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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE DIREITO

Disciplina: Direito Constitucional


Turma: NA7
Alunos: Gabriela Rosolen de Azevedo Ribeiro - RA00276537
Gabriela Tiemi Luz Moreira - RA00276544
Fabio Prandini Azzar Filho - RA663300276633
Julia Sciarretta Lima - RA00276510

Seminário: Atividade Judicialização da Política

Pede-se: Elabore uma sucinta dissertação demonstrando a evolução da “Teoria da


Separação dos Poderes” e com a sua nova percepção implica no relacionamento do
Poder Judiciário com os demais poderes. Em especial no seu papel de garantir a
efetivação dos Direitos Sociais.

Ao considerar a evolução da Teoria da Separação dos Poderes, o primeiro pensador a


separar o poder em três esferas foi Aristóteles. O filósofo considerou que concentrar o poder
em uma única pessoa seria uma forma injusta e perigosa de governar, portanto idealizou que
o poder deveria seria dividido em: funções deliberativa, tratando dos negócios do estado;
executiva, para operar as ações dos estados; e judicial, responsável por dirimir e julgar os
conflitos da sociedade.

Não obstante, foi no século XVIII que a aludida teoria tomou forma. Em primeiro
lugar, John Locke, ao elaborar a obra "Segundo Tratado sobre o Governo Civil, introduziu a
ideia da existência de um contrato social entre o governador e seus governados, em que estes
abdicariam o seu estado de natureza para que fosse possível a proteção de seus direitos
naturais. Neste sentido, fixando a responsabilidade e a finalidade do Estado, a separação dos
poderes impediria o Estado de ultrapassar os limites de seus poderes, para garantir os direitos
de seus cidadãos.
Montesquieu, inspirando-se nas obras de Aristóteles e Locke, efetivamente consagrou
a Teoria da Separação dos Poderes durante a Revolução Francesa, a partir de sua obra "O
Espírito das Leis", com o objetivo de contrapor ao molde absolutista vigente até então, em
que concentrava todas as atividades estatais na mão do soberano. O pensador criou, portanto,
o sistema de “sistema de freios e contrapesos”, dividindo o poder em três partes,
independentes, que se regulam entre si e que possuem diferentes competências.

Neste modelo, a cada poder é atribuído funções típicas, mas também funções atípicas
para possibilitar um controle maior uns sobre os outros. Quanto às funções típicas, o poder
Legislativo se incumbiria da tarefa de estabelecer normas gerais e abstratas que regem a vida
em sociedade de forma harmônica, o poder Executivo tornaria o responsável pela tradução e
exteriorização do ato da vontade descrita na norma elaborada e, por fim, o poder Judiciário
teria a função de julgar os conflitos ocorrentes na sociedade. Esta seria a forma mais racional
de se evitar o abuso de poder.

Não obstante, quanto às funções atípicas dos poderes, o Poder Executivo pode exercer
funções legislativa e judiciária, em que a primeira é efetivada pelas medidas provisórias
previstas no Art. 62 da Carta Magna e pela execução de leis delegadas dispostas no art. 68 da
CF, sob pretexto de relevância e urgência; e a segunda é exercida pelos tribunais de contas. O
Poder Legislativo executa atos administrativos e judiciários, em que o primeiro concerne a
necessidade de concursos públicos e folhas de pagamento, e o segundo previsto no art. 52,
inciso I da CF. Por último, o Poder Judiciário tem como função atípica atos legislativos, já
que cabe a cada tribunal elaborar seu próprio regimento interno; e, excepcionalmente,
legislar, tal como o remédio constitucional mandado de injunção.

Todavia é importante ressaltar que a independência dos poderes não é absoluta, visto
que os poderes podem e devem se fiscalizar de acordo com a dinâmica de pesos e
contrapesos. Ao poder Legislativo cabe o exercício de legislar e fiscalizar o Executivo. Ao
poder Executivo, é destinada a função administrativa, aplicando as leis anteriormente
editadas, e executando políticas públicas. E ao judiciário cabe a função jurisdicional, isto é,
julga os conflitos existentes de acordo com as normas pré definidas pelo Legislativo.

Nesse sentido, a separação de poderes visa a supremacia da Constituição, e precaver o


abuso de poder, visto que um poder fiscaliza e controla o outro. Portanto, afere-se que, com a
separação dos poderes, os riscos de apenas uma autoridade concentrar as funções estatais são
amenizados, uma vez que cada poder é limitado pelo outro. Não há como uma pessoa criar,
executar e julgar uma norma, por exemplo, diferentemente do que ocorria no sistema
ditatorial, em que apenas o ditador exerce os três poderes.

O Estado de Bem-estar Social qualifica-se como um modelo de organização


político-social, em que este torna-se o agente promotor e organizador da vida social e
econômica, com a função de corrigir as desigualdades sociais e regionais, na medida em que
o povo abre mão de parcela de sua liberdade, a fim de permitir que o Estado seja o
responsável por assegurar a seguridade da justiça social e o alcance do bem-comum.

A necessidade de implantação deste modelo se deu com o processo de fortalecimento


da classe trabalhadora e avanço da urbanização, o que teve como consequência uma maior
demanda por melhorias da estrutura urbana no campo sanitário e mobilidade e,
principalmente, após a Primeira Guerra Mundial, em que agravou-se os efeitos e problemas
por parte dos socialmente deficitários, com constante gradação da mobilização pela
insatisfação popular.

Segundo o professor Carlos Ary, tais movimentos direcionaram o Estado a admitir um


papel ativo, a partir da interferência na ordem econômica - responsável pela geração de
emprego, ampliação de serviços, instalação de indústrias - e também na ordem social, pelo
estabelecimento de uma legislação protetiva quanto aos direitos dos trabalhadores e de
políticas públicas atendendo as necessidades básicas dos cidadãos.

O Estado de Bem-estar social, nas palavras de Paulo Bonavides, se apresenta como o


produto da transformação estrutural do Estado Liberal e da pressão das massas, em busca da
superação da contradição entre igualdade política e a desigualdade social. Este modelo,
portanto, tem como principal característica desempenhar a função de agente do
desenvolvimento e da justiça social, como instrumento estatal para o respeito e proteção dos
direitos individuais, sociais e coletivos, regulado pela Constituição do país. Destarte, o Estado
deve garantir e efetivar prestações sociais essenciais, nas áreas da saúde, educação,
segurança, previdência social e assistência social, de forma gratuita, eficaz e vitalícia para
toda a população.

Já o Estado Democrático de Direito, por sua vez, como modelo regulado pelo
ordenamento jurídico, garante a preservação dos direitos individuais, e a legalidade e o
exercício dos direitos políticos, nessa conformidade, reconhece a separação de poderes e a
supremacia da Constituição.

Nesta forma de organização política-social, a soberania do Estado é una e indivisível,


porém deve ser dividida entre diferentes órgãos estatais para que se possa evitar concentração
excessiva do poder, e, por conseguinte, abusos ou tirania. A tripartição de poderes em
instituições garante total equilíbrio entre si, portanto, compõem um dos pilares essenciais
desta forma de governo, pois exerce papel fundamental para a prescrição de limites ao poder
político do país, ou seja, estabelece controle de suas atividades uns sobre os outros.

No Brasil, adota-se a forma de Estado Social e Democrático de Direito criado pela


Constituição de 1988. Esta ordena normas fundamentais com a finalidade de promover o
bem-estar social do povo, garantir o desenvolvimento social e econômico, e a justiça social,
expressa no próprio Preâmbulo e no artigo 193º da Constituição Federal. Também verifica-se
o Art. 3º: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma
sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e
a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Ainda, vale ressaltar no Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, capítulo II


– Dos Direitos Sociais, Art. 6º: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”.

É relevante citar que nem sempre o Brasil se organizou dessa forma. Em 1824, além
dos três poderes, também foi instituída a figura do poder moderador, importante na história
política do Brasil durante o período imperial. Assim, a Constituição de 1824 estabeleceu um
sistema político com quatro poderes, sendo o poder moderador uma inovação em relação às
constituições anteriores.

O poder moderador era atribuído exclusivamente ao imperador, que tinha a função de


moderar os demais poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário). Esta era uma forma que os
imperadores encontraram de simular a distribuição de poder, visto que havia outros três, mas
que na realidade mantinham a concentração, pois este era superior aos outros.
Neste cenário, apesar de haver a separação de poderes, ainda havia um poder
majoritário em relação aos demais, o que descaracterizava o principal objetivo da separação,
visto que apenas uma pessoa poderia controlar as outras. Com a proclamação da República,
em 1889, o poder moderador foi oficialmente extinto e substituído por um sistema político
mais democrático e descentralizado.

A partir disso, instituíram-se os três poderes, que atuam de forma interdependente


entre si, tendo sido atribuídos a cada um funções típicas e atípicas. Ao Poder Judiciário foi
atribuída a função jurisdicional, por meio do julgamento de casos de conflitos entre o Estado
e o particular, e entre particulares.

Ao Poder Legislativo, por sua vez, compete a elaboração das leis e, ao Poder
Executivo, a execução destas leis. Portanto, a princípio, compete a estes dois poderes estatuir
e executar a prestação dos serviços e as políticas públicas. Dessa forma, são impostos
preceitos constitucionais e legais para a execução de tais funções que garantem a eficácia dos
direitos sociais.

Ocorre que, quando esses poderes descumprem tais preceitos, atribui-se ao Poder
Judiciário a competência para determinar a efetivação de prestações necessárias a garantir as
condições mínimas à dignidade humana, proporcionadas pelos direitos sociais.

Dessa maneira, também compete ao Poder Judiciário garantir a máxima efetividade

dos direitos sociais, por meio da aplicação dos direitos fundamentais (CF, art. 5º, § 1º),

sempre visando o provimento e a preservação do mínimo existencial à dignidade humana.

Portanto, a atuação do Poder Judiciário na efetivação dos direitos sociais, além de não

violar a harmonia entre os Poderes, é essencial para a concretização do Estado Social e

Democrático de Direito, de modo a assegurar a todos os valores fundamentais da igualdade,

do bem-estar, da justiça social e, acima de tudo, o princípio da dignidade da pessoa humana.

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