Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
medida
REFLEXÕES PARA RELAÇÕES SAUDÁVEIS
Desculpa começar esse livro metendo o pé na porta, mas é que o amor como ele é
narrado, descrito, imaginado por aí não existe. O amor, amor mesmo, de verdade, é algo
O AMOR É muito diferente daquilo que nós aprendemos que ele deveria ser.
Observe bem nas novelas o quanto o mocinho e a mocinha sofrem até conseguirem finalmente ficar
juntos. Nos filmes da disney, quantos obstáculos se colocam entre o mocinho e a mocinha até que
eles alcancem o felizes para sempre?
A partir dessa lógica, quanto mais sofrimento e dificuldade nós conseguimos suportar e enfrentar "em
nome do amor", mais atestamos sua intensidade e profundidade para nós mesmos e para o mundo.
Na nossa sociedade o conceito de amor está completamente linkado com o de meritocracia: para ser
amado você tem que fazer por merecer. Ser amado é uma questão de performance.
Você consegue perceber como essa lógica nos empurra para a busca pela experiência errada? No fim,
acabamos saindo em busca de dinâmicas que nos causarão dor e sofrimento porque é através deles
que medimos o que acreditamos ser amor - mas na verdade não é. Achamos que o amor é o pote de
ouro no fim do arco-íris nada colorido do sofrimento.
Mas como você pode escolher as "certas" se você só aprendeu a medir se está
acertando ou não nas suas escolhas a partir de referências distorcidas do que é o
amor?
Como você pode suportar uma relação segura, madura, estável, consistente se, de
acordo com o que você aprendeu, amor é uma recompensa à sua capacidade de
suportar o oposto de tudo isso?
Se não dá frio na barriga você acha que não é amor. Se não te deixa eufórica não é
amor. Se não te deixa pensando obsessivamente na pessoa, não é amor. Se não
esquivo, fugidio, volátil, não é amor.
Assim é o amor. Quando você pensa em alguém que seria um "parceiro ideal" pra você, você
coloca características físicas, comportamentais, valores, princípios etc. Mas a questão é que o
"parceiro ideal" é muito mais do que um parceiro com determinadas características. Ele é uma
experiência que você idealiza viver. Ele é os sentimentos que você espera que sejam despertados
em você a partir não só da interação direta com ele, mas do simples fato de saber que ele existe
na sua vida. Ele é o colorido que você espera que sua vida ganhe a partir do surgimento dele.
Essas idealizações que nós criamos, esses sonhos e desejos, são construídos a partir de uma
narrativa coletiva dos ideais do amor romântico. Vamos ver alguns deles?
Ele também nos conta que no dia que encontrarmos essa pessoa o amor será uma
coisa avassaladora e inescapável. Que ele se instalará de maneira súbita e sem
qualquer esforço. Será um "encontro de almas" e não uma construção.
Essa é uma idealização que fomenta a impulsividade, a ideia do amor como mera
sensação, sem qualquer processo racional envolvido. É a partir dessa idealização que
surge a romantização da impulsividade nos relacionamentos que hoje aparece no
discurso do "sou intenso", "só sei mergulhar de cabeça", ou seja, "não sei construir".
Bom, eu não sei você, mas posso lhe garantir que a maioria das pessoas sim. A
relação amor x sacrifício está amplamente naturalizada e serve como ferramenta
de dominação para manter inúmeras pessoas presas em dinâmicas abusivas e/ou
que as machucam profundamente.
Esse mito incute em nós a ideia de que se gente se esforçar o bastante para
consertar aquela relação/pessoa "quebrada"nós seremos recompensados coma
transformação da pessoa/relação e com amor incondicional e eterno, E que se não
conseguimos alcançar essa experiência ainda é porque não estamos nos
esforçando o bastante.
Quantas vezes você já esteve numa relação aceitando migalhas, sofrendo abusos
dos mais diversos, aceitando muito menos do que merecia, se sentindo solitária e
tudo que você conseguia pensar era que se você tentasse mais um pouco, se você
mudasse determinada coisa, se você tivesse mais paciência ou se esforçasse mais
as coisas mudariam? Esse é o mito da onipotência do amor.
Não é verdade que amor é algo que nos coloca em sofrimento. Não é verdade que o amor é
uma recompensa por auto sacrifício. Não é verdade que amar é acreditar até o limite da
A MEDIDA
nossa saúde física e emocional que se a gente se esforçar mais ou for mais paciente as coisas
irão melhorar.
DO AMOR É lógico que a dor faz parte da vida. Frustrações atravessam toda a experiência humana, mas
existe um limite entre o que é funcional e disfuncional. Essa linha pode ser muito tênue.
Relações que vivem "entre o céu e o inferno" são naturalizadas e romantizadas o tempo
inteiro pela mídia: novelas, músicas, filmes. Mas não há nada de normal nessa dinâmica.
Precisamos aprender a suportar o amor estável, maduro e pacífico. Aos olhos da cultura esse
tipo de relação é morna, tediosa. Mas é exatamente com isso que amor funcional se parece.
Não confunda amor com stress crônico
"Tudo demais é sobra" é o que minha mãe me diz desde que me entendo
por gente. E isso vale também para o amor. O amor caracterizado por um
estado ansioso crônico, pela inconstância e instabilidade, desencadeia na
gente uma modulação hormonal e neuroquímica perigosa. Viver entre
extremos é viciante. Uma vida inteira aprendendo que amar é estar o
tempo inteiro mergulhados em sensações extremas nos dessensibiliza para
experiências mais amenas e controladas. É assim que quando nosso
coração não está mais palpitando, quando não estamos nos sentindo
eufóricas, com frio na barriga começamos a duvidar se ainda gostamos de
alguém.
O amor maduro é terno. Ele é tranquilo e pontualmente é atravessados por
picos ou vales e não o contrário.
Então a ilusão de que você conseguirá encontrar uma relação em que você se sinta
100% segura só vai te conduzir à busca por mais um ideal inalcançável que lhe trará
sofrimento - que é justamente o que você está tentando evitar quando tenta
controlar as coisas.
Por outro lado, enquanto adultos e sujeitos dispostos a tomar consciência para viver uma
vida mais plena e satisfatória, não podemos ficar paralisados no vitimismo de "ah, mas a
sociedade me fez assim e agora eu sofro por isso e não posso fazer nada porque sou uma
vítima de uma cultura cruel".
Nosso papel é assumirmos responsabilidade por quem somos e por desejamos nos tornar.
A mudança é possível e está disponível para todos em qualquer ponto da vida. E você
assume essa responsabilidade pela sua mudança quando investe em autoconhecimento,
quando faz terapia, faz cursos que possam te ajudar a compreender e nomear melhor o
que acontece nas suas relações, em grupos terapêuticos em que você pode ouvir outras
histórias e aprender com elas.
Estar consumindo conteúdos como esse daqui já lhe dá recursos para algum nível de
reflexão sobre si, seus comportamentos e suas escolhas para que você possa mudar.
Por Lorena Muniz - @sexoamorepsique
Por Lorena Muniz - @sexoamorepsique
Seria ótimo se quando a gente precisasse de uma mudança na nossa vida o contexto
em que estamos inseridas mudasse para facilitar nosso processo. Acontece que isso
A VIDA É não é possível. A vida não se dobra para caber no que vai ser melhor para cada um de
nós.
FEITA DE
ESCOLHAS
Então cabe a nós, individualmente, fazer escolhas e assumir compromissos com nós
mesmas em relação ao projeto de vida que queremos viver.
E se essa vida que você quer viver é uma vida com relações saudáveis, diferentes das
que você vive, não há atalhos. Você vai sim precisar investir tempo, atenção, energia e
até muitas vezes dinheiro - fazendo terapia e cursos - para conseguir se tornar a versão
de si que você deseja. A pergunta é: você está disposta?
Por onde começar?
Hoje você tem acesso a muito conteúdo de qualidade na internet. Você só precisa saber
procurar. São conteúdos menos motivacionais e mais reflexivos. Que tenham uma
construção lógica e filosófica que lhe dê recursos para pensar a si e ao seu contexto.
@sexoamorepsique