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Armindo Quillici Neto, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Minas Gerais, Brasil. E-mail:
armindo@pontal.ufu.br
Mariana do Prado, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Minas Gerais, Brasil. E-mail:
marianalis2003@yahoo.com.br
Mara Rubia Barbosa Drummond. Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Minas Gerais, Brasil. E-
mail: mara.drummond@gmail.com
Carla Lisboa Andrade, Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Minas Gerais, Brasil. E-mail:
lisboandrade_2004@yahoo.com.br
textos e demais produção de filosofia da educação situam-se no campo filosófico e no
campo da historiografia, o que dão sustento para a compreensão das questões históricas,
filosóficas e até mesmo da praxis pedagógica. Será possível, com este trabalho, realizar
uma reflexão sobre a educação brasileira, suas influências e seus determinismos durante
o século XX. Neste trabalho, buscou-se colocar em prática a análise de algumas obras e
autores do campo de estudo em filosofia da educação, apontados como os principais
referenciais do pensamento filosófico e educacional do século passado. O texto é
resultado de um levantamento construído de forma aleatória, mas, com base nos materiais
mais utilizados nos Cursos de Pedagogia.
Palavras-chave: Filosofia – Educação – Século XX
I – Introdução1:
A tentativa de identificar a filosofia da educação ou as filosofias da educação
presentes no material produzido durante o século XX, nos livros, artigos e textos sobre
filosofia e filosofia da educação, surgiu no trabalho de pesquisa para elaboração da tese
de doutorado, que tratou de analisar os planos de ensino de filosofia da educação de
algumas das Faculdades de Pedagogia, do interior do Estado de São Paulo, durante as
duas últimas décadas do século passado. Durante aquela pesquisa nos deparamos com
citações de vários materiais de filosofia da educação o que nos levou a intensificar o
levantamento deste material e a realização das leituras, com o objetivo de estabelecer um
mapeamento sobre a produção de material publicado neste campo de estudo.
A pesquisa procurou identificar a concepção de filosofia da educação que os
materiais carregam. Foi necessário pensar e identificar quais correntes de pensamento
foram determinantes no processo de educação no Brasil durante o século XX, os
principais autores, os temas mais trabalhados, os princípios metodológicos que indicaram
a formação do educador daquele período histórico.
A pesquisa teve continuidade com o levantamento de outras bibliografias que
foram identificadas em sebos e bibliotecas, por meio de estudo dos materiais de filosofia
da educação que foram publicados durante o século XX, que também revelam uma
aproximação com o campo de estudo em história da educação, será possível buscar o
significado da concepção de educação, que foi hegemônica, e quais foram as matrizes
filosóficas que mais influenciaram a formação de professores no Brasil, bem como a
influência das metodologias e procedimentos de ensino que foram sendo implementados
no Brasil no século passado.
Para a análise dos livros de filosofia da educação, recorreu-se a um roteiro de
questões em que o grupo de trabalho pôde apoiar-se. As questões utilizadas foram: 1-
Quem são os autores? 2- Quais foram as motivações para escrever a obra? 3- Qual é a
1
A pesquisa teve a colaboração de professores do Curso de Pedagogia da FACIP, do Campus Pontal, da
Universidade Federal de Uberlândia, na cidade de Ituiutaba/MG., de uma professora do Programa de
Mestrado em Educação da UNIVAS, de orientandos de Mestrados do Programa de Pós-Graduação em
Educação, da Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Uberlândia - UFU e de alunas de
Iniciação Científica do Curso de Pedagogia da FACIP/UFU, caracterizando o embrião da formação de um
grupo de estudos em Filosofia da Educação. Agradecemos ao apoio recebido do CNPQ, por meio do Edital
02/2009 – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, que possibilitou a realização desta pesquisa, bem como
de todos os colaboradores da pesquisa.
data de publicação da obra? 4- Qual o público-alvo e local de circulação da obra? 5- Qual
é a editora? 6-Qual é a concepção (filosófica) de educação? 7-Como aparece a docência?
8- Qual a extensão de páginas dedicadas à educação do Brasil e à Filosofia da Educação?
9-Quais as fontes utilizadas pelo autor? 10- Quais são as orientações didáticas? 11-Quais
as questões propostas pelo autor para discussão? 12- O Autor se identifica com alguma
concepção filosófica?
Os estudos dos livros, artigos, textos e demais produção de filosofia da educação
situam-se no campo filosófico e no campo da historiografia, o que dão sustento para a
compreensão das questões históricas, filosóficas e até mesmo da praxis pedagógica. Será
possível, com este trabalho, realizar uma reflexão sobre a educação brasileira, suas
influências e seus determinismos durante o século XX. Neste trabalho, buscou-se
colocar em prática a análise de algumas obras e autores do campo de estudo em filosofia
da educação, apontados como os principais referenciais do pensamento filosófico e
educacional do século passado. O texto é resultado de um levantamento construído de
forma aleatória, mas, com base nos materiais mais utilizados nos Cursos de Pedagogia.
Prioriza-se que o educador saiba não apenas o que ensina, mas também a
quem ensina e como ensina. A ciência deve servir não apenas de conhecimento, mas fazer
parte da personalidade do educador. Segundo Bello (1946, p. 66), “O homem cuja
superioridade pessoal seja imediatamente sentida pelas crianças, não, porém, como um
fardo que as oprima, mas como uma força pura, disciplinada, sincera, estimulante”. A
obra é dividida em 15 capítulos e nenhum capítulo é dedicado à educação do Brasil e,
quanto à filosofia da educação, está presente principalmente na sua introdução.
Quanto às questões didáticas, decorrem de práticas disciplinares que
direcionem os alunos a alcançar os objetivos que sejam processados do interior para o
exterior. Considerando a disciplina como a primeira condição de eficiência do ensino,
pautada no respeito e na estima mútua entre professores e alunos com ausência de castigos
físicos, que possam ocorrer apenas em casos excepcionais.
Outra obra que trata do tema, produzido por J. A. Tobias (1967), com o mesmo
título do tema pesquisado neste trabalho, editado pela Editora do Brasil S/A, em 1967.
Para o autor, a Filosofia da Educação compõe uma das disciplinas centrais do Curso de
Pedagogia, propõe uma obra que tenha maior aproximação com a atualidade de acordo
com as necessidades da formação dos professores. As obras em geral são traduzidas e
fazem parte das particularidades europeias, norte-americanas e se constituem como
necessárias e úteis para os estudos. Mas foi visto que não atendem aos problemas
específicos da filosofia da educação brasileira que não foram feitas e vistas por meio da
realidade brasileira.
Durante quatro anos, em que estamos regendo a cadeira de filosofia da Educação do Curso
de Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, fomos anotando ou
escrevendo o fruto das aulas, das pesquisas e dos seminários que os estudantes e nós
vimos e vamos fazendo. (TOBIAS, 1967, p. 7).
A obra, por ser uma tradução, não apresenta nenhuma menção à educação no
Brasil. Em relação à filosofia da educação, é apresentado um capítulo introdutório
denominado “A posição da Filosofia na Educação”. A bibliografia encontra-se no final
de cada capítulo. A obra utiliza várias fontes. Dentre elas, destacam-se aquelas pela
recorrência à Tomás de Aquino e aos textos papais.
Um marco importante para a Filosofia da Educação brasileira foi a presença
do Prof. Dermeval Saviani, com a publicação do livro Educação: do Senso Comum à
Consciência Filosófica, em 1996. No primeiro texto, o autor estabelece o sentido e a
tarefa da Filosofia da Educação”. Levanta uma série de questões que desenvolvem os
motivos que levam o educador a filosofar. Para Saviani, o ponto de partida da Filosofia é
esse algo a que damos o nome “problema”. Seu texto está assim distribuído: 1- Noção de
problema; 1.1- Os usos e correntes da palavra problema; 1.2- Necessidade de se recuperar
a problematicidade do “Problema”; 2- Noção de reflexão; 3- As exigências da reflexão
filosófica; 4- Noção de filosofia; 5- Noção de “filosofia de vida”; 6- Noção de
“ideologia”; 7- Esquematização da dialética “ação-problema-reflexão-ação”; 8- Noção de
filosofia da educação.
Na tentativa de definir ou de discutir o papel da filosofia da educação e da
história da educação no Brasil, Saviani diz que
A Filosofia da Educação só poderá prestar um serviço à formação dos
educadores na medida em que contribuir para que os educadores
adotem esta postura reflexiva para com a problemática educacional. Se,
ao contrário, nós, enquanto educadores, nos limitarmos a tomar
conhecimento de determinados resultados a que se chegou a partir de
determinadas reflexões, então não estaremos desenvolvendo a reflexão
filosófica propriamente dita. (SAVIANI, 1996, p. 29).
Outro texto de Saviani, que marcou o estudo da filosofia da educação no
Brasil, foi publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, A filosofia da
educação no Brasil e sua veiculação pela revista brasileira de estudos pedagógicos. O
autor diz que o texto é uma “periodização das principais concepções de filosofia da
educação no Brasil”. (SAVIANI, 1984, p. 273). A educação até 1944 recebeu influência
das seguintes correntes: primeiro foi fundada no espírito do Tomismo-Aristotélico, que
trazia como modelo fundamental a Ratio Studiorum. Esta orientação deteve o monopólio
do ensino no Brasil durante aproximadamente dois séculos. Ora, é justamente o tomismo
que está na base da Ratio Studiorum a que limitava, na regra nº 35, os livros de estudo à
summa theologica de Santo Tomás de Aquino e à obra de Aristóteles. (SAVIANI, 1984,
p. 274).
Depois, no início do século XX, houve a influência da vertente liberal, que
promoveu mudanças em relação à vertente religiosa. Na década de 30, os ideais do
escolanovismo, através do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, fizeram oposição ao
grupo dos católicos, A aprovação da Constituição de 1934 revelou um equilíbrio de forças
entre os católicos e os pioneiros no âmbito educacional. À resistência dos católicos
correspondeu um progressivo avanço dos pioneiros que já no início da década de 30
ocupavam os principais postos da burocracia educacional. (SAVIANI, 1984, P. 276).
Quanto a concepção, ou concepções de filosofia da educação brasileira, o
autor demonstra que o momento da Ratio é o que foi classificado de “Concepção
Humanista Tradicional na sua vertente religiosa”. Enquanto o momento da educação, no
início da república, é classificado de “Concepção Humanista Tradicional na sua vertente
leiga”. SAVIANI coloca, ainda, que a “Concepção Humanista Moderna” ganha impulso
a partir de 1924, sendo que, após 1945, é que esta concepção se delineia predominante.
(SAVIANI, 1984, p. 275).
Após 1944 houve o predomínio da Concepção Humanista Moderna, que tem
uma visão de homem centrada na existência, na vida, na atividade. Se na visão tradicional
a educação se centrava no adulto (no educador), no intelecto, no conhecimento, na visão
moderna o eixo do processo educativo se desloca para a criança (o educando), a vida, a
atividade (SAVIANI, 1984, p. 276). A tendência educacional Humanista Moderna entrou
em crise entre 1960 e 1968, período em que se articulou a tendência tecnicista.
SAVIANI, publicou, ainda, pela Revista Reflexão, da Pucamp, n.º 14,
maio/agosto de 1979, resultado de uma palestra proferida no IX Encontro de Professores
Universitários de Filosofia e História da Educação, em 22 a 24 de julho de 1974, em São
Paulo, trata do magistério de Filosofia e de Filosofia da Educação e História da
Educação. Para ele há que se fazer uma distinção entre os professores de história da
educação e professores de filosofia da educação, sendo que em cada organização
programática das disciplinas vão se assumindo como matizes diferentes. A disciplina tem
sido colocada nos cursos de licenciatura, não em caráter obrigatório. Desta forma,
aparecem somente nos cursos de pedagogia.
O professor de filosofia da educação está mais preocupado com a Filosofia,
assim como o professor de história da educação está preocupado com a História. A
questão que levanta Saviani (1979) é que a educação fica na penumbra. O autor
caracteriza três linhas básicas encontradas nos programas destas disciplinas: a primeira é
que a programação consiste em se filiar a determinada corrente já constituída; na
Segunda, há uma postura eclética presente no ensino de filosofia e história da educação;
a terceira, na tentativa de superar as duas anteriores, professores procuram novas saídas,
organizando programas a partir de temas para estudo. A questão principal de Saviani
(1979) está em como superar esta realidade.
Durmeval Trigueiro Mendes organizou coletânea de textos preocupados em
responder se Existe uma Filosofia da Educação brasileira. Os textos são de: Dermeval
Saviani, “Tendências e Correntes da Educação Brasileira”; de Durmeval Trigueiro
Mendes, “Existe uma Filosofia da Educação Brasileira”, de Alfredo Bosi, “Cultura
Brasileira” e José Silvério Baia Horta, “Planejamento Educacional”. Na tentativa de
buscar uma resposta, os autores realizaram um mapeamento das questões filosóficas
relacionadas com o tema, tentando demonstrar as tendências e correntes da educação.
Buscaram responder à questão acima colocada indicando as implicações políticas de um
processo hegemônico e totalitário da educação. No prefácio do livro o autor explicita sua
visão sobre a filosofia da educação. Diz que a filosofia da educação é nova e que a
perspectiva de seu ensino é muito abstrata.
Na disciplina de filosofia da educação, no Brasil, percebemos duas relações.
Primeiro, a filosofia da educação maneja categorias e conceitos filosóficos sem o nexo
intrínseco entre o corpus teórico da filosofia (na epistemologia contemporânea, deveria
ser integrada nas ciências sociais) e a educação, e, nesse caso, ela está empobrecida sem
a fertilização recíproca do saber filosófico e científico com a práxis educativa. A Segunda
é a redução da redução, isto é, filosofia da educação no Brasil, já que é mais remoto,
ainda, o recorte filosófico e epistemológico de um saber definido e articulado com os
aspectos cultural, social, histórico e político no Brasil. (MENDES, 1987, p. 9).
2
Mímese é [...] um conceito apto a colher, no terreno estético, os benefícios da tendência à superação da
metafísica que caracteriza o espírito de cultura moderna. Numa época que não só perdeu seu “centro”
ontológico, sua imagem fechada do mundo, como se dispõe a abandonar as últimas nostalgias de um ponto
fixo do ser, as ofertas tão obstinadas quanto anacrônicas de “centros” sobressalentes, enfim todos os
obstáculos a uma visão aberta (...). (TREVISAN, 2000, p. 18).
ilusórias vendidas não mercado educacional com rótulos ou roupagem
sempre inovadoras. (TREVISAN, 2000, p. 248).
i
Pedagoga, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, professora efetiva da
rede municipal de educação da cidade de Uberlândia – MG.