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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 2
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO ............................................................ 3
2.1 Constitucionalismo Durante a Antiguidade ............................................................................. 3
2.2 Constitucionalismo durante a Idade Média ............................................................................ 4
2.3 Constitucionalismo durante a Idade Moderna ........................................................................ 4
2.4 Constitucionalismo Norte-Americano ..................................................................................... 5
3. NEOCONSTITUCIONALISMO .................................................................................................... 6
3.1 Introdução.............................................................................................................................. 6
3.2 Marcos Fundamentais do Neoconstitucionalismo ................................................................ 10
3.3 Ativismo Judicial .................................................................................................................. 12
3.4 Reserva do Possível ............................................................................................................ 14
3.5 Teoria dos Custos dos Direitos ............................................................................................ 15
3.6 Tese das ‘Escolhas Trágicas’ .............................................................................................. 16
3.7 Críticas ao Neoconstitucionalismo no Ordenamento Jurídico Brasileiro ............................... 18
Direito Constitucional - Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
1. INTRODUÇÃO
No tocante ao Constitucionalismo, a Doutrina adota vários conceitos. Segundo André
Ramos Tavares apud Pedro Lenza1, o constitucionalismo pode ter 4 conceitos:
CONCEITOS DO CONSTITUCIONALISMO
a) Movimento político-social com origens históricas bastante remotas que pretende, em especial, limitar o
poder arbitrário;
c) São os propósitos mais latentes e atuais da função e posição das constituições nas diversas sociedades;
Dessa forma, partindo da ideia de que todo Estado deva possuir uma Constituição, é possível
identificar duas características essenciais que correlacionam a existência de uma Constituição e o
Poder vigente: garantia da limitação ao poder autoritário e da prevalência dos direitos
2
fundamentais, afastando-se da visão opressora do antigo regime.
Tendo o texto precedente como referência inicial, assinale a opção correta, a respeito do
Estado democrático de direito.
1
Lenza, Pedro, Dlreito constitucional esquematizado/ Pedro Lenza. – 21. ed. - São Paulo ; Saraiva, 2017.
(Coleção esquematizado), p. 64
Direito Constitucional - Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
a) A domesticação do domínio político pelo Estado de direito referida no texto não implica a sujeição
dos atos do Poder Executivo ao Poder Legislativo.
GABARITO: Letra E
A doutrina de Karl Loewenstein2, aponta que entre os hebreus houve um tímido surgimento
de algo semelhante ao Constitucionalismo, estabelecido com base em um Estado teocrático, no
qual as limitações ao poder político advinham da legitimidade dos profetas para fiscalizar os atos
governamentais que extrapolassem os limites bíblicos.
2
Karl Loewenstein, Teoria de la Constitución, fl. 154/155.
Direito Constitucional - Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
O constitucionalismo moderno pode ser entendido como um movimento que traz consigo
objetivos que, sem dúvida, irão fundar (constituir) uma nova ordem, sem precedentes na história da
constituição das sociedades, formando aquilo que Rogério Soares chamou de "conceito ocidental
de Constituição".
A prova para Procurador do Trabalho, elaborada pelo MPT, considerou correta a se-
guinte assertiva: “considerada a evolução histórico-legislativa do constitucionalismo, pode-
se afirmar que o Estado Liberal Originário, inerente às revoluções liberalistas do século XVIII
e desenrolar do século XIX, nos Estados Unidos da América e Europa Ocidental, caracteri-
zava-se, em linhas gerais, entre outros aspectos, pelos seguintes pontos: afirmação da liber-
dade individual em sentido formal; afirmação das liberdades de pensamento e de expressão;
presença de mandatos representativos temporários no Parlamento; presença de sistema
5
eleitoral censitário; restrição do poder político aos limites da lei”.
A prova para Procurador do Trabalho, elaborada pelo MPT, considerou correta a se-
guinte assertiva: “considerada a evolução histórico-legislativa do constitucionalismo, pode-
se afirmar que o Estado Liberal Originário, seja na Europa Ocidental, seja nas Américas, não
estabeleceu regras firmes e claras com relação à liberdade em sentido real e com relação à
igualdade em sentido material. Tais regras somente começaram a ingressar, ainda que em
parte, no constitucionalismo a partir das primeiras décadas do século XX, com a Constituição
do México, de 1917, e a Constituição de Weimar, de 1919, além do papel de impacto, nessa
área, cumprido pela Organização Internacional do Trabalho, a partir de 1919”.
3
Paulo, Vicente, 1968-Direito Constitucional descomplicado, Vicente Paulo, Marcelo Alexandrino. - 15. ed.
rev. e atual. - Rio de Janeiro: Forer.se; São Paulo: MÉTODO: 2016, fl. 2.
Direito Constitucional - Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
para evitar abusos e limitar o poder econômico. Surge daí o doutrina chamou de direitos de segunda
geração (ou dimensão) de direitos e que teve como documentos marcantes a Constituição do
México de 1917 e a de Weimar de 1919, influenciando, profundamente, a Constituição brasileira
de 1934 (Estado Social de Direito).
A prova para Procurador do Trabalho, elaborada pelo MPT, considerou correta a se-
guinte assertiva: “no Brasil, o constitucionalismo social inicia-se com a Constituição de 1934
que, à diferença das Constituições de 1824 e de 1891, ressalvou que o direito de propriedade
não poderia ser exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma determinada por lei,
além de ter incorporado, em seu texto, regras de Direito do Trabalho e de Direito Previdenci-
ário”.
3. NEOCONSTITUCIONALISMO
3.1 INTRODUÇÃO
CARACTERÍSTICAS DO NEOCONSTITUCIONALISMO
c) inovações hermenêuticas;
No Brasil, os estudiosos que se destacam a respeito da temática são, dentre outros, Luís
Roberto Barroso, Ana Paula de Barcellos, Daniel Sarmento e Humberto Ávila. As teorias e teses
que circundam o problema específico da concretização de políticas públicas via judicial são o “ati-
vismo judicial”, “mínimo existencial”, a “reserva do possível”, a “teoria dos custos dos direitos” e as
“escolhas trágicas”, que abordaremos em tópicos específicos.
Direito Constitucional - Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
Na aflição dessa hora, imerso nos acontecimentos, não pode o intérprete beneficiar-se do
distanciamento crítico em relação ao fenômeno que lhe cabe analisar. Ao contrário, precisa
operar em meio à fumaça e à espuma. Talvez esta seja uma boa explicação para o recurso
recorrente aos prefixos pós e neo: pós-modernidade, pós-positivismo, neoliberalismo, neo-
constitucionalismo. Sabe-se que veio depois e que tem a pretensão de ser novo. Mas ainda
não se sabe bem o que é. Tudo é ainda incerto. Pode ser avanço. Pode ser uma volta ao 7
passado. Pode ser apenas um movimento circular, uma dessas guinadas de 360 graus. (L. R.
Barroso. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito. O triunfo tardio do direito
constitucional no Brasil. In: Internet: - com adaptações).
Tendo o texto acima como motivação, assinale a opção correta a respeito do constituciona-
lismo e do neoconstitucionalismo.
d) O constitucionalismo pode ser definido como uma teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do
governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização
político-social de uma comunidade. Nesse sentido, o constitucionalismo moderno representa uma
Direito Constitucional - Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
GABARITO: Letra D
Dessa forma, a Constituição deixa de ser o simples topo da pirâmide hierárquica normativa,
passando a figurar no centro do sistema, dotada de intensa carga valorativa. A lei e, de modo
geral, os Poderes Públicos, devem não só observar a forma prescrita na Constituição, mas, acima
de tudo, estar em consonância com o seu espírito, o seu caráter axiológico e os seus valores
destacados.
4
Ob. Cit. p. 71.
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Ao tratar do marco histórico, o celebrado autor e atual Ministro do Supremo Tribunal Federal
aponta que “o marco histórico do novo direito constitucional, na Europa continental, foi o constitu-
cionalismo do pós-guerra, especialmente na Alemanha e na Itália. No Brasil, foi a Constituição
de 1988 e o processo de redemocratização que ela ajudou a protagonizar”.
No tocante ao marco filosófico, o Ministro Barroso aponta que “o marco filosófico do novo
direito constitucional é o pós-positivismo”. A filosofia pós-positivista, como o nome sugere, bus-
cou superar as premissas teóricas do positivismo clássico, que equiparava o Direito à lei e sob cuja
égide Alemanha e Itália justificaram o nazismo e o fascismo. “Ao fim da 2ª Guerra, a ética e os
valores começam a retornar ao Direito”.
Por fim, o marco teórico tem por base três grandes transformações que subverteram o co-
nhecimento convencional relativamente à aplicação do direito constitucional: i) o reconhecimento
de força normativa à Constituição; ii) a expansão da jurisdição constitucional; iii) o desen-
11
volvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional”.
NEOCONSTITUCIONALISMO
2. No Brasil:
2. Jurisdição constitucional:
A CF/88 e a redemocratização do
país. Habilitação do Poder Judiciário
como coparticipante da criação do
Direito Constitucional;
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NEOCONSTITUCIONALISMO
Nesse contexto, em que o Poder Judiciário passa a ser coparticipante do processo constitu-
cional, com destaque para o chamado “ativismo judicial”, que merece uma análise específica.
A excepcionalidade do ativismo judicial está ligada ao fato de que compete primariamente aos
poderes majoritários as decisões sobre a realização de políticas públicas, homenageando-se, desta
feita, o princípio da Separação dos Poderes. Assim, caso o Poder Executivo ou Legislativo eleja
determinada política pública, comprovadamente idônea à satisfação de direitos, não poderá o Poder
Judiciário atuar em sentido diverso, sob pena de afronta ao princípio citado.
Endossa o quanto exposto o voto do Ministro Celso de Mello, no já citado ARE 745.745
AgR/MG:
“É certo – tal como observei no exame da ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Informativo/STF
nº 345/2004) – que NÃO se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções institucionais do Poder
Judiciário – e nas desta Suprema Corte, em especial – a atribuição de formular e de implementar
políticas públicas, pois, nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e
Executivo”.
Como dito, o ativismo judicial, para ser legítimo, além de excepcional, deve respeitar uma
condicionante insuperável: o dever de argumentação. Deveras, ao passo em que o voto chancela
a atuação dos poderes majoritários, é a racionalidade exarada nas decisões judiciais que lhes con-
fere legitimidade. Decisão não (ou mal) fundamentada é, então, decisão ilegítima.
Direito Constitucional - Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
Segundo Luís Roberto Barroso, para assegurar a legitimidade e a racionalidade de sua inter-
pretação, o intérprete deverá, em meio a outras considerações:
ATIVISMO JUDICIAL
Excepcional Condicionado
13
Incidência do postulado da Separação dos Pode- Dever de argumentação:
res: cabe, primariamente, aos Poderes Executivo e
1. A decisão judicial deve sempre remeter a uma
Legislativo a definição de políticas públicas.
norma constitucional ou legal, pois esta, sim, foi
constituída sob deliberação majoritária;
Dica 1: A partir dos requisitos para legitimidade do ativismo judicial, é possível que o advogado público
erija tese em sentido contrário, defendendo que a atuação judicial, na espécie, é ilegítima, por: 1) violar o
postulado da Separação dos Poderes; 2) não se sustentar em norma constitucional ou legal; 3) ser casu-
ística; ou 4) descambar em problema ainda maior do que o veiculado na lide.
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Dica 2: O grande nome da argumentação jurídica é Chaim Perelman, que escreveu a obra “Tratado da
argumentação: A nova retórica”. Portanto, ao abordar o tema da legitimidade das decisões judiciais, a partir
do dever de argumentação, recomenda-se ao candidato fazer menção ao autor referenciado.
No Brasil, o Supremo Tribunal Federal tem erguido como óbice à aplicabilidade da cláu-
sula da reserva do possível o respeito ao mínimo existencial, entendido como o conjunto de
elementos fundamentais à dignidade da pessoa humana. É dizer que a tese fazendária não tem
sido acolhida, quando não demonstrada a satisfação do referido mínimo existencial.
Por essa razão, ao invocar a tese da reserva do possível em uma eventual defesa da Fazenda,
o candidato deve mencionar que o mínimo existencial foi satisfeito, por meio de outras polí-
ticas públicas, menos gravosas ao Estado, mas igualmente eficazes (ex.: caso da postulação
de medicamentos que não constem na lista do SUS, quando há no estoque outro avalizado pelo
sistema).
A prova para Defensor Público da União, elaborada pelo CESPE, considerou errada a
seguinte assertiva: “os direitos sociais previstos na Constituição, por estarem submetidos
ao princípio da reserva do possível, não podem ser caracterizados como verdadeiros direitos
subjetivos, mas, sim, como normas programáticas. Dessa forma, esses direitos devem ser
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tutelados pelo poder público, quando este, em sua análise discricionária, julgar favoráveis
as condições econômicas e administrativas”.
Atendido o mínimo existencial, Ingo Sarlet anota que a tese da reserva do possível deve ser
acolhida, quando restarem comprovadas:
A cláusula da “reserva do possível” é endossada pela “teoria dos custos do direito” e pela tese
das “escolhas trágicas”, todas elas relacionadas a argumentos de ordem orçamentário-financeira.
A “teoria dos custos dos direitos”, pensada pelos autores Stephen Holmes e Cass Sustein
na obra “The cost of rigths” (“O custo dos direitos”), propõe uma análise econômica do Direito. Se-
gundo os autores, o direito nasce a partir de sua previsão orçamentária: antes disso, não há
direito a ser vindicado, pois o Estado não pode proteger direitos sem recursos.
A prova para Advogado da União, elaborada pelo CESPE, considerou errada a seguinte
assertiva: “a reserva do possível pode ser sempre invocada pelo Estado com a finalidade de
exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais que impliquem custo finan-
ceiro”.
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Não se ignora que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – além de caracterizar-se
pela gradualidade de seu processo de concretização – depende, em grande medida, de um inesca-
pável vínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que,
comprovada, objetivamente, a alegação de incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal,
desta não se poderá razoavelmente exigir, então, considerada a limitação material referida, a imediata
efetivação do comando fundado no texto da Carta Política.
A tese das “escolhas trágicas”, apresentada pelos autores Guido Calabresi e Philip Bobbit na
obra “Tragic Choices” (ou “Escolhas Trágicas”) exprime “o estado de tensão dialética entre a ne-
cessidade estatal de tornar concretas e reais as ações e prestações de saúde em favor das pes-
soas, de um lado; e as dificuldades governamentais de viabilizar a alocação de recursos financeiros,
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sempre tão dramaticamente escassos, de outro” (Min. Celso de Mello, ARE 745.745 AgR/MG).
Nesse ponto, retoma-se a ideia de ilegitimidade das decisões judiciais que não levam em
conta as suas consequências no mundo real. Demais disso, a Fazenda Pública deve defender que,
em um contexto de “escolhas trágicas”, a atuação judicial não pode, a pretexto de realizar a justiça
do caso concreto (microjustiça), influir negativamente na distribuição de justiça social por meio de
políticas públicas coletivas (macrojustiça), definida, ordinariamente, pelos Poderes majoritários.
O STF possui vários julgados sobre o dilema examinado, mencionando-se, por oportuno, tre-
cho do julgado prolatado na STA 748 MC/AL:
“O caso sob comento, o relatório médico de fls. 10 é bastante claro ao aduzir que o demandado
procurou o médico subscritor do referido relatório para “submeter-se a tratamento com estimulação
magnética transcraniana, técnica inovadora e revolucionária”. Em momento algum afirma a necessi-
dade insofismável da utilização deste tratamento específico e a inexistência de outro tratamento apto
a preservar a saúde do demandante. Nesta senda, seria por demais injusto com os demais cidadãos
necessitados relativizar o princípio da reserva do possível para conceder um tratamento alternativo
Direito Constitucional - Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
de R$ 68.000,00 (sessenta e oito) mil reais, notadamente porque este valor causaria abalos injustifi-
cáveis às finanças municipais, o que certamente refletiria no fornecimento de tratamentos específicos
a outros administrados mais necessitados”.
Dica: Recomenda-se ao candidato mencionar, se possível, as obras e autores que sustentam as teses ora
estudadas. Isso demonstrará conhecimento ao examinador, que tenderá a pontuar o espelho com genero-
sidade.
Consignadas as limitações elencadas nos tópicos anteriores, vê-se, portanto, que o ativismo
judicial não pode descambar para o arbítrio judicial, que, a pretexto de imprimir juridicidade às nor-
mas constitucionais, especialmente os princípios, finda por relegar a um segundo plano a segurança
jurídica e a democracia. Este o ponto de reverberação das críticas à recepção distorcida do neo-
constitucionalismo no Brasil. Os principais autores que cuidam do tema são Daniel Sarmento, Hum-
berto Ávila e Marcelo Neves.
a) Os direitos fundamentais e sociais configuram trunfos contra a maioria, pois num Estado lastre-
ado na dignidade da pessoa humana, como é o Brasil, cada pessoa tem a si assegurada uma esfera
de autonomia e liberdade individual que não pode ser comprimida nem restringida pelo só fato de
um ato normativo ou política pública ser decorrente de uma decisão majoritária;
c) A real disponibilidade fática dos recursos para a efetivação dos direitos sociais, a disponibilidade
jurídica dos recursos materiais e humanos, conectada com a distribuição das receitas e competên-
cias tributárias, orçamentárias, legislativas e administrativas e o problema da proporcionalidade da
prestação, em seu aspecto exigível e razoável, de acordo com a peculiaridade do titular do direito,
caracterizam a tríplice dimensão da chamada “reserva do possível”;
d) A garantia do mínimo existencial através da efetivação dos direitos sociais admite que esse con-
teúdo mínimo não ultrapasse a noção de um mínimo meramente vital ou de sobrevivência que vise
resguardar tão somente a vida humana em si, não constituindo, portanto, um de seus elementos
nucleares a ser desenvolvido e respeitado, a dimensão sociocultural;
Direito Constitucional - Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
e) A jurisprudência dos Tribunais Superiores admite e reconhece a exigibilidade dos direitos sociais
a prestações tanto como direitos derivados, quanto como direitos originários priorizando, todavia,
especialmente neste último caso, prestações indispensáveis à sobrevivência da pessoa e vincula-
das à garantia do mínimo existencial.
Segundo Daniel Sarmento, “no Brasil, uma crítica que tem sido feita à recepção do neocons-
titucionalismo – eu mesmo a fiz em vários textos, bem como outros autores, como Humberto Ávila
e Marcelo Neves – é a de que ele tem dado ensejo ao excessivo arbítrio judicial, através do que
chamo de “carnavalização dos princípios constitucionais”. Os princípios constitucionais, de teor
mais vago, acabam servindo para tudo, no contexto de uma cultura jurídica que vê como mais cult
a sua invocação do que o recurso às regras legais. Com frequência, tais princípios são empregados
sem a devida fundamentação. Paga-se por isto um preço caro em termos de SEGURANÇA JURÍ-
DICA – já que as decisões judiciais se tornam imprevisíveis – e de DEMOCRACIA – pois os cida-
dãos ficam sujeitos aos gostos e às preferências de magistrados não eleitos. Além disso, no cenário
de “cordialidade assimétrica” em que vivemos, o recurso indiscriminado a princípios fluidos pode
19
ser uma forma oblíqua de se legitimar o uso do “jeitinho”, em favor dos amigos e dos mais podero-
sos. Estes, porém, são problemas da recepção do neoconstitucionalismo em nossas práticas judi-
ciais, e não da teoria neoconstitucional, que não endossa este uso abusivo e pouco fundamentado
de princípios abertos”.
Deve defender, por isso, que o ativismo judicial não pode desaguar em arbítrio judicial, em
desrespeito à separação dos poderes, à segurança jurídica e aos valores inerentes à democracia.
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