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RESENHA: MANUAL DE INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Aluno: Lucas Monteiro Oliveira

O Manual de Investigação em Ciências Sociais 1, de autoria de Raymond Quivy e Luc


Van Campenhoudt, é uma obra de cunho didático que visa a apresentar, de maneira prática e
direta, modos de organizar o passo a passo da pesquisa científica na área das ciências sociais.
Assim, os autores apresentam uma abordagem simples e direta, na medida que o tema permite
tal tratamento, que visa a auxiliar na elaboração de trabalhos de pesquisa que possam ajudar
“… pôr em prática um dispositivo para a elucidação do real, isto é, no seu sentido mais lato,
um método de trabalho.” (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998, p. 15).

A obra visa ter aplicação direta (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998, p. 17), ou seja,
cada uma de suas partes contem discussões e dica que podem ser diretamente utilizadas pelo
pesquisador, ainda que seja recomendável um conhecimento do todo da discussão e das
sugestões. O objetivo é ajudar ao leitor a elaborar seu próprio procedimento de trabalho, sem
impor uma metodologia com pretensões de verdade canônica.

Logo em iniciando, os autores declinam que grande parte dos pesquisadores,


independente do nível de experiência, costumam sentir grandes dificuldades em seus
trabalhos por dificuldades de natureza metodológica (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998, p.
16). Metodologia, ressalva-se, é tratada aqui como algo que vai além da técnica de pesquisa,
sendo o procedimento global de investigação que se vale das múltiplas técnicas de
investigação, mas não é um amálgama destas. Construir o conhecimento, na área das ciências
sociais, é valer-se do apoio quadros metodológicos e teóricos para compreender os fenômenos
do real.

O pesquisador, contudo, logo nas primeiras fases da pesquisa já pode se deparar com
os três problemas de método: a gula livresca ou estatística, a “passagem” às hipóteses e a
ênfase obscurecedora (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998, p. 20-23). Cada um dos referidos
problemas se dá pela falha na elaboração da pergunta essencial da pesquisa, o que leva a
defeitos de base e a tendência do pesquisador em saltar etapas na elaboração do bom plano de
pesquisa. A investigação científica, como sugerem os autores, pode trazer confusão e
desespero, um verdadeiro caos nos primórdios, o que, em verdade, indica justamente o estado
daquele que não se basta com certezas e truísmos.

1 QUIVY Raymond; CAMPENHOUDT, Luc Van. Manual de Investigação em Ciências Sociais. 2ed. Lisboa,
Gradiva, 1998.
Expandindo o tema das três armadilhas que provocam tal estado de confusão. A gula
livresca consiste em consumir grande quantidade de artigos e dados estatísticos sem prévia
definição de um problema, de uma linha do que se busca, achando que o simples acúmulo
sem reflexão resolverá a falta de tema e objetivo de pesquisa. Tal problema leva ao desânimo
e muito vezes a desistência (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998, p. 21).

O passe às hipóteses, ou impasse das hipóteses, consiste na colheita de dados e


aplicação de técnicas de pesquisa antes da formulação do problema e das hipóteses de
investigação (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998, p. 22). Pode-se resumir esta questão
dizendo que esta forma de fuga consiste na ênfase da técnica, pois se crê que é ela que garante
valor e rigor à pesquisa; contudo, só é possível a escolha de um método quando se sabe a
natureza dos dados que se deseja recolher.

A ênfase que obscurece consiste no problema do excesso de linguagem. O


investigador acredita que o linguajar rebuscado, pomposo, é o que garante credibilidade ao
trabalho. Trabalhos que possuem esse problema, costumam ser desmedidamente ambiciosos
em seus escopos e serem ininteligíveis (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998, p. 23).

Como forma de resolver a situação caótica e as três maneiras de começar mal, os


pesquisadores devem, em suas investigações, seguirem, mesmo que de maneira não linear
(pelo menos não absolutamente linear) uma estrutura de três atos e sete cenas (QUIVY e
CAMPENHOUDT, 1998, p. 27). Os três atos são: ruptura, construção de verificação; as sete
etapas: a pergunta de partida, a exploração, a problemática, a construção do modelo de
análise, a observação, a análise de informações e as conclusões. Os autores ressaltam que a
investigação não é um esquema plenamente mecanizado, por isso o esquema apresenta “…
circuitos de retroação para simbolizar as interações que realmente existem entre as diferentes
fases de investigação.” (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998, p. 26). As etapas, portanto, são
essenciais e interdependentes

O ato de ruptura é aquela na qual o pesquisador irá “… romper com os preconceitos e


falsas evidências, que somente nos dão a ilusão de compreendermos as coisas.”(QUIVY e
CAMPENHOUDT, 1998, p. 26). Assim, as etapas 1, 2 e 3 visão cumprir esse processo de
suspensão dos preconceitos e armadilhas que todo pesquisador traz consigo.
A construção é composta pelas etapas 3 e 4 e visa desenvolver proposta para explicar
os fenômenos estudados, preparando um plano de investigação com as operações e resultados
que se pode esperar.

O terceiro ato, a verificação, é composta pelas etapas 5, 6 e 7 e consiste em avaliar ou


testar a pesquisa de forma a provocar um confronto dela (pesquisa) com a realidade que se
visa estudar.

Para bem iniciar a pesquisa os autores recomendam enunciar o projeto de pesquisa em


termos de um pergunta de partida, elaborada da maneira mais clara, exata e concisa possível;
me´todo este utilizado, inclusive, pelos grandes pilares da pesquisa (QUIVY e
CAMPENHOUDT, 1998, p. 26). A primeira pergunta serve de fio condutor da pesquisa, é o
motr de ignição que inicia os trabalhos e que pode, sim, ser falho e mudado, até mesmo banal,
pois, como início dos trabalhos, pode e deve sofrer mudanças. A pergunta não é definitiva e
visa ajudar a organizar as reflexões iniciais e garantir unidade ao trabalho a ser desenvolvido.

A pergunta primordial desempenhará melhor suas funções caso apresente as


qualidades da clareza (ser precisa, concisa e unívoca), da exequibilidade (realista e adstrita
aos limites da realidade) e da pertinência (ser verdadeiramente uma pergunta, não ser
exercício de previsão e visar conhecer e não apenas descrever os fenômenos).

A terceira etapa da pesquisa, a problemática, é a escolha de como se abordará o tema,


ou seja, qual a perspectiva teórica o pesquisador aplicará para interpelar o problema proposta
na pergunta primeira. Assim, pode-se compreender que os fenômenos estudados podem ser
abordados, questionados, de múltiplas formes, conforme o enfoque, preferências, contextos e
determinações nas quais está inserido o pesquisador. É, em resumo, a maneira como se
pretende responder à pergunta proposta.

Nesta etapa, o investigador irá redefinir e refinar a pergunta de partida para que ela
explicite o objeto de estudo, revelando, da melhor forma possível, o ângulo de observação
dele. Em conjunto, neste momento ocorre a organização da base teórica, adaptando-a de
forma formar o melhor conjunto simbólico e conceitual para a interpretação do fenômeno à
luz d abordagem escolhida.

Pode-se perceber, em vista ao exposto, que o esquema de pesquisa declinado na obra


em foco pretende fornecer, de forma prática, sintética e realista, uma base para que o
pesquisador das ciências sociais possa elaborar uma verdadeira pesquisa científica e não
apenas um arremedo. Para isso, o livro fornece um cabedal teórico, resumos e exercícios,
além de exemplos e formulações retiradas de grandes nomes da pesquisa, situando as dicas e
explicitações para além do puro quadro abstrato. A pesquisa apresenta exigências
metodológicas, possui pressupostos teóricos e visa ser relevante e uma real busca da verdade,
para isso, o pesquisador precisa ser bem treinado e ter a sua disposição quadros conceituais
tais como o declinado no referido manual, de valor imprescindível a qualquer pesquisador da
área.

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