Você está na página 1de 9

EMPRESA BRASILEIRA DE ENSINO PESQUISA E EXTENSÃO -

MULTIVIX
CURSO DE PSICOLOGIA

PATRIANA DOS SANTOS TEIXEIRA


SUELEN ARAÚJO DO ROSÁRIO FERREIRA
WIVIAN SILVA SANTOS DE OLIVEIRA

TRABALHO DE TEORIAS HUMANISTAS

VITÓRIA - ES
2021
PATRIANA DOS SANTOS TEIXEIRA
SUELEN ARAÚJO DO ROSÁRIO FERREIRA
WIVIAN SILVA SANTOS DE OLIVEIRA

TRABALHO DE TEORIAS HUMANISTAS

Trabalho apresentado no curso de


graduação da Faculdade Brasileira -
Multivix.

Disciplina(a):Teorias Humanistas
Professor (a): Andrea Loss Nunes

VITÓRIA - ES
2021
CASO CLÍNICO
Queixa: “Fernanda procurou o SPA solicitando um atendimento com uma
psicopedagoga para a filha, cuja indicação foi feita pela escola da mesma. Foi
avisada, pela secretaria do serviço, que seria marcada uma entrevista com a
equipe de psicoterapia de família e casal. Esta mãe buscou ajuda para a
filha, que estava em uma psicoterapia individual, por ela apresentar problemas
de aprendizagem. A queixa manifesta centrava-se no fato de Fernanda achar
sua filha (Amanda) muito imatura, tendo problemas de relacionamento social
na escola, brincando com bonecas e com meninas mais novas do que ela. Na
primeira entrevista compareceram apenas a mãe e a filha, justificaram a
ausência de Celso por motivos de trabalho. Na maior parte do tempo,
Fernanda queixou-se da filha, comentando sobre sua imaturidade e um
possível diagnóstico de dislexia (queixa essa, que não fora muito prolongada
por ela). Correlacionou o início da dificuldade de Amanda para lidar com o
crescimento, com a morte de um tio-avô materno de muita importância afetiva
para Fernanda. A mãe se responsabiliza por isso, confessando não ter lidado
bem com esta perda e passando seu sentimento para a filha. Na época, não
considerou a idade da filha e lhe disse como desabafo: “Nasce, cresce e
morre”. A segunda entrevista ocorreu com Celso, Fernanda e Amanda. Nesta
sessão o casal falou sobre as questões individuais de cada um dos cônjuges,
não focando o discurso somente na filha. Fernanda mencionou fazer uso de
medicamentos para dormir, sob orientação de um neurologista, porque sentia
muitas dores de cabeça. Celso, por sua vez, revelou já ter feito psicoterapia,
pois sentia “fobia” de tudo, não podendo nem mesmo passar dentro de um
túnel. Sentiu-se muito melhor com o tratamento individual. O casal demonstrou
interesse em fazer a terceira entrevista sem a filha, alegando que, assim,
contariam sobre a infância de Amanda. Ela questionou o fato de não poder
estar presente na próxima sessão, demonstrando sua insatisfação ao afirmar
para eles que não guardava segredos para os pais.
Portanto, a terceira entrevista foi realizada apenas com o casal, porque
também havia um interesse dos psicoterapeutas em investigar as questões
conjugais. Celso e Fernanda relataram sobre seus conflitos sexuais e um
período de crise, desencadeado por uma relação extraconjugal do marido. Na
entrevista seguinte foi aplicado o ADF, com todos os membros da família, a
partir do qual se evidenciou a posição de enigma de Amanda, denunciando a
presença de um enigma compartilhado e as alianças encobertas. A entrevista
de devolução teve como objetivo enunciar para família a função ocupada por
Amanda, na qual absorvia a problemática do casal e do irmão, havendo uma
intensa cisão na família que impedia a circularidade de papéis no
funcionamento familiar. O início da história do casal é descrito de forma
tranqüila e harmônica. Os dois moravam na mesma comunidade, e Celso
passou oito anos se sentindo atraído por Fernanda, mas como namorava nesta
época, não se aproximou dela. Fernanda nem reparava nele, não sabendo nem
mesmo quem ele era, porém sua mãe o conhecia de vista, pois o encontrava
no ônibus se beijando com as namoradas. Eles ficaram noivos durante um
tempo e depois se casaram. Três anos após o nascimento de Amanda,
“Celso arrumou uma mulher”. Fernanda se sentiu traída, pois haviam
combinado que quando um quisesse ter uma relação extraconjugal deveria
avisar ao outro, e ele não cumpriu o acordo. Sentia-se culpada por este fato
passado, dizendo que 70% era sua responsabilidade. Contudo, mostrava
dificuldade para aceitar o fato de ele ter se calado, mudando também seu
comportamento. “O pior era como ele me tratava. Ele me tratava muito mal.”
O posicionamento de Celso diante deste relato era de concordância e
arrependimento, abraçando a mulher, quando esta se emocionava com a
lembrança dos fatos. Fernanda acreditava que a atitude do marido havia
provocado uma abertura para ela também o trair. Destacou que o filho, com
sete anos na época, presenciou o conflito conjugal. Hugo dizia ao pai para
ele sair de casa se preferisse. Fernanda foi até a casa da amante para
conhecê-la. Contudo, quando a viu, não se sentiu rejeitada, pois não a
considerou uma mulher interessante, ela esperava que fosse “coisa melhor”.
Arrumou as malas de Celso, a fim de que ele saísse de casa e se
separasse, mas ele não saiu. No entanto, havia um desejo de Celso para se
separar anterior a este fato, comentando-o com outras pessoas. O irmão de
Fernanda foi quem lhe contou sobre os planos de Celso, revelando-lhe a
confidência deste último de que ela era uma pessoa fria sexualmente. O casal
apresentava dificuldades sexuais após o nascimento dos filhos. Quando Celso
manifestava ter desejo por Fernanda, ela não o queria, ficando até mesmo
irritada quando ele a tocava, ou demonstrava seu desejo. Sugeriu algumas
vezes para o marido arrumar outra pessoa para ter relações sexuais. Celso
demonstrava insatisfação com a vida sexual do casal. Num determinado
momento do processo, Fernanda revelou frequentar a casa de um tio, quando
pequena, que lhe acariciava os peitos. Ressaltou não saber se era fruto de
sua imaginação, ou realidade, o fato de encontrar constantemente revistas
pornográficas na cama de sua mãe. O convívio familiar era conflituoso,
porque Celso e Hugo brigavam muito, sendo agressivos e gritando um com o
outro. Hugo era descrito, pelos demais membros do grupo, como uma pessoa
chata, implicante e autoritária. Apesar disto, Fernanda sempre intervinha a
favor do filho nas brigas em família, fazendo chantagem para acabar com as
discussões. “Vão me levar para o hospital, tenho pressão alta”. Celso tentava
colocar limites para os filhos, mas sentia-se impotente com seu insucesso e
excluído do lugar de “chefe” da família. Amanda, também era descrita como
briguenta, sua relação com o irmão não era amistosa. Contaram um episódio,
no qual Hugo tentou enforcar a irmã num momento de raiva, se desculpando
posteriormente. Celso só soube do fato durante as sessões, mostrando-se
bastante contrariado por ninguém ter lhe contado. Outro aspecto significativo da
dinâmica familiar, era a aparente insatisfação de todos, principalmente de
Fernanda, diante de alguma atitude amadurecida de Amanda. Qualquer
comportamento, que aludisse a uma individualidade ou independência de
Amanda, era desqualificado. Quando ela manifestou sua pretensão em morar
sozinha aos 25 anos, os pais ficaram mobilizados com a declaração. Sempre
que falava do crescimento dos filhos, Fernanda chorava, possivelmente porque
o crescimento representava a perda de controle dos filhos”.
ANÁLISE
A paciente Fernanda solicitou atendimento com uma psicopedagoga para sua filha,
inicialmente portadora de dislexia, tal indicação foi feita pela escola da mesma, pois
a criança apresentava problemas de aprendizagem.
A procura inicial de Fernanda pelo atendimento, queixando-se dos problemas de
aprendizagem que acompanhavam sua filha revela-se, como a parte resultante de
um todo onde havia um contexto familiar conturbado e conflituoso. O todo, se
configura como um fato fenomenológico global, que fornece subsídios para que os
fenômenos sejam compreendidos criando e dando consciência de sua natureza
intrínseca (Ribeiro, 2012).
Na primeira sessão apenas a mãe e a filha compareceram à entrevista, com a
queixa constante da mãe sobre o comportamento inadequado de sua filha que
apresentava-se imatura para sua idade, tendo dificuldades de relacionamentos na
escola, brincando apenas com crianças muito mais novas do que ela e com
brinquedos que não condizem mais com a sua idade. Durante esta entrevista, a mãe
relatou também a dificuldade de lidar com a morte de um tio-avô materno, cuja filha
ainda não havia superado.
O questionamento de Fernanda sobre sua filha ter comportamentos imaturos para
sua idade revela-se como a figura inserida em um fundo que resulta de uma
estrutura familiar conflitiva e confusa. Pois, segundo Ribeiro (2012), “A figura não é
uma parte isolada no fundo, ela existe no fundo e está no todo”. Figura e fundo,
portanto, estão em intrínseca relação onde um não pode ser separado do outro,
neste caso os sintomas da filha Amanda, portanto, revelam-se como uma figura
contendo um fundo muito mais complexo do que a queixa aparentemente
apresentada.
Na segunda entrevista o pai, Celso, compareceu juntamente com a esposa e a filha
Amanda. O terapeuta pode, então, perceber que o casal passou a relatar questões
conjugais e conflitos vivenciados por eles, retirando o foco da criança. Fernanda
relatou fazer uso de medicamentos para dormir sob orientação de um neurologista;
Celso revelou também ter feito psicoterapia devido fobias que sofria; o casal
demonstrou interesse em fazer uma terceira entrevista, porém sem a presença da
criança, oportunizando ao terapeuta investigar a fundo as questões conjugais e
familiares nas quais estava inserida a criança em questão.
Durante esta segunda entrevista, onde Fernanda revela que fazia uso de
medicamentos para dormir, sob prescrição de um neurologista, este comportamento
pode ser considerado como um comportamento molar, que se configura como ações
externas do indivíduo dentro de um contexto. Quando Celso por sua vez, revela ter
feito psicoterapia, pois era vítima de fobia, esta pode ser considerada um sintoma, e
então, como uma parte no todo.
Durante a terceira entrevista, o casal descreveu o contexto familiar a que pertencia
Amanda, possuindo uma história ocorrida inicialmente de forma tranquila e
harmônica, onde Celso passara oito anos apaixonado por Fernanda sem que esta
soubesse, até que ficaram noivos e depois de algum tempo se casaram, porém a
história até então comum, deu lugar à um casamento conflituoso, pois após 3 anos
do nascimento de Amanda, Celso passou a viver uma relação extra conjugal sem o
conhecimento de sua esposa, sendo assim, grandes conflitos foram vivenciados por
eles e crises conjugais motivadas pelas traições por parte do marido contra sua
esposa que sentia-se culpada e responsável pelos fatos ocorridos, enquanto Celso
apresentava-se arrependido. O fato ocorrido na época culminou em uma quase
separação do casal, em que Celso chegou arrumar as malas para sair de casa, pois
Fernanda e o filho do casal, chamado Hugo, o incitavam a deixar a família e arrumar
outra pessoa, pois o mesmo sentia-se insatisfeito com a vida sexual do casal.
Fernanda descreve também as recordações que tem de quando criança, onde um
tio lhe acariciava os peitos, mas afirma não ter certeza se as memórias são frutos da
sua imaginação ou realidade.
Durante estes relatos sobre crises conjugais vivenciadas pelo casal, nota-se que as
lembranças vivenciadas pelos mesmos ao serem pronunciadas e trazidas à
memória pelo casal provocam sentimentos de arrependimento, tristeza, culpa e
irresponsabilidade. Esses sentimentos representam o aqui-agora dessas lembranças
passadas, e também podem se configurar como comportamentos molares. O
comportamento molar é um processo que ocorre no organismo interno e se
complementa com o comportamento molecular que são ações externas do indivíduo
no ambiente dentro de um contexto (Ribeiro, 2012).
O casal relata que parte dos problemas conjugais são resultantes da insatisfação de
Celso com a vida sexual dos dois, onde o mesmo relata até rejeição por parte de
sua esposa; este comportamento de Fernanda configura-se como comportamento
molar. Já a mesma, relata ter sofrido supostos assédios sexuais enquanto criança, o
que poderia ter resultado no então desinteresse da mesma pela vida sexual com o
marido, este sentimento de Fernanda pode ser resultado do aqui agora de um fato
vivenciado no passado.
O filho do casal, é descrito como uma pessoa chata, implicante, autoritária; vivendo
em constante conflitos com seu pai e sua irmã, onde chegou a enforcar Amanda em
uma determinada discussão, todos estes comportamentos do filho, podem ser
considerados como comportamentos molares. Porém o comportamento de Fernanda
quanto ao filho era de defesa, sempre intervindo em favor do filho fazendo
chantagens. Este comportamento molar de Fernanda, retirava de Celso autoridade
enquanto pai, fazendo ele se sentir excluído do lugar de chefia da família.
O casal descreve o convívio familiar como conflituoso pelas constantes brigas entre
Celso e seu filho Hugo, que produziam muita agressividade e gritos um com o outro.
Esta percepção do casal pode ser configurada como o meio comportamental, o que
é a interpretação própria e a percepção do paciente sobre o meio em que está
inserido (Ribeiro, 2012).
Amanda por sua vez, também era descrita como uma pessoa briguenta e qualquer
atitude amadurecida por parte dela provocava insatisfação por parte da família,
principalmente quando declarava seu desejo de ir morar sozinha aos 25 anos. O
crescimento dos filhos para Fernanda era motivo de insegurança, pois representava
a perda de controle sobre os mesmos.
Foi observado pelo terapeuta, portanto, que todo e qualquer comportamento de
Amanda que emitisse a uma atitude de uma pessoa amadurecida, independente era
desaprovada pelos membros da família, neste sentido a mesma se mantinha em um
lugar de submissão generalizada e absorção dos conflitos familiares em que estava
inserida. Sendo assim, seus problemas de aprendizagem e relacionamento
revelam-se como figura de um fundo que contém um ambiente familiar muito
conturbado.
REFERÊNCIAS

RIBEIRO, J.P., Gestalt-terapia: Refazendo um caminho. 8° ed. São Paulo: Summus,


2012.

Você também pode gostar