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Professor de Violão, Música Computacional, Literatura do Instrumento e Pesquisa em Música no curso de músi-
ca da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desde 2005. É Doutor em música pela Universidade de São
Paulo (USP), Mestre em Inteligência Artificial e Especialista em Métodos e Técnicas de Pesquisa em Música,
ambos pela UFU, onde concluiu também a graduação em Violão sob a orientação dos professores Jodacil Cae-
tano Damaceno e Eustáquio Alves Grilo. É pesquisador do NUPPIM (Núcleo de Performance e Práticas Inter-
pretativas em Música) e do NUMUT (Núcleo de Música e Tecnologia) da UFU e membro do MAMUT (Grupo
Música Aberta da UFU). Desenvolve pesquisas ligadas à metodologia do ensino dos instrumentos de cordas
dedilhadas, produção de material didático musical e música e tecnologia. Autor de 1 1 livros sobre computação
musical e 8 cadernos de partituras para violão.
PALAVRAS-CHAVE
Ensino coletivo, conservatórios Mineiros, Resolução 71 8/2005.
ABSTRACT
This text will address the practice of Collective Teaching of Musical Instruments in the State
Music Conservatories of Minas Gerais, official institutions for technical musical education, cre-
ated in the 1 950’s by Juscelino Kubitschek. It raises questions about the obligation and ex-
cessive amount of semesters of this methodology imposed by the Secretary of State for
Education through Resolution 71 8/2005 and Guidance SB-SG 01 /2008, pointing out the ad-
vantages and disadvantages of this modality of teaching by authors such as Cruvinel, Almei-
da, Barbosa and Tourinho.
KEYWORDS 31 1
Collective education, conservatories of Minas Gerais, Resolution 71 8/2005.
1 . Introdução
Este texto tem por objetivos discutir a prática do ensino coletivo de instru-
mentos musicais (ECIM), suas vantagens e desvantagens no processo de iniciação
instrumental, bem como a sua obrigatoriedade e duração muito longa nos Conser-
vatórios Estaduais de Música de Minas Gerais, estabelecidas através da Resolução
71 8/2005 e Orientação Conjunta SB-SG 01 /2008 da Secretaria de Estado da Educa-
ção (SEE). Existem diversas pesquisas que abordam esta modalidade de ensino no
país, motivo que levou à realização de sete encontros nacionais sobre o tema. Goi-
ânia sediou os encontros em 2004, 2006, 201 0 e 201 2; Brasília o encontro de 2008,
Salvador o de 201 4 e Sobral o de 201 6. Esta modalidade de ensino instrumental
não é uma prática tão recente. Cruvinel (2005) relata no capítulo 2 de seu livro
“Educação Musical e Transformação Social – Uma experiência com o ensino coleti-
vo de cordas”, sua prática nas primeiras décadas do século XIX na Europa e Esta-
dos Unidos. Na Alemanha, esta metodologia tem início a partir da fundação do
Conservatório de Leipzig em 1 843, e nos Estados Unidos, segundo Oliveira (apud
CRUVINEL, 2005), o ECIM se deu após a fundação dos conservatórios The Boston
Conservatory e o The New England School.
Nos Estados Unidos, durante o século XIX e especialmente depois da
Guerra Civil (1 861 -1 865) a vida musical se tornou efervescente: a cul-
tura europeia se expandiu através de turnês e de músicos menos so-
fisticados [que] começaram a formar bandas e orquestras que
supriam a demanda de música popular e de dança. Todas as partes
Figura 1 . Cidades Mineiras com Conservatórios Estaduais de Música1 . Fonte: acervo do autor.
Com o passar dos anos, surgiram novos cursos, novos governos estaduais
e, consequentemente, novos “Memorandos”, “Orientações”, “Informações” e Reso-
luções foram publicados, aproximando cada vez mais a realidade dos Conservató-
rios à das escolas de ensino tradicional, regular. Eles eram citados em anexos de
resoluções e em documentos relativos à contratação de funcionários, com instru-
ções para a organização das turmas de disciplinas e instrumentos musicais. Pelo
fato de fazerem parte do quadro de escolas estaduais, apesar de suas especificida-
des e especialidades, eram tratados pela SEE e suas Superintendências Regionais
de Ensino (SRE) como escolas de educação regular do quadro da educação esta-
dual, o que sempre foi motivo de muito desgaste administrativo.
Esta forma de tratamento e interpretação legal gerou, durante vários anos,
problemas ligados principalmente à forma de organização das turmas. Os conser-
vatórios, devido à sua especificidade de ensino tutorial de instrumentos musicais e
disciplinas com quantidades diferenciadas de alunos, muitas vezes encontraram di-
ficuldade em compatibilizar estas turmas com a realidade das demais escolas esta-
duais de ensino regular. A adequação da realidade dos conservatórios à legislação
vigente dependia de uma constante “negociação” junto às Superintendências Re-
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1 Mapa sem escala e com localizações aproximadas.
O curso de Educação Musical está dividido em três ciclos de três anos ca-
da: Ciclo Inicial, Ciclo Intermediário e Ciclo Complementar3. O curso de Formação
Profissional de nível técnico consta de três anos e é oferecido a alunos matriculados
ou egressos do ensino médio. A Difusão Cultural, prevista no 3º parágrafo, ocorre
somente após aprovação de propostas enviadas pelos Conservatórios à Secretaria
de Estado de Educação (SEE).
No decorrer dos anos os Conservatórios foram ampliados, ganharam novos
prédios, novos cursos e diversos instrumentos passaram a integrar seus currículos,
entretanto, há muito não acompanham o crescimento populacional de suas cida-
des. Sem apoio ou incentivo estadual para ampliação de turmas, de professores e,
consequentemente, de alunos, as escolas são obrigadas a adotar procedimentos
de seleção para as matrículas, que privilegiam uma minoria e excluem grande parte
da população de suas cidades. A Resolução 71 8/2005 em seu CAPÍTULO V – DO
ATENDIMENTO, DA DEMANDA E DA MATRÍCULA, prevê o seguinte:
Art. 26. O ingresso em qualquer período dos ciclos do Curso de Edu-
cação Musical dos Conservatórios Estaduais de Música será feito, no
limite das vagas, por meio de exames de classificação, na forma regi-
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2 Mesmo possuindo uma Resolução com normas de cunho específico, ainda obedecem às resoluções e nor-
mas gerais das escolas estaduais como por exemplo a Resolução SEE Nº 2.253, de 9 de janeiro de 201 3, que
“Estabelece normas para a organização do Quadro de Pessoal das Escolas Estaduais e a designação para o
exercício de função pública na rede estadual de educação básica”.
3 O Ensino Fundamental de nove anos, instituído pelo Decreto 43.506, de 06 de agosto de 2003 foi adotado pelo
governo mineiro no ano de 2004, sendo oferecido também nos conservatórios a partir de 2006, no momento de
implantação da Resolução citada. Para aprofundamento sobre o sistema de ciclos educacionais mineiros suge-
re-se a consulta da coleção “Orientações para a Organização do Ciclo Inicial de Alfabetização”, publicados pela
SEE de Minas Gerais, 2003.
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3. Considerações
Acreditamos que o ECIM é uma realidade atual, com resultados relevantes e
positivos em todas as formações instrumentais, porém a sua prática deve ser reali-
Referências
ALMEIDA, José Coelho de. O ensino coletivo de instrumentos musicais: Aspectos históricos, políticos,
didáticos, econômicos e sócio-culturais. Um relato. In: I ENECIM – ENCONTRO NACIONAL DE ENSI-
NO COLETIVO DE INSTRUMENTO MUSICAL, 2004, Goiânia. Anais. Goiânia: UFG, 2004, p. 1 1 -29.
BARBOSA, Joel Luís. Considerando a Viabilidade de Inserir Musica Instrumental no Ensino de Primeiro
Grau. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 3, Ano 3, p. 39 – 49, Jun. 1 996.
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4 O ECIM heterogêneos, termo cunhado por Cruvinel, ou seja, não pertencentes a uma mesma família instru-
mental, nem sempre é frutífero devido à falta de similaridade técnica, demandando um tempo maior do profes-
sor para obter resultados.
5 Na tese “A improvisação livre como metodologia de iniciação ao instrumento : uma proposta de iniciação
(coletiva) aos instrumentos de cordas dedilhadas”.
6 Através do livro “ Na ponta dos dedos – exercícios e repertório para grupos de cordas dedilhadas”.
GONÇALVES, Lilia Neves. Educar pela música: um estudo sobre a criação e as concepções pedagó-
gico-musicais dos Conservatórios Estaduais Mineiros na década de 50. 1 993. 1 79 f. Dissertação
(Mestrado em Música) – Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
1 993.
KIEFER, Bruno. História da Música Brasileira: dos primórdios ao início do séc. XX. 3. ed. Porto Ale-
gre: Movimento, 1 977.
RAFAEL DO CARMO, Sérgio. CONSERVATÓRIOS DE MÚSICA: arte e emoção como aliados da edu-
cação em Minas Gerais. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, 2002.
1 44p. – (Lições de Minas, 1 8).
TOURINHO, Ana Cristina G. dos Santos. Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais: crenças, mitos, prin-
cípios e um pouco de história. In: XVI Encontro Nacional da ABEM, e Congresso Regional da ISME,
América Latina, Campo Grande. Anais, 2007.
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