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Pesquisa cientif́ ica: noções introdutórias

10.1 Conceitos de pesquisa

Pesquisa é o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio


lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, me- diante
a utilização de métodos científicos.

Todos os conceitos de pesquisa, de uma ou de outra maneira, apontam seu


caráter racional predominante. Para Gil (1987a, p. 19), pesquisa é o “procedi- mento
racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas
que são propostos.”

Segundo Cervo e Bervian “A pesquisa é uma atividade voltada para a solução


de problemas, através do emprego de processos cientif́ icos.”

Salomon associa pesquisa à atividade cientif́ ica, que se concretiza no trabalho


cientif́ ico:

(...) trabalho cientif́ ico passa a designar a concreção da atividade cientif́ ica,
ou seja, a investigação e o tratamento por escrito de questões abordadas
metodologicamente.

Longa seria a enumeração das várias conceituações propostas por diversos


autores. Essas conceituações apenas acrescentam detalhes especificadores, man-
tendo a ideia de procedimento racional que utiliza métodos cientif́ icos.

10.2 Requisitos para uma pesquisa

A realização de uma pesquisa pressupõe alguns requisitos básicos, tais como


a qualificação do pesquisador, os recursos humanos, materiais e financeiros.

Entre as qualidades intelectuais e sociais do pesquisador, Gil destaca:

“a) conhecimento do assunto a ser pesquisado; b) curiosidade; c) criatividade;


d) integridade intelectual; e) atitude autocorretiva; f) sensibilidade social; g)
imaginação disciplinada; h) perseverança e paciência; i) confiança na experiência.”
Por mais qualificado que seja o pesquisador, não pode ignorar certas cir-
cunstâncias “extracientif́ icas”. Além de tempo para dedicar-se à pesquisa, são
necessários equipamentos, livros, instrumentos e outros materiais e, conforme o caso,
verba para a remuneração de serviços prestados por outras pessoas. Isto significa
que, para realizar uma pesquisa, devem ser levados em conta os recursos humanos
e materiais, tais como disponibilidade de tempo e o indispensável suporte financeiro.

10.3 Finalidades da pesquisa

As várias finalidades da pesquisa podem ser classificadas em dois grupos: o


primeiro reúne as finalidades motivadas por razões de ordem intelectual e o segundo,
por razões de ordem prática. No primeiro caso, o objetivo da pesquisa é alcançar o
saber, para a satisfação do desejo de adquirir conhecimentos. Esse tipo de pesquisa
de ordem intelectual, denominada “pura” ou “fundamental”, é realizado por cientistas
e contribui para o progresso da Ciência. No outro tipo, a pesquisa visa às aplicações
práticas, com o objetivo de atender às exigências da vida moderna. Nesse caso, sendo
o objetivo contribuir para fins práticos, pela busca de soluções para problemas
concretos, denomina-se pesquisa “aplicada”.

Na realidade, pesquisa “pura” ou “aplicada” não constituem departamentos


estanques, exclusivos entre si. A pesquisa “pura” pode, eventualmente, proporcionar
conhecimentos passiv́ eis de aplicações práticas, enquanto a “aplicada” pode resultar
́ ios cientif́ icos que promovam o avanço do conhecimento em
na descoberta de princip
determinada área.

10.4 Tipologia da pesquisa

Os tipos de pesquisas podem ser classificados de várias formas, por critérios


que variam segundo diferentes enfoques. Do ponto de vista das Ciências, por
exemplo, a pesquisa pode ser biológica, médica, fiś ico-quim
́ ica, matemática, his-
tórica, pedagógica, social etc.

Para cumprir a finalidade de oferecer apenas noções introdutórias, parece o


bastante limitar a classificação da pesquisa quanto à natureza, aos objetivos, aos
procedimentos e ao objeto.

10.4.1 Pesquisa quanto à natureza


Quanto à natureza, a pesquisa pode constituir-se em um trabalho cientif́ ico
original ou em um resumo de assunto. Por trabalho cientif́ ico original entende-se uma
pesquisa realizada pela primeira vez, que venha a contribuir com novas conquistas e
descobertas para a evolução do conhecimento cientif́ ico. Naturalmente, esse tipo de
pesquisa é desenvolvido por cientistas e especialistas em determinada área de
estudo.

O resumo de assunto é um tipo de pesquisa que dispensa a originalidade,


mas não o rigor cientif́ ico. Trata-se de pesquisa fundamentada em trabalhos mais
avançados, publicados por autoridades no assunto, e que não se limita à simples cópia
das ideias. A análise e interpretação dos fatos e ideias, a utilização de metodologia
adequada, bem como o enfoque do tema de um ponto de vista original são qualidades
necessárias ao resumo de assunto.

Esse é o tipo de pesquisa mais comum nos cursos de graduação. O resumo


de assunto é um tipo de pesquisa que contribui para a ampliação da bagagem cul-
tural do estudante, preparando-o para, futuramente, desenvolver pesquisas mais
amplas e trabalhos originais.

A diferença entre trabalho cientif́ ico original e resumo de assunto, portanto,


não se fundamenta nos métodos adotados, mas nas finalidades da pesquisa.

10.4.2 Pesquisa quanto aos objetivos

Do ponto de vista dos objetivos da pesquisa, pode-se classificá-la em explora-


tória, descritiva e explicativa.

a) Pesquisa exploratória

A pesquisa exploratória é o primeiro passo de todo trabalho cientif́ ico. São


finalidades de uma pesquisa exploratória, sobretudo quando bibliográfica, pro-
porcionar maiores informações sobre determinado assunto; facilitar a delimitação de
um tema de trabalho; definir os objetivos ou formular as hipóteses de uma pesquisa
ou descobrir novo tipo de enfoque para o trabalho que se tem em mente. Através das
pesquisas exploratórias avalia-se a possibilidade de desenvolver uma boa pesquisa
sobre determinado assunto.

Portanto, a pesquisa exploratória, na maioria dos casos, constitui um traba-


lho preliminar ou preparatório para outro tipo de pesquisa.
b) Pesquisa descritiva

Nesse tipo de pesquisa, os fatos são observados, registrados, analisados,


classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles. Isto significa que
os fenômenos do mundo fiś ico e humano são estudados, mas não manipulados pelo
pesquisador.

Incluem-se entre as pesquisas descritivas a maioria das desenvolvidas nas


Ciências Humanas e Sociais; as pesquisas de opinião, as mercadológicas, os le-
vantamentos socioeconômicos e psicossociais.

Pesquisas descritivas são habitualmente solicitadas por empresas comerciais


(aceitação de novas marcas, novos produtos ou embalagens), institutos pedagógicos
(nível de escolaridade ou rendimento escolar), partidos polit́ icos (as preferências
eleitorais ou político-partidárias) etc.

Uma das caracteriś ticas da pesquisa descritiva é a técnica padronizada da


coleta de dados, realizada principalmente através de questionários e da observação
sistemática.

Quando assumem uma forma mais simples, as pesquisas descritivas aproxi-


mam-se das exploratórias. Em outros casos, quando, por exemplo, ultrapassam a
identificação das relações entre as variáveis, procurando estabelecer a natureza
dessas relações, aproximam-se das pesquisas explicativas.

c) Pesquisa explicativa

Esse é um tipo de pesquisa mais complexo, pois, além de registrar, analisar


e interpretar os fenômenos estudados, procura identificar seus fatores determi-
nantes, ou seja, suas causas. A pesquisa explicativa tem por objetivo aprofundar o
conhecimento da realidade, procurando a razão, o “porquê” das coisas; por isso
mesmo, está mais sujeita a cometer erros. Contudo, pode-se afirmar que os resultados
das pesquisas explicativas fundamentam o conhecimento cientif́ ico.

A maioria das pesquisas explicativas utiliza o método experimental, como nas


Ciências Sociais. O que caracteriza a pesquisa experimental é a manipulação e o
controle das variáveis, com o objetivo de identificar qual a variável independente que
determina a causa da variável dependente ou do fenômeno em estudo.
Em algumas Ciências, porém, como na Psicologia, nem sempre é possiv́ el
realizar pesquisas rigidamente explicativas, embora apresentem elevado grau de
controle; são, por isso, chamadas pesquisas “quase experimentais”.

10.4.3 Pesquisa quanto aos procedimentos

Os procedimentos, ou seja, a maneira pela qual se obtêm os dados neces-


sários, permitem estabelecer a distinção entre pesquisas de campo e pesquisas de
fontes “de papel”. Nesta modalidade incluem-se a pesquisa bibliográfica e a
documental. A diferença entre uma e outra está́ na espécie de documentos que
constituem fontes de pesquisas: enquanto a pesquisa bibliográfica utiliza fontes
secundárias, ou seja, livros e outros documentos bibliográficos, a pesquisa do-
cumental baseia-se em documentos primários, originais. Tais documentos, cha-
mados “de primeira mão”, ainda não foram utilizados em nenhum estudo ou pesquisa:
dados estatiś ticos, documentos históricos, correspondência epistolar de
personalidades etc.

A pesquisa de campo baseia-se na observação dos fatos tal como ocorrem


na realidade. O pesquisador efetua a coleta de dados “em campo”, isto é, diretamen-
te no local da ocorrência dos fenômenos. Para a realização da coleta de dados são
utilizadas técnicas especif́ icas, como a observação direta, os formulários e as
entrevistas.

10.4.4 Pesquisa quanto ao objeto

As pesquisas quanto ao objeto podem ser: bibliográfica, de laboratório e de


campo.

a) Pesquisa bibliográfica

A pesquisa bibliográfica tanto pode ser um trabalho independente como


constituir-se no passo inicial de outra pesquisa. Já se disse, aqui, que todo trabalho
cientif́ ico pressupõe uma pesquisa bibliográfica preliminar.

As técnicas e as fases da pesquisa bibliográfica foram objeto de estudo nas


seções 3 e 4 deste livro.

b) Pesquisa de laboratório
Pesquisa de laboratório não é sinônimo de pesquisa experimental e, embora
a grande maioria das pesquisas de laboratório seja experimental, isto não institui uma
exclusividade. Nas Ciências Humanas e Sociais faz-se, também, esse tipo de
pesquisa, haja vista o exemplo de pesquisa experimental apresentado por Cervo e
Bervian “Efeitos de incentivos verbais no rendimento da aprendizagem intelectual.”

No laboratório, o pesquisador tem condições de provocar, produzir e repro-


duzir fenômenos, em condições de controle. Ruiz apresenta uma sugestão de plano
geral para pesquisas de laboratório:

“ROTEIRO PARA O PLANEJAMENTO DE PESQUISA DE LABORATÓRIO

1. Determinação do assunto. 2. Pesquisa bibliográfica prévia. 3. Formulação


de problemas.

4. Formulação de hipótese ou hipóteses pela determinação das variáveis


independentes que se pretendem manipular em condições de controle.

5. Prever, conhecer e testar a precisão dos instrumentos que serão utilizados


na manipulação e nas mensurações das variáveis independentes.

6. Selecionar as técnicas convenientes para o caso.

7. Provocar o fenômeno e controlar a relação entre as variáveis inde-


pendentes e os eventos, com o objetivo de testar a hipótese preestabelecida.

8. Generalizar ou ampliar os resultados. 9. Fazer predições baseadas na


hipótese confirmada. 10. Reiterar experimentos para confirmar predições.”

O Relatório escrito da pesquisa de laboratório segue as normas gerais dos


trabalhos cientif́ icos.

c) Pesquisa de campo

A pesquisa de campo, desenvolvida principalmente nas Ciências Sociais,


como: Sociologia, Psicologia, Polit́ ica, Economia e Antropologia, não se caracteriza
como experimental, pois não tem como objetivo produzir ou reproduzir os fenômenos
estudados, embora, em determinadas circunstâncias, seja possiv́ el realizar pesquisa
de campo experimental.
Vale lembrar que as denominações “pesquisa de laboratório” e “pesquisa de
campo” não se referem ao tipo ou às caracteriś ticas da pesquisa, mas ao ambiente
em que elas são realizadas.

A pesquisa de campo assim é denominada porque a coleta de dados é efetua-


da “em campo”, onde ocorrem espontaneamente os fenômenos, uma vez que não há
interferência do pesquisador sobre eles.

Para Marconi, Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de


conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se
procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar ou, ainda,
descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles.

As fases da pesquisa de campo, inclusive as técnicas da coleta de dados,


serão enfocadas mais adiante.

Métodos e técnicas de pesquisa

11.1 Métodos

Quando o homem começou a interrogar-se a respeito dos fatos do mundo


exterior, na cultura e na natureza, surgiu a necessidade de uma metodologia da
pesquisa cientif́ ica.

Metodologia é o conjunto de métodos ou caminhos que são percorridos na


busca do conhecimento.

Descartes, pensador e filósofo francês, em seu Discurso do método,1 expõe


a ideia fundamental de que é possiv́ el chegar-se à certeza por intermédio da razão.
Das concepções de Descartes surgiu o método dedutivo, cuja técnica se fundamenta
em esclarecer as ideias através de cadeias de raciocin
́ io.

Para Descartes, para quem verdade e evidência são a mesma coisa, pelo ra-
́ io torna-se possiv́ el chegar a conclusões verdadeiras, desde que o assunto seja
ciocin
pesquisado em partes, começando-se pelas proposições mais simples e evidentes
até alcançar, por deduções lógicas, a conclusão final.
Segundo Francis Bacon, filósofo inglês, a lógica cartesiana, racionalista, não
leva a nenhuma descoberta, apenas esclarece o que estava implícito, pois somente
através da observação se pode conhecer algo novo. Este princip
́ io básico fundamenta
o método indutivo, que privilegia a observação como processo para chegar-se ao
conhecimento. A indução consiste em enumerar os enunciados sobre o fenômeno que
se quer pesquisar e, através da observação, procura-se encontrar algo que está
sempre presente na ocorrência do fenômeno.

Bacon estabeleceu também um método de pesquisa paralelo ao da indução:


o método do raciocin ́ io por classificação. Para ele, o ra-
́ io analógico ou raciocin
́ io silogiś tico2 proposto pela Lógica de Aristóteles e utilizado por Descartes,
ciocin
́ o por sua nova lógica indutiva.3
essencialmente dedutivo, deveria ser substituid

O método classificatório é usado nas pesquisas das Ciências da natureza,


principalmente Botânica, Zoologia, Geologia, Mineralogia, mas também na
Tecnologia.

Os métodos racionais podem abranger as ciências formais e parte das


ciências da natureza. Os métodos empiŕ icos, baseados na observação sensorial,
abrangem parte das ciências da natureza e as da cultura ou sociais.

A pesquisa das ciências que se situam na faixa intermediária entre as formais


e as da natureza pode desenvolver-se através do método experimental, idealizado por
Galileu Galilei, fiś ico e astrônomo italiano. Tal método, focalizado na obra deste autor:
Diálogos sobre as novas ciências, baseia-se na formulação de uma hipótese ou
conjectura sobre o fenômeno a ser pesquisado; na formulação de uma série de
teoremas ou teses teóricas e na execução de experiências, com a finalidade de obter-
se a confirmação ou negação da hipótese formulada.

O método experimental é utilizado nas ciências fiś ico-quim


́ icas, na pesquisa
sobre os fenômenos da natureza passiv́ eis de serem matematizados, tais como exten-
são, massa, movimento, partić ula, elemento, carga elétrica, campo de força etc.

Segundo um consenso generalizado, há mais exatidão e rigor nas ciências


experimentais que nas ciências humanas. Na verdade, as ciências experimentais
pesquisam, de modo geral, fenômenos fiś icos, regidos por determinismo da natureza,
por leis fatais passiv́ eis de previsão e que podem até ser provocados, para serem
mais bem observados. Já nas ciências humanas, há mais ou menos liberdade humana
que, obviamente, não inclui subjetividade e opiniões pessoais. Embora as leis que
regem as ciências humanas sejam mais flexíveis, ou menos rigorosas, estudam
fenômenos reais, ainda que diferentes dos pesquisados nas ciências experimentais:
trata-se de fatos humanos, qualitativos, por isso não admitem avaliação quantitativa.

11.1.1 Métodos de abordagem

Método de abordagem é o conjunto de procedimentos utilizados na investi-


gação de fenômenos ou no caminho para chegar-se à verdade. Segundo Cervo e
Bervian

Em seu sentido mais geral, o método é a ordem que se deve impor aos
diferentes processos necessários para atingir um fim dado ou um resultado desejado.
Nas ciências, entende-se por método o conjunto de processos que o espiŕ ito humano
deve empregar na investigação e demonstração da verdade.

Admitindo-se a distinção entre métodos de abordagem e métodos de proce-


dimento, pode-se dizer que os métodos de abordagem referem-se ao plano geral do
trabalho, a seus fundamentos lógicos, ao processo de raciocin
́ io adotado, uma vez
que os métodos de abordagem são essencialmente racionais. Desse ponto de vista,
os métodos de abordagem são exclusivos entre si, embora se admita a possibilidade
de mais de um método de abordagem ser empregado em uma pesquisa.

Outra caracteriś tica dos métodos de abordagem é constituiŕ em-se de proce-


́ ios lógicos, permitindo sua utilização em várias
dimentos gerais, baseados em princip
ciências. O método dedutivo, por exemplo, tanto pode ser usado na matemática, na
Sociologia, na Economia, na Lógica ou na Fiś ica Teórica.

́ io empregado, os métodos de abordagem classi-


Conforme o tipo de raciocin
ficam-se em: dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo e dialético.

a) Método dedutivo

A dedução é o caminho das consequências, pois uma cadeia de raciocin


́ io em
conexão descendente, isto é, do geral para o particular, leva à conclusão. Segundo
esse método, partindo-se de teorias e leis gerais, pode-se chegar à determinação ou
previsão de fenômenos particulares.
́ io dedutivo:
Exemplo de raciocin

Todo homem é mortal. _________________ universal, geral; Pedro é homem;


_______________________ particular; logo, Pedro é mortal. ___________________
conclusão.

b) Método indutivo

Na indução percorre-se o caminho inverso ao da dedução, isto é, a cadeia de


́ io estabelece conexão ascendente, do particular para o geral. Neste caso, as
raciocin
constatações particulares é que levam às teorias e leis gerais.

́ io indutivo:
Exemplo de raciocin

O calor dilata o ferro; ___________________________ particular; o calor


dilata o bronze; __________________________ particular;

O calor dilata o cobre; ___________________________ particular;

Logo, o calor dilata todos os metais _______________ geral, universal.

De certa forma, o método indutivo confunde-se com o experimental, que


compreende as seguintes etapas:

• observação – manifestações da realidade, espontâneas ou provocadas;

• hipótese(s) – tentativa de explicação;

• experimentação – observa-se a reação de causa-efeito, imaginada na etapa


anterior;

• comparação – classificação, análise e crit́ ica dos dados recolhidos;

• abstração – verificação dos pontos de acordo e de desacordo dos dados


recolhidos;

• generalização – consiste em estender a outros casos, da mesma espécie,


um conceito obtido com base nos dados observados.

c) Método hipotético-dedutivo
O método hipotético-dedutivo é considerado lógico por excelência. Acha-se
historicamente relacionado com a experimentação, motivo pelo qual é bastante usado
no campo das pesquisas das ciências naturais.

Não é fácil estabelecer a distinção entre o método hipotético-dedutivo e o in-


dutivo, uma vez que ambos são fundamentados na observação. A diferença é que o
método hipotético-dedutivo não se limita à generalização empiŕ ica das observações
realizadas, podendo-se, através dele, chegar à construção de teorias e leis.

d) Método dialético

O método dialético não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de


polêmicas. Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de sua
ação recip
́ roca.

Segundo Gil, há certos princip


́ ios comuns a toda abordagem dialética:

́ io da unidade e luta dos contrários. Os fenômenos apresentam


1. Princip
aspectos contraditórios, que são organicamente unidos e constituem a indissolúvel
unidade dos opostos.

́ io da transformação das mudanças quantitativas em qualitativas.


2. Princip
Quantidade e qualidade são caracteriś ticas inerentes a todos os objetos e fenômenos,
e estão inter-relacionados. No processo de desenvolvimento,

As mudanças quantitativas graduais geram mudanças qualitativas.

́ io da negação da negação. O desenvolvimento processa-se em es-


3. Princip
piral, isto é, suas fases repetem-se, mas em niv́ el superior.

Do exposto deduz-se que o método dialético é contrário a todo conhecimento


́ ido: tudo é visto em constante mudança, pois sempre há algo que nasce e se
rig
desenvolve e algo que se desagrega e se transforma.

11.1.2 Métodos de procedimentos

Os métodos de procedimentos não são exclusivos entre si, mas devem ade-
quar-se a cada área de pesquisa.

Ao contrário dos métodos de abordagem, têm caráter mais especif́ ico, rela-
cionando-se, não com o plano geral do trabalho, mas com suas etapas.
Segundo Lakatos, os principais métodos de procedimentos, na área das
Ciências Sociais, são: histórico, comparativo, estatiś tico, funcionalista, estruturalista,
monográfico etc.

1. Método histórico

Consiste em investigar os acontecimentos, processos e instituições do


passado para verificar sua influência na sociedade de hoje. Partindo do princip
́ io de
que as atuais formas de vida social, as instituições e os costumes têm origem do
passado, é importante pesquisar suas raiź es, para compreender sua natureza e
função.

2. Método comparativo

Este método realiza comparações com a finalidade de verificar semelhanças


e explicar divergências. O método comparativo é usado tanto para comparações de
grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre
sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento.

3. Método estatiś tico

O método estatiś tico fundamenta-se na utilização da teoria estatiś tica das


probabilidades. Suas conclusões apresentam grande probabilidade de serem ver-
dadeiras, embora admitam certa margem de erro. A manipulação estatiś tica permite
comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua
natureza, ocorrência ou significado.

4. Método funcionalista

Utilizado por Bronislaw Malinowski, é, a rigor, mais um método de


interpretação do que de investigação.

O método funcionalista enfatiza as relações e o ajustamento entre os diversos


componentes de uma cultura ou sociedade.

Portanto, o método funcionalista estuda a sociedade do ponto de vista da


função de suas unidades, visto que considera toda atividade social e cultural como
funcional ou como desempenho de funções.

5. Método estruturalista
Na conceituação empregada por Gil, o termo estruturalismo é utilizado para
designar as correntes de pensamento que recorrem à noção de estrutura para explicar
a realidade em todos os niv́ eis.

O método desenvolvido por Lévi-Strauss parte da investigação de um fenô-


meno concreto, atinge o niv́ el do abstrato, por intermédio da constituição de um
modelo que represente o objeto de estudo, retornando ao concreto, dessa vez como
uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social. O
método estruturalista, portanto, caminha do concreto para o abstrato e vice-versa,
dispondo, na segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade concreta dos
diversos fenômenos.

6. Método monográfico ou estudo de caso

O método monográfico consiste no estudo de determinados individ


́ uos, pro-
fissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter
generalizações. Foi criado por Le Play, que o empregou para estudar famiĺ ias
operárias na Europa.

O estudo monográfico pode, também, abranger o conjunto das atividades de


um grupo social particular, como no exemplo das cooperativas e do grupo indígena.
A vantagem do método consiste em respeitar a “totalidade solidária” dos grupos, ao
estudar, em primeiro lugar, a vida do grupo em sua unidade concreta, evitando a
dissociação prematura de seus elementos. São exemplos desse tipo de estudo:
monografias regionais, as rurais, as de aldeia e até as urbanas.

11.2 Técnicas de pesquisa

As técnicas de pesquisa acham-se relacionadas com a coleta de dados, ou


seja, a parte prática da pesquisa.

Técnicas são conjuntos de normas usadas especificamente em cada área das


ciências, podendo-se afirmar que a técnica é a instrumentação especif́ ica da coleta
de dados.

A distinção entre “método” e “técnica” é feita por Ruiz, nos seguintes termos:

A rigor, reserva-se a palavra método para significar o traçado das etapas


fundamentais da pesquisa, enquanto a palavra técnica significa os diversos
procedimentos ou a utilização de diversos recursos peculiares a cada objeto de
pesquisa, dentro das diversas etapas do método. (...)

Portanto, observa-se que método constitui um procedimento geral, enquanto


técnica abrange procedimentos especif́ icos.

As técnicas de pesquisa podem ser agrupadas em dois tipos de procedimen-


tos: documentação indireta e documentação direta.

11.2.1 Documentação indireta

Fazem parte da documentação indireta a pesquisa bibliográfica e a pesquisa


documental, que já foram aqui focalizadas.

Para aprofundamento do assunto, aconselha-se consultar:

11.2.2 Documentação direta

A documentação direta abrange a observação direta intensiva e a observação


direta extensiva.

a) Observação direta intensiva: baseia-se nas técnicas de observação pro-


priamente dita e nas entrevistas.

• Modalidades de observação direta intensiva:

N sistemática – quando planejada, estruturada;

N assistemática – não estruturada;

N participante – quando o pesquisador participa dos fatos a serem ob-


servados;

N não participante – o pesquisador limita-se à observação dos fatos; n


individual – realizada por um pesquisador apenas;

N em equipe – pesquisa desenvolvida por um grupo de trabalho; n na vida


real – os fatos são observados “em campo” ou em ambiente natural;
N em laboratório – os fatos são estudados em salas, laboratórios, ou seja, em
ambiente artificial, embora o pesquisador procure, muitas vezes, reproduzir o
ambiente real do fenômeno estudado.

• Entrevista. A entrevista é uma técnica muito utilizada na pesquisa, nos vários


ramos das Ciências Sociais: Sociologia, Antropologia, Polit́ ica, Serviço Social,
Psicologia Social, Jornalismo, Relações Públicas, Pesquisas de Mercado etc.

Embora a entrevista não seja a técnica mais fácil de ser aplicada, talvez seja
a mais eficiente para a obtenção das informações, conhecimentos ou opiniões sobre
um assunto.

A técnica de entrevista será abordada de forma mais minuciosa, ao tratar-se


das técnicas da pesquisa de campo.

b) Observação direta extensiva: baseia-se na aplicação de formulários e


questionários; medidas de opinião e de atitudes; testes; pesquisas de mercado;
história de vida etc.

Essas técnicas são empregadas, principalmente, na coleta de dados das


pesquisas de campo.

METODOLOGIA CIENTIFICA

́ uo que se utiliza de procedimentos cientif́ icos para obter conhecimento


Individ
e encontro de respostas às indagações suscitadas.

2. Método e Método Cientif́ ico

Método é um procedimento ou um conjunto organizado de passos que se deve


realizar para atingir determinado objetivo e está presente em todos os âmbitos da
experiência humana.

O método cientif́ ico é, portanto, apenas um caso particular dos diversos tipos
de métodos e consiste em algumas etapas bem definidas, como: identificação de um
fenômeno no universo que peça explicação (observação); produção de uma
explicação provisória que desvende esse fenômeno (geração de hipóteses); execução
de um procedimento que possa testar essa explicação, a fim de verificar se ela é
verdadeira ou falsa (experimentação); análise e conclusão, visando estabelecer se a
hipótese pode ser considerada verdadeira também em outros contextos diferentes
daquele do experimento original (generalização).

Por exemplo: um pesquisador na área de educação observa que seus alunos


parecem obter melhor desempenho acadêmico quando têm acesso ao material de
estudo antes da aula (observação). Dessa forma, ele supõe que isso ocorra porque,
ao ler o material com antecedência, os alunos assistem às aulas mais relaxados e
podem fazer perguntas de melhor qualidade (geração de hipóteses). O pesquisador
decide, então, testar essa suposição da seguinte forma: distribui seus alunos em dois
grupos. O primeiro terá acesso ao material antes da aula, ao passo que o segundo,
não. Ao longo de seis meses de aulas, o pesquisador aplica provas de conhecimentos
para acompanhar o desenvolvimento da compreensão dos alunos sobre o tema
ensinado e observa o comportamento deles em sala de aula, o tipo de pergunta que
fazem etc. (experimentação). Ao final de todo o processo, ele compara as notas dos
alunos dos dois grupos e verifica que sua suposição estava correta: “alunos que têm
acesso ao material instrucional, com antecedência, apresentam desempenho
acadêmico superior, pois assistem às aulas mais relaxados e fazem perguntas de
melhor qualidade” (generalização).

ATENÇÃ O: O método cientif́ ico está embasado em vários outros métodos,


como a observação, a geração de hipóteses, a experimentação e a generalização!

3. Ciência

A palavra ciência vem do latim scientia, cujo significado é “conhecer”.

Por sua definição, a ciência possui algumas caracteriś ticas particulares


especiais que a diferenciam de outras formas de conhecimento, como a arte, a
religião, a filosofia e o senso comum.

Conhecimento Religioso ou Teológico

Desde os primórdios, existe a crença em uma força superior, divina, que rege
os destinos do universo. Essa crença, produto da fé e da transcendência, permitiu ao
ser humano explicar e organizar uma realidade muitas vezes ameaçadora e perigosa.
Por exemplo: quando perdemos um ente querido, a ciência não pode nos consolar,
mas as matrizes explicativas religiosas nos trazem conforto e nos ajudam a suportar
melhor a perda. A maioria de nós já se sentiu ligada, de alguma forma, a essa força
divina que, em cada religião, assume uma manifestação especif́ ica.

O conhecimento religioso, em seu sentido mais amplo, refere-se a qualquer


conhecimento que não possa ser questionado ou testado, adquirindo portanto um
caráter dogmático. O dogma é uma afirmação que não pode ser contestada e acaba
se constituindo na base da maioria das religiões. Um indivíduo católico apostólico
romano, por exemplo, deve necessariamente acreditar no “dogma da infalibilidade
papal”, que afiança ser impossiv́ el que o papa se engane sobre qualquer assunto,
uma vez que ele seria, supostamente, o legit́ imo representante de Deus na Terra.

Outra caracteriś tica interessante do conhecimento religioso refere-se ao seu


caráter pessoal: a fé de uma pessoa não pode ser totalmente comunicada às outras.
Ou seja, a “experiência religiosa” é muito pessoal, e essa “reconexão” (a palavra
religião é derivada do termo latino religare – ligar novamente, ou seja, reconectar algo
que já foi ligado em eras passadas: Deus e o homem) pode se dar tanto em uma
cerimônia religiosa como em outras situações inusitadas.

Conhecimento Artiś tico

O conhecimento artiś tico é embasado na emoção e na intuição. Em contato


com uma obra de arte, seja ela uma pintura, uma escultura, uma música ou uma
poesia, por exemplo, muitas vezes não é possiv́ el resumir, em palavras, a experiência
que se extrai. Isso se deve ao fato de a informação veiculada pela manifestação
artiś tica ser preponderantemente de natureza emocional. Ao observar um quadro, ele
despertará algum tipo de emoção: admiração, irritação, paz, alegria etc.

O conhecimento artiś tico pode ou não assumir uma lógica similar ao senso
comum e à ciência. A arte pode, na realidade, assumir qualquer forma, uma vez que
o que vale é a relação particular que se estabelece entre o observador e o fenômeno
observado. Por exemplo: pode-se olhar para uma equação escrita em um quadro-
negro e pensá-la sob a ótica da matemática (ciência) ou da estética (o equilib
́ rio dos
termos, a cor do giz, a sonoridade de seus elementos etc.).

O conhecimento artiś tico possui duas caracteriś ticas bem importantes: é uma
forma de conhecimento inesgotável, ou seja, a informação estética contida em uma
obra de arte é encarada de forma diferente por várias pessoas e também de diversos
modos por uma única pessoa, em momentos diferentes. Segundo, a informação
estética não pode ser traduzida para outras linguagens sem perda de informação
relevante.

Conhecimento Filosófico

A palavra filosofia deriva da junção dos termos gregos philos (amor) e sófia
(sabedoria).

Pitágoras, grande filósofo do século VI a.C., denominava-se “amante da


sabedoria”.

A “filosofia” é algo intermediário entre a religião e a ciência. Semelhantemente


à religião, a filosofia consiste em especulações sobre diversos assuntos, com respeito
aos quais ainda não foi possiv́ el obter conhecimento cientif́ ico. Mas, semelhantemente
à ciência, a filosofia apela à razão humana, e não a uma autoridade, seja ela
relacionada à tradição ou à revelação. Todo conhecimento definido sistemática,
ametódica e subjetivamente pertence à ciência; todo dogma a respeito daquilo que
jaz além do conhecimento definido cientificamente pertence à religião. Mas entre a
religião e a ciência há uma terra descampada que está aberta a ataques de ambos os
lados, pois ela não pertence a nenhuma delas: essa terra descampada pertence à
filosofia.

Metodologia cientif́ ica

Pode-se dizer que um dos mais fortes componentes presentes na filosofia é a


razão. Naturalmente isso também ocorre na ciência, mas a diferença básica entre elas
reside no método para a produção do conhecimento: a filosofia baseia-se
fundamentalmente na razão, tanto como a ciência, mas, ao buscar comprovações
empiŕ icas acerca dos fatos, a ciência produz conhecimentos necessariamente
verificáveis.

Tabela 2 – Tipos de conhecimentos e suas bases.

Tipo de conhecimento/ base

Conhecimento religioso/ dogma

Conhecimento artístico/ emoções e intuições


Conhecimento filosófico/ razão e sabedoria

4. Divisão da Ciência

A ciência encontra-se dividida em ciências formais, ciências naturais e


ciências sociais.

As ciências formais lidam unicamente com abstrações, ideias e estruturas


conceituais, não necessariamente ligadas aos fatos, como a matemática e a lógica.

As ciências naturais, como a biologia, a fiś ica e a quim


́ ica, estudam os
fenômenos naturais (a vida, o ambiente etc.).

Por fim, as ciências sociais, como a psicologia, a sociologia e a economia,


dedicam-se à investigação dos fenômenos humanos e sociais.

Quadro 1 – Divisão das ciências

Ciências formais/ Lidam unicamente com abstrações, ideias e estruturas


conceituais.

Ciências naturais/ Estudam os fenômenos concernentes à biologia, fiś ica e


́ ica (vida, ambiente etc.).
quim

Ciências sociais/ Ciências sociais, como a psicologia, a sociologia e a


economia dedicam-se à investigação dos fenômenos humanos e sociais.

5. O Sistema de Produção Cientif́ ica

Algo muito importante a se saber é onde o conhecimento cientif́ ico é


veiculado. A resposta é: nos periódicos cientif́ icos, principalmente.

Periódicos Cientif́ icos

Um periódico cientif́ ico (ou jornal, em inglês) é um tipo especial de revista que
possui certas caracteriś ticas diferenciais em relação às revistas comuns. A primeira
caracteriś tica refere-se ao fato de que um periódico cientif́ ico possui um comitê
cientif́ ico-editorial, dos quais alguns membros avaliam a qualidade dos artigos
submetidos à publicação. Para quem deseja publicar um artigo em um periódico, o
primeiro passo a ser adotado é enviá-lo para o editor do periódico que, primeiramente,
eliminará do artigo quaisquer informações que permitam a identificação de sua
autoria. Depois disso, o editor enviará o artigo para dois ou três pareceristas ad hoc
(membros do comitê cientif́ ico-editorial). O parecerista ad hoc é um cientista,
provavelmente ligado a alguma instituição de ensino superior dentro ou fora do paiś ,
cuja área de pesquisa é a mesma abordada no artigo ou muito próxima dela.

Esses pareceristas têm um prazo – normalmente 30 ou 40 dias – para analisar


o artigo e criticá-lo. O artigo pode ser aceito ou recusado e devolvido, com os
comentários critico dos pareceristas, no caso de rejeição. Se recusado, o artigo
poderá ser retificado e submetido novamente à avaliação. Esse processo pode, então,
repetir-se inúmeras vezes, até que o artigo seja aceito para publicação. Esse sistema
de envio-análise-retorno denomina-se peer review ou simplesmente “revisão pelos
pares”, e é realizado, normalmente, na modalidade de double blind review – ou seja,
“revisão duplamente cega” (você não conhece a identidade dos pareceristas nem eles
a sua). Evidentemente, esse procedimento é feito para tornar o sistema mais justo e
imune a personalismos indesejáveis.

É muito comum encontrarmos a expressão: “Esta revista não se


responsabiliza pelas opiniões aqui emitidas, que são de responsabilidade unicamente
de seus autores”, que normalmente aparece em revistas. Isso, no entanto, não ocorre
em um periódico cientif́ ico: ele, de fato, responsabiliza-se pela veracidade dos artigos
publicados, uma vez que o comitê cientif́ ico-editorial avaliou aquele conteúdo
informacional.

A segunda grande diferença entre uma revista comum e um periódico


cientif́ ico reside no procedimento de indexação. Os artigos publicados em um
periódico cientif́ ico são indexados, ou seja, passam a fazer parte de in
́ dices cientif́ icos
setoriais que servem para que outros pesquisadores possam encontrá-lo quando
estiverem procurando informações sobre o tema desenvolvido em sua pesquisa. A
maioria desses in
́ dices é consultada, atualmente, por meio da internet e alguns deles
são públicos e gratuitos, embora outros tenham seu acesso restrito às instituições que
pagam pelo serviço.
Processo de indexação

Ao escrever um artigo cientif́ ico, ele deverá conter uma série de tópicos
obrigatórios, como seções de método, resultados, discussão, referências etc. Dois
desses elementos obrigatórios são o resumo do artigo e as palavras-chave a ele
associadas. O primeiro, como o próprio nome indica, é uma sin
́ tese, normalmente com
até́ 200 palavras, que apresenta todas as informações relevantes acerca do artigo,
incluindo suas conclusões. O outro elemento obrigatório são as palavras-chave,
tipicamente cinco ou seis, que o autor deverá escolher como as mais representativas
para descrever o assunto de que trata o artigo.

Assim, os in
́ dices de busca cientif́ ica funcionam de forma muito parecida com
a dos de busca populares (como Google ou Yahoo!): basta que a pessoa interessada
informe as palavras-chave de sua busca e solicite ao in
́ dice que pesquise artigos que
as contenham – não ao longo de todo o texto do artigo, mas que coincidam com as
palavras-chave que o autor do artigo estipulou. O resultado dessa pesquisa não será
uma relação de artigos em sua in
́ tegra, mas dos resumos desses artigos.

Os pesquisadores interessados no assunto lerão apenas o resumo do artigo


e, dai,́ julgarão se vale ou não a pena obter o texto na in
́ tegra para analisá-lo mais
detidamente. Convém destacar que o idioma da ciência é o inglês, e não o português.
Por esse motivo, todo artigo publicado em um periódico cientif́ ico brasileiro tem um
resumo em português e um abstract (o resumo vertido para a lin
́ gua inglesa), além
́ gua inglesa), embora o
das palavras-chave e as keywords (as palavras-chave, em lin
artigo propriamente dito possa estar redigido em português, inglês ou até mesmo em
espanhol, francês e outras lin
́ guas. Nos periódicos totalmente redigidos em inglês,
não haverá versão para o português do abstract e das keywords.

Outro detalhe importante é que nem sempre será possiv́ el encontrar o


conteúdo de artigos na in
́ tegra, mas apenas os resumos. Nesse caso, será possiv́ el
conhecer apenas o nome do periódico, o volume, e as páginas em que o artigo se
encontra para, posteriormente, procurar alguma biblioteca que possua o periódico
para então poder lê-lo. Há periódicos cientif́ icos apenas na versão impressa, em
versões digital e impressa, e outros ainda que só existem virtualmente.

Uma última observação acerca dos periódicos cientif́ icos merece destaque.
Trata-se do fato de eles serem, em geral, altamente especializados. Assim, cada
ciência tem seus próprios periódicos e, mais do que isso, normalmente, cada tópico
especif́ ico de determinada ciência tem periódicos especializados.

Existem, também, periódicos mais gerais, com escopo de publicação mais


amplo (exemplos: Brazilian Journal of Biology, American Journal of Sociology, Revista
Brasileira de Administração etc.), até o ponto de abarcar diversas ciências, como é o
caso das prestigiosas Science e Nature.

Embora os livros possam ser meios legit́ imos de veiculação do conhecimento


cientif́ ico, o meio oficial para essa divulgação é o periódico cientif́ ico, em versão
impressa ou digital. Existe um sistema de validação dos próprios periódicos. No Brasil,
por exemplo, uma entidade ligada ao governo federal que fiscaliza e avalia os
periódicos é a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Niv́ el Superior
– http://www.capes.gov.br). Além disso, os periódicos também são reconhecidos e
validados pela própria comunidade cientif́ ica à qual estão ligados – por exemplo, na
área de psicologia, o periódico Psicologia: Teoria e Pesquisa, ligado à Universidade
de Brasiĺ ia (UnB). Na área de administração, tem-se a Revista de Administração de
Empresas – RAE-FGV, editada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, e assim
por diante.

Eventos Cientif́ icos

Os congressos cientif́ icos são grandes eventos nos quais os pesquisadores e


estudantes de determinada área da ciência se encontram periodicamente para
apresentarem seus trabalhos mais recentes e entrarem em contato com os trabalhos
dos demais colegas.

O congresso cientif́ ico abarca determinados tipos de participação. O


interessado poderá ser meramente um “congressista”, ou seja, participante
observador das diversas atividades ali desenvolvidas, ou comparecer na qualidade de
expositor de determinado trabalho. Nesse caso, há diversas formas pelas quais se
pode informar à comunidade cientif́ ica o que tem sido produzido nos últimos tempos.
Por exemplo: na categoria “painel”, monta-se um cartaz (normalmente nas medidas
de 1 m por 1,5 m) com todos os detalhes da pesquisa, que ficará exposto, durante
certo tempo, em uma área especialmente reservada para essa finalidade.
O trabalho também pode ser apresentado em uma sessão de comunicação
oral ou, tratando-se de um cientista renomado, pode ocorrer o convite para ele
ministrar, aos congressistas, uma conferência sobre determinado tema. De qualquer
forma, seja qual for a modalidade de participação, a presença em eventos cientif́ icos
é muito importante, tanto para o estudante como para o pesquisador, pois é
exatamente nessas oportunidades que se tem contato com os pares e interlocutores
intelectuais, colegas que criticarão e debaterão as ideias expostas – processo sem o
qual a ciência não avança.

Comunidade Cientif́ ica

A ciência é, sobretudo, uma construção social e, sendo assim, a produção do


conhecimento cientif́ ico se dá por meio de intensa colaboração entre os diversos
pesquisadores de cada área especif́ ica. Dessa forma, a primeira coisa a se saber é
quem serão os interlocutores do projeto que se visa apresentar. Ou seja, qual é a
comunidade cientif́ ica que apreciará o trabalho. Assim, havendo interesse por uma
linha de pesquisa qualquer, o primeiro passo é determinar os principais periódicos que
veiculam o assunto, as principais referências clássicas (autores consagrados de
outras épocas) e contemporâneas (os pesquisadores de destaque atuais), os
principais centros de pesquisa (normalmente departamentos e laboratórios dentro de
universidades) etc.

O próximo passo é absorver a maior quantidade possiv́ el de informações


acerca do tema desejado (por meio dos in
́ dices de busca e acesso aos periódicos
cientif́ icos e livros recomendados por pesquisadores mais experientes). Finalmente,
deve-se entrar em contato com a comunidade visada e iniciar o processo de
colaboração da comunidade para com o pesquisador. Isso acaba ocorrendo,
normalmente, quando o estudante ingressa em um programa de pós-graduação stricto
sensu, oferecido por instituição de ensino superior reconhecida pelo Ministério da
Educação (MEC).

Pós-Graduação

A rigor, em nosso paiś há dois tipos de pós-graduação (atividades


educacionais que ocorrem após o estudante obter sua colação de grau em algum
curso regular de graduação): a lato sensu e a stricto sensu. O primeiro tipo refere-se
aos cursos de especialização, de cunho essencialmente profissionalizante – ou seja,
voltados às necessidades especif́ icas do mercado de trabalho –, que possuem carga
horária de, no min
́ imo, 360 horas/aula. São cursos bastante especif́ icos e ministrados
em um formato parecido com o da graduação.

A pós-graduação stricto sensu refere-se aos programas de mestrado e


doutorado, oferecidos nas mais diversas áreas de conhecimento, por várias
instituições de ensino. O objetivo de quem se inscreve em um programa desse tipo
(normalmente, primeiro o mestrado e depois o doutorado) é ingressar na carreira
acadêmica, ou seja, tornar-se em professor universitário e/ou pesquisador-cientista.

O mestrado pode ser visto como uma etapa intermediária em direção ao


objetivo maior: o doutorado. Trata-se de um curso no qual o estudante deve cursar
algumas disciplinas (umas obrigatórias e outras optativas) e, ao final, sob a orientação
de um professor doutor (o orientador), produzir um tipo especial de monografia
denominado dissertação, que é um trabalho acadêmico parecido com a monografia
de conclusão de curso (ou trabalho de conclusão de curso, o TCC) exigida ao final de
alguns cursos de graduação. Além de elaborar a dissertação, o aluno deve se
submeter às arguições de uma banca: a banca de defesa. Nessa ocasião, o
pretendente ao grau de mestre (chamado de mestrando) apresentará seu trabalho e,
em seguida, responderá oralmente aos questionamentos da banca examinadora, que
deve ter lido o trabalho com antecedência.

O doutorado não difere muito do mestrado em seu formato. Há, também, a


figura do orientador, certas disciplinas a serem cursadas e a produção de uma
monografia: a tese. Pode-se dizer que a principal diferença entre uma dissertação e
uma tese consiste na profundidade e complexidade do tratamento dado ao tema pelo
estudante. Assim, geralmente considera-se a tese um trabalho mais complexo e
profundo que uma dissertação. Ao final do doutorado (tipicamente, demorase dois ou
três anos no mestrado e de três a cinco anos no doutorado), também ocorre a arguição
por ocasião da defesa da tese – após a qual o doutorando passa à condição de doutor.

Bolsas e Agências de Fomento à Pesquisa

A formação de mestres e doutores tem relevância estratégica para qualquer


paiś do mundo. Assim, é muito comum que os governos incentivem e até financiem
integralmente as despesas dos alunos que desejam cursar esses programas. Dessa
forma, os programas de mestrado e doutorado, com qualidade reconhecida pela
Capes, normalmente oferecem bolsas de estudo para os estudantes, por meio de
alguma agência financiadora. No Brasil, por exemplo, no âmbito do governo federal,
dois organismos oferecem as referidas bolsas: a própria Capes e o Conselho Nacional
de Desenvolvimento Cientif́ ico e Tecnológico (CNPq).

No âmbito dos governos estaduais, também encontramos agências


financiadoras, como a Fapesp, no estado de São Paulo, e a Faperj, no estado do Rio
de Janeiro.

Iniciação Cientif́ ica

O planejamento de uma carreira acadêmico-cientif́ ica deve ocorrer desde


cedo na vida universitária. Embora a maioria dos estudantes desconheça a existência
de todo esse sistema, em muitas áreas do conhecimento já existe uma tradição muito
grande em relação ao tema “educação continuada”.

Trata-se, além disso, de uma questão de empregabilidade: o curso


universitário não se constitui mais em um diferencial competitivo, já que quase todos
o têm. As empresas e instituições, de forma geral, desejam contratar pessoas
diferenciadas – ou seja, aquelas capazes de resolver e antecipar a ocorrência de
problemas, as aptas a agregar conhecimento às atividades operacionais e
estratégicas e, sobretudo, aquelas capazes de se reinventar a cada momento. Isso
requer pessoas que o tempo todo estão dispostas a aprender coisas novas e a reciclar
seus conhecimentos – e, para isso, nunca podem parar de estudar.

A segunda razão é que existem programas cientif́ icos voltados


especificamente para os alunos de cursos de graduação: são os chamados programas
de iniciação cientif́ ica. Esses programas, em geral financiados pelas próprias
instituições de ensino, são voltados para a produção de uma monografia (versão
simplificada de uma dissertação) e, neles, o aluno recebe uma bolsa de estudos
́ do, o aluno terá o
integral ou parcial, normalmente por um ano. Ao longo desse perio
acompanhamento de um professor-orientador que o auxiliará a desenvolver seu
trabalho.

Esse tipo de programa, oferecido por muitas instituições de ensino – inclusive


privadas –, é muito importante, pois se trata do primeiro contato do aluno com a
atividade de produção de conhecimento cientif́ ico.
Natureza da Pesquisa: Qualitativa versus Quantitativa

É muito difić il que haja alguma pesquisa totalmente qualitativa, da mesma


forma que é bastante improvável existir alguma pesquisa completamente quantitativa.
Isso ocorre porque qualquer pesquisa provavelmente possui elementos tanto
qualitativos como quantitativos, ou seja, em vez de duas categorias dicotômicas, tem-
se antes uma dimensão contin
́ ua com duas polaridades extremas, e as pesquisas se
encontrarão em algum ponto desse contin
́ uo, tendendo mais para um lado ou para
outro.

Embora alguns autores ainda defendam a ideia da dicotomia absoluta, ou


seja, de uma separação clara entre essas duas naturezas de pesquisa, há um
crescente consenso em direção à ideia aqui defendida de um contin
́ uo entre esses
dois extremos.

Antes de definir se uma pesquisa é predominantemente qualitativa ou


quantitativa, é importante esclarecer a diferença entre outros dois termos
fundamentais: os conceitos de “fato” e de “fenômeno”.

O fato refere-se a qualquer evento que possa ser considerado objetivo,


mensurável e, portanto, passiv́ el de ser investigado cientificamente. O fenômeno, por
outro lado, pode ser entendido como a interpretação subjetiva que se faz dos fatos.
Assim, ao se observar um lápis cair da mesa, por exemplo, pode-se avaliar esse
evento a partir dessas duas possibilidades. Como fato, diz-se simplesmente: “O lápis
caiu da mesa”. Como fenômeno, cada observador pode interpretar o fato à sua
maneira: “O lápis caiu mansamente”, “A gravidade derrotou o intelecto” etc. As
pesquisas quantitativas seriam aquelas que lidariam com os fatos (caracteriś ticos nas
ciências naturais), enquanto as pesquisas qualitativas lidariam com fenômenos (algo
́ ico das ciências sociais).
tip

Fluxograma 2 – Natureza da pesquisa.

A pesquisa preponderantemente qualitativa seria, então, a que prevê,


maritalmente, a coleta dos dados a partir de interações sociais do pesquisador com o
fenômeno pesquisado. Além disso, a análise desses dados se daria a partir da
hermenêutica do próprio pesquisador. Esse tipo de pesquisa não possui condições de
generalização, ou seja, dela não se podem extrair previsões nem leis que possam ser
extrapoladas para outros fenômenos diferentes daquele que está sendo pesquisado

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