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Luciana Prass
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
luciana.prass@gmail.com
Resumo: Esta comunicação, no contexto deste painel, buscará pontuar os caminhos abertos e as
reverberações da experiência formativa pela via da etnografia e seu potencial reflexivo, no percurso
de etnomusicóloga e educadora musical 20 anos depois do encontro com os saberes musicais de uma
bateria de escola de samba. Quais os impactos vividos nos atuais coletivos de atuação nos âmbitos
do ensino, da pesquisa e da extensão, sobretudo no que concerne aos impactos trans-formativos do
método etnográfico em suas potencialidades pedagógicas, musicais e éticas?
Ethnomusicology and Music Education: from a samba school to the university and back
Abstract: This paper, in the context of this panel, will seek to revisit the open paths and
reverberations of the formative experience through the ethnography and its reflective potential, in
the course of ethnomusicologist and musical educator 20 years after the encounter with the musical
knowledges of a battery of a samba school. What are the impacts of the current daily activities in
teaching, research and extension, especially regarding the trans-formative scope of the ethnographic
method on its pedagogical, musical and ethical potentialities?
1. Introdução
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Aprendi também sobre a importância do processo de socialização na cultura
desde a mais tenra idade – para alguns ritmistas desde a gravidez de suas mães – o que explicava
que não se tratava de uma disposição genética ou étnica para que um “bamba” se formasse –
como o senso comum insiste em defender – mas, sim, de um processo árduo e de toda a vida
dedicado à aprendizagem cultural. Foi a partir dessa experiência que junto ao coletivo do grupo
de pesquisa (GEM/UFRGS) desenvolvemos a ideia de uma “etnopedagogia” musical no
contexto da escola de samba.
Esta forma particular de aprender e de ensinar, essa etnopedagogia de educação musical que fui
procurando compreender a partir de minha própria experiência como aprendiz de tamborim, esteve marcada por
alguns procedimentos básicos, geradores dos saberes musicais valorizados neste cenário, a saber: a imitação, a
improvisação e a corporalidade, frutos da socialização dentro da cultura carnavalesca, através da qual a escola de
samba mirim Bambas do Futuro pode ser pensada como um exemplo concreto (PRASS, 2004, p. 150).
8. Referências bibliográficas
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Música). Programa de Pós-Graduação em Música, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 1999.
LUCAS, M. E.; ARROYO, M.; STEIN, M. R. A.; PRASS, L. Entre congadeiros e sambistas:
etnopedagogias musicais em contextos populares de tradição afro-brasileira. Revista da
Fundarte, Montenegro, v. 3, n. 5, p. 4-20, 2003.
PRASS, L. Saberes musicais em uma bateria de escola de samba: uma etnografia entre os
Bambas da Orgia. Dissertação (Mestrado em Música). Programa de Pós-Graduação em Música,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998.
PRASS, L. Saberes musicais em uma bateria de escola de samba: uma etnografia entre os
Bambas da Orgia. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2004.
PRASS, L.; LUCAS, M. E.; BRAGA, R. Diálogos entre quilombolas e universitários: trocas
interculturais através da música. Projeto de extensão. PROEXT/CULTURA; UFRGS, Porto
Alegre, 2008. [Digi.]
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RICE, T. May It Fill Your Soul: Experiencing Bulgarian Music. Chicago: The University of
Chicago Press, 1994.
TETTAMANZY, A. L. L.; PRASS, L.; STEIN, M. R.; KUBO, R. R. Projeto para a criação da
disciplina Encontro de Saberes na UFRGS. Porto Alegre: DEMUS/IA/UFRGS, 2016. [Digi.]
Notas
1
O Grupo de Estudos Musicais – GEM/UFRGS é um coletivo interdisciplinar de formação acadêmica e atuação
profissional na área de Etnomusicologia / Antropologia da Música, formado por professores e estudantes do
PPGMUS/UFRGS e do PPGAS/UFRGS, coordenado pela Profa. Maria Elizabeth Lucas desde 1993.
2
O conceito de bimusicalidade foi cunhado por Mantle Hood (1960). A partir de sua proposta, muitos autores se
colocaram como aprendizes em seus cenários de pesquisa, entre os quais Chernoff (1979), Rice (1994), entre
outros. Em meu trabalho na Escola de Samba Bambas da Orgia, de Porto Alegre, a partir dessa perspectiva,
também eu me envolvi em aprender tamborim e participar da bateria da escola (PRASS, 2004).
3
Da mesma maneira, a Lei 11.645/08, com foco na educação das questões indígenas e demais políticas voltadas a
eles também estavam na pauta pós-1988. Nessa comunicação, porém, enfoco os aspectos da comunidade
afrodescendente.
4
Apesar da Lei Federal de 2010, que passou a garantir 50% das vagas em universidades federais para estudantes
cotistas, no curso de música, em função da Prova de Habilitação Específica e suas exigências prévias ao ingresso
no curso, na prática, esse percentual não era atingido. Especialmente a partir da flexibilização de repertórios do
Bacharelado em Música Popular, o ingresso de cotistas foi significativamente ampliado.
5
Dentre elas, UnB, UFMG, UFJF, UECE, UFPA e UFSB, no Brasil, além da Universidad Javeriana, na Colômbia
(TETTAMANZY et al., 2016).
6
Para maiores detalhes sobre a proposta na UFRGS, ver Tettamanzy; Prass; Stein; Kubo, 2016. Sobre a
repercussão da disciplina, ver também documentário produzido pela TV UFRGS em 2018. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=FUpgsKbANpo>.
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