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O amor romântico
Provavelmente, você já ouviu falar de Romeu e Julieta, o casal que ficou eternizado
por não conseguir viver seu grande amor e ser tragicamente separado pela morte. Em
Titanic, o amor entre Jack e Rose também vive apenas na imaginação e nas
lembranças. A ideia de amor romântico – que vemos em filmes, livros, músicas e até
mesmo em publicidade, com a famosa família de margarina – estabelece relações
amorosas entre dois parceiros que se complementam em todos os aspectos, tornando-se
um só e vivendo “felizes para sempre” ou “até que a morte os separe”.
No entanto, a reprodução desses valores e princípios influencia a concepção
individual sobre o que de fato é uma relação amorosa, resultando em um processo de
idealização dessa experiência. Nesse sentido, como não buscar uma relação perfeita
recebendo tantos estímulos?
Gabriel e Eloana estão casados há 5 anos e tem uma filha de dois anos, Maria Flor.
| Foto: Fábio Caffé (SGCOM/UFRJ)
A engenheira naval Eloana Barreto e o professor e b-boy Gabriel Barreto estão
casados há 5 anos e afirmam com veemência que não são uma família de margarina,
pois acreditam que esse conceito não existe. Numa trajetória que pode parecer
perfeita para muitos, o casal fez todo o processo tradicional: namoro, noivado,
casamento com festa. Hoje, tem uma filha de dois anos: Maria Flor, resultado da
união. Ainda assim, apesar das fotos de família perfeita nas redes sociais, Gabriel
defende que ninguém sabe o que acontece quando a câmera desliga. “Isso aqui é a
vida real. As pessoas criam inspiração no casal perfeito, mas é preciso ver poesia
no dia a dia. Não é fácil, mas gosto de estar aqui, apesar de tudo”.
Para Eloana, é uma questão de escolha. Ela admite que não é fácil dividir todas as
demandas de uma casa e da filha e ainda manter a relação entre os dois. Mas, apesar
dos desafios da relação conjugal, a engenheira afirma que essa sempre foi a sua
opção de vida. “A lógica do ‘se não der certo, acaba’ faz com que tudo passe a ser
descartável, quando muitos casos podem ser resolvidos no diálogo. Isso pode
acontecer, mas não é o que rege a relação. Casamento é difícil, mas não existe
outra vida pra mim agora. É uma escolha”, confirma.
Ras e Elisa vivem uma relação não monogâmica há dois anos. | Foto: Fábio Caffé
(SGCOM/UFRJ)
É o caso do massoterapeuta Ras Yohaness e da estudante de fisioterapia Elisa
Guimarães. Eles se relacionam ao mesmo tempo com uma outra pessoa X, que não se
sentiu confortável para participar da entrevista e das fotos. Ras e Elisa estão
juntos há quase dois anos, residem no mesmo espaço há quase um e, além dessa
relação de poliamor, eles ainda têm outras relações paralelas – o que é conversado
explicitamente e sem tabus. Para eles, essa é uma maneira de não anular os próprios
desejos para caber dentro de uma relação para que não se estabeleça uma ideia de
posse.
Sem nomear a relação, eles se afastam do que as pessoas chamariam de casamento: “O
que legitima o relacionamento é a afetividade, e o amor não é uma coisa rígida. As
afetividades são diferentes: não dá pra comparar pais, filhos, amores”, explica
Ras. Já Elisa não acha possível que o mesmo afeto intenso seja mantido por um longo
período sem que haja interesse por nenhuma outra pessoa. Por isso, enxergou sentido
nas relações não monogâmicas: “Essa forma de se relacionar não é falta de amor,
inclusive supre a nossa necessidade de afeto”.