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A Pesquisa Científica:

Conceituação, Finalidades
e Tipos de Pesquisa

Caroline da Graça Jacques


Guiomar da Rosa Bortot
TEMA

1 Introdução

Conhecimentos obtidos no cotidiano da vida das pessoas tornam-se insuficientes


para explicar e responder as dúvidas que surgem. O homem busca agir para resolver
os problemas que lhe surgem e procura usar sua racionalidade para propor formas de
buscar respostas aos problemas do mundo.

Nesse processo de busca pelo conhecimento, a pesquisa surge com o propósito de


apresentar formas para o desvelamento dos fatos e fenômenos. Nesse sentido, a
pesquisa só será científica se feita de forma sistemática e criteriosa, obedecendo a
etapas lógicas e técnicas rigorosas.

Este texto aborda o conceito, finalidades, tipos e modalidades de pesquisa.

TEMA

2 Conceituando Pesquisa Científica

Para Rúdio (1999, p. 9) a pesquisa científica “é um conjunto de atividades orientadas


para a busca de um determinado conhecimento.”

É conceituada por Barros e Lehfeld (2014, p. 14) como: “É a exploração, é a inquisição,


é o procedimento sistemático e intensivo, que tem por objetivo descobrir e interpretar
os fatos que estão inseridos em uma determinada realidade.”

Esses autores, ainda, postula que:

A pesquisa é o produto de uma investigação, cujo objetivo é resolver problemas


e solucionar dúvidas, mediante a utilização de procedimentos científicos. A
investigação é a competição do ato de estudar, observar e experimentar os
fenômenos, colocando de lado a sua compreensão a partir de apreensões
superficiais, subjetivas e imediatas. (BARROS; LEHFELD, 2014, p. 14).

Portanto, podemos conceituar pesquisa científica como o processo de investigação


que busca responder ao problema por meio de procedimentos científicos.

Deve-se elaborar uma pesquisa quando...

• não há nenhuma informação acerca do que se pretende pesquisar;

• são incompletas aquelas informações já existentes sobre o assunto em


questão;

• a informação existente parece ser completa e útil, mas não foi


devidamente verificada.

TEMA

3 Exigências Básicas para Elaborar uma Pesquisa Científica

Para que a pesquisa seja considerada científica deve se desenvolver de forma

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organizada, obedecendo certas exigências fundamentais:

1- Qualidades pessoais do pesquisador: conhecimento do assunto,


curiosidade, criatividade, integridade intelectual, atitude autocorretiva,
sensibilidade local, imaginação disciplinada, perseverança, paciência e
confiança que conjugados formam o espírito científico.

2- Recursos humanos, materiais e financeiros.

3- Fundamentação teórica.

4- Recursos Metodológicos: métodos e técnicas de pesquisa.

5- Objeto de Estudo: que poderá ser uma doutrina, um autor, um tema


bem delimitado, um problema bem definido a partir de uma dúvida, uma
dificuldade sentida, uma hipótese oriunda da observação da realidade
empírica.

6- Planejamento/Projeto: que orienta a execução da pesquisa.

7- Apresentação do resultado. (Relatório)

PLANEJANDO A PESQUISA

O planejamento é indispensável em todo o trabalho científico, sua eficiência está


condicionada a existência e qualidade do projeto.

O projeto de pesquisa deve:

1. orientar o percurso da pesquisa;

2. avaliar a viabilidade de sua execução, em função dos custos e das condições


necessárias para alcançar os objetivos previstos.

De acordo com Gil (2008, p. 19): “[...] o planejamento da pesquisa pode ser definido
como o processo sistematizado mediante o qual se pode conferir maior eficiência à
investigação para em determinado prazo alcançar o conjunto de metas estabelecidas.”
A elaboração de um projeto é o documento explicitador das ações e caracteriza-se,
principalmente, pela flexibilidade, pois a investigação não deve estar em função das
normas, mas sim dos objetivos e deve se adequar as mudanças que podem surgir no
processo.

Rudio (2007, p. 45) afirma que “o planejamento de uma pesquisa pode ser visto
como um processo sistematizado mediante o qual se pode conferir maior eficiência à
investigação para em determinado prazo alcançar o conjunto das metas estabelecidas.”

Para o desenvolvimento de uma pesquisa temos que ter claro que as áreas de conhecimento,
bem como a realidade/objeto a ser investigado não tem o mesmo parâmetro de análise,
razão pela qual temos que conhecer os diversos tipos de pesquisas, bem como os
procedimentos a serem adotados para que possamos fazer a escolha certa.

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TEMA

4 Tipos de Pesquisa

A pesquisa científica pode ser classificada quanto a abordagem, quanto aos objetivos,
quanto a natureza e quanto aos procedimentos.

QUANTO A ABORDAGEM

Quanto a abordagem a pesquisa se classifica em qualitativa, quantitativa e quali-


quantitativa. Vejamos a seguir qual o papel de cada uma delas.

Pesquisa qualitativa

Em relação às Pesquisas Qualitativas, Godoy (1995, p. 21) afirma:

Algumas características básicas identificam os estudos denominados


qualitativos. Segundo esta perspectiva, um fenômeno pode ser melhor
compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser
analisado numa perspectiva integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo
buscando captar o fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas
nele envolvidas, considerando todos os pontos de vista relevantes. Vários tipos
de dados são coletados e analisados para que se entenda a dinâmica do
fenômeno.

A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica (dados


quantificáveis), mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um fenômeno
que ocorra em um grupo social, em uma organização, em uma sociedade, etc. Os
pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que
defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências
sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria.

De forma sintética, as ciências humanas e sociais são ciências interpretativas porque


buscam explicar e compreender os fenômenos e as interações sociais. Portanto,
necessitam de um método distinto daqueles utilizados nas ciências exatas e naturais.

Nesse sentido, “as ciências sociais e a história não poderiam ser adaptadas à lógica
das ciências naturais, porque a compreensão interpretativa tem um papel diferente
nas ciências.” (SCOCUGLIA, 2002, p. 251). Assim, as ciências sociais ao utilizarem
as metodologias de pesquisa qualitativa se ocupam em compreender e interpretar os
sentidos da ação social dos fenômenos que ocorrem no interior da sociedade.

Na pesquisa qualitativa, o cientista é, ao mesmo tempo, o sujeito e o objeto de suas


pesquisas porque ele faz parte e integra a vida social. A pesquisa qualitativa preocupa-
se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-
se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais e seus sentidos.
Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis. Aplicada, inicialmente, em estudos de
Antropologia e Sociologia, como contraponto à pesquisa quantitativa dominante, tem

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alargado seu campo de atuação a áreas como a Psicologia e a Educação. Por outro
lado, a pesquisa qualitativa é criticada por seu empirismo, pela subjetividade e pelo
envolvimento emocional do pesquisador (MINAYO, 2001).

Pesquisa quantitativa

A pesquisa quantitativa prevê a mensuração de variáveis predeterminadas para verificar,


avaliar e mensurar a influência sobre outras variáveis. Na pesquisa científica, as variáveis
são as características ou propriedades individuais ou fatores observáveis de um fato.
Podemos encontrar exemplos de variáveis em todas as áreas de conhecimento:

• Na física: massa, peso, aceleração, velocidade, energia, impulso, atrito, etc.

• Nas ciências sociais: idade, sexo, escolaridade, rendimento, classe social, etc.

• Nas ciências econômicas: custo, tempo, qualidade, produtividade, eficiência,


desempenho, etc.

Para Fonseca (2002, p. 20):

Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa quantitativa


podem ser quantificados. Como as amostras geralmente são grandes e
consideradas representativas da população, os resultados são tomados como
se constituíssem um retrato real de toda a população alvo da pesquisa. A
pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo,
considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de
dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros.
A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as
causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc. A utilização conjunta
da pesquisa qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do
que se poderia conseguir isoladamente.

Portanto, a pesquisa quantitativa centraliza suas preocupações em informações


matematizáveis. Os pesquisadores que adotam essa metodologia enfatizam a
objetividade na coleta e análise de dados. Os dados recebem tratamento técnico,
geralmente, realizado através de análises estatísticas.

No quadro abaixo, Fonseca (2002) apresenta uma comparação das abordagens


qualitativas e quantitativas da pesquisa científica:

Quadro 1: Comparação dos aspectos de pesquisa qualitativa com os da pesquisa quantitativa.

Aspecto Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa

Enfoque na interpretação do objeto menor maior

Importância do contexto do objeto pesquisado menor maior


Proximidade do pesquisador em relação aos fenômenos estudados menor maior
Alcance do estudo no tempo instantâneo intervalo maior
Quantidade de fontes no tempo uma várias
Ponto de vista do pesquisador externo à organização interno à organização
Quadro teórico e hipóteses difinidas rigorosamente menos estruturadas

Fonte: Fonseca, 2002.

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Pesquisas quali-quantitativas

Nesta modalidade, busca-se agrupar aspectos da abordagem qualitativa e da


abordagem quantitativa. Combinam-se analíses estatísticas com a descrição e
interpretação dos dados, contextualizando o conhecimento social e as relações entre
fatos e fenômenos envolvidos no processo da pesquisa.

Para May (2004, p. 146):

ao avaliar esses diferentes métodos, deveríamos prestar atenção, [...], não


tanto aos métodos relativos a uma divisão quantitativa-qualitativa da pesquisa
social – como se uma destas produzisse automaticamente uma verdade melhor
do que a outra – , mas aos seus pontos fortes e fragilidades na produção
do conhecimento social. Para tanto é necessário um entendimento de seus
objetivos e da prática.

Portanto, existe uma tendência para o surgimento de um novo paradigma metodológico


denominado pesquisa quali-quantitativa.

QUANTO A NATUREZA

As pesquisas podem ser classificadas em: Pesquisa Básica e Pesquisa Aplicada.


A seguir, você saberá a diferença entre elas.

Pesquisa básica

Também chamada de pesquisa pura ou pesquisa fundamental, a pesquisa básica


objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência, sem aplicação
prática prevista. A pesquisa básica é eminentemente teórica e envolve verdades e
interesses universais.

Pesquisa aplicada

Objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas


específicos. A pesquisa aplicada se apropria da pesquisa básica, em particular,
suas teorias, conhecimentos e métodos acumulados para um propósito específico.
É, portanto, um tipo de pesquisa que busca encontrar soluções para problemas
cotidianos e envolve verdades e interesses locais.

QUANTO AOS OBJETIVOS

Podemos classificar as pesquisas como: Exploratória, Descritiva e Explicativa.


Vamos conhecê-las?

Pesquisa exploratória

Esse tipo de pesquisa ocorre quando o pesquisador entra em contato com o tema a fim
de conhecer sobre o assunto de que trata o problema, bem como buscar o que já existe
sobre o tema em estudo. Geralmente, esse tipo de pesquisa se desenvolve a partir de
um levantamento bibliográfico e contato com aqueles que estudam sobre o assunto ou
atuam profissionalmente na área de estudo. Objetiva dar maior familiaridade sobre o
tema, contribuindo para a definição de hipóteses que nortearão a pesquisa (GIL, 2008).

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Nesse sentido, a pesquisa exploratória serve como levantamento bibliográfico
e pode utilizar-se de entrevista com especialistas ou documentos que expressam
conhecimento na área do estudo.

Pesquisa descritiva

A pesquisa descritiva é assim caracterizada quando se busca saber a opinião, pontos


de vistas das pessoas sobre determinados assuntos, com o objetivo de descrever
procedimentos, identificar interesses, deficiências, valores, comparar costumes. Esse
tipo de pesquisa se desenvolve, principalmente, nas Ciências Humanas e Sociais,
abordando aqueles dados e problemas que merecem ser estudados e cujo registro
não consta de documentos.

Cervo e Bervian (2002, p. 55) afirmam que: “a pesquisa descritiva observa, registra,
analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los.” Nesse sentido,
portanto, descrever é narrar o que acontece. Por isso que esse tipo de pesquisa “está
interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-
los e interpretá-los.” (RUDIO, 2007, p. 56).

Na pesquisa descritiva o pesquisador busca conhecer a realidade, interpretando-a


sem, no entanto, interferir ou manipular para modificá-la. A coleta de dados ocorre por
meio de instrumentos tais como: entrevista, questionário e formulário, além de fontes
como documentos ainda não analisados e sistematizados.

Pesquisa explicativa

As pesquisas explicativas “são aquelas pesquisas que têm como preocupação central
identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos
fenômenos.” (GIL, 2008 p. 46).

Nas ciências naturais quase que, exclusivamente, é utilizado esse tipo de pesquisa,
pois permite explicar a razão e o porque das causas e fenômenos. Caracteriza-se por
manipular diretamente as variáveis relacionadas ao problema e hipóteses de estudo e
a relação entre causa e efeito através de controle. Enquanto a descritiva interpreta os
fenômenos, a experimental explica as causas.

Gil (2008, p. 43), afirma que: “uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de
outra descritiva, posto que a identificação de fatores que determinam um fenômeno
exige que este esteja suficientemente descrito e detalhado.”
Nesse sentido, é necessário trabalhar com variáveis. O termo variável tem origem na
matemática e serve para designar uma quantidade que pode tomar diversos valores
em relação a outro.

Variável, portanto, significa tudo que pode sofrer alteração por exemplo: idade, sexo,
estatura, etc. Podemos distingui-las em variáveis independentes e variáveis
dependentes.

Gil (2002) atribui a variável independente um papel de causador da segunda, isto é,


da variável dependente que assume o efeito. Mas nem sempre isso ocorre de uma

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forma tão determinante, às vezes, pode ocorrer uma relação entre as duas e podemos
chamar de variável intermediária ou interveniente. Dependendo do contexto abordado
em uma pesquisa a mesma variável dependente poderá se tornar independente em
outro contexto e vice-versa (GIL, 2002).

Exemplo

Como exemplo podemos considerar como variáveis independentes: (i) A pobreza é fator
determinante na exclusão social; (ii) o desemprego é fator determinante na exclusão social
e (iii) A baixa escolaridade é fator determinante no aumento da exclusão social.

Com base no exemplo acima podemos identificar como variáveis independentes: pobreza,
desemprego e baixa escolaridade e como variável dependente temos a exclusão social.

A pesquisa explicativa estabelece a relação de causa e efeito, isto é, se a variável X interfere


para que ocorra a variável Y, porém dentro de uma situação de controle.

QUANTO AOS PROCEDIMENTOS

Quanto aos procedimentos de coleta de dados as pesquisas assim se classificam:


Pesquisa experimental; Pesquisa bibliográfica; Pesquisa documental; Pesquisa de
campo; Pesquisa ex-post-facto; Pesquisa de levantamento; Pesquisa com survey;
Estudo de caso; Pesquisa participante; Pesquisa etnográfica.

Você conseguirá diferenciá-las a partir das descrições de cada uma delas a seguir.

Pesquisa experimental

É quando a pesquisa utiliza como procedimento de coleta de dados “[...] um fato


ou fenômeno da realidade e reproduzido de forma controlada, com o objetivo de
descobrir os fatores que o produzem ou que por ele são produzidos.” (SANTOS,
2000, p. 27).

Nesse procedimento, define-se a amostragem (parte do todo) a partir de um universo


de pesquisa (todos os indivíduos que correspondem ao universo previsto para a coleta
de dados).

Esta modalidade é também denominada por pesquisa de laboratório e ocorre quando


os dados são coletados de uma forma controlada pelo investigador e ocorre em
recintos fechados como casas, laboratórios, salas, ou ao ar livre, em ambientes
artificiais ou reais, de acordo com o campo da ciência

Pesquisa bibliográfica

“O conjunto de materiais escritos/gravados, mecânica ou eletronicamente, que


contêm informações já elaboradas e publicadas por outros autores é uma bibliografia.”
(SANTOS, 2000, p. 29). Assim, a pesquisa bibliográfica pode ser realizada
independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou explicativa. Portanto, a
pesquisa bibliográfica procura responder a um problema a partir de referência teórica
publicadas em livros, revistas ou na base de dados (sites confiáveis).

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Segundo Diehl e Tatim (2004, p. 58), “entre suas vantagens está o fato de que os
documentos constituem fonte rica e estável de dados [...] é não exigir contato com os
sujeitos da pesquisa.”

Koche (1999, p. 122) afirma que a pesquisa bibliográfica pode ser realizada com
diferentes fins:

a) para ampliar o grau de conhecimentos em uma determinada área,


capacitando o investigador a compreender ou delimitar melhor um problema
de pesquisa;

b) para dominar o conhecimento disponível e utilizá-lo como base ou


fundamentação na construção de um modelo teórico explicativo de um
problema, isto é, como instrumento auxiliar para a construção e fundamentação
de hipóteses;

c) para descrever ou sistematizar o estado da arte, daquele momento,


pertinente a um determinado tema ou problema.

Na realização de uma pesquisa bibliográfica deve-se levar em conta as seguintes


etapas: a) escolha do tema; b) delimitação do problema e objetivos c) definição do
roteiro que contempla o plano de desenvolvimento da pesquisa; d) consulta as fontes
bibliográficas; e) tomada de apontamentos por meio de fichamento; f) redação do
trabalho.

a) Escolha do tema

Para a escolha do tema deve ser levado em conta o interesse ou familiaridade pelo
assunto para que o desenvolvimento do trabalho não seja uma tarefa árdua e sim
prazerosa. Além disso, também a disponibilidade de bibliografia sobre o assunto.

b) Delimitação do problema e objetivos

Toda investigação começa com um problema. Uma lógica da investigação tem


que tomar em consideração este fato. A ciência progride porque o homem de
ciência, insatisfeito, lança-se a procura de novas verdades. Assim empenhado,
o pesquisador primeiro suscita e propõe questões num determinado território
do saber; depois elabora um projeto ou um plano de trabalho destinado a dar
resposta a seu problema [...]. (LARROYO apud SALOMON, 2004, p. 197).

c) Definição do roteiro que contempla o plano da pesquisa

A construção do plano supõe a capacidade de distinguir o fundamental


do acessório, a ideia principal da secundária, o mais importante do menos
importante, além de requerer a inteligência necessária para distribuir
equitativamente as partes desproporcionais, de sorte que o todo resulte
equilibrado e proporcionado, fazendo salientar o fundamental e o essencial.
(CERVO; BERVIAN. 2002, p. 97).

c) Consulta as fontes bibliográficas

A busca de referências que subsidiará a elaboração do trabalho deverá levar em conta


as publicações em livros disponibilizados nas bibliotecas e em sites confiáveis que são
os encontrados nas bases de dados.

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Após a localização do material proceder-se-á a leitura que, segundo Gil (2008), deverá
ser seletiva, ou seja, identificando o essencial que contribuirá para a elaboração da
pesquisa.

e) tomada de apontamentos por meio de fichamento

É importante o registro das ideias principais para que, ao concluir as leituras, possa
ser desenvolvida a análise dos dados e a garantia de que as ideias dos autores serão
mantidas e referenciadas.

f) redação do trabalho

A redação dos dados deverá levar em conta o problema de pesquisa e os objetivos


previstos. O desenvolvimento deverá ser linear a partir da estrutura previamente
estabelecida no plano de pesquisa, de forma a considerar a análise dos dados obtidos
por meio dos fichamentos, chegando-se as conclusões. A apresentação do trabalho
deverá seguir o previsto na norma de trabalhos acadêmicos estudado anteriormente.

Pesquisa documental

Nesse procedimento a coleta de dados é feita em materiais que contém informações,


ainda, não sistematizadas em documentos publicados. Podemos indicar como
fontes documentais: relatórios de instituições; documentos informativos arquivados
em repartições públicas, tais como escolas, associações, igrejas, instituições não
governamentais e não governamentais.

Segundo Gil (2008, p. 73), “a pesquisa documental segue os mesmos passos da


pesquisa bibliográfica. Apenas há que se considerar que o primeiro passo consiste na
exploração das fontes documentais, que são em grande número.”

Pesquisa de campo

A pesquisa de campo consiste na observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem


espontaneamente. A pesquisa de campo, propriamente dita, não deve ser confundida
com a simples coleta de dados, é algo a mais do que isso, pois exige contar com
controles adequados e com objetivos preestabelecidos que determinam o que deve
ser coletado.

Nesse sentido, essa modalidade busca estudar um recorte de uma determinada


realidade. Para isso, o pesquisador poderá se utilizar dos seguintes instrumentos de
pesquisa: observação, entrevista, questionário. Nesse processo, poder-se-á utilizar
como critério de definição da população uma amostragem previamente definida.

Pesquisa ex-post-facto

Trata-se de um ‘experimento’ que se se realiza depois dos fatos. Na verdade, não


consiste rigorosamente de um experimento, posto que o pesquisador não tem
controle sobre as variáveis. Todavia, os procedimentos lógicos de delineamento
ex-post-facto são semelhantes aos dos experimentos propriamente ditos. Na
essência, nesse tipo de pesquisa, são tomadas como experimentais situações

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que se desenvolveram naturalmente e trabalha-se sobre elas como se
estivessem submetidos a controles. (DIEHL; TATIM, 2004, p. 61).

“É aquela que examina em fato/fenômeno que já está pronto, anterior ao controle do


pesquisador.” (SANTOS, 2000, p. 30).

Segundo Gil (2008, p. 75),

“[...] na pesquisa expost facto o pesquisador não dispõe de controle sobre a


variável independente, que constitui o fator presumível do fenômeno, porque
ele já ocorreu. O que o pesquisador procura fazer nesse tipo de pesquisa é
identificar situações que se desenvolveram naturalmente e trabalhar sobre elas
como se estivessem submetidas a controles”.

Pesquisa survey
A pesquisa survey busca obter informação de modo direto com um grupo de interesse
que foi, previamente, definido pela pesquisa como, por exemplo, cidadãos de uma
determinada cidade, consumidores de uma marca x, etc. Trata-se de um procedimento
útil, em especial para as pesquisas exploratórias e descritivas (SANTOS, 2000). A
pesquisa survey pode ser definida como sendo a “obtenção de dados ou informações
sobre as características ou as opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado
como representante de uma população-alvo, utilizando um questionário como
instrumento de pesquisa.” (FONSECA, 2002, p. 33). Nesse tipo de pesquisa, o
respondente não é identificável, portanto, o sigilo é garantido.

Estudo de caso

O estudo de caso é uma modalidade de pesquisa amplamente usada nas ciências


sociais e biomédicas (GIL, 2008). Um estudo de caso pode ser caracterizado como
um estudo de uma entidade bem definida como: um programa social/econômico,
uma instituição civil/religiosa, um sistema educativo/prisional, uma pessoa ou grupo
de pessoas ou mesmo uma organização formal (empresa, cooperativa, sindicato,
partido político, etc.).

O estudo de caso objetiva conhecer em profundidade o como e o porquê de uma


determinada situação que se supõe ser única em muitos aspectos, procurando
descobrir o que há nela de mais essencial e característico. O pesquisador não
pretende intervir sobre o objeto a ser estudado, mas revelá-lo tal como ele o percebe.
O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma perspectiva interpretativa, que
procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma
perspectiva pragmática, que visa a apresentar uma perspectiva global, tanto quanto
possível completa e coerente, do objeto de estudo do ponto de vista do investigador
(FONSECA, 2002).

Pesquisa etnográfica

A etnografia ou pesquisa etnográfica é uma disciplina da Antropologia criada no século


XIX e consolidada no século XX por especialistas como Lewis Morgan (1818-1881),
Claude Lévi-Strauss (1908-2009) e Bronislaw Malinowski (1884-1942).

A pesquisa etnográfica pode ser entendida como o estudo pela observação direta

Metodologia Científica e da Pesquisa 83


de um sistema cultural integrado. O autor de “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”
(1978), Malinowski buscou desvendar o modo de vida tribal dos povos da Melanésia a
partir de seus sistemas de valores. Nesse sentido, “a etnografia adquire a capacidade
de reconstruir e transmitir uma experiência de vida diversa da nossa, mas nem por
isso menos rica ou menos humana.” (DUHRAM, 1978, p. 6).

De acordo com Silveira e Córdova (2009), as características específicas da pesquisa


etnográfica são:

• uso da pesquisa de campo, da observação participante, da entrevista intensiva e da


análise de documentos;

• a interação entre pesquisador e grupo social pesquisado;

• a flexibilidade para modificar os rumos da pesquisa;

• a ênfase no processo, e não nos resultados finais; - a ênfase na visão dos sujeitos
pesquisados sobre suas experiências;

• a variação do período, que pode ser de semanas, de meses e até de anos;

• a coleta dos dados descritivos, transcritos literalmente para a utilização do diário de


campo.

Pesquisa participante

Esse tipo de pesquisa caracteriza-se pelo envolvimento e identificação do pesquisador


com as pessoas investigadas. A pesquisa participante foi criada por Bronislaw
Malinowski para conhecer os nativos das ilhas Trobriand, ele foi se tornar um deles.
Rompendo com a sociedade ocidental, montava sua tenda nas aldeias que desejava
estudar, aprendia suas línguas e observava sua vida quotidiana (FONSECA, 2002).
Exemplos de aplicação da pesquisa participante são o estabelecimento de programas
públicos ou plataformas políticas e a determinação de ações básicas de grupos de
trabalho.

TEMA

5 Conclusão

De acordo com as áreas do conhecimento, as abordagens metodológicas bem como


as técnicas de pesquisa se distinguem. As ciências humanas e sociais exigem um
olhar de interpretação e compreensão dos fenômenos da sociedade. Por outro lado,
as ciências exatas se apoiam na objetividade e na matematização do conhecimento.
Essa distinção não representa hierarquias em termos de construção da verdade
científica, nem tampouco apresentam graus de importância diferentes.

A aventura do conhecimento científico depende do estudo, da leitura e da dedicação


dos pesquisadores e exige racionalidade, rigor, ética, espírito científico e um conjunto
de métodos e técnicas para o seu desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

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