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decolonial
Resumo. Esse artigo se trata de um relato de experiência sobre as atividades desenvolvidas, no ano
de 2019, pelo grupo de percussão da UEFS, o qual busca ter uma proposta de um ensino coletivo
(TOURINHO, 2007; CRUVINEL, 2003, 2005; DANTAS, 2010) decolonial (CARVALHO, 2020), através
da valorização das matrizes musicais afro-brasileiras. Para tanto, o grupo realizou um estudo de
repertório de toques sagrados de candomblé, ritmos tradicionais de origem negra, além de um
aprofundamento no repertório do grupo “Os Tincoãs”. Devido ao seu caráter que valoriza a diversidade
cultural, a existência desse conjunto para a formação dos discentes do curso de música e da
comunidade da UEFS em geral.
Title. The UEFS percussion group: one experience of collective decolonial teaching.
Abstract: This article is an experience report of the activities developed in 2019 by the UEFS
Percussion Group, wich seeks to have a colletive teaching (TOURINHO, 2007; CRUVINEL, 2003, 2005;
DANTAS, 2010) decolonial (CARVALHO, 2020) proposal, through the valorization of afro-brazilian
musical matrices. To this end, the group conducted a study of the repertoire of sacred rhythms of
candomblé, traditional rhythms of black origins, in addition to deepening the repertoire of the group “Os
Tincoãs”. Due to is character that balues cultural diversity, the existence of this group for the training of
students in the music course and the UEFS community in general.
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SOUZA e LOPES, 2017). Neste espetáculo, alunos da disciplina “História e
Diversidade da Música Brasileira I”, ministrada pelo Professor Aaron Lopes, foram
convidados a se juntar ao grupo musical da apresentação realizando a parte
percussiva, através dos toques sagrados dos orixás do candomblé baiano.
A partir dessa iniciativa e partindo de uma perspectiva de decolonização de
componentes curriculares do curso de música da UEFS, o professor Aaron Lopes
passou a ofertar disciplinas (a exemplo de “Música e Cultura Baiana” e “Mitologias e
práticas musicais afro-brasileiras”) que buscaram valorizar as matrizes afro-brasileiras
através da sua prática musical, além de realizar reflexões teóricas sobre a importância
do estudo e valorização dessas matrizes, bem como a sua aplicação futura, por parte
dos alunos licenciados, dentro de espaços educativos. Após esse primeiro momento,
foi criado, em 2018, o grupo de percussão da UEFS que, no biênio 2019-2020, contou
com o apoio do bolsista de extensão (PIBEX-UEFS) Marley Araújo.
Segundo Carvalho (2020), é fundamental essa busca por uma decolonização
dos currículos, como uma maneira de valorizar os saberes de matrizes negras e
indígenas, até então marginalizadas pela universidade:
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e afro-brasileira foi fundamental para a busca por um ensino musical contra-
hegemônico.
A convivência com os colegas foi a resposta mais citada pelos alunos, como
sendo o fator que mais motiva as aulas. O que mais surpreendeu nas
respostas indicadas pelos alunos foi o fato de que o fator “convivência” não
havia sido destacado nem pelos professores nem na literatura consultada a
respeito do tema. A segunda resposta mais indicada pelos alunos foi a
oportunidade de aprender em grupo. Sentir-se parte de um conjunto musical
e o estímulo do professor foram citadas de forma eqüitativa pelos alunos
como o sendo o terceiro fator que mais gera satisfação nas aulas coletivas.
Ressalta-se que a bibliografia consultada indica que um dos fatores que mais
motivam o aluno iniciante no instrumento de corda realizado em grupo é a
1
Neste artigo, optamos por nos referir às autoras femininas (pelo menos em sua primeira menção) com
o seu nome e sobrenome, como forma de dar visibilidade ao conteúdo produzido por mulheres.
2
“Segundo Oliveira (1998), o ensino coletivo é mais estimulante para o aluno iniciante devido ao seu
maior desenvolvimento em menos tempo de aula, em decorrência das técnicas pedagógicas usadas
no ensino coletivo”. (CRUVINEL, 2005, p. 78).
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sonoridade do grupo e a oportunidade de fazer parte de um conjunto musical.
(DANTAS, 2010, p.407)
3
Este método ainda não foi publicado. À época, tivemos acesso ao material devido à proximidade do
bolsista com o professor.
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Figura 1: Registro da Oficina “Vivência em ritmos afro-baianos. Foto: Coordenador do grupo de
percussão.
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Figura 2: Registro do coletivo de alunos e artistas envolvidos com a encenação do espetáculo AIMÓ.
Foto: Cesinha dos Olhos D’Água.
Figura 3: registro dos alunos do grupo de percussão no espetáculo AIMÓ. Foto: Cesinha dos Olhos
DÁgua.
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vozes. Em dezembro de 2019, esse repertório foi apresentado na primeira mostra dos
programas e projetos de extensão do curso de música.
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temáticas como: Mulheres na percussão, performances, videoaulas e curiosidades do
mundo da percussão.
3. Considerações finais
A criação do grupo de percussão da UEFS foi de grande relevância para a
decolonização das práticas musicais do curso de música na universidade, pois, até
então, não eram ofertadas atividades voltadas para o aprendizado do universo
percussivo. A partir da criação do grupo, este passou a ser uma referência para
atividades musicais e culturais da universidade que buscam dialogar com as matrizes
afro-brasileiras e o grupo passou a ser bastante requisitado por outros conjuntos
musicais e artísticos, como pôde-se perceber nos exemplos citados neste artigo.
Como atividade pedagógica, a oficina de Iniciação à percussão foi muito bem
sucedida no seu objetivo de transmitir conhecimentos sobre o universo da percussão
e os conceitos básicos de ritmo e elementos musicais, para alunos iniciantes nos
estudos em música, através da prática do ensino coletivo. Além disso, o grupo se
mostrou bastante motivado e integrado durante os encontros de ensino e de
apresentações artísticas.
Referências
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DANTAS, Taís. Aprendizagem do instrumento musical realizada em grupo: Fatores
motivacionais e interação social. In: I Simpósio Brasileiro de pós-graduandos em
música. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, RJ, 2010.
SOUZA, Luan Sodré de. Educação musical afrodiaspórica: uma proposta decolonial
para o ensino acadêmico do violão a partir dos sambas do recôncavo baiano. Tese
(doutorado) – Universidade Federal da Bahia, 2019.
TOURINHO, Cristina. Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais: crenças, mitos,
princípios e um pouco de história. In: XVI Encontro anual da ABEM/Congresso
Regional da ISME na América latina. 2007, Campo Grande, MS. Anais... Campo
grande, MS, 2007.
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