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Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Centro de Ciências Humanas e Letras (CCHL) – Departamento de Ciências


Jurídicas
Disciplina PPGD/UFPI005 – Direito, Filosofia e História da Constituição Moderna
Profa. Dra. Deborah Dettman Matos
FICHAMENTO
Lucas Monteiro Oliveira
I. Título: Do espírito das leis – Livro XI

II. Referência: Montesquieu, Charles de Secondat, Baron de. Do Espírito das Leis.
Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2010.

III. Resumo do capítulo


O Livro XI da obra, intitulado “Das leis que formam a liberdade política em
sua relação com a constituição”, trata de analisar o conceito de liberdade política e
sua relação com a constituição. A relação entre liberdade poítica e o cidadão é
escrutinado em capítulo posterior.
O autor inicia o capítulo apresentando uma definição de liberdade política,
conceito que recebeu, durante a história, as mais diversas definições. Montesquieu
chama de liberdade política o direito de fazer o que a lei permite e de não ser
obrigado a fazer o que ela proíbe, portanto, estabelecendo um conceito de natureza
formal. Liberdade é a aquiescência aos ditames legais, de forma que também não
haja constrangimento e nem permissão para violar a mesma. À ideia de liberdade
enquanto capacidade de fazer o que bem quer é designada como independência.
A liberdade, nesses termos, só poderia ser alcançada pelos governos
moderados e que evitassem o abuso. A moderação seria, portanto, a separação dos
poderes e dos cargos, de forma que o mesmo homens e cargos não exercessem
todos os poderes do governo. Tal separação, na qual o poder barra o próprio poder,
é feita pela disposição, pela organização do próprio estado (por usa constituição,
lato sensu).
Os poderes do Estado são três: legislativos, executivo em termos de direito
das gentes e executivo em assuntos de direito civil (poder de julgar). O autor analisa
a constituição da Inglaterra, dos gregos na era dos heróis e de Roma. Em cada um
desses Estados e períodos, busca-se entender como eram divididos ou
concentrados os poderes e como isso influiu na realização da liberdade política.

IV. Lista de citações e comentários

Citações Comentário
“É verdade que, nas democracias, o Liberdade política não se confunde com
povo parece fazer o que quer: mas a “liberdade individual”, ou com
liberdade política não consiste em fazer liberalidade.
o que se quer.” (p.167)
“A liberdade é o direito de fazer tudo o Interessante notar que o conceito de
que as leis permitem: e, se um cidadão liberdade se integra com a ideia de
pudesse fazer o que proíbem, não teria ordem e se integra com os limites
mais liberdade, porque os outros formais, impostos pela lei, e com os
também teriam tal poder.” (p. 167) limites dos indivíduos.
“Para que não se possa abusar do poder A liberdade política está, assim, atrelada
é preciso que , pela disposição das diretamente a separação dos poderes e
coisas, o poder detenha o poder. A a organização do governo. O esquema
constituição pode ser tal que ninguém organizacional, mesmo quando emerge
seja forçado a fazer as coisas a que a lei organicamente, determina a existência
não o obriga, e a não fazer o que a lei ou não da liberdade, conquanto é ele
lhe permite” (p. 168) limitador formal e atual do poder que
tende a abusar.
“Há em cada Estado três tipos de Três poderes clássicos. O terceiro é
poderes: o poder legislativo, o poder apresentado de forma mais descritiva,
executivo das coisas que dependem do mas corresponde ao judiciário.
direito das gentes e o poder executivo
das que dependem do direito civil.” (p.
168)
“Na maior parte dos reinos da Europa, o A moderação dos governos, portanto,
governo é moderado; porque o príncipe, depende da não concentração de todos
que detém os dois primeiros poderes, os três poderes em um órgão ou pessoa,
deixa a seus súditos o exercício do de forma que diferentes partes do corpo
terceiro. Entre os turcos, estando esses social a exerça. Essa divisão é valida
três poderes reunidos na pessoa do para cargos e pessoas e vaira em grau.
sultão, reina um despotismo medonho.” O grau de divisão corresponde ao grau
de liberdade, sendo diretamente
proporcional.
“Como num Estado livre todo homem Questão da representação e de sua
que se considera ter uma alma livre deve necessidade, fundada em dois pilares:
ser governado por si mesmo, o povo necessidade por derivar do estado de
como um todo deveria ter o poder liberdade e
legislativo; mas, como isso é impossível conveniência/executabilidade.
nos grandes Estados e está sujeito a
muitos inconvenientes nos pequenos, é
preciso que o povo faça por meio de
seus representantes tudo o que não
pode fazer por si.”(p. 171)
“A grande vantagem dos representantes Vantagens da representação.
é que são capazes de discutir os
problemas . O povo não é de modo
algum adequado para isso, o que
constitui um dos grandes inconvenientes
da democracia.” (p.171)
“Não é necessário que os representantes O representante, como em muitas teorias
que receberam dos que os escolheram modernas, não é vinculado ao seus
uma instrução geral recebam outra mandantes. A razão é conveniência e
particular sobre cada problema, como se segurança.
pratica na Alemanha.”
“O povo só deve participar do governo Povo fornece o consentimento e a
para escolher os representantes, o que legitimidade do representante, porém,
está ao seu alcance.” não tem responsabilidades posteriores
com o representante e com demais
funções diretas de governo.
“Assim, o poder legislativo erá confiado Sistema de duas câmaras separando o
tanto ao corpo dos nobres quanto ao poder de legislar de forma a pôr duas
corpo que será escolhido para facções da nação, o povo e os nobres,
representar o povo, e cada qual terá em um estado de ameaça recíproca. A
suas assembleias e suas deliberações à parte hereditária deve ser responsável
parte, e ideias e interesses separados.” por moderar as outras faculdades.
(p. 172)
“Chamo de faculdade de estatuir o direito Poder de criar a lei e poder de veto entre
de ordenar por si mesmo ou de corrigir o o legislativo.
que foi ordenado por outrem. Chamo de
faculdade de impedir o direito de tornar
nula uma decisão tomada por outrem, o
que constituía o poder dos tribunos em
Roma.” (p. 173)
“Quando diversos corpos legislativos se Vantagens da divisão do legislativo e
sucedem uns aos outros, o povo, que consequência do permanente estado de
tem má opinião do corpo legislativo atual, corrupção de um corpo legislativo.
deposita, com razão, as suas
esperanças no que virá depois; mas, se
fosse sempre o mesmo corpo, o povo,
vendo-o uma vez corrompido, nada mais
esperaria das leis; formar-se-ia furioso
ou indiferente.” (p. 173)
“Se o poder executivo não tiver o direito Poder de veto, uma das funções do
de deter as ações do corpo legislativo, executivo, e importante ferramenta de
este será despótico: pois, como poderá manutenção da separação dos poderes.
arrogar-se todo poder que puder Ai está a participação do executivo no
imaginar, aniquilará todos os outros judiciário. Existem, portanto exceções à
poderes.” pura separação dos poderes, vez que
ocorrem exceções ao princípio em vista
de manter o esquema geral de
independência dos poderes.
“Sendo o corpo legislativo composto de Esquema de impedimento mútuo, no
duas partes, uma atará a outra com sua qual poder barra poder. O ideal é a
faculdade mútua de impedir. Ambas imobilidade, que, contudo, pela natureza
estarão atdas pelo poder executivo, que das coisas, deverão se mover, mas
por sua vez o estará pelo legislativo.” (p. mover-se em compasso, em harmonia.
176)
“Os três poderes não são distribuídos e Divisão e constituição dos estados
fundidos com base no modelo de depende dos objetivos desse, além de
constituição de que falamos; cada um manter-se a monarquia tem a vocação
deles tem uma distribuição particular, para a glória – fato que modifica suas
segundo a qual se aproximam mais ou inclinações enquanto forma de
menos da liberdade política; e, se não se organização. As divisões anteriormente
aproximassem dela, a monarquia expostas se relacionam à Inglaterra.
degeneraia em despotismo.” (p. 178) Importante notar que a função da
liberdade é contribuir para a felicidade, o
que pode ser alcançado por outros
fatores de cunho político .
“Pode um Estado mudar de duas Conexão com a ideia de revolução e
maneiras: ou porque a constituição se mutação/sucessão.
corrige ou porque se corrompe. Se
conservou os seus princípios e a
constituição muda, é que esta se corrige;
se perdeu os seus princípios quando a
constituição vem a mudar, é porque esta
se corrompe. “(p. 184)
“Cumpre observar que os três poderes Divisão que o autor alude logo na
podem ser bem distribuídos em relação à introdução do Livro XI.
liberdade da constituição, embora não o
sejam tanto em relação à liberdade do
cidadão.”(p. 193)
“Mais do que qualquer outro , o povo Trecho muito bonito e interessante sobre
romano comovia-se com os espetáculos. a dinâmica de mudança
O do corpo sangrento de Lucrécia pôs constituiconal/organizacional romana e
fim à realeza. O devedor que aparece na suas razões.
praça coberto de chagas fez mudar a
forma da república. A visão de Virgínia
fez que os decênviros fossem expulsos.
Para fazer condenar Mânlio, tiveram de
impedir que o povo visse o capitólio. A
toga ensanguentada de César trouxe
Roma de volta à servidão.” (p. 187)
“Direi só uma coisa: uma profissão que Interessante análise a respeito da classe
não tem nem pode ter outro objetivo do cavaleiros e seu papel na sociedade
além do lucro; uma profissão que sempre romana.
exigia, e à qual nada se exigia; um a
profissão surda e inexorável, que
empobrecia ate as riquezas e a miséria,
não poderia ter em Roma o poder de
julgar.” (p. 195)

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