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In (fidelidade)- A relação conjugal diante da infidelidade

do marido

Orientanda: Fernanda Moraes Antunes


Orientadora: Claudia Ferreira Melo Rodrigues

O presente estágio Supervisionado IV, foi realizado pela graduanda do sétimo período
de Psicologia, da Faculdade Pitágoras/ Unidade Divinópolis-MG. O Estágio Básico IV-
Intervenções Grupais e Individuais em Contextos Específicos, foi realizado na clínica escola,
com orientação psicanalítica supervisionado pela professora Claudia Ferreira Melo Rodrigues.

Este estágio, tem como objetivo proporcionar, uma vivência real das teorias estudadas
em sala de aula, usando a abordagem citada como base. As graduandas do curso neste estágio
buscam acolher os pacientes, e procuram entender as queixas trazidas. A supervisão era dada
semanalmente, trabalhando as demandas trazidas pelas graduandas, as direcionando, no
intuito de faze-las compreender as práticas de acordo com o acolhimento relatado pelas
mesmas. Para Carvalho (2006):

As intervenções que me contam ter feito durante as


sessões com seus pacientes fazem pensar que esses supervisandos parecem
mais preocupados em encaixar a teoria de qualquer modo, ali, do que
realmente em ouvir, e é como se estivessem tomados por uma rigidez que se
assemelha muito às publicações estereotipadas que mencionei. (Carvalho,
2006, p. 01)
Esse texto se funda a partir dos relatos da paciente que aqui a chamaremos de Rosa, no
intuito de preservar sua identidade. A queixa principal da paciente era o relacionamento
extraconjugal do seu esposo. Para Alvarenga (1996) “o parceiro de um laço conjugal será
objeto de amor quando a relação estabelecida inclui alteridade, ou objeto de paixão quando
pouco importa sua existência como sujeito”.

Rosa, 39 anos entrou na sala para ser acolhida pelas estagiárias, que após anotarem
seus dados perguntaram o que a trazia até a clínica escola. Sem delongas Rosa falou das suas
perdas durante esses últimos 4 quatro anos; seu pai (morte natural), seus 2 irmãos
(assassinados) e agora seu esposo que o traía e tinha um filho com a amante.

Para Quinet (2009):

O amor é o efeito da transferência, mas efeito sob o aspecto de


resistência ao desejo como desejo do Outro. Ao surgimento do desejo,
sob a forma de questão, o analisante responde com amor; cabe ao
analista fazer surgir nessa demanda a dimensão do desejo, que é também
conectado ao estabelecimento do sujeito suposto saber. Este corresponde,
condicionando-o, a um sujeito suposto desejar. (Quinet, 2009, p. 29)
Podemos compreender que diante da sua fala, mesmo seu marido estando vivo e
convivendo com ela dentro de casa, havia um rompimento, um vazio diante daquela relação
em que viviam. Seu marido não havia apenas a traído, teria sido infiel, pois registrava as
escondidas o filho que tivera com a amante.

Sua volúpia por se desfazer do Sintomal era imensa, que Rosa se emocionou naquele
momento ao contar suas angustias e aflições diante do relacionamento com seu cônjuge.
Inconscientemente vivemos buscando no outro amparo emocional, para Alvarenga (1996),
essa busca é um suporte do próprio narcisismo, por vez, no caso da Rosa, defrontando-se com
as demandas desconhecidas da castração.

Casada há 21 anos e 2 filhos frutos desta relação, para Rosa o casamento religioso se
constituía como busca a solução dos problemas, sendo este inabalável, levando ao pé da letra
a frase até que morte nos separe. Alvarenga (1996) “afirma que todo laço social é marcado
por uma tensão, um mal-estar”. Rosa estava presa a este laço social, vivendo sua infelicidade
diariamente por causa do seu marido infiel. Ainda assim, mantinha relação sexual com o
marido, e que passara pra Rosa DST.

O encontro entre duas pessoas jamais foi estratégia simples para as culturas
na história da humanidade. No cenário contemporâneo, a palavra
“casamento” e os discursos inflamados, ancorados nas doutrinas religiosas
ou morais, asseveram que o casamento é uma união divina, suprema, que
promove a procriação e, dessa forma, a família. (Melo et al., 2014, p. 2)
Rosa não sofria nenhum tipo de ameaça verbal ou física, mas emocional, pois seu
cônjuge vivenciava o gozo ao locomover entre sua família e amigos que sabiam da relação
extraconjugal e filho que era resultado deste relacionamento. Ela gozava em seu sofrimento.
Tinha o apoio de seus filhos para qualquer decisão que tomasse.

Apesar de se sentir incomodada com a situação, Rosa não conseguia resolver se queria
findar a relação ou continuar da forma que já estava. Por isso estava buscando por ajuda.
Segundo Freud (1930), os impasses da relação provem através do outro, entre duas forças.

...Eros, movimentando-se no sentido de criar e manter laços sociais e


Tanatos, movimentos primários no sentido de desligamento. É no entanto,
este movimento de obstáculo ao vinculo que possibilita o estabelecimento de
diferenças, impedindo que o sujeito se perca no outro. Se para não adoecer, é
necessário investir o objeto, o excesso de vinculo acaba por apagar as
diferenças. (Alvarenga, 1996, p. 25)
Rosa estava vivendo incessantemente entre Eros e Tanatos, pois ao mesmo tempo que
queria manter os laços sociais, queria também criar coragem para se desvencilhar deste
relacionamento, que tanto trazia sofrimento para ela e seus filhos, vivendo a pulsão de vida e
de morte.

Após a morte de seu pai, sua mãe foi morar com Rosa e sua família. Sua mãe era
omissa a situação. Rosa relatou que sua mãe passava pela mesma situação com seu pai,
através desta figura materna, Rosa tinha um modelo de relação do que era o amor pra ela.

Com a perda de seu pai, Rosa também perde a figura de lei. E agora o homem em que
poderia tornar para ela a figura do nome-do-pai, estava vivendo outra relação afetiva.

Freud ressalta que a identificação ao pai corresponde ao que se articula no


complexo de Édipo, em que a lei do pai é incorporada. A identificação ao
traço corresponde à apropriação de um elemento, um traço de outrem, e da
utilização desse traço como próprio. (Melo et al., 2014, p. 3)

Rosa assistia sua família fragmentando, primeiro com a perda dos seus entes, agora
com a ausência de seu marido de forma física e emocional. Ela era uma pessoa instruída por
formação, mas nesta perspectiva tinha dificuldade para lidar com seus sentimentos. Segundo
Alvarenga (1996), “uma relação passional não apenas anula as diferenças como também anula
o outro sujeito”. Rosa estava deixando de viver sua vida, não passeava, nem festejava sua
conquista para viver em prol deste grande Outrem.

Melo et al. (2014) “a busca de amor e de felicidade ganha ênfase nas relações afetivas
existentes na contemporaneidade. Assim, faz-se de tudo pela busca de satisfação, e os afetos
recebem o estatuto de mercadoria. Numa sociedade em que o imperativo é “goze!”

Estamos sempre em busca da aprovação do desejo do grande outro, para nos


realizarmos de forma prazerosa, mesmo que isso custe a própria felicidade. Ela tinha uma
família ideal na sua mente, mas a família real que a possuía estava bem distante da sua
idealização. Mas como transformar sua queixa em apenas pequenas demandas? Como
entender que o homem que agora ocupava a figura de lei não estava disponível? Mas ninguém
poderia falar por ela, Rosa tinha que falar para se ouvir, e então poder tomar sua decisão:
recomeçar com ou sem o seu marido.
Referências:

ALVARENGA, L. L. Uma leitura psicanalítica do laço conjugal. In: FERES-CARNEIRO,


T. (Org.). Relação amorosa, casamento, separação e terapia de casal. Rio de Janeiro:
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia, 1996. (Coletâneas da
Anpepp n. 1). 

CARVALHO, A.C. O oficio do Psicanalista. In. Revista de Psicanalise Percurso. Ano XIX,
nº37, 2º Semestre, 2006. Editor Santuário: São Paulo.

MELO, Cláudia Ferreira et al . Vou pedir sua mão... mas o que eu faço com ela?:
Conjugalidade e psicanálise. Reverso, Belo Horizonte, v. 36, n. 68, p. 27-31, dez. 2014.
Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
73952014000200004 acessos em 14 de novembro de 2022.

QUINET, Antônio. As 4+1 condições da análise. 12. ed. -Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2009

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