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”: POSSIBILIDADES
DO USO DE NARRATIVAS E SUA ANÁLISE NAS
PESQUISAS EM ORGANIZAÇÕES*
“LET ME TELL YOU ONE THING...”: POSSIBILITIES OF THE USE OF NARRATIVE AND
ANALYSIS IN RESEARCH ORGANIZATIONS
RESUMO ABSTRACT
O artigo buscou a compreensão e reflexão sobre o The article seeks to understand and reflect on the
uso de análise de narrativas em pesquisas no con- use of narrative analysis in research on organizatio-
texto organizacional. Tem como objetivos esclarecer nal context. Aims to clarify and situate the concept
e situar o conceito de narrativa e apresentar pos- of narrative and present the possibilities and pros-
sibilidades, cuidados e perspectivas ao se trabalhar pects care when working with this kind of analysis
com sua análise no âmbito dos estudos organizacio- in the context of organizational studies. Introduces
nais. Apresentando teoricamente o conceito de nar- the concept of narrative, the assumptions that are
rativas, os pressupostos contidos nesta abordagem contained in this approach, still focusing on some
focam, ainda, algumas questões de natureza meto- issues of methodological nature. This follows the use
dológica. Foi abordado o uso de narrativas nas pes- of narratives in research organizations, presenting an
quisas em organizações, apresentando um exemplo illustrative example from a research field. At the end
ilustrativo retirado de uma pesquisa de campo. Ao of the text discusses the utility of the use of narrative
final, o texto discute a utilidade do emprego da aná- analysis in the context of organizational research.
lise de narrativas no contexto da pesquisa organiza-
cional. Keywords: Qualitative research. Narrative analysis.
Organizational research.
Palavras-chave: Pesquisa qualitativa. Análise de
narrativas. Pesquisa organizacional.
*
Data de submissão: 31/07/2013. Data de aceite: 18/03/2014.
**
Doutora em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
***
Doutora em Educação pela Universidade de são Paulo. Professora do PPGA da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“DEIXA EU TE CONTAR UMA COISA...”: POSSIBILIDADES DO USO DE NARRATIVAS E SUA ANÁLISE
NAS PESQUISAS EM ORGANIZAÇÕES
nizacionais. A partir de um trabalho inicial (Ries- soluções. As estórias contêm experiências lembra-
sman, 1993), considerado como um tratamento das e representadas, que relatam eventos em uma
geral e abrangente sobre o tema (Oswick, 2008), sequência temporal e lógica. Falam sobre turning-
a autora propõe, por meio de um esforço heurísti- -point moments (momentos decisivos / momentos
co, descrever as três abordagens contemporâneas de desorganização das rotinas da vida cotidiana)
particularmente apropriadas para o exame das nar- e/ou epifanias (acontecimentos que deixam uma
rativas pessoais (Riessman, 2008), abordagens estas marca no narrador).
que também podem ser usadas no exame das nar- Embora as estórias sejam individuais (de deter-
rativas que ocorrem no interior das organizações. minados atores, em lugares e tempos específicos),
Além do caráter didático de sua obra, Riessman elas podem expressar uma experiência comparti-
(2008) ainda se apresenta enquanto metodóloga lhada, como nas narrativas morais e histórias cul-
exigente, pois, constantemente chama atenção do turais (Gibbs, 2009). Este artigo aborda especial-
pesquisador para que ele tome consciência da ri- mente as narrativas pessoais que se constituem
queza e complexidade desse tipo de tarefa analíti- naqueles relatos de experiências produzidas na
ca e das exigências de cuidados ao fazê-lo. primeira pessoa e que podem ser coletados a partir
De acordo com Riessman (2008, p. 3), a narra- de conversas informais que ocorrem naturalmente
tiva “está em todos os lugares, mas nem tudo é nar- nos estudos etnográficos, nas observações partici-
rativa”, já que as formas de discurso podem incluir pantes, nos grupos focais, nas histórias de vida e
também crônicas, relatos, argumentos e trocas do nas fontes documentais, como nas cartas ou diários
tipo perguntas e respostas. Para esta autora, os ter- pessoais. Aqui, o foco recaiu em relatos coletados
mos “narrativa” e “estória” são usados de maneira em diários e entrevistas, como será exemplificado
intercambiável e ela não faz distinção entre eles. mais adiante.
É importante esclarecer que, embora os dicioná-
rios da Língua Portuguesa indiquem que os termos 2. QUESTÕES DE NATUREZA METODOLÓGICA
história e estória podem ser entendidos como si-
nônimos, mantêm-se a grafia estória por ela refletir Como visto anteriormente, o termo narrativa
melhor o significado do termo story utilizado pelos pode se referir a textos que se sobrepõem em mui-
autores internacionais aqui referenciados. tos níveis: (i) estórias contadas por participantes de
Para Riessman (2008, p. 3), contar estórias é pesquisa (que são, em si mesmos, interpretativos);
uma das formas de comunicação oral e implica (ii) relatos interpretativos desenvolvidos por um in-
que: vestigador, baseados em entrevistas e observação
de trabalho de campo (uma estória sobre estórias);
Um narrador conecte eventos em uma sequência e, ainda, (iii) narrativas que o leitor constrói após se
que é consequente para a ação posterior e para os
engajar com as dos participantes e do investigador
significados que ele quer que os ouvintes tirem da
estória. Eventos percebidos pelo narrador como (Riessman, 2008), sendo que uma pesquisa pode
importantes são selecionados, organizados, co- conter estes vários níveis simultaneamente.
nectados e avaliados como significativos para um Riessman (2008) faz distinções que conside-
público particular. ra importantes entre a prática de contar estórias/
storytelling (o impulso narrativo – um modo univer-
Coffey e Atkinson (1996) destacam que estórias sal de conhecer e comunicar), os dados narrativos
se constituem uma maneira dos atores sociais con- (materiais empíricos, ou objetos para escrutínio) e
tarem e recontarem suas experiências de vida. Tais a análise narrativa (o estudo sistemático de dados
atores produzem, representam e contextualizam narrativos – ou uma família de métodos para in-
suas experiências e conhecimentos pessoais por terpretar textos que tem em comum a forma de
meio de narrativas (aqui entendidas como sinôni- estórias).
mo de estórias) e outros gêneros do discurso fala- Estes aspectos apontam para a necessidade de
do e escrito. Assim, narrar estórias pode ser con- um aprofundamento em algumas questões meto-
siderada uma das formas fundamentais com que dológicas, apresentadas a seguir.
as pessoas organizam sua compreensão do mundo
(Bruner,1991). 2.1 O PESQUISADOR DEVE ELICIAR AS ESTÓRIAS?
Para Denzin (2001), uma estória é um relato
que envolve uma sequência de eventos que são As estórias podem surgir espontaneamente a
significativos para o narrador e uma audiência. partir das próprias perguntas elaboradas pelo pes-
Tem um começo, um meio e fim e possui certas quisador ou provocadas no momento em que ele
características estruturais, incluindo narradores, solicita ao entrevistado que traga exemplos e relate
trama/enredo, ambiente, personagens, crises e re-
casos vivenciados por ele ou por terceiros. Eliciar Riessman (2008), ao comparar uma série de es-
estórias gera grande quantidade de material de tudos, propõe a existência de três tipos de análise
campo, mas pode levar o pesquisador a impor o narrativa: temática, estrutural e dialógica (ou de
que ele considera importante ou desejável. Neste desempenho – performance analysis). No Quadro
caso, as estórias não surgem espontaneamente, res- 1, são apresentadas, de forma sucinta, as diferen-
pondendo à solicitação de um elemento externo. ças e peculiaridades de cada um destes tipos, se-
Outra possibilidade diz respeito a coletar estó- guidas de sua descrição.
rias “quando” e “como” elas ocorrem, como parte
de uma abordagem etnográfica mais ampla. Aqui, Quadro 1: Tipos de análise de narrativas
a estória passa a ser vista como performance (no Tipo de aná- Temática Estrutural Dialógica/
sentido de execução, atuação, representação), lise narrativa performática
mais do que simplesmente como “texto”. Também
algumas decisões metodológicas deverão ser toma- Foco Conteúdo; Forma/Estru- Contexto;
tura narrativa;
das: o pesquisador usará o gravador? Fará notas es- Experiência,
critas ou eletrônicas? Usará vídeos? Experiência Narrativa em narrativa em
As duas abordagens podem trazer elementos e do narrador. si mesma. si e o evento
dialógico.
questões comuns. Para Galvão (2005, p.342),
O que se bus- O que é dito? De que ma- Para quem é
ca no texto? neira é dito? dito? Quan-
A narrativa como método de investigação pres- do? Com qual
supõe uma postura metodológica firmada na intenção ou
interação entre investigador e participantes, um por quê?
jogo de relações baseado na confiança mútua Fonte: adaptado de Riessman (2008)
e na aceitação da importância da intervenção
de cada um na coleta dos dados e na sua inter- O foco da análise temática é a investigação do
pretação. As dificuldades começam logo após a
que é dito e experienciado pelo narrador. Segundo
decisão de se enveredar por um método desta
natureza, uma vez que é necessário desbloquear Riessman (2008), a grande diferença entre a análise
desconfianças iniciais e estabelecer uma relação temática e outras formas de análise de conteúdo,
franca, indispensável ao fornecimento, por parte como de Bardin (2004), é que aquela se baseia
dos investigados, de dados o mais aproximados em relatos amplos que são preservados e tratados
possível à sua realidade. de forma analítica enquanto unidades, em vez de
transformá-los em fragmentos por meio da catego-
A autora ainda ressalta que o processo de coleta rização temática, como propõe também a groun-
de dados é moroso e pode exigir uma dedicação ded theory (Strauss, 1998; Charmaz, 2006). São
quase constante, se for considerado que, na inves- preservadas, assim, as características sequenciais e
tigação qualitativa, a análise é, em grande parte, estruturais das narrativas, que são suas marcas ou
simultânea. Isto ocorre principalmente quando o “selos” de qualidade. A análise temática é centrada
pesquisador buscar um retorno dos sujeitos quanto no caso e não se preocupa com o que é possível
ao texto que foi gerado a partir da análise e inter- encontrar em vários casos; trabalha com o que foi
pretação das informações por eles fornecidas. dito (told) e não com a maneira de dizer (telling).
Por fim, nos exemplos estudados por Riessman
2.2 COMO AS NARRATIVAS PODEM SER ANALISADAS? (2008), a teoria previamente desenvolvida guia a
análise, ao mesmo tempo em que os investigadores
Faz-se necessário entender e precisar o que buscam novos insights teóricos a partir dos dados.
significa fazer a análise narrativa e quais são suas A análise estrutural focaliza sua atenção no
modalidades possíveis. Enquanto um campo geral, modo como as narrativas são construídas ou ex-
a investigação narrativa está baseada no estudo do pressas, ou seja, em “como” o conteúdo é organi-
particular; o analista está interessado em como um zado pelo narrador. Este trabalho pode possibilitar
falante ou um escritor apresenta e dá sequência novos insights ao pesquisador, conforme apontado
para eventos e de que maneira usa a linguagem pelas contribuições de Gee (1985; 1991) e Labov
e/ou imagens para comunicar significados. Nas (1972; 1982). O método proposto por Gee (1985;
palavras de Riessman (2008, p.11), “Analistas de 1991) requer uma atenção concentrada na audi-
narrativas questionam a intenção e a linguagem – ção, em como a sequência narrativa é falada, e isto
como e por que os incidentes são narrados, e não determinará os cortes analíticos que serão tratados
simplesmente o conteúdo ao qual a linguagem se na análise. Diferentemente, Labov (1972; 1982)
refere”. propõe a existência de uma estrutura comum para
as narrativas, preocupando-se com a função de
suas partes. Para este autor, as narrativas possuem Avaliação Responde à pergunta “E então?”. Dá significado
propriedades formais, cada qual com sua função: e sentido à ação ou à atitude do narrador. Des-
um Resumo (Abstract – o sumário da substância da taca a questão central da narrativa.
o simbolismo e a cultura organizacional, o uso das buscam descrever como diferentes formas de co-
narrativas se fez presente na exploração dos sig- municação produzem diferentes realidades organi-
nificados das experiências vivenciadas no interior zacionais que coexistem, mostrando como tais rea-
das organizações. Assim, pesquisadores passaram a lidades competem entre si, interagindo e tornando
buscar estratégias metodológicas que tornassem as algumas estórias dominantes sobre outras. Estórias
estórias uma válida fonte de conhecimento (Hum- são importantes também para o entendimento da
mel, 1991). Nessa busca, vários pesquisadores comunicação organizacional porque são centrais
apoiam-se na tradição do construcionismo social, na criação e manutenção da cultura corporativa
focando os aspectos simbólicos e emocionais pre- e na legitimação da estrutura de poder dentro de
sentes no cotidiano das organizações. Consideran- um grupo ou organização. Trabalhos como os de
do que as pessoas são contadoras de estórias e que Weick e Browning (1986) e o de Boje (1991) são
estas são um válido material empírico para a inves- representativos dessas preocupações.
tigação científica, essa possibilidade metodológica No tema relativo às mudanças na cultura orga-
vem se firmando no estudo das organizações. nizacional, estórias informam a respeito tanto da
Rodhes e Brown (2005) apontam que, no âm- retórica gerencial quanto das normas não explici-
bito dos estudos organizacionais, é possível iden- tadas, possibilitando capturar a complexidade que
tificar cinco temas que têm recorrido, com mais envolve tais processos. Elas ajudam na compreen-
intensidade, às narrativas enquanto estratégia de são de como significados atribuídos à mudança or-
investigação: (i) sensemaking, (ii) comunicação, (iii) ganizacional tornam-se dominantes, examinando-
aprendizagem e mudança, (iv) política e poder e (v) -se também a oposição do diálogo local versus os
identidade e identificação. monólogos gerenciais ou o que se pode chamar
No primeiro tema – sensemaking – destaca-se de “grandes estórias” (Feldman; Skoldberg, 2002,
que as versões que os indivíduos possuem da rea- Rodhes; Brown, 2005). No caso da aprendiza-
lidade assumem o formato narrativo, sendo as es- gem organizacional, as narrativas evidenciam que
tórias por eles contadas consideradas meios de se estruturas de significados presentes em repetidas
interpretar e administrar eventos com significado. estórias revelam melhor a complexidade da prá-
É importante aqui relembrar o que colocam Daft tica do que a apresentação de modelos abstratos
e Weick (1984, p. 288) ao ressaltar que “gerentes estáticos, como já aponta o trabalho seminal de
devem literalmente enfrentar o oceano de even- Levitt e March (1988). Além disso, as estórias re-
tos que cercam a organização e tentar ativamente presentam um meio de aprendizagem que comu-
fazer sentido deles”, recorrendo, muitas vezes, às nidades usam, coletivamente e contextualmente,
estórias para fazer isto. Para Weick (1995) estórias para mudar e melhorar a prática (Brown; Duguid,
auxiliam a compreensão, sugerem uma ordena- 1991). As estórias nas organizações também têm
ção temporal entre os fenômenos, capacitam as sido consideradas como uma forma de sensibilizar
pessoas a discorrer a respeito de fatos que fazem gerentes quanto à compreensão de suas realidades
parte de sua memória, guiam ações e propiciam o organizacionais, ajudando-os a desenvolverem no-
compartilhamento de valores e significados. Neste vos insights, estimulando o pensamento crítico e
sentido, por exemplo, encontram-se os trabalhos preparando-os para resolverem problemas de for-
de Czarniawska (1998), mostrando que as estórias mas novas e mais efetivas (Gold, 1997).
podem se constituir na principal fonte de conhe- Estudar poder e política a partir das narrativas
cimento das práticas desenvolvidas no interior das tem levado os pesquisadores a examinar como as
organizações, mostrando, ainda, que, a partir de estórias reproduzem as relações e jogos de poder,
um conjunto de estórias pode-se acompanhar a mostrando de que forma indivíduos e coalizões
trajetória dos eventos, ressaltando que tais proces- apresentam, diferentemente, as informações de-
sos sempre são marcados pela temporalidade. pendendo das audiências. Neste sentido, as nar-
No segundo tema, a narrativa é explorada en- rativas também relacionam as questões do poder
quanto uma forma de comunicação, buscando-se com as noções de hegemonia e legitimidade (Har-
examinar as estórias que as pessoas contam umas dy; Clegg, 2001).
para as outras descrevendo eventos passados, ante- Na pesquisa organizacional, uma abordagem
cipando o futuro, relatando seus relacionamentos, bastante encontrada é aquela que reconhece a
sucessos, falhas e emoções. Aqui, a comunicação identidade como uma forma de autonarrativa, a
é entendida como uma forma, por meio da qual qual pode ser usada para explicar como trabalha-
a realidade organizacional é, reflexivamente, cons- dores incorporam os discursos gerenciais em suas
truída. Nesta perspectiva, encontram-se pesquisas autoidentidades (Alvesson; Willmott, 2002). Consi-
que examinam o sequenciamento temporal que dera-se, aqui, que existem muitas identidades que
as narrativas adotam. Além disso, outros estudos os membros da organização podem adotar e dife-
rentes caminhos que elas podem assumir ao buscar de legitimidade para as possibilidades de aprendi-
pelo poder e domínio de certas situações. Segundo zagem (i.e. para a PPL).
Gabriel (2000), usar narrativas pode ser conside- Esta participação pressupõe a existência de
rado um caminho efetivo para analisar como as uma CP, uma vez que diz respeito ao processo
identidades são continuamente construídas, tanto por meio do qual os novatos tornam-se parte de
do ponto de vista individual quanto coletivo. uma comunidade e são legitimados. Aqui, a con-
cepção de aprendizagem implica tornar-se uma
4. UM EXEMPLO ILUSTRATIVO pessoa diferente no que diz respeito às possibili-
dades permitidas/contidas por estes sistemas de
O exemplo escolhido traz situações retiradas relações, envolvendo a construção de identidades.
de um estudo de caso desenvolvido ao longo de Uma produção bem sucedida de uma CP, além da
três anos e que se constitui na tese de doutorado participação crescente e a transformação de nova-
de Zaccarelli (2011). A pesquisa teve como obje- tos em indivíduos experientes, implica substituição
tivo investigar o processo de aprendizagem à luz destes últimos. As relações de competição, sejam
do conceito de comunidade de prática (Wenger, na organização da produção ou na formação de
1998) observado em uma empresa júnior. Este tipo identidades, claramente intensificam estas tensões.
de empresa é uma associação sem fins lucrativos, Esta participação pode envolver conflito entre as
criada e conduzida exclusivamente por graduan- forças que dão suporte aos processos de apren-
dos do curso universitário, que busca preparar seus dizagem e àquelas que trabalham contra eles. A
integrantes para o mercado de trabalho e conta aprendizagem nunca é simplesmente um proces-
com a supervisão de professores, parcerias com so de transferência ou assimilação: aprendizagem,
empresas de mercado e outras empresas juniores. transformação e mudança estão sempre impac-
Foi escolhida uma empresa júnior, ligada aos tando umas nas outras. Tais ciclos de reprodução
cursos de Administração, Ciências Contábeis e também têm um caráter positivo, pois deixam um
Comércio Exterior de uma universidade particular traço histórico de artefatos – físicos, linguísticos e
da cidade de São Paulo. Esta empresa, fundada há simbólicos – e de estruturas sociais, que constituem
cerca de duas décadas, tem por objetivo prestar e reconstituem a prática ao longo do tempo.
serviços de consultoria a seus clientes, que são ba- Lave e Wenger (1991) criaram ainda o conceito
sicamente pequenas e médias empresas, além de de curriculum de aprendizagem como um campo
participar ativamente na organização de eventos de recursos e oportunidades de aprendizagem si-
na universidade. tuados na prática cotidiana, vistos da perspectiva
O arcabouço teórico partiu do estudo pionei- dos aprendizes. Ao contrário de um curriculum de
ro de Lave e Wenger (1991), recorrendo ainda aos ensino, o de aprendizagem está baseado na prática
trabalhos posteriores de Wenger (1998) e Wenger, diária e se constitui em um campo de recursos para
McDermott e Snyder (2002). A revisão da literatu- aprender. Além da observação como aprendiza-
ra nacional e internacional sobre comunidade de gem, as atividades da PPL e no início do curriculum
prática, feita a partir de periódicos da área de ad- de aprendizagem são também específicas, conso-
ministração, mostrou que o conceito representou mem menos tempo, exigem menor responsabilida-
uma importante contribuição para o entendimento de ou esforço e, além disto, referem-se a absorver
do caráter social da aprendizagem, sendo aplicado e ser absorvido na “cultura da prática”. Um exem-
desde o âmbito de pequenos grupos, organizações plo disso são as estórias que os aprendizes ouvem,
nacionais e multinacionais até redes de negócios passam a conhecer e que vão se tornando seu re-
ou serviços. pertório para poder conduzir suas práticas.
Em sua origem, os conceitos de participação No decorrer do tempo, a noção de CP sofreu
periférica legítima e comunidade de prática (a modificações. Wenger (1998) destaca que ela im-
seguir denominados simplesmente PPL e CP) es- plica engajamento mútuo de pessoas que nego-
tavam intimamente relacionados e é praticamente ciam significados, participação de um empreendi-
impossível entender um sem o outro. mento conjunto, com a negociação definida pelos
Lave e Wenger (1991, p.98) definem CP como participantes no processo e o desenvolvimento de
“[...] um conjunto de relações entre pessoas, ativi- um repertório compartilhado que foi produzido e
dades, e mundo no decorrer do tempo e em re- adotado no curso de existência da comunidade e
lação com outras comunidades de prática tangen- tornou-se parte de sua prática. Em obra posterior,
ciais e sobrepostas”. A PPL é, ainda, considerada Wenger, McDermott e Snyder (2002, p.4) definem
como uma condição intrínseca para a existência CPs como: “[...] grupos de pessoas que comparti-
de conhecimentos, não somente por prover um lham uma preocupação, um conjunto de proble-
suporte de interpretação, mas por dar condições mas, ou uma paixão sobre um assunto, e que apro-
fundam seu conhecimento e domínio nesta área por parte dos respondentes; e (iii) o nível de de-
interagindo em uma base contínua”. talhamento no preenchimento de formulários ou
A CP é vista como uma combinação única de protocolos, que podem contaminar a narrativa e a
três elementos fundamentais: um domínio de co- participação dos sujeitos.
nhecimento comum, uma comunidade de pessoas Os diários solicitados foram utilizados inicial-
que se preocupam com este domínio e uma prá- mente em um procedimento piloto com empresá-
tica compartilhada que elas desenvolvem para ser rios juniores logo após sua aprovação no processo
efetivas neste domínio. O domínio cria uma base e seletivo da empresa. Assim, após terem sido apro-
um sentido de identidade comuns. A comunidade, vados um conjunto de novos integrantes da empre-
por sua vez, gera a fábrica social da aprendizagem, sa júnior, foi enviado para os mesmos um “e-mail-
por meio de relações e interações baseadas em -convite” para a participação na pesquisa. Os
respeito mútuo e confiança. A prática forma um assim chamados trainees começaram a participar
conjunto de quadros, ideias, ferramentas, estilos, de uma fase de 10 dias de treinamento com rodí-
linguagens, histórias e documentos compartilhados zio nas várias áreas da empresa (Administrativo/Fi-
pelos membros da comunidade (Wenger; Mcder- nanceira, Recursos Humanos, Comercial e Gestão
mott; Snyder, 2002). de Projetos), chamada por eles de job rotation. Foi
Na construção dos dados, foram utilizados: a) solicitado a eles que escrevessem diários por um
documentos públicos, disponibilizados pela em- período de 10 dias – duas semanas –, correspon-
presa (manual de normas, relatórios, newsletters dente à duração da fase de treinamento. Pensou-se
da presidência, discursos em cerimônia de posse, no preenchimento e envio por e-mail, por se consi-
dentre outros); b) documentos gerados pelos su- derar que este seria um meio familiar aos diaristas,
jeitos especialmente para a pesquisa a partir de que são jovens e têm à sua disposição uma série de
diários solicitados; c) entrevistas; e d) observações computadores na própria empresa júnior.
assistemáticas durante as várias etapas do processo. A partir da realização da pesquisa piloto, em
No caso dos diários solicitados, que não são um segundo momento foram realizadas as seguin-
comuns em pesquisas na área de Administração, tes etapas: a) uma fase de diários no decorrer de
vale a pena destacar alguns aspectos: segundo 10 dias úteis consecutivos, durante o período de
Alaszewski (2006, p.1), quatro características com- treinamento, com um novo grupo de entrantes na
põem um diário: a) ser regular, obedecendo uma empresa; b) após cerca de um mês – em função de
sequência de entradas regulares durante um perío- provas finais e posteriores férias escolares –, uma
do de tempo; b) ser pessoal, feito por um indivíduo segunda fase de 10 dias de depoimentos, com os
identificável; c) ser contemporâneo, incluindo re- diaristas já na condição de “associados” e não mais
gistros feitos no momento ou perto o suficiente do como trainees; c) realização de entrevistas indivi-
momento em que os eventos ou atividades ocorre- duais com cada diarista; e d) mais uma entrevista
ram; e d) ser um registro propriamente dito, apre- ou relato escrito com cada diarista para finalizar e
sentando apontamentos que gravam o que o indi- avaliar sua participação na empresa, o que envol-
víduo considera relevante e importante, podendo veu também os integrantes da primeira fase.
incluir o relato de eventos, atividades, interações, Com este conjunto complexo e extenso de da-
impressões e sentimentos. dos, optou-se por utilizar a análise de narrativas
O emprego de diários em pesquisas apresen- como abordagem de interpretação dos resultados,
ta vantagens e desvantagens (Zaccarelli; Godoy, pois entendeu-se ser esta uma perspectiva analítica
2010). Dentre as vantagens, pode-se relacionar (i) que possibilitaria “olhar” as informações coletadas
a possibilidade de investigação de processos men- de forma holística, integrando os dados coletados e
tais – cognitivos e afetivos – em detalhe, à medida construídos nas várias fontes mencionadas.
que estão se desenvolvendo; (ii) o aprofundamento Os momentos de construção dos dados e de
da reflexão propriamente dita; (ii) tornar explícito sua análise não foram necessariamente ou rigoro-
o conhecimento tácito e possibilitar o exame de samente excludentes. Após a realização do proje-
eventos e experiências que são relatados em seu to piloto com os primeiros diaristas, foi realizada
contexto natural e espontâneo. Com isso, é possí- uma leitura flutuante do material e pré-análise,
vel minimizar a quantidade de tempo entre a ocor- que reforçou a ideia de que a perspectiva de co-
rência da experiência e o seu registro e os efeitos munidade de prática era pertinente e relevante do
da memória. Quanto às desvantagens do uso dos ponto de vista teórico, o que foi confirmado pelos
diários, o exame da literatura aponta: (i) a dificul- dados empíricos. Esta etapa também contribuiu
dade de convencer os respondentes a preencher com a construção do roteiro de entrevistas. Com
os diários com o mesmo entusiasmo inicial, no a totalidade dos dados, procedeu-se a uma análi-
decorrer da pesquisa; (ii) a necessidade de tempo se sistemática dos mesmos, de natureza temática,
Quadro 4 – Elementos narrativos segundo Labov e trechos da narrativa construída a partir de dados de pesquisa
Estrutura Narrativa criada pela pesquisadora Extratos de narrativas dos participantes da pesquisa
Ação Trajetórias de aprendizagem na empre- Extrato de um diário do primeiro dia na empresa júnior:
complicadora sa júnior: “Tratou-se de um dia bem interessante. Foi nosso primeiro contato com a
A seqüência de even- • Descrição do processo seletivo; empresa como trainees, e, após uma recepção calorosa dos juniores, segui-
tos, “e depois, o que • A entrada na empresa júnior; mos para uma sala de reunião para darmos início ao treinamento, tendo o
aconteceu?”. • O processo de job rotation; primeiro JOB, de Presidência.”
• A continuidade do processo: de Trecho de entrevista acerca do processo;
trainees a associados; “A gente aprendeu como [...] faz reposição de caixa, [...] uma precificação
• Promoções; dificuldades, contra- assim mais a fundo, [...] entradas e saídas do fluxo, daí a gente começa a
dições; desenvolver planilhas... [...] Tem uma série de coisas que a gente começa
a aprender mais a fundo.”
“Hoje, fui na [Rua] 25 [de março] ajudar uma amiga a fazer seu plano de
ação, que é fazer um orçamento sobre materiais de informática!”
Avaliação • O que foi aprendido; “Ao longo [do tempo], a gente foi recebendo os treinamentos, um pouco
“E, então?”. Dá signifi- • Postos conquistados; indiretos, não foi programado, não tinha um cronograma pra ser seguido
cado e sentido à ação • Projetos executados e sua avalia- [...]”.
do narrador. ção “Essa parte de transmitir conhecimento é uma coisa que vai ter sempre... É
um negócio absurdo, aqui nunca recebi um ‘não’.”
Solução • Fechar o ciclo e ensinar os que es- “Foi muito marcante ver um trabalho de quase seis meses estar completo.
O que aconteceu afi- tão entrando na empresa; Trabalhei muito para que ocorresse tudo bem no processo [seletivo], lidar
nal? Desfecho? Solu- • Saída da empresa júnior e tornar- com vontades e até mesmo sonho de pessoas que queriam tanto quanto
ção do problema? -se um “jurássico”. eu já quis também estar na Junior, e depois ver aquelas 10 pessoas se
tornando trainees foi o desfecho de tudo isso, e com certeza valeu muito
a pena”.
Cod Pode ser considerada a parte que se “Pode parecer que não, mas aqui as pessoas têm muita vontade de ensinar.
(opcional) refere à discussão do conteúdo frente É muito fácil você sentar com seu diretor e ele passar seu conhecimento.”
Fim da história, tran- à teoria
sição a outra narrativa
A seguir, um exemplo de análise temática e es- O uso da análise estrutural forçou o pesquisador a
trutural reunindo registros do diário de campo da construir uma nova narrativa, que o fez obter uma
pesquisadora e depoimentos de vários diaristas no visão holística do fenômeno, identificando temas,
primeiro dia de entrada na empresa e as emoções mas, ao mesmo, tempo preservando as trajetórias
vividas. de aprendizagem, possibilitando a integração das
análises temática e estrutural.
Vários outros diaristas relatam a recepção calorosa Como resultado mais amplo da pesquisa,
que tiveram por parte dos integrantes mais anti- percebeu-se que a empresa investigada constitui-
gos da empresa. A apresentação feita pelo vice -se em uma comunidade de prática, podendo ser
e pelo presidente da empresa é comentada por
observadas a participação periférica legítima e o
todos, com diferentes ênfases ou detalhamento
do que foi dito. Os elogios são muitos, como, por
curriculum de aprendizagem que são peculiares
exemplo, a atitude de proximidade de ambos, desta abordagem. Os processos de aprendizagem
sua capacidade de gerar um ‘clima descontraído incluiram observação dos mais experientes, in-
e sério ao mesmo tempo’, o uso não cansativo dagações, receber e dar feedbacks, tendo papel
do Power-point, o fato de ficarem com o grupo central a aprendizagem que ocorre por meio dos
durante toda a tarde e até mesmo terem cumprido relacionamentos, tanto em projetos internos quan-
corretamente o tempo previsto para a reunião. to externos, com colegas, professores da universi-
O que é exaltado é a disponibilidade de ambos dade, empresários de outras empresas juniores e
para tirar dúvidas e esclarecer qualquer pergunta.
empresários do mercado.
Poucos relatam o encerramento da reunião com
um vídeo, mas para os que o fizeram, o entusiasmo
e a motivação vindas dele prevaleceu. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reações emocionais ao primeiro dia também Partindo do foco específico do estudo de caso
estão presentes nas narrativas. O entusiasmo com utilizado no exemplo ilustrativo aqui relatado, mas
este dia é mencionado de formas variadas – desde não se restringindo a ele, essa experiência de pes-
aqueles mais discretos ‘Muito interessante’ (FC), quisa mostrou que a análise de narrativas enquanto
intermediários ‘O fato marcante do meu dia, foi o
recurso metodológico possibilita um olhar para as
início de trabalho na Empresa Jr’ (AF); ‘tive a cer-
teza pela boca do presidente onde será um local questões temporais, tanto no âmbito da organiza-
de extrema aprendizagem e sem dúvida alguma ção aqui estudada (a empresa júnior) quanto em
irão escutar minhas idéias, isso é muito importante outros tipos de organizações, conforme ressaltado
para mim’ (FC) ‘Fiquei muito animada. Espero an- por Denzin (2001) e Coffey e Atkinson (1996), ao
siosamente para os outros treinamentos das outras destacarem que uma estória é uma produção que
áreas, os quais serão mais específicos e técnicos’ relata eventos – lembrados, representados, cotidia-
(MM.). E segundo RE ‘[...] pessoalmente foi hoje nos e traumáticos – em uma sequência temporal
que percebi a importância de ter entrado na jr. o e lógica.
que ela pode me proporcionar, a diferenciação
Este exemplo também permitiu o entendimen-
que existe entre os alunos que trabalham na jr. e
os outro que não participam dessa empresa e não to de que existem múltiplos caminhos por meio
tem a oportunidade de aprender tanto’. O mais dos quais as estórias são contadas, o que mostra
entusiasmado, LN, relata: ‘Hoje. Meu primeiro dia que as organizações devem ser entendidas como
como membro de uma empresa. Um dia inesque- ativamente construídas a partir de suas atividades
cível para todos que assim como eu, pretendem discursivas, desenvolvidas por meio das interações
começar agora a construir uma carreira de grande sociais. Embora as estórias trazidas pelo exemplo
sucesso. E o que pude entender com o passar do examinado sejam individuais, expressaram expe-
dia, dentro da Empresa Junior [...], foi que estou riências compartilhadas de aprendizagem, o que
no caminho certo para a realização deste sonho’.
aponta para a pertinência do conceito de comu-
nidade de prática no entendimento dos conteú-
A reflexão da pesquisadora a respeito do uso
dos e processos narrativos encontrados no campo.
de narrativas nesta pesquisa confirmou que as di-
Como destaca Riessman (1993), este tipo de situa-
ferentes formas de discurso apreendidas levaram à
ção sempre está presente nos eventos sociais – que
construção da estória destes sujeitos em seu per-
ocorrem também no interior das organizações – e
curso de aprendizagem no interior da empresa jú-
o exame das narrativas ali produzidas é um legíti-
nior, destacando, inclusive, como ressalta Denzin
mo meio de analisar, compreender e representar as
(2001), os turning points e as epifanias vivenciadas
relações humanas. O registro das estórias, segundo
neste processo.
Coffey e Atkinson (1996), revelam o sentido coleti-
Neste sentido, considerou-se positivo o elicia-
vo da cultura de uma organização.
mento das estórias, na forma de diários solicitados.
Destaca-se ainda que as análises narrativas BRUNER, J. The narrative construction of reality. Critical
permitiram o entendimento da empresa júnior Inquiry, v.18, p.1-21, 1991.
enquanto uma rede de interpretações interrela-
cionadas, representando uma importante fonte de CHARMAZ, K. Constructing grounded theory. London:
Sage, 2006.
conhecimento acerca das práticas vivenciadas no
interior daquela organização a partir de seus dife-
COFFEY, A.; ATINKSON, P. Making sense of qualitative
rentes atores. Assim, pode-se inferir que a análise analisys. London: Sage, 1996.
de narrativas constitui-se em um recurso metodo-
lógico importante quando se quer entender quais- CZARNIAWSKA, B. A narrative approach to organization
quer tipos de organizações a partir das premissas studies. Thousand Oaks, CA: Sage, 1998.
do construcionismo social e da tradição interpreta-
tiva (Gephart, 2004). DAFT, R. L.; WEICK, K. Toward a model of organizations
Estas considerações mostram, portanto, que o as interpretation systems. Academy of Management
uso da análise de narrativas não se limita ao es- Review, v. 9, n.2, p. 284-95, 1984.
tudo de empresas juniores, tampouco ao estudo
DENZIN,N.K. Interpretive interacionism. 2.ed. Thousand
de processos de aprendizagem ou comunidades
Oaks, CA: Sage, 2001.
de prática. Estando presentes em qualquer tipo
de organização, as narrativas podem ser objeto de DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. Introduction: entering the
investigação acerca de inúmeros aspectos da vida field of qualitative research. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN,
organizacional. Y. S. (eds.). Handbook of qualitative research. Thousand
Para Rodhes e Brown (2005), no campo das Oaks, CA: Sage, 1994. p. 1-28.
teorias organizacionais, tem sido sugerido que as
investigações que lançam mão das estórias têm ______.Introduction: the discipline and practice of quali-
produzido um rico corpo de conhecimento difícil tative research. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (eds.).
de ser adquirido por meio de outras estratégias de Handbook of qualitative research. 2. ed. Thousand Oaks,
CA: Sage, 2000. p. 1-29.
pesquisa. Além disso, a abordagem narrativa, por
meio de suas estórias, pode trazer melhor compre- FELDMAN, M. S.; SKOLDBERG, K. Stories and the rethoric
ensão e aumentar a relevância do conhecimento of contrariety: subtexts of organizing (change). Culture and
organizacional produzido no âmbito acadêmico, Organization, v. 8, n. 4, p.274-292, 2002.
facilitando o diálogo universidade-empresa. Assim
como Czarniawska (1998), Boje (2001) e Rodhes e GABRIEL, Y. Storytelling in organizations: facts, fictions,
Brown (2005), entende-se que o uso das narrativas and fantasies. Oxford: Oxford University Press, 2000.
pode levar as teorias e os estudos organizacionais
à adoção de diferentes possibilidades de metodo- GALVÃO, C. Narrativas em educação. Ciência e Educa-
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