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AULA 02 –

MOVIMENTOS
CONSTITUCIONAIS
E CLASSIFICAÇÕES

DIREITO
CONSTITUCIONAL I
Profª Ma.
Tassiana Bezerra
• O instante atual é marcado pela
superioriedade da Constituição, a que se
subordinam todos os poderes por ela
constituídos, garantido por mecanismos
NEOCONSTITUCIONALISMO jurisdicionais de controle de
constitucionalidade. A Constituição, além
disso, se caracteriza pela absorção de
valores morais e políticos (fenômeno por
vezes designado como materialização da
Constituição), sobretudo em um sistema de
direitos fundamentais autoaplicáveis. Tudo
isso sem prejuízo de se continuar a afirmar
a ideia de que o poder deriva do povo, que
se manifesta ordinariamente por seus
representantes. A esse conjunto de fatores
vários autores, sobretudo na Espanha e na
América Latina, dão o nome de
neoconstitucionalismo. (Gilmar Mendes e
Paulo Gustavo G. Branco)
Neoconstitucionalismo
• É um movimento pós-Segunda Guerra Mundial
(segunda metade do século XX), que tem como
objetivo desenvolver um novo modo de compreender,
interpretar e aplicar o direito constitucional e as
constituições. É também chamado de
constitucionalismo contemporâneo.
Neoconstitucionalismo
• O neoconstitucionalismo pode ser explicado a partir de três marcos
fundamentais: o marco histórico; marco filosófico; e o marco político.
• a) Marco Histórico: O marco histórico é o estado constitucional de
direito do pós-Segunda Guerra Mundial na Europa, surgido a partir
dos diversos documentos constitucionais produzidos no período,
como as Constituições da Itália (1947), Alemanha (1949), Portugal
(1976) e Espanha (1978). Deve-se pontuar, ainda, o contexto de
redemocratização dos diversos países, inclusive na América Latina,
como o próprio Brasil, que inaugurou um novo modelo com a
Constituição Federal de 1988, após 21 anos de regime militar.
Neoconstitucionalismo
• Marco filosófico: é o chamado pós-positivismo, um fenômeno que
visa superar a dicotomia entre o Positivismo e o Jusnaturalismo. O
pós-positivismo supera essa dicotomia, indo além da legalidade
estrita e confrontando o positivismo, pois a legitimidade do direito
não advém apenas da lei.
• Marco teórico: conjunto de teorias que dizem respeito à força
normativa da constituição e à expansão da jurisdição constitucional e
de novos métodos de interpretação, chamado de nova hermenêutica
constitucional.
Neoconstitucionalismo - Características

A Constituição como centro do ordenamento jurídico

Força normativa da Constituição

Busca pela concretização de direitos fundamentais tendo como


base a dignidade da pessoa humana

Judicialização da política e das relações sociais

Reaproximação entre direito e moral, direito e ética, direito e


justiça e direito e filosofia
Neoconstitucionalismo -
Informativos de Jurisprudências
• RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ENUNCIADO DA SÚMULA VINCULANTE 10 E
AO RECURSO ESPECIAL REPETITIVO 1.369.832. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE
OFENSA À AUTORIDADE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA POR ESTA CORTE.
INTERPRETAÇÃO DA NORMA NO CASO CONCRETO, SEM JUÍZO DE
INCONSTITUCIONALIDADE. INEXISTÊNCIA DECONTRARIEDADE À SÚMULA
VINCULANTE 10. RECLAMAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA. PEDIDO JULGADO
IMPROCEDENTE. (...)Por outro lado, a mera menção à Carta Magna não representa
declaração de inconstitucionalidade pelo órgão julgador. Determinadas citações
constitucionais representam tão somente um reflexo da constitucionalização do
Direito, fenômeno característico do neoconstitucionalismo, que implica a irradiação
das normas constitucionais por todo o ordenamento. Sobre o tema, Daniel Sarmento
afirma que “cabe ao intérprete não só aplicar diretamente os ditames
constitucionais às relações sociais, como também reler todas as normas e institutos
dos mais variados ramos do Direito à luz da Constituição” (O Neoconstitucionalismo
no Brasil: riscos e possibilidades, in Filosofia e Teoria Constitucional Contemporânea.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 143). (...)grifamos. [Rcl 25125, Relator(a): Min.
LUIZ FUX, julgado em 03/03/2017, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-042
DIVULG 06/03/2017 PUBLIC 07/03/2017]
Transconstitucionalismo
• O transconstitucionalismo é o entrelaçamento de ordens
jurídicas diversas (estatal, internacional, transnacional e
supranacional) em torno dos mesmos problemas de natureza
constitucional, ou seja, o transconstitucionalismo ocorre
quando ordens jurídicas diferenciadas passam a enfrentar
concomitantemente as mesmas questões de natureza
constitucional, como, por exemplo, separação de poderes e
direitos humanos.
Transconstitucionalismo
• Caso concreto: ADPF 153. Nela foi discutido o do tema
“justiça de transição”, o qual envolve a passagem do regime
ditatorial para o regime democrático. O STF enfrentou esse
tema em 2010, julgando-o improcedente, e, ao mesmo
tempo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos foi
chamada ao caso Gomes Lund, e afirmou que a Lei de Anistia
do Brasil não pode ser empecilho para investigação e
punição dos agentes da repressão na época do regime militar
no Brasil.
Constitucionalismo Abusivo

• O conceito de constitucionalismo abusivo foi pensado por David Landau.


• Tem-se que alguns mecanismos formais de mudança da Constituição podem
minar a democracia. Podem-se imaginar algumas formas de emprego do
constitucionalismo abusivo, como a utilização reiterada de emendas
constitucionais e/ou a criação de novos documentos constitucionas com o intuito
de que determinados grupos sociais ou políticos se perpetuem no poder,
corroendo a estrutura de uma democracia constitucional e minando as
possibilidades de alternância de poder e a utilização de técnicas e instrumentos
em desacordo com as bases de uma democracia constitucional, o que pode ser
considerado como constitucionalismo abusivo
Constitucionalismo do Futuro

• Segundo o jurista argentino Roberto Dromi, el constitucionalismo del


‘por-venir’ deve identificar-se com a verdade, a solidariedade, o
consenso, a continuidade, a participação, a integração e a
universalidade.
• De acordo com Dromi, as constituições do futuro deverão guiar-se
por sete valores fundamentais
supremos: verdade, solidariedade, consenso, continuidade, participa
ção, integração e universalização.
Novo Constitucionalismo Latino Americano

• “O constitucionalismo latino-americano, que a partir do esgotamento dos


regimes militares e autoritários dos anos 80, passa a identificar-se com o
momento europeu do pós-guerra e em um processo de mimetismo, adota
padrões teóricos bastante semelhantes àqueles experimentados pelo
constitucionalismo europeu. As Constituições Latino Americanas surgidas a partir
dos anos 80, fruto do processo de redemocratização na região, reproduzem, em
grande medida, compromissos institucionais e respostas jurídicas forjadas a partir
de problemas formatados pelo discurso jurídico europeu, reeditando na América
Latina uma ideologia constitucional que apresenta dificuldades quanto à
realização de suas promessas.”
Novo Constitucionalismo Latino Americano

• São características do Novo Constitucionalismo Latino Americano: a) ênfase na


participação popular na elaboração e interpretação constitucionais, o que o
caracteriza por um forte elemento legitimador; b) adoção de um modelo de “bem
viver” fundado na percepção de que o ser humano é parte integrante de um
cosmos; c) re-articulação entre Estado e Mercado a partir da reestruturação do
modelo produtivo; d) rejeição do monoculturalismo e afirmação de pautas
pluralistas de justiça e direito; e) inclusão de linguagem de gênero nos textos
constitucionais; f) garantia de participação e reconhecimento de todas as etnias
formadoras das nações latino-americanas, inclusive com reconhecimento das
línguas originárias e a existência de Cortes Constitucionais com participação
indígena; g) são textos constitucionais preocupados com a superação das
desigualdades sociais e econômicas; h) proclamam o caráter normativo e
superior da Constituição frente ao ordenamento jurídico (BARBOSA, 2015).
Exercício
• Assinale a alternativa correta a respeito do constitucionalismo.
• a) O constitucionalismo antigo teve início com a Magna Carta de 1215, não
havendo antes desse período indícios de experiências democráticas que
contrastassem com os poderes teocráticos ou monárquicos dominantes.
• b) John Locke, Montesquieu e Rousseau são reconhecidos como os principais
precursores do constitucionalismo contemporâneo, em virtude de
concepções revolucionárias que defendiam a unificação e consagração dos
ideais e valores humanos universais.
• c) No constitucionalismo moderno, as Constituições de sintéticas passam a
analíticas, consagrando nos seus textos os chamados direitos econômicos e
sociais, e a democracia liberal-econômica dá lugar à democracia social,
mediante a intervenção do Estado na ordem econômica e social.
• d) A transição da Monarquia Absolutista para o Estado Liberal, em especial na
Europa, no final do século XVIII, que traçou limitações formais ao poder
político vigente à época, é um marco do constitucionalismo moderno.
O que é Constituição?

• É uma palavra polissêmica, na medida em que comporta


várias definições, desde a física à filosofia. J.J. Canotilho
chama de Constituição ideal aquela que:
• é escrita;
• tem direitos e garantias individuais enumerados;
• possui sistema democrático formal, com a participação do
povo nos atos legislativos;
• traz limitações de poder por meio do princípio da
separação dos poderes.
A Constituição e o Supremo

• O Supremo Tribunal Federal informa que existem múltiplas


acepções para a palavra CONSTITUIÇÃO e já se posicionou que,
na verdade, existe o chamado BLOCO DE
CONSTITUCIONALIDADE - ADI 595/ES, afirmando que a
Constituição permite que sejam incluídos em seu conceito o
documento formal escrito, os valores de caráter suprapositivos
e os princípios com raízes do direito natural, sendo que a
Constituição é muito mais que o conjunto de normas e
princípios nela inscritos.
Sentidos da Constituição
• Sentido sociológico (Lassalle) - O sentido sociológico foi
apresentado por Ferdinand Lassalle em 1863. Segundo esse
entendimento, uma constituição é definida pelos fatores
reais de poder que regem a sociedade. a Constituição é
conhecida como um fato social, um fruto da realidade social
do país, de tal forma que as forças que imperam definem seu
conteúdo.
Sentidos da Constituição
• Sentido político (Schmitt) - Para Carl Schmitt, Constituição é
decisão e, por isso, esse conceito também é chamado de
conceito decisionista. Assim, a Constituição é uma decisão
política fundamental, tomada pelo titular do Poder
Constituinte. Carl Schmitt dizia que, se a Constituição refletir
a decisão do titular, ela será válida, ainda que suas normas
sejam injustas. Essa decisão é um ato político.
Sentidos da Constituição
• Sentido jurídico (Kelsen) Tanto Kelsen quanto Hesse entendem que
constituição é uma norma jurídica prescritiva de dever que vincula o
Estado e a sociedade.
• O que interessa é o documento constitucional e a forma como este
vai prescrever uma série de possibilidades para o Estado e a
sociedade, organizando o Estado e estabelecendo direitos
fundamentais de forma vinculante. Hans Kelsen ainda dizia que
Constituição é norma pura.
Sentidos da Constituição
• Sentido cultural
• A concepção culturalista de Constituição foi identificada por Michele
Ainis, em 1986, como aquela representativa de um fato cultural, que
disciplina as relações e os direitos fundamentais relativos à cultura.
• Assim, a Constituição é o produto da cultura, e as três concepções
apresentadas anteriormente – sociológica, política e jurídica – devem
ser trabalhadas de forma complementar, uma vez que a Constituição
possui fundamentos distintos condensados em fatores reais de poder,
em decisões políticas fundamentais de um povo e as normas jurídicas
devem ser vinculantes.
Sentidos da Constituição
• Konrad Hesse critica e rebate a concepção tratada por
Ferdinand Lassalle. A Constituição possui uma força
normativa capaz de modificar a realidade, obrigando as
pessoas. Por isso, nem sempre cederia frente aos fatores
reais de poder, pois ela obriga. Tanto pode a Constituição
escrita sucumbir quanto prevalecer, modificando a
sociedade. O STF tem utilizado bastante esse princípio em
suas decisões.

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