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Metodologia de investigação cientifica &

Seminário

Desenho metodológico

Prof. Doutor Gaspar Lourenço Tocoloa


Nampula, 2024
Sumário da Sessão

1. Paradigma e tipo de estudo


2. Participantes
3. Técnicas e instrumentos de colecta de dados
4. Considerações éticas
5. Caracterização do local da investigação
6. Procedimentos de analise e interpretação dos dados
Paradigmas de Investigação

O que é um paradigma?

“uma constelação de crenças, valores, técnicas, etc., partilhada pelos


membros de uma dada comunidade [científica]” (Kuhn, 2004, p. 269)

“Posicionamento teórico, conjunto de asserções acerca do mundo, de como


pode o conhecimento ser obtido, do que deve ou não ser considerado
ciência.” (Machado, 1997)

“Sistema de crenças básico ou visão do mundo que guia o investigador.”


(Guba & Lincoln, 1994, p.105).
“Saber fazer investigação não é uma questão de saber técnico
(instrumentos, planos ou amostras); tudo isso é importante,
mas nada disso tem significado se não soubermos porque o
fazemos e que estatuto devemos dar aos nossos dados, como

os podemos interpretar. E isso é uma questão de teoria.”


(Machado, 1997)
Paradigmas de Investigação

- O Paradigma positivista (PP)

- O Paradigma interpretativo (PI)

- O Paradigma sócio-crítico (PSC)


O Paradigma Positivista do ponto de vista ontológico considera a existência de uma
realidade que podemos apreender e a ciência deve procurar uma visão objetiva dessa
realidade.

Investigador e objetos são entidades independentes. Os factos replicáveis constituem a


verdade.

O Paradigma Pós-positivista entende que a natureza dos fenómenos é complexa e por isso
só podemos aproximarmo-nos da realidade existente (questão ontológica).

Dadas as limitações do investigador a uma visão relativista da realidade, a utilização de uma


maior diversidade de métodos é estimulada.

(Denzin & Lincoln, 2000; Guba & Lincoln, 2000)


“...preocupação com objectividade (existência de uma realidade externa que pode
ser traduzida em numeros) e a neutralidade são atributos essenciais da
epistemologia positivista...”

“ ...ênfase na observação e experimentação...”

“...o que não é quantificável não é cientificamente relevante...”

“...o conhecimento causal aspira à formulação de leis, à luz de regularidades


observadas, com vista a prever o comportamento futuro dos fenómenos...”

“...o resultado de um determinado fenómeno produz-se independentemente do


lugar e do tempo...”

(Sousa Santos, 1987)


Críticas ao positivismo

Alteração do contexto:
 Controlo rigoroso de variáveis elimina elementos do contexto natural.
 Maior rigor, mas menor relevância, aplicabilidade e generalização.
 Resultados obtidos só são replicáveis num contexto idêntico, ou seja, em
laboratório.

Exclusão de significados:
 O comportamento humano não pode ser compreendido sem referência
aos significados e intenções do ser humano.
Disjunção entre teoria e contexto específico:
 Teorias importadas para experimentação podem estar pouco
relacionadas com a visão interna dos indivíduos, grupos, sociedades ou
culturas estudadas.

Inaplicabilidade de generalizações a casos individuais:


 As generalizações podem ser estatisticamente significativas, mas não se
aplicar a casos individuais.

Exclusão da dimensão de descoberta na investigação:


 Ênfase exclusivo na verificação de hipóteses.
Desde o século XVI os princípios epistemológicos e metodológicos que
presidiam ao estudo da natureza foram aplicados ao estudo da sociedade .

Para Kuhn isto explica o atraso das Ciências Sociais dado o seu carácter
préparadigmático.

Progressivamente as Ciências Sociais reivindicam um estatuto


metodológico próprio.

O comportamento humano não pode ser compreendido sem


referência aos seus significados e intenções, assim sendo, a
informação qualitativa está em condições de proporcionar uma
melhor compreensão do comportamento humano.
(Guba &
Lincoln, 1998)
Paradigma interpretativo

“Diz respeito às qualidades das entidades, aos processos e


significados que não podem ser experimentalmente
examinados ou medidos em termos de quantidade, valor,
intensidade ou frequência.”

(Denzin & Lincoln, 2000;p.8)


Paradigma interpretativo

Compreensão das intenções


e significações – crenças,
opiniões, perceções,
representações, perspetivas, Considera que a ação e a
conceções … - que os seres realidade humanas se
humanos colocam nas suas constituem em fenómenos
próprias ações em relação tão complexos que a sua
com os outros e com os simplificação em variáveis
contextos em que e com que manipuláveis, como o
interagem (Amado, 2013) pretende a investigação
hipotético-dedutiva, não
seria suficiente nem
adequada para a sua
abordagem.
Investigação Qualitativa

Posicionamento Ontológico (conceções acerca da natureza da realidade)


O mundo social existe independentemente da compreensão subjetiva do
indivíduo, contudo ele só é acessível através da interpretação individual e
subjetiva de cada um. A realidade é diversa e multifacetada existindo um
conjunto de significados partilhados que não são contudo imutáveis.

(Ritchie & Lewis, 2003)


Características da Investigação Qualitativa
(Creswell, 2007)

Setting natural – a recolha de dados é feita no contexto no


qual os participantes experienciam o tema ou problema. A
interação direta é privilegiada

O investigador é o instrumento chave na recolha de dados – é


o investigador que diretamente observa os comportamentos,
examina os documentos e entrevista os participantes
Características da Investigação Qualitativa
(Creswell, 2007)

Múltiplas fontes de palavras e imagens – o investigador


considera múltiplas fontes, progredindo na sua análise
categorial, procurando sentido;

A análise dos dados é indutiva, recursiva e interativa - o


processo indutivo envolve uma dinâmica circular de
progressiva abstração e de regresso aos dados.
Características da Investigaçã Qualitativa
(Creswell, 2007)

Foco nas perspetivas dos participantes, nos seus significados e visões


subjectivas- o investigador centra-se no sentido do problema ou tema para
os participantes enão para si próprio ou à luz da literatura;

O desenho do processo de investigação mantem-se emergente - à medida


que o processo evolui pode ser necessário fazer ajustes no desenho da
investigação ( o processo não está completamente pré-determinado à
partida);

Importância do contexto histórico político e cultural como moldura para


os temas e problemas em estudo;
• Metodologia Quantitativa (números em detrimento de
palavras)
• Defendida pela corrente positivista
• Procura quantificar os fenómenos sociais
• Utiliza métodos quantitativos

• Metodologia Qualitativa (Palavra em detrimento de


números)
• Defendida pela corrente interpretativista
• Procura entender como um determinado fenómeno é
percepcionado e entendido pelos vários agentes sociais
que envolve
• Utiliza métodos qualitativos

• Metodologia Mista
A metodologia qualitativa

• As opções metodológicas devem ser tomadas com base na


pergunta de partida e nos objetivos da investigação.

• Deve colocar-se a si mesmo três questões:

• O que se pretende saber?


• Quais os meus objetivos?
• Qual a metodologia mais adequada para descobrir o que
pretendo saber?
A metodologia qualitativa

O investigador define a questão de partida, os objectivos e as


questões de investigação
Vamos analisar os seguinte exemplo
Tema ou titulo do trabalho: Participação da comunidade na
construção do currículo local na escola primaria X

Pergunta de partida: de que modo a comunidade local


participa na construção do currículo local na escola primaria X

Objectivo geral: Analisar a participação da comunidade local na


construção do currículo local

Objectivos específicos:

Identificar as responsabilidades assumidas pelos diferentes


atores na definição dos conteudos locais
Descrever os saberes locais identificados pela comunidade para
o currículo local
Vamos analisar os seguinte exemplo

Questões de investigação:

• Quais as responsabilidades assumidas pelos diferentes


atores na definição dos conteudos locais

• Que saberes locais são identificados pela comunidade para o


currículo local
A metodologia quantitativa

O investigador define a questão de partida, os objectivos e as


hipóteses de investigação.

O que são hipóteses?

As hipóteses são orientações para uma pesquisa. Mostram o


que estamos tentando comprovar e são definidas como
explicações provisorias sobre o fenómeno pesquisado.
A metodologia quantitativa

Nem sempre as hipóteses são verdadeiras podem ser ou não


verdadeiras e podem ser ou não comprovadas.

Ex: as famílias que vivem em áreas urbanas têm menos filhos


do que as famílias que vivem em áreas rurais.

Esta hipótese pode ser ou não comprovada porque ela não é


um facto e sim afirmação
A metodologia quantitativa

As hipóteses podem envolver duas ou mais variáveis.

Uma variável é uma propriedade que pode oscilar e cuja


variação pode ser medida ou observada.

Ex: a proximidade geográfica entre as residências do casal de


namorados esta relacionada positivamente com o nível de
satisfação proporcionado pelo relacionamento

O índice de câncer pulmonar é maior entre os fumantes do que


os não fumantes
A metodologia quantitativa

Tipos de Hipoteses:
a) Hipóteses de pesquisa
b) Hipóteses nulas
c) Hipóteses alternativas

Ex: se a hipótese de pesquisa diz: esta cadeira é vermelha, a


hipótese nula vai dizer esta cadeira não é vermelha e as
hipóteses alternativas podem ser, esta cadeira é azul ou verde.

As hipóteses alternativas so podem ser formuladas quando de


facto existem outras possibilidades, alem da hipótese de
pesquisa ou nula.
Vamos analisar os seguinte exemplo
Tema ou titulo do trabalho: Participação da comunidade na
construção do currículo local na escola primaria X

Pergunta de partida: de que modo a comunidade local


participa na construção do currículo local na escola primaria X

Objectivo geral: Analisar a participação da comunidade local na


construção do currículo local

Objectivos específicos:

Identificar as responsabilidades assumidas pelos diferentes


atores na definição dos conteudos locais
Descrever os saberes locais identificados pela comunidade para
o currículo local
Participantes do estudo

• Nas metodologias qualitativas não definimos universo e


amostra
• Os actores que fazem parte do estudo são designados por
Participantes
• É importante explicitar os critérios de seleção dos
participantes do estudo
• Quem são as pessoas que vão fazer parte do meu estudo e
porque foram selecionadas
Universo e Amostragem

amostra -
grupo de Se pretendemos
membros generalizar os
selecionados a resultados de uma
partir de uma investigação
população deveremos garantir
população -
que a amostra é
conjunto de pessoas, representativa da
objetos ou eventos, população referida.
com qualquer
característica comum
que pode ser objecto
de medição
Universo e Amostragem

Delimitamos a população que será estudada para podermos


generalizar os resultados do estudo.

Ex: descrever o uso da televisão pelas crianças na zona rural em


Nampula

Aqui a unidade de analise são as crianças e a população poderia ser


as crianças duma zona rural que frequentam a primeira classe.

A delimitação da população depende dos objectivos da pesquisa.


Amostragem

As amostragens são caracterizadas em duas grandes


ramificações:

• Amostras probabilísticas: todos os elementos da população


têm a mesma possibilidade de ser escolhidos e são obtidos
pela definição das características da população e do
tamanho da amostra e pela seleção aleatória ou mecânica
das unidades de analise.

Ex: imaginem o procedimento para obter o número premiado


em um sorteio de loteria. O numero vai sendo formado no
momento do sorteio.
Nas loterias tradicionais como é feito o processo?
Amostragem

As amostragens são caracterizadas em duas grandes


ramificações:

• Amostras não probabilísticas: a escolha dos elementos não


depende da probabilidade, mas de causas relacionadas com
as características da pesquisa ou de quem faz a amostra.

• Aqui o procedimento não é mecânico e nem baseado em


formulas de probabilidade, mas depende do processo de
tomada de decisões de um pesquisador, obedecem a um
critério de pesquisa.

• Selecionar entre uma amostra probabilística e não


probabilística depende dos objectivos da pesquisa.
Técnicas de amostragem
Técnicas de amostragem probabilísticas:

Uma amostragem probabilística pode ser:

1. aleatória simples (a amostra é extraída diretamente da população)

2. estratificada (segmenta-se a população em estratos para assegurar a


representação de sub-populações)

3. por grupos ("clusters") (o acesso à população concretiza-se através dos


grupos intermédios em que ela está organizada (por exemplo, quando
selecionamos uma amostra de alunos de uma escola, a partir de uma
amostra das turmas dessa escola).
Técnicas de amostragem
Técnicas de amostragem não probabilística:

(a seleção da amostra não é aleatória)

1. ocasional (escolhida em função da oportunidade, como é


frequentemente o caso nos estudos etnográficos).

2. definida por quotas quando se pretende obter a participação de


sub-grupo que poderiam não ser referenciados numa amostra
aleatória

3. deliberada quando a escolha tem fundamento em critérios


substantivos (por exemplo quando selecionamos entrevistados ou
respondentes a um questionário em função do poder informal que
detêm na organização ou em função do cargo que ocupam na sua
estrutura formal.
Técnicas e instrumentos de recolha
de dados

Metodologia Quantitativa Metodologia Qualitativa

Questionários, Escala de Likert, Entrevistas, observações,


testes de medição Entrevistas analise documental,
Questionários
Técnicas e instrumentos de recolha
de dados

Existe uma relação entre objetivos de investigação e


métodos, técnicas e instrumentos de investigação.

Que métodos, técnicas e instrumentos de recolha de


dados me vão permitir obter respostas para as questões
de investigação formuladas?
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

A observação

Observação estruturada ou sistemática – recurso a fichas ou


grelhas concebidas previamente em função dos objetivos de
pesquisa. Permite uma focalização específica em determinados
aspetos da realidade a observar.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Observação estruturada ou sistemática

inclui geralmente a utilização de fichas ou grelhas concebidas


previamente em função dos objectivos de pesquisa, nas quais
se regista informação anteriormente pré-codificada, de teor
quantitativo ou facilmente quantificável, através de menções
simples (sim/não, escala de frequência, escala de dimensão,
etc.).
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Shadowing

Shadowing é uma outra forma de observação. O observador atua como uma


sombra do aluno, do professor ou do diretor da escola, seguindo-o durante
um certo período de tempo.

Em vez de centrar a observação em temáticas ou processos concretos no


mundo complexo do ensino, da aprendizagem e da escola em geral, o
shadowing é um método cujo foco é um indivíduo ou um grupo. Assim, um
aluno ou outra pessoa é acompanhada por um observador que o segue
como uma sombra (por exemplo, durante um dia).

Visão longitudinal - ajuda a identificar o padrão de acontecimentos ao longo


do tempo em vez de dar apenas uma perspetiva momentânea.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Inquérito por questionário

O questionário é usado para obter respostas mais ou menos estruturadas e


que podem ser mais facilmente comparadas e contrastadas do que as
respostas às entrevistas. Tem a grande vantagem de ser confidencial ou
anónimo, permitindo que alunos, professores ou pais respondam
honestamente sem receio de recriminações.

De acordo com o grau de estruturação, podemos distinguir entre perguntas


fechadas e perguntas abertas.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Inquérito por questionário

Perguntas fechadas

A vantagem das perguntas fechadas está na sua amplitude:


num curto espaço de tempo é possível obter respostas de um
grande número de pessoas para as mesmas perguntas e
também processá-las muito rapidamente.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Inquérito por questionário

Perguntas abertas

A pessoa que preenche o questionário é livre de responder o


que entender. Neste caso, as respostas têm de ser analisadas e
interpretadas individualmente. As pessoas podem achar que é
difícil responder a perguntas abertas e o processamento das
respostas é mais demorado.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Inquérito por questionário

A construção de um questionário desenvolve-se através da


elaboração de uma grelha ou tabela de especificações onde, a
partir da identificação das questões de pesquisa, se
inventariam os tópicos substantivos a abordar.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Inquérito por questionário

Validação

submetido a revisão por um painel de peritos para avaliação


em termos da substância das questões e das suas
características técnicas). Seguidamente deve ser aplicado
experimentalmente numa amostra diferente da que será
submetida ao estudo. Se possível, tal aplicação experimental
deve incluir a produção de comentários sobre o instrumento.
Em alternativa pode-se promover uma reunião posterior com
um pequeno grupo de respondentes para avaliação do
questionário em experimentação.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Inquérito por questionário

O inquérito por questionário também é frequentemente utilizado em


estudos de caso, por exemplo, quando se pretende ter acesso a um número
elevado de atores no seio de uma organização, ou num contexto social
específico.

É importante testar o questionário escrito com uma pessoa ou grupo piloto,


considerado(s) representativo(s) do grupo alvo, na medida em que o modo
como as perguntas são formuladas determina fortemente o tipo de
respostas que se obtém.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Entrevistas

A entrevista é o método adequado para “a análise do sentido


que os atores dão às suas práticas e aos acontecimentos com os
quais se veem confrontados: os seus sistemas de valores, as
suas referÊncias normativas, as suas interpretações de
situações conflituosas ou não, as leituras que fazem das
próprias experiÊncias, etc.” (Quivy e Campenhoudt, 1998, p.
193)
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Tipos de Entrevista

Estruturadas

• perguntas preestabelecidas dentro de um conjunto limitado


de categorias de respostas

• registo das respostas de acordo com um esquema de


codificação preestabelecido
• geralmente destinam-se a tratamento estatístico posterior
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Tipos de Entrevista

Não estruturadas
• a interação verbal desenvolve-se à volta de temas ou grandes
questões organizadoras do discurso, sem perguntas específicas e respostas
codificadas
• recurso a perguntas abertas com vista à recolha de opiniões e
representações do entrevistado
• Objetivo: compreender o comportamento complexo e os
significados construídos pelos sujeitos, sem impor uma categorização
exterior que limite excessivamente o campo de investigação
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Tipos de entrevistas

Semiestruturadas
• Guião construído a partir das questões de pesquisa e
eixos de análise do projeto de investigação

• Organização por objetivos, questões e itens ou tópicos.


A cada objetivo corresponde uma ou mais questões.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Preparação das Entrevistas (A partir de Amado, 2013)

1. A escolha das pessoas a entrevistar (a resolver na fase do design


da investigação)
Alguém com quem se possa “aprender o máximo” (Merriam, 2002, p.
12

“testemunha privilegiada” (Quivy e Campenhoudt, 1998, p. 71) das


situações que se querem investigar
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Preparação das Entrevistas

2. Estrutura – o guião da entrevista

A entrevista deve ser estruturada em termos de blocos temáticos e de


objetivos (guião de entrevista)

Trata-se de um “referencial organizado de tal modo que permita obter o


máximo de informação com o mínimo de perguntas” (Amado, 2013, p. 214)
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Preparação das Entrevistas


2. Estrutura – o guião da entrevista

Objetivos da entrevista hierarquizam-se em gerais e específicos, podendo estes ser


descritos por bloco.

1º Bloco – a apresentação e legitimação da situação de entrevista. Deverá:


- Contextualizar a entrevista e explicitar os seus objetivos
- Colocar o entrevistado numa situação de colaborador
- Garantir o anonimato das informações
- Explicar o modo como a entrevista vai decorrer
- Colocar o entrevistador ao dispor do entrevistado para esclarecer eventuais dúvidas
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Preparação das Entrevistas

2. Estrutura – o guião da entrevista


Os restantes blocos servirão para guiar a entrevista em direção
às temáticas que interessa explorar. A elaboração do guião deve
basear-se em diversas fontes: experiência profissional e
conhecimentos anteriores adquiridos na área, sondagens
prévias resultantes de contactos informais, possíveis entrevistas
exploratórias, revisão de literatura
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Preparação das Entrevistas

2. Estrutura – o guião da entrevista

Teste-ensaio
Fazer algumas (pelo menos duas) entrevistas com base no
guião a elementos do universo a estudar mas que não fazem
parte do grupo de sujeitos de investigação e analisá-las no
sentido de saber se os objetivos previstos foram ou não
alcançados.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Preparação das Entrevistas

3. Redação das questões e perguntas de recurso


Características das questões (A partir de Abeledo, 1989):
i. Abertas (evitar perguntas que suscitem respostas do género Sim/Não)
ii. Singulares (que não contenham mais do que uma ideia)
iii. Claras (linguagem inteligível e que parta do quadro de referência da
pessoa entrevistada)
iv. Neutrais (sem encerrar em si juízos de valor | implica um ambiente
tranquilo, de confiança, sem interrogatórios nem julgamentos
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Preparação das Entrevistas

3. Redação das questões e perguntas de recurso

Pode ainda ser desejável…

Combinar questões mais fechadas e diretivas com questões mais abertas e


flexíveis

Formular questões que não sejam demasiado precisas, mas que também
não deixem uma abertura absoluta
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Preparação das Entrevistas

4. Sequência das perguntas ou questões

1º experiências atuais ou próximas (‘quebrar o gelo’)


2º questões mais factuais do que opinativas
3º questões mais específicas, de opinião, interpretação e
sentimentos
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Preparação das Entrevistas

5. Outros aspetos a ter em consideração

i. A duração
ii. O local de realização da entrevista
iii. A possibilidade de usar ou não o gravador
iv. Como tomar notas, em especial dos comportamentos não
verbais
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Entrevistas

Grupos de discussão focalizada (focus group)

“Envolver um grupo de representantes de uma determinada


população na discussão de um tema previamente fixado, sob o
controlo de um moderador que estimulará a interação e
assegurará que a discussão não extravase do tema em foco. É
no contexto da interação que se espera que surjam as
informações pretendidas.”
(Amado & Ferreira, 2013, p. 226)
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Entrevistas

Grupos de discussão focalizada (focus group)

“A interação será produtiva ao alargar o leque de resposta


possíveis, ao reativar detalhes esquecidos da experiência, ao
liberar os participantes de inibições relativamente à divulgação
da informação.” (Merton et al, 1956)
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Entrevistas

Os focus groups são técnicas de investigação qualitativas que agrupam


entre 7 a 10 pessoas (os grupos podem ser mais pequenos entre 4 e 6
pessoas), recrutados com base na semelhança demográfica, atitudinal,
comportamental ou outra, que se envolvem numa discussão sobre um
tema específico, moderada por um moderador treinado, num espaço de
tempo de cerca de duas horas (Greenbaum, 2000).
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Análise documental / pesquisa arquivística

• Utilização de informação existente em documentos anteriormente


elaborados , com o objetivo de obter dados relevantes para responder às
questões de investigação (documentos oficiais, documentos públicos e
documentos privados)

Exemplos:
Registos de assiduidade
Relatórios
Trabalhos dos alunos
Atas de reuniões
Estatísticas
Estudos demográficos
Horários
Circulares
Correspondência
Agendas
Pautas de avaliação
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Análise documental / pesquisa arquivística

Quando se analisa o conteúdo dos documentos, pode ser necessário definir


categorias que ajudem a interpretar os dados.

Quando as categorias estão definidas, o passo seguinte é encontrar e contar


as frases ou segmentos de frases que se enquadram nessas categorias.
Também é preciso analisar as frases qualitativamente, ou seja, examiná-las
de uma perspetiva interpretativa.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Análise documental / pesquisa arquivística

Quando se analisa o conteúdo dos documentos, pode ser necessário definir


categorias que ajudem a interpretar os dados.

Quando as categorias estão definidas, o passo seguinte é encontrar e contar


as frases ou segmentos de frases que se enquadram nessas categorias.
Também é preciso analisar as frases qualitativamente, ou seja, examiná-las
de uma perspetiva interpretativa.
Procedimentos de análise de dados
Os conceitos básicos: descrição, análise e interpretação

Descrição

Resposta à questão: "O que é que se passa aqui?"

Dados - observações efectuadas pelo investigador ou relatadas por terceiros

A pura descrição não existe (o próprio processo de recolher os dados implica


análise e interpretação…)

A informação disponível deve ser trabalhada de um modo estratégico, em


função da sua relevância na economia da descrição. (Uma atitude de falsa
objectividade que levaria o investigador a trabalhar toda a informação com o
mesmo detalhe e profundidade produziria o efeito perverso de esconder o
essencial entre o acessório.)
Procedimentos de análise de dados
Os conceitos básicos: descrição, análise e interpretação

Descrição

A metáfora das lentes "zoom" pode constituir um bom instrumento para


operacionalizar uma estratégia descritiva, aproximando ou distanciando o
investigador consoante o teor da descrição em construção, optando por
"close-ups" ou panorâmicas, consoante os casos”

(Wolcott, 1994, pp.17)


Procedimentos de análise de dados
Os conceitos básicos: descrição, análise e interpretação

Análise

Resposta à questão: "Como é que as 'coisas' funcionam?"

Apresentação dos dados mais significativos através do recurso a


quadros e diagramas, procurando dar conteúdo aprofundado ao
esquema conceptual que orientou a pesquisa
alternativamente

Procurar identificar regularidades, comparar os dados obtidos com


outros casos já investigados ou com um padrão pré-definido, neste
caso numa lógica de avaliação, ou mesmo contextualizar os resultados
obtidos num modelo teórico mais abrangente
Procedimentos de análise de dados
Os conceitos básicos: descrição, análise e interpretação

Interpretação

A tónica do tratamento da informação centra-se na construção de


significado

A produção de um texto argumentativo atribui sentidos novos aos


factos, situações e discursos dos atores, numa lógica
compreensiva global
Mas, atenção!

A tentação de levar a interpretação longe demais, sem uma


sustentação teórica e empírica sólida, pode resvalar para uma deriva
especulativa, construindo significados e identificando implicações
que os dados recolhidos não sustentam…
Procedimentos de análise de dados
Os conceitos básicos: descrição, análise e interpretação

Interpretação

A utilização do raciocínio indutivo, "saltando" da


análise dos dados para a inferência constitui o
principal instrumento retórico do texto interpretativo.
Procedimentos de análise de dados

Gestão operacional dos dados qualitativos (Marshall e Rossman, 1999)

Existem seis fases nos procedimentos analíticos do material de campo:


1. a organização dos dados (organização física da informação | leitura
repetida dos textos)
2. a produção de categorias, temas e padrões (construção de uma lista ou
grelha de categorias | integração das categorias mais específicas em
categorias mais amplas)
3. a codificação dos dados (codificação das categorias e referenciação de
cada unidade de sentido a uma das categorias definidas | criação de
um corpus de informação trabalhada e organizada substantivamente em
função dos objetivos de pesquisa)
Procedimentos de análise de dados

Gestão operacional dos dados qualitativos (Marshall e Rossman, 1999)


4. a testagem das interpretações que vão emergindo (ensaio da
identificação de relações lógicas entre os aspetos substantivos do
material empírico)
5. a busca de explicações alternativas (desafiar a coerência e a solidez
da construção interpretativa do investigador, procurando
deliberadamente dados que possam enfraquecê-la ou contradizê-la)
6. a produção do texto final (na análise e interpretação de dados
quantitativos existem normalmente dois momentos distintos: a
apresentação dos "resultados" e a "discussão" dos resultados; no
trabalho com informação qualitativa, o trabalho da escrita não pode
ser separado do processo analítico)

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