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Atualizado em 22.07.2019
SUMÁRIO
1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO ................................................................................................. 1
a. Quanto ao conteúdo................................................................................................................ 12
b. Quanto à forma ....................................................................................................................... 13
c. Quanto à origem ..................................................................................................................... 13
d. Quanto à estabilidade ............................................................................................................. 14
e. Quanto à extensão .................................................................................................................. 14
f. Quanto à finalidade .................................................................................................................. 15
g. Quanto à ideologia ou objeto ideológico .................................................................................. 15
h. Quanto à dogmática ................................................................................................................ 17
i. Quanto à correspondência com a realidade ou classificação ontológica.............................................. 17
1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
Esses elementos irradiaram por todo o mundo, com algumas variações: constituições não
escritas, estados fundamentalistas etc.
Entretanto, isso não é suficiente para se determinar o que seria uma Constituição, haja vista
existirem constituições não escritas.
A constituição como é vista hoje é resultante de uma evolução histórica, que tem como base
o movimento constitucionalista, com marco na Magna Carta (no ano de 1215). É possível verificar
que esse documento influenciou determinados aspectos da própria CR/88, como o devido processo
legal, o princípio da legalidade tributária etc. Foi o primeiro instrumento de limitação de poder
do governante.
A partir do séc. XIX, começou-se a desenvolver o que se chama de conceito ideal de cons-
tituição (Canotilho), conforme já visto.
No séc. XX, surgiu a ideia de racionalização do poder, não bastando somente a previsão dos
direitos fundamentais; é preciso também garantir condições mínimas para que um poder democrático
possa subsistir.
1
Profunda preocupação em romper com o absolutismo, que confundia a noção de Estado com monarca.
Direito Constitucional – Constituição
Antes cabe ressaltar que as várias concepções possuem muito mais função acadêmica do
que prática. Infelizmente, despencam em concurso, motivos pelos quais devem ser bem conhecidas.
1. A Constituição é vista mais como fato do que como norma, prioriza-se a perspectiva do ser
e não a do dever ser;
c) Concepção jurídica: formulada por Hans Kelsen (Teoria Pura do Direito), Constituição é
o paradigma de validade de todo o ordenamento jurídico de um Estado e instituidor de sua estrutura.
Sua concepção é estritamente formal. Daqui resultou a teoria da construção escalonada do
ordenamento jurídico. Para ele, constituição é norma pura, é um dever ser, não há fundamento
sociológico ou político, apenas caráter normativo.
Para Kelsen, o único critério para analisar uma norma jurídica é outra norma jurídica superior.
Significa que o direito tem que ser estudado dentro do próprio direito (autopoiesis). Assim, o intérprete
não pode analisar se a norma é boa ou má, justa ou injusta, ou ainda se é moral, amoral ou imoral,
porque entrar nessas questões demandaria do intérprete a análise a partir de um parâmetro fora do
Direito Constitucional – Constituição
próprio direito. Surge daí a teoria pura do direito, que impede a valoração do direito – pensamento
positivista. O CESPE, numa prova do TRF da 5ª Região, considerou correta a seguinte assertiva:
“De acordo com o positivismo de Hans Kelsen, a escolha de uma interpretação dentro da moldura
de possibilidades proporcionada pela norma jurídica realiza-se segundo a livre apreciação do tribu-
nal, e não por meio de qualquer espécie de conhecimento do direito preexistente.”
1. JURÍDICO-POSITIVO: direito positivo é norma escrita ou posta pelo homem (pirâmide das
leis – princípio da compatibilidade vertical entre as normas superiores e inferiores). Logo, Consti-
tuição seria norma escrita;
Nessa concepção, constituição e lei são figuras ontologicamente iguais, ou seja, são iguais
quanto à natureza, e a única diferença é sua hierarquia. Isso leva a uma ideia de que o processo e
os métodos de interpretação da Constituição não são diferentes dos processos e dos métodos de
interpretação das leis
Nessa esteira, a norma hipotética fundamental não pode ser considerada um valor (porque
contradiria a teoria pura do direito que proíbe a análise externa do direito), mas mero imperativo que
determina “cumpra-se a constituição e as leis”.
a) Teoria da Força Normativa da Constituição2: formulada por Konrad Hesse, trata-se de uma
resposta a Lassalle. A Constituição escrita não necessariamente será reflexo dos fatores de
2
A Constituição tem uma força normativa, não sendo somente uma folha de papel. As questões jurídicas
somente serão convertidas em questão de poder caso não haja a satisfação de determinados pressupostos.
Lassalle reconhece a existência de uma vontade da Constituição, não só a vontade do poder. Deve ser
reconhecida a força normativa da Constituição, sob pena de ser confundida com a Sociologia ou com a Ciência
Política. Não pode haver o isolamento entre a norma e a realidade, como propõe o positivismo. A cons-
tituição jurídica e a constituição real complementam-se, condicionam-se mutuamente, mas não depen-
dem, pura e simplesmente, uma da outra.
Direito Constitucional – Constituição
poder, porque pode ser que a Constituição escrita seja capaz de redesenhar a soma dos fato-
res reais de poder. Logo, ela não seria somente um resultado sociológico da sociedade, mas tam-
bém, e principalmente, teria o poder de modificar o conjunto de forças, moldar a sociedade
como ela é. Para Konrad Hesse, a interpretação tem significado decisivo para a consolidação
e preservação da força normativa da Constituição. Assim, para ele, a Constituição teria o poder
de moldar a realidade. Por isso que se diz que a concepção da força normativa é uma resposta à
concepção sociológica: pois nesta, a concepção apenas reflete a soma dos fatores reais de poder,
enquanto naquela, a Constituição efetivamente tem o condão de moldar a realidade.
c) Constituição aberta: formulada por Peter Häberle, para ele o objeto da constituição é sem-
pre dinâmico. A constituição deve ser o documento dinâmico que não se enclausure em si
mesmo, mas que acompanhe as modificações e necessidades da sociedade, sob pena de ficar 5
ultrapassada e como consequência, não se ajustar aos novos problemas que ela apresenta no de-
correr do tempo. Por isso que é importante que ela seja redigida com conceitos jurídicos mais aber-
tos, com normas de caráter mais abstrato, de forma a permitir, mediante a interpretação, sua ade-
quação à realidade.
Não obstante Peter Häberle é apresentado pelos doutrinadores brasileiros como o precursor
da Constituição aberta, o jurista Paulo Bonavides também trabalhou essa temática, e, desenvolveu
o método concretista da Constituição aberta. Na verdade, Bonavides seguiu a mesma linha de
Häberle, contudo, acrescenta que a interpretação de uma constituição, de acordo com as vicissitudes
de uma sociedade, se deve respaldar em um lógica e coerência para evitar a quebra de sua unidade.
Caso contrário, teríamos um enfraquecimento da força normativa constitucional e interpretações di-
vergentes. Assim, para Bonavides, ao dar interpretação constitucional, deve haver um sólido con-
senso democrático, com instituições fortes e uma cultura política desenvolvida. Ao nosso sentir, nada
mais seria que evitar interpretações abusivas e incoerentes, além de defender mecanismos de con-
trole para tanto.
Direito Constitucional – Constituição
Uma concepção culturalista de Direito, como destaca J. H. Meireles Teixeira, conduz à ideia
de Constituição Total, ou seja, um conjunto de normas fundamentais, condicionadas pela Cul-
tura total, e ao mesmo tempo condicionantes desta, emanadas da vontade existencial da uni-
dade política, e reguladoras da existência, estrutura e fins do Estado e do modo de exercício
e limites do poder político.
Com este conceito de Constituição, sua interpretação só pode ser feita por métodos que
levem em conta as modificações que ocorrem na Cultura total da sociedade, como o método cientí-
fico-espiritual de Rudolf Smend, que parte da realidade social dos valores subjacentes ao texto da
Constituição, de forma que ela deve ser interpretada como algo dinâmico e que se renova constan-
temente, ao compasso das modificações da vida em sociedade. Nesse sentido, tanto o direito quanto
o Estado e a Constituição são vistos como fenômenos culturais ou fatos referidos a valores, de modo
que podem mesmo ser considerados meros instrumentos para a realização desses valores. Isto não
significa que os outros métodos de interpretação não possam ser considerados, porque o importante
é que o resultado da interpretação represente os ideais de justiça da sociedade, suportados nos 6
valores que ela elegeu como seus pilares.
A Constituição total busca fazer uma síntese das concepções política, jurídica e socio-
lógica já analisadas. De acordo com esta concepção, a Constituição é fruto da cultura exis-
tente dentro de determinado contexto histórico, em uma determinada sociedade, e ao mesmo
tempo, é condicionante dessa mesma cultura, pois o direito é fruto da atividade humana. José
Afonso da Silva é um dos autores que defendem essa concepção. Meirelles Teixeira, a partir dessa
concepção cultural, cria o conceito de Constituição Total, segundo o qual: "Constituição é um con-
junto de normas jurídicas fundamentais, condicionadas pela cultura total, e ao mesmo tempo condi-
cionantes desta, emanadas da vontade existencial da unidade política, e reguladoras da existência,
estrutura e fins do Estado e do modo de exercício e limites do poder político".
Para Paulo Bonavides e Celso Ribeiro Bastos, a Constituição é um sistema normativo aberto,
dinâmico, não podendo se constituir num documento estático, sob pena de ruptura. A dinamicidade
da Constituição se dá através da aprovação de emendas constitucionais e da mutação cons-
titucional. Clèmerson Clève ressalta a contínua comunicação da Constituição com a realidade
histórica. A baixa densidade normativa da Constituição e a alta abstração de seus comandos
Direito Constitucional – Constituição
constituem meios adequados para garantir a constante evolução de seu significado e o ajus-
tamento de seu sentido às exigências da realidade, sem a necessidade de se convocar a todo
instante a manifestação do Poder Constituinte Derivado. Essa abertura constitucional permite
o que a doutrina vem chamando de mutação constitucional: o evoluir permanente do sentido
da ordem constitucional para o efeito de acompanhar a história e o seu progresso.
A constituição deve ser o documento dinâmico que não será enclausurado em si mesmo. As
necessidades sociais vão se espalhar por outros ramos, sob pena de ficar ultrapassada e ser conde-
nada à morte. Está repleta de conceitos abertos: casa, meio ambiente ecologicamente equilibrado etc.
sistema jurídico, permite que o mesmo se desvencilhe de apoios externos, tais como o direito natural.
Por essa razão, a Constituição aparece como condição da reprodução autopoiética do direito
moderno, pois possibilita seu fechamento normativo e operacional, fornecendo o limite interno para
a capacidade de aprendizado do direito positivo. Isso significa que a Constituição, definida nesses
termos, impede que o sistema jurídico seja bloqueado por diversas expectativas conflitantes de
comportamento que emanam do contexto hipercomplexo da sociedade moderna.
autopoiético (ou seja, capaz de se autoproduzir consistentemente a partir de seus próprios critérios,
códigos e programas).
Indicadas as diferenças entre esses dois contextos (central e periférico), Marcelo Neves
ressalta que a constitucionalização simbólica, enquanto sobreposição do sistema político
sobre o jurídico, seria um problema específico dos países que compõem a modernidade
periférica, nos quais seria recorrente o problema da autorreferência deficitária do sistema
jurídico. Desse modo, a constitucionalização simbólica consistiria essencialmente no
bloqueio político destrutivo que obliteraria a reprodução operacionalmente autônoma do
sistema jurídico, acarretando, com isso, a perda da relevância normativo-jurídica dos textos 9
constitucionais na orientação das expectativas normativas. Aliás, nesse contexto, a própria
autonomia do sistema político é comprometida tornando-o suscetível a influências imediatas de
interesses particularistas. O bloqueio particularista reiterado do processo de concretização
constitucional que decorre da sobreposição destrutiva dos códigos binários de outros sistemas
sociais (especialmente o código ter/não-ter da economia e o código poder/não-poder da política), ao
engendrar a perda de nitidez dos contornos diferenciadores do sistema jurídico em relação ao seu
ambiente, acarreta uma “politização desjuridicizante” da realidade constitucional com efeitos
profundamente deletérios.
Segundo Marcelo Neves, tais efeitos seriam típicos da modernidade periférica, caracterizada
pela “heterogeneidade estrutural” que se expressa numa sobreposição intrincada de códigos e
programas, tanto entre os diversos subsistemas sociais quanto no próprio interior deles. É nesse
contexto que se colocam os problemas decorrentes das relações de “subintegração” e
“sobreintegração”, que fazem recrudescer os bloqueios à reprodução autopoiética do sistema
jurídico. Por essa razão, a Constituição, nos países da modernidade periférica, não funcionaria como
mecanismo de “acoplamento estrutural” entre os sistemas político e jurídico e sim como um fator de
bloqueio e politização do sistema jurídico, encobrindo, ademais, relações concretas de
“subcidadania” e “sobrecidadania.
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MATERIAIS OU SUBSTANCIAIS
CONTEÚDO
FORMAIS
Codificadas
ESCRITAS OU DOGMÁTICAS
Não codifi-
FORMA cadas
OUTORGADAS OU IMPOSTAS
ORIGEM
CESARISTAS OU PLEBISCITÁRIAS
PACTUADAS
IMUTÁVEL
RÍGIDA
ESTABILIDADE
SEMI-RÍGIDA
FLEXÍVEL
CONCISAS OU BREVES
EXTENSÃO
EXTENSAS OU LONGAS
Direito Constitucional – Constituição
CONSTITUIÇÕES-GARANTIA, NEGATIVAS OU DE
TEXTO REDUZIDO
FINALIDADE
DIRIGENTES
CONSTITUIÇÕES-BALANÇO
LIBERAIS
IDEOLOGIA SOCIAIS
SOCIALISTAS
ORTODOXA
QUANTO À DOGMÁTICA
HETERODOXA
NORMATIVAS
SEMÂNTICAS
A. QUANTO AO CONTEÚDO
Se o Brasil adota uma Constituição formal, escrita e rígida, na prática, qual é o interesse de
saber quais são as normas materialmente constitucionais? Qual é a utilidade? Só é possível vislum-
brar uma utilidade: a possibilidade da construção do conceito do que é preceito fundamental
para uso de ADPF.
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B. QUANTO À FORMA
C. QUANTO À ORIGEM
3. Pactuadas: quando o poder constituinte não está na mão de seu titular, o povo, nem total-
mente na mão dos detentores de poder. Há uma divisão de poderes entre ambos, sendo parte da
constituição decidida pelos detentores do poder e outra parte pelo povo. A Constituição nasce de um
pacto entre setores da sociedade. O poder constituinte, nesses casos, tem mais de um titular. Foi
um tipo de Constituição bastante difundido no seio da monarquia estamental da Idade Média, em
que o poder aparecia cindido entre o monarca e as ordens privilegiadas.
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D. QUANTO À ESTABILIDADE
2. Rígidas: exige quórum mais rígido do que as demais normas infraconstitucionais para ser
modificada. Trata-se de um dos pilares do controle de constitucionalidade, já que para se fazer o
controle há de se ter a supremacia da constituição, e para se ter a supremacia, essa deve ser rígida.
3. Semirrígidas: parte é rígida e parte flexível, como ocorreu com a Constituição de 1824.
4. Flexíveis: a lei ordinária tem a mesma natureza jurídica de emenda constitucional, não 14
havendo divergência no processo legislativo de uma e de outra. Nas constituições flexíveis mostra-
se inviável o controle de constitucionalidade.
5. Super-rígidas: Alexandre de Moraes defende que a Constituição de 1988 deve ser consi-
derada super-rígida porque, além de prevê um método de alteração mais dificultoso que aquele pre-
visto para normas infraconstitucionais, ainda possui matérias consideradas imutáveis (cláusulas pé-
treas). O STF, no entanto, não adota esse entendimento. A Corte considera que as matérias
das cláusulas pétreas podem ser alteradas, desde que a reforma não tenda a abolir os precei-
tos ali resguardados e dentro de uma ideia de razoabilidade e ponderação.
E. QUANTO À EXTENSÃO
1. Concisas, breves, curtas ou sintéticas: preveem somente princípios e normas gerais, mas
não se preocupam em definir todos os aspectos da sociedade, sendo típica dos estados liberais.
Geralmente tem caráter eminentemente negativo. Exemplo: Constituição norte-americana.
2. Longas, analíticas ou prolixas: típicas de estado de bem-estar social, visam a garantir uma
série de direitos e deveres aos indivíduos e os limites da atuação estatal, de forma bem definida.
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F. QUANTO À FINALIDADE
1. Negativas, garantias, liberais ou de texto reduzido: é aquela que na relação entre o Estado
e o Indivíduo, se preocupa apenas em garantir o indivíduo contra o Estado. Ela recebe esse nome
porque quanto ao relacionamento do indivíduo, cidadão e o Estado, se preocupa apenas em garantir
o indivíduo contra o Estado.
econômica também através do sistema tributário, por meio da criação de impostos com
natureza extrafiscal, que são aqueles impostos que não são imaginados para arrecadar, até
arrecadam, mas não é o objetivo deles, e sim regular o mercado, como acontece no Brasil
com os impostos de importação e exportação.
E, na ordem social, tende a valorizar no âmbito dos Direitos Fundamentais também os Direitos
Sociais, o que não é muito valorizado em constituições liberais, pois nessas, no âmbito dos Direitos
Fundamentais, acabam valorizando o direito de liberdade (física, religiosa, de imprensa etc.).
H. QUANTO À DOGMÁTICA
1. Normativas: são aquelas constituições que conseguem regular a vida política de um Es-
tado, por estarem em consonância com a realidade social. O processo de poder está disciplinado de
forma que as relações políticas e os agentes do poder subordinam-se às determinações do seu con-
teúdo e do seu controle procedimental. O poder é limitado, e essa limitação é implementada na prá-
tica, porque a Constituição tem valor jurídico legítimo. Conforma o processo político. A Constituição
brasileira se diz normativa.
2. Nominativas: são aquelas constituições que não conseguem regular a vida política de um
Estado, pelo descompasso com a realidade. Contêm disposições de limitação e controle de domina-
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ção política, sem ressonância na sistemática de processo real de poder, e com insuficiente concreti-
zação constitucional. A Constituição não tem valor jurídico, mas social, apenas. Tem intenção de ser
efetiva, mas não é.
3. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO
Não há consenso doutrinário sobre quais são os elementos; entretanto, a generalidade das
leis fundamentais revela, em sua estrutura normativa, cinco categorias de elementos, conforme se-
gue (de acordo com Pedro Lenza):
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a) Orgânicos: são normas que dão estrutura ao Estado. Cuidam dos órgãos do Estado,
suas funções, atribuições de poderes. Então, como exemplo, nós temos o artigo 44 da Constituição
que trata das atribuições do Poder Legislativo;
b) Limitativos: assim denominados porque limitam a ação dos poderes estatais e dão a
tônica do Estado de Direito, consubstanciando o elenco dos direitos e garantias fundamentais: direi-
tos individuais e suas garantias, direitos de nacionalidade e direitos políticos e democráticos;
Essa classificação também é feita por José Afonso da Silva. Aliás, o Pedro Lenza se baseou
nele, já que o José Afonso da Silva adotou ela ainda em 1960.
3
Exemplo: ADCT Art. 34. O sistema tributário nacional entrará em vigor a partir do primeiro dia do quinto mês
seguinte ao da promulgação da Constituição, mantido, até então, o da Constituição de 1967, com a redação
dada pela Emenda nº 1, de 1969, e pelas posteriores. Então, o sistema tributário nacional não entrou em vigor
em outubro de 1988, porque foi objeto de vacatio legis setorial.
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O Brasil é um país sui generis sob vários aspectos. Os outros países da América, quando
declaram sua independência, destituíram do Poder os representantes da metrópole e fundaram a
República, colocando alguém deles lá dentro. No Brasil a independência foi feita e o “cara” que era
representante da metrópole ficou como governante. A coisa já começou com um “jeitinho”.
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A primeira Constituição brasileira, de 1.824, foi outorgada por Dom Pedro I, como conse-
quência do 7 de setembro de 1822.
Dom Pedro convocou uma Assembleia Constituinte que estava indo no sentido da Constitui-
ção liberal, com uma Monarquia parlamentarista limitada. Dom Pedro não gostou disso e dissolveu
a Assembleia, outorgando em seguida a Constituição de 1824. Era uma Constituição em que se
mantinha uma certa fachada liberal (garantindo direitos individuais, Poder Legislativo), mas incorpo-
rava elementos fortemente centralizadores que tinham um viés para com o fisco.
Temos a ideia do Poder Moderador, que entra no Brasil com os sinais trocados. Benjamin
Constant imaginou um Poder para controlar e limitar, mas aqui no Brasil veio como Poder maior do
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que os outros, pois ele, o Rei, poderia dissolver o legislativo, suspender os juízes etc. O Senado era
vitalício e a maior parte deles era escolhido pelo rei.
Então, era modelo de conciliação entre elementos absolutistas e elementos liberais. Mas era
marcada pela falta de sinceridade normativa. A parte de direitos fundamentais começava com igual-
dade, num país com escravidão, com voto censitário e nobreza. O modelo de alguns países da
Europa era no sentido de optar pelo Estado Laico. O Brasil não se enveredou por esse caminho,
consagrando a liberdade religiosa, mas havia uma religião oficial (católica). As eleições eram indire-
tas e só podiam votar aqueles que tivessem determinada renda. Era um Estado unitário com
descentralizações administrativas (desconcentração).
E aí é convocada uma Assembleia Constituinte, mostrando que essa ideia de Poder Constituinte
Originário ilimitado é uma balela. Nosso primeiro Poder Constituinte republicano nascia limitado,
pois o ato de convocação dizia que ele não poderia discutir a República e a Federação.
Aliás, a questão das eleições diretas e não haver voto censitário é discutível. Os livros que
fizeram pesquisas empíricas sobre as eleições no Brasil mostraram que, depois da proclamação da
República, o voto se tornou mais censitário do que era antes. Isso porque se introduziu o elemento
capacitário: só os alfabetizados podiam votar. E o analfabeto era exatamente o pobre. Menos gente
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passou a votar depois da Constituição de 1891.
Além disso, durante o período que durou a Constituição de 1891 (até 1930), as eleições eram
sistematicamente fraudadas. Não havia código eleitoral. O Poder Legislativo ficava refém das oligar-
quias locais – o coronelismo. Então, existia uma democracia exclusivamente formal; sem nenhum
conteúdo real.
Em 1930, tem a revolução rompendo com a lógica da República Velha. É o movimento tenen-
tista. De 1930 até 1934 vai se instalar o Governo Provisório de Vargas que promete convocar uma
Assembleia Constituinte, mas não o faz. O país só vai se constitucionalizar em 1934.
Nessa década de 30 o cenário no mundo já era muito diferente de 1891, que predominava a
visão do Estado Liberal. Os problemas sociais eram problemas de polícia. O Estado no modelo europeu
era o laissez faire laissez passer, que nunca existiu no Brasil. Mas o cenário na década de 30 era outro:
houve a quebra da bolsa de Nova Iorque, nos EUA o intervencionismo econômico vai se firmando, na
Direito Constitucional – Constituição
Europa os regimes de força vão surgindo (Fascismo e Nazismo). Então, era um momento antiliberal,
de valorização do Estado: importavam mais as instituições do que as pessoas.
E a Constituição de 1934 vai se inspirar um pouco nisso. São convocadas eleições para
eleger uma Assembleia Constituinte e a Constituição é elaborada. Apesar de ela manter-se fiel ao
constitucionalismo norteamericano, virão alguns ingredientes do constitucionalismo social. A
Constituição passa a ter um capítulo tratando da Ordem Econômica, prever direitos traba-
lhistas, agregar a representação corporativa (parte dos deputados não é eleita diretamente pelo
povo, mas sim indiretamente pelas corporações: profissionais liberais, gente da agricultura etc.). O
Senado foi transformado num órgão de colaboração entre os Poderes. Ele só participava do
processo legislativo em alguns casos.
A Constituição de 1934 teve vida curtíssima. O regime de Vargas vai se firmando cada vez
mais e em 1937 é outorgada outra Constituição, elaborada pelo Francisco Campos de Souza Costa.
Foi inspirada na Constituição da Polônia, que vivia um regime totalitário na época. Então, todos aque-
les elementos do Estado forte, de restrição das liberdades, que o Poder Executivo podia quase tudo,
foram implementados nessa Constituição. 23
Há quem sustente que ela, formalmente, nunca entrou em vigor, porque ela foi outorgada,
mas o art. 187 previa que ela deveria ser submetida a um plebiscito: “esta Constituição entrará em
vigor na sua data e será submetida ao plebiscito nacional na forma regulada em decreto do Presi-
dente da República”. Só que esse plebiscito nunca aconteceu.
Nem vale a pena analisar o que seu texto dizia, porque, durante a sua vigência, o Brasil viveu
sob o regime de Estado de Sítio (estado de emergência, segundo o art. 186). Getúlio Vargas havia
dissolvido o Poder Legislativo, exercendo todos os poderes desse Poder. Então, o que se tinha era
uma ditadura e a Constituição não desempenhava papel algum.
Depois que os aliados venceram a 2ª Guerra Mundial, o regime se desfaz, porque todo o
discurso legitimador daquela situação perde a razão de ser. Vargas é afastado numa espécie de
golpe preventivo. Surge uma Assembleia Constituinte e é elaborada a Constituição de 1946. Essa
Constituição retomava o modelo de 1934, tirando os temperos corporativos. O Brasil vive um período
de certa normalidade institucional até 1964, quando ocorreu o golpe militar.
Antes do golpe, ainda se tentou uma saída constitucional. Um dos defeitos que essa Cons-
tituição de 1946 tinha era que o Presidente e o Vice-Presidente não precisam pertencer à mesma
chapa. O candidato eleito para suceder o Juscelino Kubitschek foi o Jânio Quadros e o candidato
Direito Constitucional – Constituição
a Vice-Presidente foi o João Goulart. Eram chapas diferentes que representavam ideologias distin-
tas. Jânio Quadros – em episódio até hoje inexplicável – renuncia depois de alguns dias de
Governo e o João Goulart está na China para condecorar o Mao Tsé Tung. O pessoal da UDN
(União Democrática Nacional) e os militares já não gostavam dele. O fato de ele estar na China
seria uma ótima oportunidade de não o permitir assumir o poder. Só que existia uma movimentação
legalista no Rio Grande do Sul, que garantiu a ele posse na presidência. Fez-se uma emenda
constitucional na Constituição de 1946 que introduz o parlamentarismo no Brasil, fazendo
com que o Presidente da República não concentre poderes nas mãos. O parlamentarismo
dura um ano no Brasil, sendo restabelecido o presidencialismo, mas em 1964 ocorre o golpe militar.
Depois do golpe militar a gente começou a ter uma situação curiosa no Direito Constitucional
brasileiro, que perdurou até a década de 80. Era o convívio em paralelo de duas institucionalidades
diferentes: uma representada pela Constituição e outra pelos Atos Institucionais.
O AI nº 1 foi elaborado pelo Francisco Campos e dizia que a Constituição de 1946 continuaria
em vigor naquilo em que não conflitasse com o AI. Esse discurso foi utilizado para legitimar todos os
Atos Institucionais. 24
Bom, a Constituição de 1946 foi retalhada por Atos Institucionais e foi seguida pela Cons-
tituição de 1967. Os manuais dizem que essa Constituição de 1967 foi criada por uma Assembleia
Constituinte. Ocorre que o Poder Executivo fez um projeto e encaminhou para uma Assembleia,
que não atuava livremente. Os parlamentares da oposição eram caçados; se falassem algo con-
trário ao regime poderiam ser presos etc. O prof. Oscar Dias Correa, da UERJ, foi constituinte
em 67 e disse que o Congresso só assinou o projeto do executivo. Então, a Constituição foi mais
outorgada do que promulgada.
Essa Constituição ainda mantinha a fachada liberal com a garantia de alguns direitos, como
a proibição da censura. Introduziu no Brasil o bipartidarismo, diferente do que ocorria nos EUA ou na
Inglaterra, por conta do modelo eleitoral. Essa Constituição exigia que, para que um partido existisse,
tivesse 1/3 dos representantes da Câmara e 1/3 do Senado.
a repressão. Os militares acharam que isso era questão de segurança nacional e pediram autoriza-
ção para processar o Márcio Moreira Alves. A autorização foi negada. Os militares se reuniram e
decretaram o AI-5. O congresso é fechado. Essa junta militar faz uma Emenda Constitucional
(Emenda nº 01/69), que era uma verdadeira Constituição.
No final da década de 70, o presidente Geisel começa a fazer uma abertura lenta e gradual,
combatendo um pouco a tortura. No início do governo de Figueiredo veio a lei de anistia. Em
1979, houve uma nova lei de organização dos partidos políticos, sendo o início do surgimento de
vários partidos políticos como o PT, PDT, etc. Em 1982, já ocorrem eleições para governadores.
Nessa mesma época, os Atos Institucionais são revogados e a sociedade começa a ser regida pela
Constituição de 1967 com a Emenda de 1969.
Com essa pequena abertura, a população já começa a aspirar uma nova ordem constitucio-
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nal. Começa a haver fortes mobilizações populares pelo voto direto. O Governo tenta criar uma
Emenda Constitucional para proibir as manifestações populares, mas não atinge os 2/3 necessários.
É feito um acordo com a Rede Globo para não haver muita divulgação. E esse foi o estopim da
Assembleia Constituinte.
A ARENA aponta o Paulo Maluf como candidato para a sucessão. Isso vai gerar um rompi-
mento na ARENA. Desse rompimento, e com a liderança de Sarney, surge outro partido, que é o
PFL. O PFL vai se juntar à aliança liberal, liderada por Tancredo Neves, que é eleito, mas vem a
morrer. Uma das promessas do Tancredo era convocar uma Assembleia Constituinte e o Sarney
cumpre isso através da Emenda Constitucional nº 26. Na época, havia uma corrente muito expressiva
na sociedade brasileira, capitaneada pela OAB, que queria uma eleição dos membros da Assembleia
Constituinte. Só que prevaleceu a tese de atribuição de Poderes Constituintes para o Congresso que
estava funcionando (isso era mais conveniente para o regime).
O processo de elaboração foi complexo. O pluralismo era patente: você tinha ali da extrema
direita à extrema esquerda. E aí seria normal que a Constituição refletisse esse caráter pluralista,
compromissório, ora refletindo uma ideologia, ora refletindo outra.
Se isso, de um lado, é uma virtude da Constituição, de outro também responsável por um dos
maiores defeitos da Constituição. Todo mundo queria colocar sua impressão digital nela, então as
Direito Constitucional – Constituição
corporações queriam consagrar em sede constitucional os direitos que elas almejavam. Ninguém
queria deixar isso para o legislador ou para a jurisprudência. Então, acaba sendo criada uma Cons-
tituição que é muito corporativa. Então, há normas que dizem que “delegado tem direito a não sei o
quê”, “procurador da república que tomou posse antes de 1988 pode advogar” etc. Isso não tem nada
a ver com matéria constitucional.
Apesar disso, é uma Constituição que tem qualidades incríveis. Em primeiro lugar, é
uma Constituição verdadeiramente democrática. Além da sua força normativa, ela tem um
caráter simbólico: o retorno do Estado de Direito no país. Garante o voto direto, secreto uni-
versal e periódico e torna isso cláusula pétrea. Introduz também instrumentos de democracia
participativa (Plebiscito, Referendo e Iniciativa de Lei). Introduz mecanismos populares de 26
controle do Estado: fortalece a ação popular, o direito de petição, etc. Tem, ainda, os direitos
fundamentais: direito ao meio ambiente, por exemplo, e instrumentos processuais para
garantir aplicabilidade a esses direitos. A atual Constituição coloca a pessoa no centro do
sistema jurídico.
Como vem sendo a vivência dessa Constituição de 1988 de lá para cá? A doutrina brasileira
se divide em duas linhas. Uma linha, capitaneada pelo Fábio Konder Comparato e Celso Antônio
Bandeira de Mello que diz que está horrível. Comparato, inclusive, escreveu um artigo dizendo que
a Constituição já morreu e que ela foi desfigurada pela quantidade de emendas. Outra linha, que
vem defendida por autores como o Barroso, é no sentido de que a Constituição de 1988, como fim
institucional, é um sucesso. Embora alguns autores digam “mas a Constituição fala que o salário
mínimo tem que dar para alimentação, saúde, vestuário, moradia etc., essa é uma visão bacharelista.
Apenas a norma não resolve todos os problemas. Não se pode colocar expectativa demais na
Constituição. O Direito vai até um ponto. Se bastasse uma norma para resolver o problema,
Direito Constitucional – Constituição
uma comissão de constitucionalistas para resolver os problemas da África, por exemplo. Não
há como resolver séculos de injustiça e assimetria nas relações com a Constituição. O pro-
blema é que a Constituição de 1988 promete mais do que pode fazer o Estado. É claro que não
chegamos a um constitucionalismo ideal, mas se pensarmos na trajetória constitucional do Brasil de
1988 para cá, o momento é bom.
➢ Poder Moderador;
➢ Constituição rígida;
➢ Constituição rígida;
Constituição de secreto;
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