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RESUMO (MENDES; TAVARES)

Estado: conceito, origens e estruturas

( Página 72 e Página 985)


Conceito
Tavares não trata do Estado no sentido puro, mas dentro do contexto da história do
constitucionalismo.
Pode-se identificar pelo menos quatro sentidos para o conceito de constitucionalismo.
Numa primeira acepção, emprega-se a referência ao movimento políticosocial com origens
históricas bastante remotas que pretende, em especial,limitar o poder arbitrário. Numa segunda
acepção, é identificado com a imposição de que haja cartas constitucionais escritas .Tem-se
utilizado, numa terceira concepção possível, para indicar os propósitos mais latentes e atuais da
função e posição das constituições nas diversas sociedades. Numa vertente mais restrita, o
constitucionalismo é reduzido à evolução históricoconstitucional de um determinado Estado.
Mais adiante (página 985 em diante) ele volta ao tema do Estado a partir dos Pilares do Estado
Brasileiro:
ESTADO: CIDADANIA, REPÚBLICA, DEMOCRACIA E JUSTIÇA SOCIAL
A Constituição prevê a cidadania como um dos pilares do Estado, no art. 1º, II, e, no art. 205,
determina que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”
Assim como ocorre com a dignidade da pessoa humana, a cidadania invoca conceito vago,
embora seja pauta inafastável em qualquer Estado democrático.
A partir de HANNA ARENDT ficou também consagrada a ideia de que a cidadania é o direito a
ter direitos, é, pois, a representação da pertença de um indivíduo a uma determinada ordem
jurídica qualificada (no sentido de humanizada) que lhe garante a posição de sujeito de direitos.
FAMÍLIA
Conforme dispõe o art. 226 da Constituição, a família é considerada comoa base da sociedade
brasileira e deve obter a “especial proteção do Estado”.
O STF reconheceu como entidade familiar a união estável de casais do mesmo sexo (ADF 132).
Na mesma linha, o mesmo STF criminalizou, em 2019, a chamada homofobia.
REPÚBLICA
A Constituição brasileira proclama o ideal republicano, não só por acentuar logo no art. 1º que o
Brasil é uma República, mas também por adotar a transitoriedade no exercício do poder, a
legalidade (governo de leis e não de Homens), a moralidade e a eficiência como pautas
constitucionais direcionadas aos diversos agentes do Estado (servidores, funcionários públicos e
mandatários de cargos eletivos).
DEMOCRACIA
O tema da democracia é um dos mais caros ao modelo ocidental de Direito. Comporta, contudo,
uma série de vertentes, muitas das quais com propostas antagônicas. Toda a evolução do sistema
democrático, desde suas mais remotas
origens, aponta atualmente, segundo classificação de C. B. MACPHERSON,
para a denominada democracia participativa. Outra vertente que, recentemente, apresentou-se
como uma alternativa é a chamada democracia dialógica ou deliberativa.
JUSTIÇA SOCIAL
A Constituição, já no art. 3º, I, deixa claro que um dos objetivos do Brasil deve ser o de construir
uma sociedade justa e solidária (in fine). E no caput do art. 170, uma vez mais, determina, já
agora como uma das finalidades da ordem econômica, que o Estado assegure a todos uma vida
conforme os ditames da “justiça social” (in fine). Também constitui objetivo da ordem social
(art. 193) a justiça social. Não se trata, portanto, de uma pauta normativa isolada, limitada ao
âmbito econômico.
A justiça social deve ser adotada como um dos princípios de finalidade comunitarista expressos
da Constituição de 1988 a interferir no contexto da ordem econômica, visando ao implemento
das condições de vida de todos até um patamar de dignidade e satisfação, com o que o caráter
social da justiça é-lhe intrínseco.

Origem
Constitucionalismo antigo
O movimento hebreu
O constitucionalismo, como movimento que pretende assegurar determinada organização do
Estado, encontra suas notas iniciais na Antiguidade clássica.
Foi KARL LOEWENSTEIN quem identificou o nascimento desse movimento entre os hebreus,
que, já em seu Estado teocrático, criaram limites ao poder político, por meio da imposição da
chamada “lei do Senhor”.
Embora se trate de um movimento bastante tímido se comparado a seu atual estágio de
desenvolvimento, é preciso aceitar que aos hebreus se deve a primeira aparição do
constitucionalismo.
As Cidades-Estado gregas
Mais tarde, no século V a.C., viriam os gregos com as Cidades-Estado.Tais núcleos políticos
configuraram o primeiro caso real de democracia constitucional.
A Cidade-Estado grega representou o início de uma racionalização do poder, e até hoje constitui
o único exemplo concreto de regime constitucional de identidade plena entre governantes e
governados, uma vez que se tratava de uma democracia direta. Além disso, o regime
constitucional grego estabelecia diferentes funções estatais, distribuídas entre diferentes
detentores de cargos públicos, que eram escolhidos por sorteio, para tempo determinado, sendo
permitido o acesso a esses cargos a qualquer cidadão.
É importante advertir que as constituições das Cidades-Estado, especificamente na obra de
ARISTÓTELES, eram pensadas não como um fundamento do poder, mas sim assinalando a
identidade da comunidade política.
Constitucionalismo e Idade Média
É na Idade Média que o constitucionalismo reaparece como movimento de conquista de
liberdades individuais, como bem o demonstra a aparição de uma Magna Carta, que não se
limitou a impor balizas para a atuação soberana, mas também representou o resgate de certos
valores, como garantir direitos individuais em contraposição à opressão estatal.
Na Idade Média inicia-se, pois, o esboço de uma lei fundamental.
Significou a consagração de um conjunto de princípios, normas e práticas adotadas nas relações
religiosas e comunitárias, especialmente entre as classes sociais e o soberano. Anota
CANOTILHO que: “A ideia da lei fundamental como lei suprema limitativa dos poderes
soberanos virá a ser particularmente salientada pelos monarcas franceses e reconduzida à velha
distinção do século VI entre ‘lois de royaume’ e ‘lois du roi’. Estas últimas eram feitas pelo rei e,
por conseguinte, a ele competia modificá-las ou revogá-las; as primeiras eram leis fundamentais
da sociedade, uma espécie de lex terrae e de direito natural que o rei devia respeitar”.
O desenvolvimento britânico das instituições constitucionais
É na Inglaterra que surgem aquelas inquietações dentro da Idade Média que culminam no
ressurgimento do constitucionalismo. Nesse país, apesar da tradição consuetudinária de seu
Direito, nasceram os primeiros diplomas constitucionais, ainda na Idade Média.
Identifica-se o constitucionalismo britânico, em seus primórdios, por volta de 1215, com a
concessão da Magna Carta, e, em fase posterior, iniciada em princípios do século XVII, pela luta
entre o Rei e o Parlamento, com a Petition of Rights, de 1628, as revoluções de 1648 e 1688 e o
Bill of Rights, de 1689.
A Petition of Rights, de 1628, caracterizava-se como documento engajado com as liberdades
públicas.
Constata-se que a Inglaterra, apesar dos rompantes revolucionários, desenvolve um longo, lento
e progressivo processo de construção das instituições constitucionais, formando, por fim, uma
Monarquia Constitucional, em contraposição à Monarquia Absolutista anteriormente vigente. Tal
mudança pode ser tomada como o renascimento doconstitucionalismo, trazendo consigo a
alteração da fonte do poder estatal, que passa das mãos do monarca (que possuía um poder
fundado em sua própria imagem, compreendido como ilimitado) para o Texto Constitucional.
O direito constitucional inglês constituiu um modelo político-jurídico único em sua época, que
contemplava o Poder Real, a aristocracia e os comuns. Formou-se, então, um sistema de governo
misto, que não se identificava nem com as monarquias absolutas, nem com as repúblicas
aristocráticas, nem com os regimes puramente democráticos, já experimentados à época.
Compreende-se como Constituição mista aquela Carta Política que vigorou em determinada
época histórica de molde a proporcionar às diversas classes sociais então existentes a
participação equilibrada no exercício do poder. A sociedade de então, dividida que se encontrava
em estamentos, impôs a ideia de que todos estes deveriam ter acesso ao poder, que não deveria
restar nas mãos de uma única parcela da sociedade.
Por isso, a “qualificação de uma constituição como mista depende, em última análise, da
diversidade de proveniência social dos titulares dos cargos públicos e da diversidade de formas
de provimento”
A inspiração dessa forma de governo está na filosofia do meio-termo, ideal da ética aristotélica.
Nessa linha de pensamento, NUNO PIÇARRA esclarece: “A Constituição mista atende, antes de
mais, às desigualdades e diversidades existentes na sociedade com o objectivo de as compor na
orgânica constitucional de tal maneira que nenhuma classe adquira a preponderância sobre a
outra. Neste sentido, constituição mista não é mais do que um ‘sistema político-social
pluralmente estruturado’”
A doutrina aristotélica pretende a aproximação econômico-social das diversas classes. Por isso, a
contribuição da doutrina da Constituição mista, em seu modelo aristotélico, à teoria da separação
dos poderes, de MONTESQUIEU, foi a agregação a esta da ideia de equilíbrio das classes
sociais por meio de sua participação no exercício do poder político. Isso, contudo, só se deu em
fase já avançada da doutrina de MONTESQUIEU.
A Inglaterra, diferentemente da França, não buscava desfazer o sistema antigo e fundar um novo,
mas tão somente preservar o sistema com o necessário ajuste às novas demandas por Justiça.
Constitucionalismo moderno
O constitucionalismo moderno revela-se na ideia básica de registrar por escrito o documento
fundamental do povo.
Esse conteúdo constitucional traduzia, por certo, os termos do antigo contrato social de
ROUSSEAU, que, nesse momento, deixava a condição de fcção de teoria política para tornar-se
o diploma jurídico de maior relevância entro dos ordenamentos estatais.
Aconsagração da primeira instituição escrita não coincidiu, cronologicamente, com o surgimento
de deias, institutos e valores caros ao constitucionalismo. Contudo, o onstitucionalismo como é
reconhecido e praticado na atualidade haure seus lementos fundadores do constitucionalismo
norte-americano do final do séc.XVIII, ou seja, tem na formação deste, ainda hoje, suas
principais bases.
Os Estados Unidos da América do Norte quando, diante da independência das Treze Colônias, o
Congresso de Filadélfia, em 15 de maio de 1776, propôs aos Estados federados a formulação de
suas próprias constituições. A edição de tais diplomas representou o início do sistema de
constituições escritas, que é até hoje uma tendência amplamente praticada.
No território americano foram proclamadas, ainda, as Fundamental Orders of Connecticut, de
1639, o mais antigo de uma série de documentos (convenants) entre os colonos, e que já contêm
a ideia de ordenação da sociedade política. Costuma-se indicar o Agreement of the People (1647-
1649) como a primeira tentativa de Constituição escrita. Já o Instrument of Government é
apontado como a primeira efetiva Constituição escrita, embora já com o cunho autoritário da
época
É, portanto, a partir desse momento que ganha força o constitucionalismo moderno, espalhando
sua doutrina por toda a Europa a partir dos fins do século XVIII.
Foi na França que houve o estopim europeu para a “corrida constitucionalista”, inaugurando-se
uma nova etapa na ordem social do velho mundo. A revolução francesa derruba a monarquia e a
nobreza, castas dominantes até então, para impor uma Constituição escrita, com a preocupação
de assegurar amplamente seus ideais de liberté, egalité e fraternité.
Em 1789 é editada a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão e em 1791
edita-se a primeira Constituição formal europeia, surgida na trilha da americana, a saber, a
francesa, que teve referida Declaração como preâmbulo. A partir dela, começaram a surgir
constituições por toda a Europa.
Constitucionalismo contemporâneo: o atual processo evolutivo
Para DROMI, o futuro do constitucionalismo “deve estar influenciado até identificar-se com a
verdade, a solidariedade, o consenso, a continuidade, a participação, a integração e a
universalização”.
Cumpre registrar, ainda, um constitucionalismo fraternal, referido pelo STF no julgamento da
ADI 3510, “a traduzir verdadeira comunhão de vida ou vida social em clima de transbordante
solidariedade em benefício da saúde”.
Constitucionalismo globalizado
Na busca por maior integração insere-se uma tentativa de ampliação dos ideais e princípios
jurídicos adotados pelo Ocidente, de maneira que todos os povos reconheçam sua universalidade.
Estruturas
a) O Estado Unitário (página 1038)
O Estado denominado unitário apresenta-se como uma forma de Estado na qual o poder
encontra-se enraizado em um único ente intraestatal.
Basicamente, o Estado unitário foi a forma adotada originariamente, já que o poder real, os
déspotas e os governos autoritários sempre foram marcados pela forte centralização do poder. O
germe do Estado unitário está na concentração do poder nas mãos de um único homem ou órgão.
Os territórios, contemplados na atual Constituição brasileira, podem ser considerados como
aplicação prática da teoria do Estado unitário.
A Constituição brasileira de 1891 não fez referência aos territórios, que só vieram a constituir
uma realidade brasileira em 1904, por meio de lei.
b) O Estado Federal
Na Grécia antiga, evidentemente, nunca houve a reunião do poder das diversas cidades-estados.
Mas, mediante tratados confederativos, as polis formaram alianças, para a paz e para a guerra
externa. Nas confederações formadas a partir dessas alianças, havia sempre alguma cidade-
estado central, hegemônica. São sempre lembradas a Liga do Peleponeso (sob o comando de
Esparta) e a Liga de Delos (sob o comando de Atenas).
A Constituição dos EUA, de 1787, inaugura o modelo federativo de Estado como é conhecido na
atualidade. A criação, portanto, foi derivada do novo documento constitucional e de sua
supremacia no contexto normativo e estatal.
ESTADO NACIONAL, ESTADO FEDERAL, UNIÃO FEDERAL E CONFEDERAÇÃO DE
ESTADOS: DISTINÇÕES BÁSICAS
Consoante a lição de LUCIO LEVI, “o Governo Federal, diferentemente do Estado nacional, que
visa tornar homogêneas todas as comunidades naturais que existem no seu território, procurando
impor a todos os cidadãos a mesma língua e os mesmos costumes, é fortemente limitado, porque
os Estados federados dispõem de poderes suficientes para se governarem autonomamente”
A Confederação está baseada na adoção individual de tratados internacionais pelas partes
(países) interessados.
Outra nota distintiva com a federação está no direito de que goza cada um dos integrantes de
retirar-se, a qualquer momento, segundo seus interesses e conveniências, da confederação.
União é entidade diversa do Estado federal. Aquela é pessoa jurídica de direito público interno,
enquanto este é pessoa jurídica de Direito internacional.
O Estado federal é também pessoa jurídica de Direito interno, porém constituído pela União,
Estados-membros, Distrito Federal e municípios.
O federalismo é a unidade na pluralidade. Embora se fale de pluralidade, ela não pode desvirtuar
e dissolver a unidade, necessária para que se mantenha o Estado.
O Estado denominado federal apresenta-se como o conjunto de entidades autônomas que aderem
a um vínculo indissolúvel, integrando-o. Dessa integração emerge uma entidade diversa das
entidades componentes, e que incorpora a federação.
Tipologias do Estado Federal
Federalismo por agregação e por desagregação
Trata-se, talvez, da distinção mais antiga que há, decorrente da verificação histórica da origem da
ligação federativa. Assim, o Estado federal tanto pode advir de um antigo Estado unitário, que se
descentraliza, como da reunião de antigos Estados independentes ou soberanos, para a formação
de um único Estado, agora federal. No primeiro caso, tem-se o denominado federalismo por
desagregação, enquanto o último se caracteriza como o federalismo por agregação.
Foram formados por agregação os Estados Unidos, a Alemanha e a Suíça. O caso típico de
federalismo por desagregação é o brasileiro.
Federalismo dual e cooperativo
A doutrina identifica um tipo rígido de separação das atribuições de cada ente federativo, tendo-o
denominado federalismo dual. Corresponde à separação clássica (originária) ocorrente nos EUA.
Consoante BERNARD SCHWARTZ: “A doutrina baseou-se na noção de dois campos de poder
mutuamente exclusivos, reciprocamente limitadores, cujos ocupantes governamentais se
defrontavam como iguais absolutos”
Ocorre que, com o surgimento do denominado Estado do Bem-Estar Social, ou Estado-
providência, esse modelo dualista acabou perdendo sua força e interesse originário.
Para PAULO BONAVIDES, contudo, o federalismo cooperativo é aquele que melhor se amolda
aos intuitos autoritários, justamente por permitir que a União se sobreponha às demais unidades,
concluindo que, na prática, tem sido um federalismo de subordinação. Seria um federalismo que
representaria sua própria negação, nos dizeres de MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO.
ZIMMERMANN divide o federalismo cooperativo em dois: federalismo simétrico e
federalismo assimétrico: “Um dos pontos fundamentais para o êxito do federalismo é o referente
à compreensão dos desníveis socioeconômicos, ou mesmo das dimensões territoriais, dentre os
entes políticos federados. Por isso, faz-se mister um certo balanceamento empírico das diferenças
naturalmente existentes”.
Nos EUA tem-se um caso de federalismo simétrico, que oferece certo fundamento real, já que há,
efetivamente, razoável homogeneidade de desenvolvimento e cultura de seus Estados.
Já na Suíça encontra-se uma forte diferença cultural no seu povo, inclusive com a adoção de
diversas línguas (federalismo assimétrico).
Federalismo orgânico
No que se denomina federalismo orgânico há uma presença marcante do ente federal. Nos
dizeres de ZIMMERMANN, “unidades federadas que se formam à simples imagem e
semelhança de um todo-poderoso poder central”.
Federalismo de integração
DIRCÊO TORRECILLAS fala de um federalismo de integração, que “conduz mais a um Estado
unitário descentralizado constitucionalmente, do que a um verdadeiro Estado federal”.
Federalismo de integração
DIRCÊO TORRECILLAS fala de um federalismo de integração, que “conduz mais a um Estado
unitário descentralizado constitucionalmente, do que a um verdadeiro Estado federal”

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