremo Tribunal não declarou a nulidade

37
Tópicos em Direito 1

das leis estaduais que criaram os novos Municípios por 24 meses, prazo no qual a União
poderia suprir a ausência normativa. Isso não ocorreu e acabou sendo editada a EC nº
57/2008, que inseriu o art. 96 no ADCT para convalidar Municípios criados até a decisão
do Supremo. Portanto, até que a lei complementar seja editada, a criação de novos
Municípios no Brasil é inválida.

• Territórios Federais: assim como textos constitucionais anteriores, a Constituição Federal


permite a criação de Territórios Federais, que podem ser transformados em novos Estados
ou reintegrados ao Estado de origem. Desde 1988, quando todos os Territórios Federais
foram extintos, não houve a criação de novos. Todavia, seu estudo tem relevância e suas
principais características são:

»» processo de criação: a ser regulado por meio de lei complementar federal, deve
envolver, necessariamente, a oitiva das Assembleias Legislativas dos Estados envolvidos
(art. 48, VI, CF);

»» natureza jurídica: autarquia federal. Os Territórios Federais pertencem à Administração


Pública descentralizada da União. Assim, embora sejam pessoas jurídicas de direito
público, não são entes federativos;

»» há Poder Legislativo (Câmara Territorial, com competência e eleições definidas em lei


– art. 33, CF), Poder Executivo (governador é escolhido e nomeado pelo presidente da
República – art. 84, XIV, CF), Judiciário e Ministério Público (organizados e mantidos
pela União);

»» podem se dividir em Municípios, diferentemente do Distrito Federal.

4.3 Repartição de competências


A ausência de hierarquia entre os entes federativos faz com que seja necessária a existência de
repartição constitucional de competências. É que todos eles têm capacidade para criar o próprio
Direito, havendo quatro ordens jurídicas parciais (União, Estados, Municípios e Distrito Federal)
que, juntas, formam a ordem jurídica total, o ordenamento jurídico da federação. A forma de
evitar graves e recorrentes antinomias entre as ordens jurídicas das diferentes esferas federativas
é prever, na Constituição Federal, campos de atuação específicos para cada um deles. Se todos
os entes estão subordinados à Constituição Federal, a invasão de competência atribuída a outro
gera inconstitucionalidade da norma editada.

Atribuir competência é conferir poder. Quanto mais competência o ente federativo tiver, maior
será sua capacidade de participação na construção da ordem jurídica total. A repartição consti-
tucional de competências está estritamente ligada, assim, à maior ou menor autonomia dos entes
federativos, e, por tudo isso, é o tema mais importante a respeito de federação na preparação
para exames, sendo sempre objeto de questões.

A análise desse tema será feita com duas abordagens: primeiro, verificando os tipos de Estado
federal que podem existir, a depender da forma como as competências são distribuídas entre os
entes federativos. Segundo, estudando o modelo positivado na Constituição Federal de 1988.

38 Laureate- International Universities


a) Classificação – Tipos de Estado federal (federalismo)

• Quanto à formação

»» Federalismo por agregação: reflete o processo de formação dos Estados Unidos da


América, tal como descrito anteriormente. Estados soberanos se associam e abrem mão
de sua soberania em prol da criação de um novo Estado soberano, que é a federação
(EUA). Os Estados que se associaram perdem a condição de verdadeiros Estados,
uma vez que deixam de ter um de seus elementos essenciais: a soberania. Isso não
significa, porém, que os Estados-membros terão pouco poder. É que, na elaboração
da Constituição Federal, cedem à União parcela de suas atribuições, retendo a maior
parte dos poderes para si. No federalismo por agregação, a autonomia estadual,
portanto, é maior.

»» Federalismo por segregação (desagregação): retrata o processo de formação da


federação no Brasil. Durante o Império, o Estado brasileiro era unitário, havendo forte
centralização. Com a Proclamação da República, em 1889, a federação é implantada
por decisão do poder central, que transforma as províncias em Estados-membros da
federação e atribui a eles alguns poderes, retendo a maior parte para si. Essa é uma
das razões pelas quais, historicamente, a União tem muito mais competências que
os Estados na federação brasileira. No federalismo por segregação, a autonomia
estadual é menor.

• Quanto à distribuição de competências

»» Federalismo dual: o termo vem da federação norte-americana, que tem como entes
federativos apenas a União e os Estados. Duas esferas, portanto, que exercem seus
poderes sem que as normas jurídicas produzidas por elas se comuniquem, já que
tratam de matérias distintas. A Constituição prevê temas que serão completamente
trabalhos pela União, sem a interferência dos Estados, e temas que serão integralmente
normatizados pelos Estados, sem atuação da União. Há, assim, competências
privativas (técnica conhecida como “repartição horizontal de competências”).

»» Federalismo cooperativo: nesse tipo de federalismo, inaugurado juntamente com


o Estado Social de Direito, a cooperação, inerente às federações, é acentuada para
possibilitar maior intervenção estatal em áreas como saúde, educação e previdência,
que demandam ação conjunta de todos os entes federativos em face dos investimentos
necessários. O mecanismo para isso é a previsão, na Constituição Federal, de
competências concorrentes, matérias que, simultaneamente, são tratadas por todos
os entes federativos, com diferentes graus de profundidade (por isso, essa técnica é
conhecida como “repartição vertical de competências”).

39
Tópicos em Direito 1

b) Modelo de repartição de competências adotado pela Constituição Federal de 1988

Na Constituição Federal, há uma mescla dos sistemas horizontal e vertical de repartição de


competências, de modo que há tanto competências privativas como concorrentes. É importante
analisar cada uma delas, dedicando especial atenção à letra dos arts. 21 a 25 e 30 do texto
constitucional.

Competências privativas

• Conceito: são as atribuídas com exclusividade a determinado ente federativo, de tal


maneira que, naquela matéria, só ele possa legislar ou atuar materialmente.

• Distinção: parcela da doutrina distingue competências privativas de exclusivas, nos


termos seguintes:

»» privativas: atribuídas com exclusividade, mas delegáveis a outro ente federativo (ex:
art. 22, parágrafo único, CF);

»» exclusivas: atribuídas com exclusividade e indelegáveis a outro ente federativo (ex:


art. 21, CF).

• Repartição: a Constituição Federal lista expressamente o que compete à União e menciona


o que cabe aos Municípios; o que restar, será competência privativa dos Estados. É por
isso que, em relação aos Estados, costuma-se usar a expressão “competência residual”.
Em síntese, cabe:

»» à União: aquilo que estiver listado especialmente nos arts. 21 (competências


materiais, de execução) e 22 (competências legislativas) da CF. A leitura atenta desses
dispositivos é extremamente relevante e revela a vastidão da competência da União,
que cria praticamente todo o direito material e processual do Brasil;

»» aos Municípios: aquilo que estiver listado no artigo 30 da CF, que liga a competência
legislativa e material dos Municípios aos assuntos e serviços públicos de interesse
local (observe os incisos I e V). O interesse, aqui, não precisa ser exclusivamente local,
bastando que seja predominantemente local. É o caso, por exemplo, de transporte
coletivo nos limites do Município, de coleta de resíduos, de concessão de licenças
para funcionamento do comércio, bem como fixação do horário de funcionamento do
comércio local (Súmula Vinculante 38, STF).

ATENÇÃO: a fixação do horário bancário é exceção à essa regra, sendo tema de


competência legislativa privativa da União (Súmula 19, STJ, e jurisprudência do STF);

»» aos Estados: aquilo que não couber à União nem aos Municípios mais a exploração
de serviços locais de canalizado mais a instituição de regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões (art. 25, CF);

»» ao Distrito Federal: tudo aquilo que couber aos Estados e aos Municípios, tendo em
vista que não há Municípios no Distrito Federal (art. 32, § 1º, CF).

40 Laureate- International Universities


Competências concorrentes

• Conceito: são as atribuídas concomitantemente a mais de um ente federativo. Assim,


todos os que tiverem poder nas matérias desse tipo de competência poderão atuar ou
legislar a respeito delas.

• Nomenclatura: o texto constitucional traz diferenciações quanto ao nome dessas


competências, associando-as a expressões que, na verdade, são sinônimas. Assim, é
preciso cuidado com a nomenclatura.

»» Competências comuns (art. 23, CF): competências materiais, de execução, atribuídas


simultaneamente a mais de um ente federativo.

»» Competências concorrentes (art. 24, CF): competências legislativas atribuídas


simultaneamente a mais de um ente federativo.

• Regulamentação constitucional

»» Competências comuns

·· Entes competentes: União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

·· Funcionamento: Leis Complementares federais devem fixar normas para a


cooperação entre todos os entes federativos, “[...] tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional” (art. 23, parágrafo único, CF).

»» Competências concorrentes

·· Entes competentes: União, Estados e Distrito Federal.

·· Funcionamento: todos os entes legislarão sobre os temas listados no art. 24.


Porém, o farão em profundidades diferentes.

-- União: traz normas gerais sobre a matéria, ou seja, traz princípios, inicia o
tratamento do tema, não podendo esgotá-lo.

-- Estados e DF: suplementam as normas gerais, ou seja, trazem os


detalhamentos que completam a regulamentação sobre o tema.

ATENÇÃO: Os Municípios não foram inseridos no art. 24. Todavia, o art. 30, inciso II, da
CF dá a eles competência para suplementar a legislação federal e a estadual no que
couber. Se a União não editar as normas gerais que lhe competem, os Estados exercerão
competência legislativa plena. Assim, eles trarão as normas gerais e as suplementares.
O mesmo pode fazer o Distrito Federal, apesar da ausência de previsão constitucional
no art. 24. Se, após essa atuação dos Estados, a União editar normas gerais a respeito
daquele tema, a lei federal suspenderá a eficácia da lei estadual, no que for contrário.
A lei estadual, portanto, não será revogada (art. 24, §§ 3º e 4º, CF). Observe que, se a
lei estadual contrariar a lei federal, ela será inconstitucional, não ilegal, uma vez que não
existe hierarquia entre elas, assim como não há entre os entes federativos.

41
Tópicos em Direito 1

4.4 Intervenção federal e estadual


Na federação, a regra é a autonomia. Assim, na normalidade institucional, os entes federativos
não interferem na ação uns dos outros. Porém, de modo excepcional, nas hipóteses previstas
taxativamente na Constituição Federal (arts. 34 a 36), é possível a intervenção de um ente sobre
outro. Isso ocorre para preservar a subsistência da própria federação ou de valores essenciais à
Constituição.

A intervenção pode ser:

• Federal – efetuada nos Estados e no DF, bem como nos Municípios localizados em
Território Federal. Tendo em vista que, hoje, os Territórios Federais não existem, não
é possível intervenção federal em Municípios. Suas hipóteses e procedimentos serão
analisados a seguir.

• Estadual – efetuada nos Municípios situados no território do Estado. Suas hipóteses


estão previstas no art. 35 da CF. O procedimento é semelhante aos da intervenção
federal. Porém, a decretação compete ao governador do Estado e o controle político, à
Assembleia Legislativa.

Tipos de intervenção federal

I) Espontânea (de ofício)

• Hipóteses: listadas no art. 34, I, II, III e V, CF

• Procedimento

»» Decreto do presidente da República: decretar e executar a intervenção federal


é competência privativa do Chefe do Poder Executivo da União (art. 84, X, CF).
O presidente ouvirá o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,
órgãos consultivos previstos nos arts. 89/91 da CF. Note, porém, que os Conselhos
emitem opiniões não vinculantes sobre o tema, cabendo a decisão exclusivamente
ao presidente da República. O decreto interventivo, cuja eficácia se inicia com a
publicação, deverá:

·· especificar a amplitude, a condições de execução e o prazo da medida, que é


sempre temporária, porquanto a regra é a autonomia;

·· nomear interventor, se couber. Nesse caso, as autoridades locais serão afastadas.


Cessados os motivos da intervenção, os afastados retornam aos cargos, salvo
impedimento legal (art. 36, § 1º e 4º, CF).

»» Controle político do Congresso Nacional sobre o decreto, em 24 horas. Sendo o


decreto editado durante o período de recesso, haverá convocação extraordinária em
24 horas (o controle político só pode ser dispensado na hipótese do art. 36, § 3º, CF).
Se o Congresso aprovar o decreto (art. 49, IV, CF), a intervenção continua. Se não
aprovar, o presidente da República deve encerrar a intervenção, sob pena de crime
de responsabilidade.

42 Laureate- International Universities


II) Provocada

• Por solicitação (art. 36, I, CF)

»» Hipótese (art. 34, IV, CF): garantir o livre exercício do Poder Legislativo e do Poder
Executivo nas unidades da federação.

»» Procedimento: exige-se solicitação do Poder coacto ou impedido. No restante, o


procedimento é igual ao da intervenção federal espontânea, tendo o presidente da
República, em face da solicitação, discricionariedade para decretar a medida.

• Por requisição – Hipóteses:

»» art. 34, IV + art. 36, I, CF: garantir o livre exercício do Poder Judiciário estadual
que estiver coagido. Depende de requisição do Supremo Tribunal Federal. Nesse
caso, como existe ordem, a decretação da intervenção pelo presidente da República é
vinculada. O restante do procedimento será idêntico ao da intervenção espontânea;

»» art. 34, VI + art. 36, II, CF: para prover execução de ordem ou decisão judicial.
Depende de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça
ou do Tribunal Superior Eleitoral. Havendo requisição, a decretação pelo presidente
da República é vinculada, sendo o restante do procedimento igual ao da intervenção
espontânea.

• Por provimento de representação – Hipóteses:

»» art. 34, VII + art. 36, III, CF: por violação aos princípios constitucionais sensíveis
ou recusa de execução de lei federal. Depende de provimento, pelo Supremo
Tribunal Federal, de representação interventiva apresentada pelo Procurador Geral
da República. Se provida a representação, o presidente da República seria obrigado
a decretar a intervenção (ato vinculado). Note que o decreto interventivo pode se
restringir a suspender a execução do ato impugnado, se isso bastar. Nesse caso,
dispensa apreciação pelo Congresso Nacional (art. 36, § 3º, CF). Se, contudo, isso
não bastar, nomeia interventor e toma outras medidas necessárias, submetendo ao
Congresso (art. 36, § 1º, CF).

5 Controle de constitucionalidade

5.1 Controle de constitucionalidade


O controle de constitucionalidade é a verificação da adequação de um ato normativo com a
Constituição, tomando por base requisitos formais e materiais. Sua existência lastreia-se no fato
de que a Constituição fixa o modo de se produzir o Direito e as bases estruturais sobre as quais
se assenta todo o ordenamento jurídico. Para preservar a supremacia do texto constitucional em
face das demais normas, garantindo, além disso, sua rigidez, deve haver fiscalização e sanção
pela sua desobediência.

Não fosse assim, normas infraconstitucionais contrárias à Constituição subsistiriam no ordena-


mento jurídico e não haveria razão para sustentar sua inferioridade hierárquica em relação às
normas constitucionais. Com isso, as bases do constitucionalismo, movimento voltado à limita-
ção do poder estatal, estariam minadas.

43
Tópicos em Direito 1

Existem vários tipos de inconstitucionalidade e de controle de constitucionalidade. Assim, antes


de estudar em mais detalhes a estruturação do modelo brasileiro de controle jurisdicional de
constitucionalidade, tema muito relevante na preparação para as provas, é preciso analisar al-
gumas classificações.

a) Tipos de inconstitucionalidade

• Inconstitucionalidade formal: vício na formação do ato, no processo de elaboração da


norma, não no seu conteúdo. Tem, por sua vez, tipos.

»» Subjetiva/orgânica

·· Vício de iniciativa: violação à iniciativa privativa de projetos de lei prevista na


Constituição. Note que a sanção do projeto de lei não sana o vício no caso de a
iniciativa ser privativa do Chefe do Poder Executivo.

·· Ato normativo editado por sujeito diverso do previsto pela CF (ex: lei editada
pela União, quando a competência para isso é do Estado).

»» Objetiva: vício verificado em outras fases do processo legislativo, depois da iniciativa


(ex: falta de observância do quórum, inobservância do bicameralismo etc.).

• Inconstitucionalidade material: é a incompatibilidade do conteúdo da norma com a


Constituição. Não é só a incompatibilidade direta, mas também do excesso do Poder
Legislativo, que pode violar a proporcionalidade, a razoabilidade (devido processo legal
substantivo).

• Inconstitucionalidade por ação: ocorre em razão da edição de ato normativo com


algum dos vícios descritos acima.

• Inconstitucionalidade por omissão: ocorre em razão da não edição de ato normativo


cuja existência é exigida pela Constituição.

• Inconstitucionalidade originária: a norma inconstitucional é editada posteriormente à


Constituição.

• Inconstitucionalidade superveniente: no Brasil, a norma editada anteriormente à


Constituição, incompatível com ela, não é analisada sob o aspecto da inconstitucionalidade,
mas sim do direito intertemporal. Isso porque o STF adotou a tese da recepção e da
revogação do direito anterior (sob a CF 1988, discutiu-se o tema na ADI 2, que referendou
o entendimento). Assim, a Constituição atua, no caso, como norma posterior e superior
que revoga norma anterior e inferior contrária. O mesmo ocorre com a superveniência de
emendas constitucionais que venham a revogar leis anteriores a ela por serem com ela
incompatíveis.

»» ATENÇÃO: inconstitucionalidade superveniente por aspectos formais – não se


aplica, pois, em regra, vige a ideia de tempus regit actum. Assim, por exemplo, se
a nova Constituição exigir maioria absoluta para a aprovação de projeto de lei sobre
determinada matéria que, seguindo a Constituição anterior, fora, ao tempo de sua
vigência, aprovado por maioria simples, não haverá qualquer vício.

·· Exceção: na hipótese de inconstitucionalidade formal orgânica, quando uma nova


Constituição muda a competência para a edição do ato normativo (ex: de estadual
para federal e vice-versa – nesse caso, haverá revogação ou, eventualmente,
manutenção da legislação federal até que a estadual a revogue).

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b) Tipos de controle

• Quanto ao momento

·· Preventivo: anterior à inserção do ato no ordenamento jurídico.

·· Repressivo: posterior à inserção do ato no ordenamento jurídico.

• Quanto ao sujeito controlador

·· Controle político: exercido por órgão político e não jurisdicional.

·· Controle jurisdicional: exercido por órgão integrante do Poder Judiciário.

·· Controle misto: Constituição atribui parte do controle a órgão político e parte a


órgão jurisdicional.

• Combinações possíveis no Brasil

·· Controle preventivo

-- No Poder Legislativo: realizado durante o processo legislativo, por órgãos


como a Comissão de Constituição e Justiça.

-- No Poder Executivo: o Chefe do Poder Executivo pode vetar projetos de lei


motivado por inconstitucionalidade. Note que, mesmo se isso não ocorrer,
o presidente da República poderá, posteriormente, propor Ação Direta de
Inconstitucionalidade, se entender que a norma viola a Constituição.

-- No Poder Judiciário: ocorrerá apenas se for provocado por parlamentar,


mediante mandado de segurança, para garantir o seu direito público
subjetivo ao devido processo legislativo. É o caso das propostas de emenda
à Constituição que violem cláusula pétrea. Já quanto aos projetos de lei, o
controle preventivo abrange apenas questões formais, nunca materiais.

·· Controle repressivo

-- No Poder Legislativo: verificado em situações previstas na Constituição,


como o art. 49, V (competência do Congresso Nacional para sustar atos
normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou da
delegação legislativa); e o art. 62 (medidas provisórias rejeitadas pela não
observância dos pressupostos constitucionais da relevância e da urgência).

-- No Poder Executivo: majoritariamente, entende-se que o Chefe do Poder


Executivo pode deixar de cumprir norma que considere, fundamentadamente,
inconstitucional. Nesse caso, determinará que sua Administração siga a
decisão.

-- No Poder Judiciário: pela via dos diversos instrumentos processuais previstos


no ordenamento jurídico, e que serão estudados à frente.

45
Tópicos em Direito 1

5.2 Controle incidental


A ideia de um controle jurisdicional de constitucionalidade de atos normativos editados primor-
dialmente pelo Poder Legislativo é sedimentada na decisão exarada pela Suprema Corte dos
Estados Unidos da América em “Marbury v. Madison” (1803). A compreensão do caso é funda-
mental para o entendimento do modelo brasileiro.

Nas eleições presidenciais estadunidenses de 1800, a oposição, composta pelos Republicanos,


liderados por Thomas Jefferson, derrota o partido da situação, os Federalistas, liderados por
Alexander Hamilton. Momentos antes de sair do poder, os Federalistas criam diversos cargos
de juiz de paz. John Adams, o presidente em final de mandato, nomeia, dentre outros, William
Marbury como juiz de paz no Distrito de Columbia. Ocorre que as providências necessárias para
que Marbury tomasse posse não foram tomadas a tempo e, já sob a administração de Thomas
Jefferson, o novo Secretário de Estado responsável por isso, James Madison, se recusa a fazê-lo.
Assim, Marbury e outros nomeados ingressam com um writ of mandamus contra Madison, na
Suprema Corte, para forçar a posse.

John Marshall, presidente da Suprema Corte, comanda a decisão sustentando que, apesar de
Marbury ter razão em seu pedido, a Corte não tinha competência para agir, já que os poderes
para julgar o writ foram concedidos por lei contrária à Constituição e, portanto, é nula. De toda
a fundamentação da decisão, foi possível construir o modelo estadunidense de controle de cons-
titucionalidade, com as características descritas a seguir.

• Difuso: qualquer membro do Poder Judiciário pode efetuar controle de constitucionalidade


de leis e atos normativos, pois é da essência da atividade jurisdicional decidir sobre a
validade das leis que aplicarão.

• Incidental: o controle de constitucionalidade é efetuado incidentalmente ao objeto


principal da causa, como questão prejudicial. Assim, antes de decidir se o autor da ação
tem razão em seu pedido, o juiz, na fundamentação, deve verificar se as leis usadas para
a resolução do caso respeitam a Constituição.

• Concreto e subjetivo: o controle é sempre efetuado à luz de casos concretos, levados ao


juiz pelas partes.

• Declaratório (nulidade): ao decidir a questão de constitucionalidade, verificando que o


ato normativo não respeita a Constituição, o juiz declara sua nulidade.

• Efeitos inter partes e ex tunc: quando o juiz declara a inconstitucionalidade da norma,


ele apenas afasta sua aplicação do caso concreto apresentado para julgamento. Note
que a norma não é retirada definitivamente do ordenamento jurídico, continuando a ser
aplicada para outros que não sejam partes do processo. Além disso, quando o juiz declara
que a norma é inconstitucional, reconhece sua nulidade. Ou seja, reconhece que a norma
nasceu viciada. Por conta disso, ela não pode gerar efeitos jurídicos válidos desde a
edição, devendo-se desconstituir todas as relações que foram travadas com base nela.

Essas considerações são importantes porque o Brasil, a partir da República, implementou o con-
trole de constitucionalidade seguindo o modelo estadunidense. Sob a Constituição de 1988, o
controle incidental segue sendo intensamente utilizado, cabendo menção aos seguintes pontos:

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• Cláusula de reserva de plenário: a difusão ainda é característica do modelo, de modo
que qualquer juiz pode declarar a inconstitucionalidade de normas. Porém, em face
dessa cláusula, prevista no art. 97 da Constituição, os tribunais só podem declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo pela maioria absoluta de seus membros ou
dos membros do órgão especial. Assim, há procedimento específico para que isso ocorra.

»» Em regra, os julgamentos das causas, nos tribunais, ocorrem nas câmaras, turmas
ou seções. Quando arguida a inconstitucionalidade, o órgão fracionário verifica a
viabilidade do pedido. Se rejeita a arguição, o próprio órgão fracionário declara a
constitucionalidade da norma em questão e julga a causa. Se, porém, a admite a
arguição, suspende o julgamento do caso concreto e remete o incidente para o pleno
ou o órgão especial. Com a decisão do Após, segue a decisão do pleno e julga a
causa e as demais causas semelhantes.

»» ATENÇÃO:

·· Se já houver decisão do STF, do pleno ou do órgão especial do tribunal da causa,


o órgão fracionário não remeterá o incidente, julgando a causa conforme o
precedente estabelecido.

·· Sumula Vinculante nº 10 – “[...] viola a cláusula de reserva de plenário a


decisão do órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente
a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua
incidência, no todo ou em parte”.

·· Cláusula de reserva de plenário não se aplica a casos de recepção ou revogação.


Portanto, normas anteriores à Constituição de 1988 podem ser declaradas
incompatíveis com ela e, por isso, serem revogadas diretamente pelo órgão
fracionário.

• Recurso extraordinário

»» Introdução: o controle de constitucionalidade pela via incidental pode ser feito por
meio de qualquer veículo processual civil ou penal, em face de qualquer juiz ou
tribunal. O recurso extraordinário, porém, se destina especificamente a arguir questão
de constitucionalidade perante o STF, tribunal cuja função primordial é a guarda da
Constituição.

»» Hipóteses de cabimento (art. 102, III, CF): compete ao STF julgar, mediante recurso
extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão
recorrida:

·· contrariar dispositivo desta Constituição;

·· declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

·· julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição;

·· julgar válida lei local contestada em face de lei federal: note que, nessa hipótese,
não há controle de legalidade, mas de constitucionalidade. É que, no caso, cuida-
se de possível invasão da esfera de competência legislativa da União pelo Estado,
temas disciplinados pela Constituição Federal.

47
Tópicos em Direito 1

»» Pressupostos

·· Prévio esgotamento das instâncias ordinárias

·· Violação à Constituição

·· Tempestividade

·· Prequestionamento (do tribunal a quo)

·· Repercussão geral da questão constitucional: nos termos do art. 102, § 2º, da


CF, “[...] no recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão
geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de
que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela
manifestação de dois terços de seus membros”.

• Papel do Senado Federal no controle incidental

»» As decisões do Poder Judiciário no controle de constitucionalidade incidental


têm efeitos inter partes, como visto. Isso se dá mesmo quando o STF declara a
inconstitucionalidade de uma norma em recurso extraordinário, por exemplo. Ocorre
que, nessa hipótese, a Constituição prevê mecanismo para dar efeitos erga omnes
à decisão do STF: resolução do Senado Federal.

»» Art. 52, X, CF: Compete ao Senado Federal, por meio de resolução, “[...] suspender
a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão
definitiva do STF”.

»» ATENÇÃO:

·· A competência do Senado Federal para editar a resolução é discricionária, não


vinculada. Assim, declarada a inconstitucionalidade da lei pelo STF, o Senado
Federal não está obrigado a suspender sua execução.

·· A decisão de inconstitucionalidade do STF em controle incidental não tem efeitos


erga omnes por si mesma. Há necessidade da resolução do Senado Federal para
isso.

·· A resolução do Senado Federal suspende a execução da lei. Não atua no campo


da existência, pois não há revogação, nem no da validade, pois o Senado não
declara a nulidade da norma. Isso significa que a resolução senatorial tem efeitos
ex nunc, ou seja, a lei deixa de ser aplicada para todos a partir dali. Os efeitos
produzidos até então são preservados, exceto para as partes do processo que
originou a declaração de inconstitucionalidade. É que, para elas, aplica-se a
característica do sistema incidental (decisões com efeitos ex tunc).

• Modulação dos efeitos da decisão: a regra no controle de constitucionalidade incidental


é que as decisões declaratórias de inconstitucionalidade de uma norma tenham efeitos ex
tunc. Porém, o STF já modulou os efeitos de decisão proferida em recurso extraordinário,
atribuindo a ela efeitos pro futuro por motivos de segurança jurídica.

48 Laureate- International Universities


5.3 Controle principal
Percebendo a inadequação do modelo de controle de constitucionalidade estadunidense à Eu-
ropa continental, Hans Kelsen desenvolve o modelo principal, concentrado, também conhecido
como modelo europeu, austríaco ou kelseniano. Suas características são opostas ao modelo
estadunidense.

• Concentrado: há um único órgão estatal com poderes para declarar a inconstitucionalidade


de atos normativos, não cabendo ao Poder Judiciário fazê-lo. Em geral, esse órgão é
conhecido como Corte, ou Tribunal, Constitucional.

• Principal: a questão de constitucionalidade, ou seja, a fiscalização de compatibilidade


do ato normativo com a Constituição, é o único objeto do processo ou incidente levado
à análise da Corte Constitucional.

• Abstrato e objetivo: o exame da constitucionalidade da lei é feito em abstrato,


independentemente de um caso concreto. Por essa razão, não há partes. Não há autor
ou réu, mas apenas legitimados ativos previstos em normas jurídicas como aptos à
provocação da Corte Constitucional.

• Constitutivo (anulabilidade): decidindo que a norma examinada é inconstitucional, a


Corte Constitucional a retira do ordenamento jurídico. Por isso, Hans Kelsen se referia a
esse órgão como “legislador negativo”.

• Efeitos erga omnes: a norma controlada é mantida ou extraída do ordenamento jurídico


para todos, não apenas para o legitimado ativo que provocou o exame.

• Efeitos ex nunc: quando o modelo é desenvolvido por Hans Kelsen, os efeitos da decisão
que decretava a inconstitucionalidade eram ex nunc. Isso porque a retirada da norma do
ordenamento só produz efeitos a partir da decisão. Posteriormente, desenvolve-se a ideia
de modulação dos efeitos, de tal sorte que a Corte pode atribuir à decisão efeitos ex tunc,
ex nunc ou ainda pro futuro.

No Brasil, alguns institutos típicos do modelo principal de controle de constitucionalidade co-


meçaram a ser adotados em meados do século XX. Atingiu-se grande desenvolvimento com a
Constituição de 1988, que previu uma série de instrumentos de controle principal, todos de
competência exclusiva do STF e, alguns deles, quando o parâmetro de controle for a Constitui-
ção estadual, os Tribunais de Justiça. Por isso, a maior parte da doutrina fala em instrumentos de
controle concentrado. São eles:

• Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)

• Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO)

• Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC)

• Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)

• Representação/ADI Interventiva (IF)

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Tópicos em Direito 1

Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)

• Previsão: art. 102, I, “a” e 103, CF, e Lei nº 9.868/99

• Competência: STF

»» ATENÇÃO: a CF prevê que “[...] cabe aos Estados a instituição de representação de


inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face
da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único
órgão” (art. 125, § 2º). Nesse caso, a competência para análise dessa ação direta
será do Tribunal de Justiça, e a decisão será, em regra, irrecorrível. Somente caberá
recurso extraordinário ao STF se a norma da Constituição Estadual utilizada como
parâmetro de controle reproduzir norma constitucional federal cuja observância pelos
Estados for obrigatória.

• Legitimidade ativa

»» Rol (art. 103, CF)

·· presidente da República

·· Mesa do Senado Federal e da Câmara dos Deputados

·· Mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF

·· governador do Estado/DF

·· Procurador Geral da República

·· Conselho Federal da OAB

·· Partido político com representação no Congresso Nacional

·· Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional

»» Pertinência temática

·· Conceito: relação de pertinência entre o objeto da ADI e a finalidade institucional,


a atividade-fim, ou o interesse específico do legitimado.

·· Exigência (art. 103, incisos IV, V e IX):

-- Mesa da AL/CLDF

-- governadores

-- Confederações sindicais ou entidades de classe

·· Legitimados universais: os demais. Podem propor ADI sobre qualquer tema em


qualquer situação, sem demonstração de pertinência.

»» Exigência de advogado: apenas para partidos políticos e confederações ou entidades


de classe. Nesse caso, a procuração deve indicar expressamente as normas que serão
impugnadas, com poderes específicos para propor ADI. Os demais legitimados não
precisam de advogado, pois têm capacidade postulatória para a ADI (note que as
procuradorias podem assinar em conjunto, mas nunca isoladamente).

50 Laureate- International Universities


»» Partido político: exige representação no Congresso Nacional, bastando um
parlamentar na Câmara ou no Senado. A perda posterior da representação é
irrelevante, pois o critério é aferido no momento da propositura. A decisão pela
propositura, segundo o STF, é do presidente do partido ou do diretório nacional.

»» Confederações sindicais e entidades de classe de caráter nacional

·· Entidade de classe: apenas profissional, não segmento social (ex: UNE não tem
legitimidade).

·· Caráter nacional: presença de associados ou membros em no mínimo nove


Estados (analogia com a Lei Orgânica dos Partidos Políticos – Lei nº 9096/95).

·· Confederações: só as que cumprirem requisitos do art. 535, CLT (compostas de


no mínimo três federações). Assim, estão excluídos sindicatos e federações, ainda
que de caráter nacional. Exclui também as centrais sindicais.

• Objeto: “leis ou atos normativos federais ou estaduais” podem ser objeto do controle
de constitucionalidade principal, por ADI, perante o STF (art. 102, I, “a”). Trazendo
maiores detalhes:

»» Cabe ADI em face de:

·· emendas constitucionais: não cabe ADI contra norma proveniente do poder


constituinte originário (não se admite a tese das normas constitucionais
inconstitucionais). Cabe ADI, porém, contra normas provenientes do poder
constituinte derivado, como as emendas, que devem respeitar o procedimento
previsto na CF e as cláusulas pétreas;

·· leis complementares, ordinárias e delegadas;

·· medidas provisórias: se a MP for convertida em lei no curso da ação, exige-se


o aditamento da petição inicial;

·· decretos legislativos e resoluções;

·· decreto autônomo (art. 84, VI, CF): entendido também como decreto
regulamentando assunto na ausência total de lei;

·· decreto do presidente da República que promulga tratado;

·· resoluções e regimentos internos de tribunais.

»» Não cabe ADI em face de:

·· ato normativo de efeitos concretos: só se admite em relação a atos que tenham


generalidade e abstração. Nesse caso, deve-se usar ação popular para questionar
o ato.

-- ATENÇÃO: após mudança jurisprudencial, o STF passou a admitir ADI contra


lei de efeitos concretos. Se, porém, o ato de efeito concreto for inferior à lei,
não caberá ADI.

·· decreto regulamentar: pois há ilegalidade, sendo a ofensa à CF indireta. Porém,


se não houver lei anterior, caberá ADI, pois a inconstitucionalidade é manifesta
em razão da invasão da esfera de competência legislativa;

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Tópicos em Direito 1

·· norma pré-constitucional: não há inconstitucionalidade, no caso, pois a norma


será recebida ou revogada;

·· norma já revogada: abrange medida provisória não convertida em lei;

·· projeto de lei e lei aprovada mas não promulgada: pois não há ADI preventiva;

·· súmula e súmula vinculante: a primeira, pois não é ato normativo. A segunda,


pois há procedimento próprio para seu cancelamento, não cabendo ADI;

·· norma municipal: não pode ser objeto de ADI no STF. Cabe ADI nos Tribunais de
Justiça, em face das Constituições Estaduais;

·· norma distrital quando exerce competência do município: quando exerce


competência do Estado é cabível ADI no STF. Quando exerce competência do
município, por sua vez, aplicam-se as observações relativas à norma municipal.
Ou seja, não cabe ADI no STF, mas sim no Tribunal de Justiça do Distrito Federal,
em face da Lei Orgânica do Distrito Federal.

• Procedimento

»» Petição inicial

·· Deve ser apresentada em duas vias e conter: indicação expressa do dispositivo


impugnado; fundamentos jurídicos do pedido; o pedido e suas especificações;
cópias do ato impugnado; documentos comprobatórios do alegado; e procuração,
se a petição for subscrita por advogado.

·· Se a petição inicial for inepta, não fundamentada ou manifestamente improcedente,


o relator a indeferirá liminarmente.

»» Desistência: não é admitida.

»» Informações: o relator pedirá informações ao órgão ou à autoridade que editou o


ato impugnado, devendo-se prestá-las no prazo de trinta dias do recebimento do
pedido ou, no caso de pedido liminar na ADI, no prazo de cinco dias (se houver
excepcional urgência, o STF pode deferir a cautelar independentemente da oitiva
daquele que editou o ato).

»» Advogado Geral da União: será citado para efetuar a defesa do ato impugnado, em
15 dias. O AGU, na ADI, tem posição de curador da presunção de constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. Não participa do procedimento para dar livre parecer,
pois não é fiscal da lei, como o Procurador Geral da República. Assim, o AGU não
pode sustentar a inconstitucionalidade da norma, salvo se o STF já tiver precedente
nesse sentido ou se o interesse da União colidir com a manutenção da norma.

»» Procurador Geral da República: tem 15 dias para dar seu parecer.

»» Amicus curiae: há vedação legal à intervenção de terceiros. Porém, o relator,


mediante despacho irrecorrível, poderá admitir a manifestação de órgãos e entidades,
considerando-se a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes. O
amicus curiae funcionará como fonte de informação da Corte no que diz respeito à
matéria envolvida e os reflexos da decisão, não podendo, apenas, formular pedido ou
apresentar recursos, pois não tem legitimação.

52 Laureate- International Universities


»» Medida cautelar

·· Concedida por votos da maioria absoluta do STF (salvo no recesso, quando a


competência passa para o presidente da Corte).

·· Tem efeitos erga omnes e ex nunc, salvo se o STF entender que deve dar eficácia
retroativa. Além disso, tem efeito repristinatório, pois torna aplicável legislação
anterior, salvo expressa manifestação em contrário.

»» Procedimento sumário (art. 12, Lei nº 9.868/98). Ao invés de julgar o pedido


liminar, STF vai direto ao mérito, com prazos reduzidos de manifestações. Assim, o
relator, em face da relevância da matéria e de seu especial significado para ordem
social e a segurança jurídica, pode submeter o pedido diretamente ao plenário, que
poderá julgar definitivamente a ação.

»» Decisão

·· Quórum de instalação: presença de ao menos oito ministros.

·· Decisão: exige no mínimo seis ministros votando pela procedência (declaração


de inconstitucionalidade) ou pela improcedência da ação (declaração de
constitucionalidade).

·· Recursos e ação rescisória: não cabem contra a decisão, sendo admitida apenas
a interposição de embargos de declaração.

·· Efeitos: erga omnes (decisões definitivas de mérito têm eficácia contra todos e efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas três esferas federativas); e ex tunc (em regra).

-- Modulação dos efeitos: na declaração de inconstitucionalidade, pelo voto


de 2/3 dos Ministros, o STF, fundado em razões de segurança jurídica ou
excepcional interesse social, pode restringir os efeitos da declaração ou decidir
que ela só tenha eficácia a partir do trânsito em julgado ou de outro momento
que venha a ser fixado (casos de declaração de inconstitucionalidade sem
pronúncia de nulidade, efeitos ex nunc ou pro futuro).

Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO): a maioria das regras e, portanto,
das explicações dadas anteriormente para a ADI aplicam-se à ADO. Como peculiaridade, cabe
menção ao seguinte:

• Objeto: omissão inconstitucional total ou parcial quanto ao cumprimento do dever


constitucional de legislar ou quanto à adoção de providência administrativa. Note que,
nesses termos, a omissão pode partir de qualquer órgão estatal que tenha por dever
imposto pela Constituição a edição de algum ato.

• Procedimento

»» Apresentada a petição inicial, os demais legitimados ativos que não provocaram o STF
podem se manifestar nos autos, pedindo a juntada de documentos e apresentando
memoriais.

»» AGU: pode ser ouvido, a critério do relator, dando-se prazo de 15 dias.

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Tópicos em Direito 1

»» Medida cautelar

·· Concedida em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, por decisão


da maioria absoluta do STF.

·· Deve-se ouvir o responsável pela omissão, com prazo de cinco dias.

·· Conteúdo da cautelar: suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo


questionado, no caso de omissão parcial; suspensão de processos judiciais ou de
procedimentos administrativos; outra providência fixada pelo STF.

»» Decisão: declarada a omissão, o STF dará ciência ao Poder competente para a


adoção das providências necessárias. A vinculação existe apenas quando a omissão
for imputável a órgão administrativo, que deverá adotar as medidas em 30 dias ou
em prazo razoável estipulado em caráter excepcional pelo STF, considerando as
circunstâncias do caso e o interesse público envolvido. Se a providência tiver caráter
legislativo, não há prazo a ser observado.

Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC): a maioria das regras e, portanto, das expli-
cações dadas anteriormente para a ADI aplicam-se à ADC. Como peculiaridade, cabe menção
ao que segue.

• Legitimidade ativa: a mesma da ADI. A menção especial a esse ponto é justificável


porque a Lei nº 9.868/99 ainda traz os legitimados originais da ADC, em número menor.
Vige, porém, a redação dada ao art. 103, da CF, pela Emenda Constitucional nº 45/04,
que equiparou ADI e ADC nesse ponto.

• Objeto: lei ou ato normativo federal. Note que, na ADI, o objeto engloba, também, atos
estaduais, o que não ocorre na ADC.

• Procedimento: há diferenciação no conteúdo da medida cautelar, consistente na


determinação de que os juízes e os tribunais suspendam o julgamento dos processos que
envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento
definitivo. O julgamento da ADC pelo STF deve ocorrer em até 180 dias, sob pena de
perda da eficácia da cautelar.

Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)

• Previsão normativa: art. 102, § 1º, CF, e Lei nº 9.882/99.

• Competência: STF

• Legitimidade ativa: a mesma da ADI. No projeto de lei que resultou na Lei nº 9882/99,
havia previsão para que qualquer pessoa pudesse ingressar com a ADPF. O dispositivo,
no entanto, foi vetado, remanescendo apenas a possibilidade de o interessado solicitar ao
PGR, mediante representação, a propositura.

• Objeto

»» Evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público


(ADPF autônoma).

»» Relevante fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal,


estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição (ADPF incidental): a
controvérsia deve ser no plano judicial, o que precisa ser demonstrado na petição
inicial. Além disso, esse objeto denota o cabimento da ADPF em relação a dois tipos
de norma que escapam da ADI: normas municipais e direito pré-constitucional.
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• Procedimento: existe semelhança com o procedimento da ADI, valendo menção às
seguintes características especiais:

»» Petição inicial: não será admitida ADPF quando houver qualquer outro meio eficaz
de sanar a lesividade (caráter subsidiário da arguição).

»» Medida cautelar

·· Concedida pela maioria absoluta do Tribunal. É possível, porém, que em caso


de extrema urgência, perigo de lesão grave ou em período de recesso, o relator
conceda a cautelar, ad referendum do Tribunal Pleno.

·· Conteúdo: poderá consistir na determinação de que juízes e tribunais suspendam


o andamento do processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer
outra medida que apresente relação com a matéria objeto da arguição de
descumprimento de preceito fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada.

Representação/ADI Interventiva (IF): além das observações feitas no item relativo à interven-
ção federal, o estudo deve ser dirigido à Lei nº 12.562/11, que fixa as regras da representação
interventiva. Como questões essenciais, cita-se o seguinte.

• Competência: STF

• Legitimidade ativa: exclusiva do PGR

• Objeto: violação aos princípios constitucionais sensíveis ou recusa de execução de lei


federal

• Decisão: valem as regras de quórum da ADI. Se a representação for julgada procedente, o


presidente do STF comunicará o presidente da República para que, no prazo improrrogável
de até 15 dias, edite o decreto interventivo. Assim, a intervenção, no caso, será vinculada.

5.4 Súmula vinculante


A palavra súmula significa resumo, síntese. Aplicada ao Direito, indica a jurisprudência domi-
nante de um tribunal. Existem súmulas comuns, meramente persuasivas, e súmulas vinculantes.

• Disciplina normativa: art. 103-A, CF e Lei nº 11.417/06.

• Competência para edição/revisão/cancelamento: STF.

• Objeto: validade, interpretação e eficácia de normas determinadas.

• Pressupostos formais

»» Iniciativa

·· De ofício: ministro do STF.

·· Mediante provocação:

-- Principal (autônoma): aos legitimados para a ADI, a Lei nº 11.417/06


acrescentou o Defensor Público Geral da União, os Tribunais Superiores, TJs
de Estados/DF, TRFs, TRTs, TREs e Tribunais Militares.

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Tópicos em Direito 1

-- Incidental: Município, incidentalmente ao curso de processos em que seja


parte, sem sua suspensão (art. 3º, § 1º, Lei nº 11.417).

»» Deliberação: aprovação por 2/3 dos membros do STF.

• Pressupostos materiais

»» Reiteração de decisões sobre matéria constitucional.

»» Controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre estes e órgãos da Administração


que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre
questão idêntica.

• Procedimento: apresentado o pedido, ouve-se o PGR, admitindo-se também a presença


de amicus curiae. Ao final, o plenário delibera.

• Efeito vinculante

»» Abrangência: demais órgãos do PJ (portanto, STF não está vinculado) e Administração


Pública direta e indireta, nas três esferas federativas.

»» Efeitos: a partir da publicação, admitindo-se a modulação, mediante o voto de 2/3


dos membros do STF.

• Descumprimento: da decisão judicial ou ato administrativo que contrariar enunciado de


súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente, caberá reclamação ao
STF, sem prejuízo dos demais meios de impugnação. No entanto, se a omissão ou o ato
vier da Administração Pública, a reclamação somente será admitida após o esgotamento
das vias administrativas. Note que, se o STF julgar a reclamação procedente, anulará o
ato administrativo ou cassará a decisão judicial impugnada, determinando que outra seja
proferida.

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