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LIVRO DIGITAL
SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
LIVRO DIGITAL
SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
SUMÁRIO
Introdução...................................................................................1
O que é o amor .........................................................................3
Sobre a paixão............................................................................10
O que são os traumas..............................................................14
Por que repetimos....................................................................19
A transferência.........................................................................22
A dinâmica da patologia nos relacionamentos............26
O amor é construção, repetição é sintoma....................34
O que buscamos em um amor...........................................37
O amor e sua relação com o sofrimento.........................41
Saindo da fantasia e construindo um amor real..........44
LIVRO DIGITAL
SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
Introdução
2
SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
O que é o Amor?
9
Sobre a paixão
A simbiose com a mãe se assemelha
ao apaixonamento adulto, em que
acreditamos que somos um só com o
nosso objeto de amor, portanto,
completos e seguros de que nossos
desejos serão totalmente satisfeitos.
Então o bebê precisa lidar com a falta!
Num momento em que a mãe começa a
se distanciar do bebê por ter seus próprio
afazeres, seu trabalho, sua rotina ou até
mesmo pela entrada do pai que marca a
divisão dessa atenção materna, então o
bebê passa a não ser mais atendido
instantaneamente e sente essa demora
da mãe em responder as suas demandas
e satisfazer seu desejo. E são nessas
ausências da mãe que o bebê começa a
perceber que ela é um objeto distinto
dele, o que signifaca que a mãe deseja
outras coisas para além dele próprio.
10
A ausência da mãe é a prova de sua
existência enquanto pessoa, já que antes o
bebê a sentia como parte dele mesmo.
Sentir que algo falta dói, mas ao mesmo
tempo constitui, porque é na falta da
mãe que o bebê consegue direcionar
sentimentos para ela e se desenvolver a
fim de conquistar sua atenção. A relação
entre mãe e bebê precisa ultrapassar o
ódio e dar lugar ao amor que é capaz de
lidar com a falta. Toda essa relação é o
que nos dá base enquanto adultos para
reconhecer os erros e defeitos do outro,
vendo-o como alguém distinto, com
pensamentos, opiniões, gostos e desejos
diferentes dos nossos, e apesar disso,
sustentar a escolha de ficar e constituir
algo que seja bom para os dois. Talvez
essa seja uma ótima definição de amor.
Um amor apesar da falta e não para
suprir o que me falta!
11
A completude está ligada à estagnação,
pois se a mãe continuasse "adivinhando"
todos os desejos do bebê ele não
precisaria se desenvolver para desejar
por conta própria e aprender a
comunicar isso. Dessa mesma forma, a
falta e a ausência precisam fazer parte de
uma relação saudável para que exista
desenvolvimento e troca. É preciso
discordar do outro para se lembrar que
vocês não são a mesma pessoa. Vimos
que a falta é necessária para a
constituição e que a ausência da mãe é
extremamente importante para nosso
desenvolvimento e nossa capacidade de
lidar com as frustrações. E aqui
percebemos traços de imaturidade
emocional, alguém que se fixou em
demandas infantis de nutrição,
exigências a mãe, uma demanda de que
o mundo precisa ser como eu quero!
12
Ficar apenas na fase do apaixonamento
significa não ultrapassar a relação
arcaica com a mãe e não conseguir
reconhece-la como um objeto distinto
capaz de sobreviver sem você. Muitas
pessoas permanecem na fantasia de que
o outro não sobrevive sem elas ou que
não são capazes de sobreviver sem o
outro e em suas fantasias tentam negar a
sua individualidade, pois não querem
desejar por si próprios e ter que lidar
com a sua impotência. Quando essa
pessoa se depara com a falta e a realidade
de que o outro não estará o tempo
inteiro a sua disposição ela se frustra e
termina o relacionamento para se livrar
das angústias de ter que decidir, escolher
e etc. E leve, por ter se livrado da
angústia de ser castrado ,novamente vai
em busca daquele que em sua fantasia,
possa adivinhar seus mais íntimos
desejos.
13
O ciclo se repete, pois essa pessoa não
consegue apenas lidar com a paixão e o
que ela representa.
14
SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
15
até as defesas infantis e assim lidar com
esse objeto de amor que nos ameaça
com comportamentos infantilizados
como: birra, choro, silêncio.... Nós
regredimos ao infantil fixado em nós. O
problema é que quando o infantil
aterrorizado e sem defesas necessárias
precisa lidar com o real, novamente
ficamos sem respostas e amedrontados
por atravessamentos de nossa fantasia.
Pois o infantil, para lidar com a
realidade, brinca, devaneia, fantasia um
estado ideal, no qual a resolução já
existe. Isso tira a autonomia do adulto
em nós, amadurecido, responsável por
si e agora com ferramentas suficientes
para resolver o que ainda aterroriza o
seu infantil. Ás vezes estamos fixados no
nosso passado, em conflitos mal
resolvidos, mal elaborados, traumas
arcaicos, inconscientes, mas que
influenciam totalmente todas as nossas
escolhas, inclusive as amorosas. 16
Com as compreensões que chegamos
até aqui, percebemos que o traumático
é algo do nosso infantil que não foi
possível de se elaborar e também
analisamos o quanto sair da simbiose
materna para o bebê, é um processo
muito intenso e gerador de traumas.
Mas quais traumas? Perder um lugar de
prazer, que é sempre muito doloroso e o
bebê como defesa alucina e mais tarde a
criança brinca para lidar com os
atravessamentos do real. Algumas
hipóteses podem ser explanadas sobre
como o bebê se sentiu ao perder essa
completude materna: culpa, abandono,
insuficiência, medo, rejeição, agressão e
quais foram as defesas utilizadas para
dar conta dessa angústia, negação,
triangulação, projeção, formação reativa
e etc... Existe um discurso inconsciente
que começa a ser construído, para
tentar responder a essa completude
perdida. 17
Mais tarde, outros fatores vivenciados
na infância podem influenciar
fortemente aquilo que se repete nas
relações amorosa, fatores como:
presenciar agressão dos pais, brigas,
traições, separação ou morte de um dos
genitores, a chegada de um irmão,
cobrança excessiva dos pais... Depende
de como essa criança vai simbolizar
esses eventos dentro dela. Tais
acontecimentos encontrarão eco no
registro traumático da perda da
completude materna e serão pensados
com aquelas mesmas defesas. Os
sentimentos de culpa, abandono,
rejeição e medo vão vir à tona e dar base
para como esses acontecimentos serão
vivenciado por essa criança, negando-o,
tentando suprimi-lo, se defendendo,
fugindo desse trauma. Toda vez que nos
sentimos vulneráveis diante do mundo,
de algo ou alguém, nós regredimos ao
18
infantil em nós. E o amor nos deixa
desnudos diante do outro, justamente
porque podemos, mesmo que em
fantasia, projetar aquilo que nos falta no
outro e assim, nos amar nele. Porque
amar alguém nos torna vulneráveis e
nesse processo as defesas são rebaixadas
e essas ameaças traumáticas vêm à tona.
Amor nos aproxima de nós mesmos, nos
mostra aquilo de mais oculto que existe
dentro de nós e assim, infantilizados e
sem reação novamente diante do
trauma, transferimos ao nosso eleito
objeto de amor a responsabilidade de
resolver por nós, esses traumas que
muitas vezes ainda estão desconhecidos
para nós mesmos. Percebe a atitude
infantil?
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SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
Porque repetimos?
21
Mas então o que fazer para sair desse
ciclo vicioso da repetição amorosa? Um
dos caminhos possíveis é saber como o
Amor foi compreendido por nós. Como
a gente sente, entende e compreende o
amor. O sentimento de se sentir amado
não é universal, por mais que exista uma
ideia generalista do que se busca em
um grande amor, se sentir amado é uma
aquisição singular, atravessada por
traumas, medos, angústias e inúmeras
outras fantasias vivenciadas na primeira
infância. Aprendemos o que é o amor
nos braços de nossa mãe, com o toque,
o olhar, o cheiro, o cuidado e etc... Mas
também aprendemos o que é falta,
medo, frustração, angústia, desespero,
perda de objeto e afins. E tudo isso
formam as fantasia, construindo em
nossa pisque um pedido que fazemos ao
outro quando o amamos. A nossa
demanda de Amor.
22
SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
A transferência
25
São questões que vamos nos aprofundar
nesse momento e que Freud chamou de
padrão estereotípico, maneiras de
relacionar que são vivenciados repetidas
vezes ao longo da vida. Ainda que a
maneira de se relacionar aparente ser
completamente nova com parceiros
diferentes, ela está marcada por essa
repetição que muitas vezes é
responsável pelas fantasias que dão
origem a conflitos ou até mesmo ao
término do relacionamento. Isso quer
dizer que uma relação saudável é capaz
de ser criativa e formular novas
roupagens para os conflitos e situações
inesperadas. Mas é preciso saber de si,
comunicar ao outro, se responsabilizar
pelos desejos.. Ser tocado pelo infantil
mas, tomar decisões enquanto adulto.
26
Quando o sujeito percebe que está em
uma repetição na sua vida amorosa e se
vê refém dela, pouco ele consegue fazer
sozinho, é capaz até de observar
padrões e fazer alguma associação com
sua infância, mas a mudança consiste
em olhar para as suas primeiras relações
amorosas e buscar trazer a tona os
traços inconscientes desse padrão. É
importante ressaltarmos aqui, que todo
esse mecanismo é inconsciente e o
processo terapêutico é uma das formas
de ter acesso a ele. Quando reconheço e
aceito o que sou, posso enfim ser
diferente.
27
SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
29
As repetições podem acontecer de
inúmeras formas, vou trazer alguns
exemplos para nos aprofundarmos e
conseguirmos pensar melhor essa
dinâmica.
Insatisfação
Existem pessoas que têm uma
demanda de amor muito marcada pela
atenção da mãe, então será justamente
isso que essa pessoa buscará no outro,
sua total atenção, então enquanto essa
pessoa está naquele período de
conquistar a atenção do outro, o olhar ,
o desejo, essa pessoa se sentirá muito
apaixonada, pois balizada pela sua
demanda de atenção, o foco está na
conquista e assim que consegue o que
quer cai na insatisfação e abandona o
parceiro. Porque o outro é apenas um
representante da atenção, do
30
olhar e amor que ainda está precisando
de uma elaboração dentro da psique
desse sujeito.
32
Interesse apenas por pessoas
comprometidas
Nesse tipo de dinâmica psíquica de
relacionamento a demanda inconsciente
de amor gravita em torno de uma
sensação de inexistência, em algum
momento essa primeira relação com o
objeto foi marcada por um sentimento
de "não existir", talvez por um trauma ou
uma falha na atenção transferida pela
mãe nos primeiros anos de vida, mas a
questão é que esse tipo de
funcionamento só permite a entrada da
relação por esse viés da invisibilidade, do
"ser escondido" que muitas vezes se
configura para o sujeito como um
sentimento de completude, como única
possibilidade de viabilizar o enlace
amoroso.
33
Nesse tipo de funcionamento é difícil
para o sujeito bancar um relacionamento
sério assumido para toda a sociedade, o
sujeito pode até ter uma relação desse
tipo, mas os deslizes com terceiros serão
constantemente uma saída para dar
conta de sua angústia.
34
Carência
Nesse tipo de demanda inconsciente
de amor existe uma exigência ao outro "
me satisfaça" pois o carente vive se
julgando incapaz de ser desejado. Isso
acontece porque não houve na infância o
sentimento de estar satisfeito,
principalmente na fase primária, talvez
houveram privações de afeto dos seus
cuidadores, em especial, da mãe. O
excesso de carinho e cuidado também
podem desencadear a carência afetiva.
Isto porque pessoas com muita
dependência dos pais tendem a sentir
que não são capazes de fazer nada
sozinhos, inclusive amar a si mesmos.
Como consequência, essas pessoas
condicionam sua felicidade aos outros e
vivem buscando segurança nos
relacionamentos, onde cobra-se o tempo
todo cuidado e atenção daqueles que
35
elegeu como objeto de amor. Nessa
busca constante de encontrar segurança
e proteção nos relacionamentos, o
carente busca sempre meios de
chantagear e se fazer de vítima,
tentando prender o seu afeto de forma
agressiva e perturbadora.
36
Em todas relações eu sempre sou
deixado(a)
Nesse tipo de funcionamento a
dinâmica inconsciente consiste na
fantasia de ser deixado(a), e as escolhas
de um objeto de amor vão levar essa
dinâmica como seu critério. O
rompimento da simbiose na primeira
infância se fixou como um sentimento
de abandono e é essa condição de
abandonado que o sujeito procura
"consertar", para tentar aplacar a
angústia de ter sido abandonado. A
grande questão aqui é triunfar sobre
esse abandono e depois procura-lo
novamente e repetir todo esse processo.
O triunfo, a superação, a volta por cima,
talvez possa dar conta de um
sentimento de angustia que mantém
todas as defesas sempre em alerta, a
espera de ser deixado.
37
A conquista é um lugar seguro, mas
entrar na relação é sempre muito
complicado, porque na fantasia se
oficializa a possibilidade de reviver o
abandono, então movimentos de
autossabotagem surgem para destruir
qualquer possibilidade dessa relação dar
certo. Complicado essa soma não é?
Nesse caso existe uma demanda de que
é possível consertar esse abandono
"reatar a simbiose e não perder mais
nada". Parece que é o outro que nos
abandona, mas temos um papel mesmo
que seja inconsciente, muito ativo em
todo esse processo.
38
A idealização do outro
Para nos apaixonar precisamos,
primeiramente, idealizar o outro. Pensar
que ele tem algo que nos é
imprescindível, ou seja, que não somos
capazes de viver sem. Isso porque o
apaixonamento se assemelha à nossa
primeira relação com a mãe, em que nos
sentimos totalmente acolhidos por sua
atenção e sua presença. A mãe é capaz
de supor o que o bebê deseja num
momento em que a linguagem se
resume ao toque e ao olhar. Essa
primeira sensação de ter um Outro
capaz de "adivinhar" nossos desejos e
satisfaze-los faz com que tenhamos a
experiência de completude que é
revivida sempre que nos apaixonamos.
Há algo da função materna presente na
paixão que nos faz idealizar o outro
como aquele capaz de nos completar e
39
esse outro realizar todos os nossos
desejo e demandas. Essa idealização não
é ruim, ela é necessária para nos fazer
criar laço com o outro e viver de forma
saudável, estamos sempre nos
apaixonando e idealizando tudo a nossa
volta em um primeiro momento: o
trabalho, a faculdade, nossos projetos.
Antes de colocar nosso planos em
prática nos apaixonamos por eles e os
idealizamos, até aí está tudo bem. O
problema reside no fato dessa paixão
não conseguir ser ultrapassada e dar
lugar a algo real. É necessário que
chegue um momento em que
troquemos o princípio do prazer pelo da
realidade. Tudo bem idealizarmos o
outro e ignorarmos seus defeitos a
princípio, mas após algum é importante
que essas ilusões acabem e que mesmo
reconhecendo o fato de que não irá
40
realizar seus desejos ou te completar,
você ainda se sinta disposta a continuar
essa relação e construir algo dentro do
que é realmente possível para ambos
enquanto pessoas já completas. Muitas
vezes cobramos o outro a partir de
fantasias que são nossas e que fazem
referência a um período arcaico de
nossa vida e se manifestam de forma
inconsciente como um fantasma.
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SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
O Amor é construção,
Repetição é sintoma
42
Percebe que sua forma de amar pode
estar sendo balizada por uma questão
mal resolvidas e muitas vezes as brigas,
términos e voltas infindáveis estão
associados a uma fantasia de triunfo
sobre o fantasma do abandono? O amor
não pode ser algo que suga todas as suas
energias, que demanda toda a sua vida,
que causa esgotamento. O amor é
construção e não repetição.
Então se existe algo que se repete em
suas relações, possivelmente são por
questões íntimas que tem atravessado e
talvez até ditado às regras em relação a
sua forma de amar, esse movimento além
de te prejudicar imensuravelmente causa
muito sofrimento às pessoas ao seu
redor, porque quem se relaciona com o
43
outro em um ciclo sem fim de repetições
não consegue de fato chegar a construção
do amor, fica apenas naquela zona do
apaixonamento, da idealização, porque é
ali que a luta na nossa fantasia é travada,
onde o outro nunca é visto como um ser
faltante, mas como um sujeito totalmente
perfeito, aquele que tem algo que talvez
falte em nós e que acreditamos que é nossa
metade. O amor trafega por outras vias,
mas para entendermos isso com mais
clareza precisamos compreender o que
nós buscamos no outro quando o amamos
ou nos permitimos ser amados por ele(a).
44
SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
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que possa novamente me dizer quem eu
sou e assim me fazer sentir novamente
um ser completo. Superar esse processo
é tão difícil que surge uma pergunta
fundamental que sustenta qualquer
relação de amor "quem eu preciso ser ou
fazer para ser amado”, como se houvesse
uma atuação, porque em nossa fantasia
talvez perdemos esse primeiro grande
objeto de amor por uma insuficiência
nossa, por isso ser apenas nós mesmos
parece nunca ser o bastante para manter
alguém nos amando. E nesse processo
infantil em nós, doamos ao outro aquilo
que não temos, aquilo que o outro nem
pediu por pura e intrínseca insegurança
então exigimos extremamente de nós e
também do nosso parceiro juras de amor
que são irreais e impossíveis.
46
Buscamos confirmações a todo o
momento, para tentarmos aplacar
dentro de nós essa falta que nos é
estrutural. Nossas relações são
atravessadas por inúmeras questões de
nossa fantasia, o "sentimento de
abandono" foi apenas um dos inúmeros
atravessamentos que nos faz fixar em
ciclos de repetições, se atente aquilo que
se repete como exigência nos seus
enlaces amorosos, pois se o amor exige
muito de nós, talvez exista uma exigência
para além do amor. E essas exigências
são inconscientes e buscam a resposta
para nossas feridas, traumas, medos,
inseguranças, todos os atravessamentos
da primeira infância e outras questões
que se somaram a essas ao longo de
nossa vida.
47
Percebe que exigimos do amor coisas
além do que ele pode nos oferecer? Por
isso algumas relações se tornam tão
pesadas e por mais que existe de fato um
sentimento genuíno pela outra pessoa,
existe também algo de pesado, denso que
nos coloca em uma posição de defesa,
exigência ou agressão diante do outro.
Vamos entender esse mecanismo melhor
no próximo capítulo.
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SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
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e se ver obrigado abandonar seu
narcisismo e investir no mundo externo,
mas as marcas deixadas por esse amor
supostamente completo são muito
fortes. Essas primeiras marcas são tão
fortes na psique que o parceiro
escolhido para reconstruirmos esses
laços de amor será avaliado a partir
desse modelo de relação ideal.
Encontrar alguém em nossa psique é um
reencontro, acreditamos que existe algo
que foi perdido e que um dia nos
completou. Amamos a partir dessas
marcas narcísicas que nos atravessaram
na primeira infância e para bancar esse
suposto retorno a um estado de
completude projetamos em nosso
parceiro justamente aquilo que nos
falta, numa tentativa fantasiosa de nos
completar.
50
No texto Introdução ao narcisismo de
1914, Freud explana sobre o narcisismo
como a base do amor. Amamos aquilo
que supomos que o outro tem e que
não temos, projetamos, em última
instância, aquilo que é importante para
nós mesmos. A grande questão é que
outro não pode ser responsável por
aquilo que supomos que ele tenha, essa
é uma fantasia catastrófica, fadada ao
fracasso. Vocês percebem o problema
de todo esse mecanismo? Precisamos
entender como as nossas fantasias de
um amor de completude nos atravessa.
Freud diz que a Psicanalise é a cura
pelo amor, sofremos porque amamos
errado, porque pensamos que só
podemos amar de um único jeito. E isso
nos marca e aprisiona em fantasias
muitas vezes autodestrutivas,
51
em repetições de relacionamentos
abusivos, abandonos, infidelidade,
términos infindáveis, perca de desejo,
baixa autoestima, carência, dependência
emocional, enfim as fantasias são
inúmeras. Vocês percebem que muitas
vezes as pessoas não encontram paz em
seus relacionamentos porque existem
outras demandas inconscientes que são
muito mais fortes e importantes que o
desejo da própria pessoa de viver um
amor tranquilo? O sofrimento no amor
está relacionado a idealização do outro,
de alguém que irá nos completar.
Diferentes dos animais que não possuem
a razão, nós sabemos que existimos, e por
saber disso sofremos com inseguranças,
perdas, medos, com a castração da
realidade e buscamos incansavelmente
um sentido para "existir".
52
Um amor construído dia após dia no
real, alinhando duas vidas diferentes e
singulares que decidiram caminhar
juntas e, assim, dividem as questões
complexas do existir e não exigem que o
outro seja o sentido da vida, pois isso
além de impossível acaba anulando
ambas singularidades. O sofrimento é
inerente a humanidade, uma relação
tranquila pode ser aquilo que trará algum
alívio a existência, mas se a tornarmos o
sentido da vida, ela será prisão.
53
SOBRE O CICLO DA REPETIÇÃO AMOROSA
Saindo da fantasia e
construindo um amor real
54
Vou elencar alguns pontos para auxiliar
vocês a se posicionarem diante da
repetição dando um sentido para essas
demandas.
55
2- Encontrando todas essas repetições é
preciso supera-las uma a uma e bancar a
angústia que virá diante da sua escolha de
não mais repetir aquela cena de demandas
passadas, fazendo isso você irá começar a
investir na realidade e provará para si
mesmo que é possível viver de outras formas
e inclusive se permitirá amar e se sentir
amada (o) a partir de outras possibilidades.
A gente repete porque temos medo de fazer
diferente, usar outras defesas, distintas das
que utilizamos na primeira infância e que
não deram conta de conter toda a
intensidade e desorganização psíquica que
nos atravessou, gerando uma fixação
traumática. Mas é tudo fantasia, e por ter o
corpo físico seu campo de batalhas dói
tanto, dá medo, sentimos ansiedade,
angústia, tristeza, ciúmes e etc... Mas como
conseguir superar uma a uma as repetições
após encontrá-las?
56
Uma possibilidade é a terapia psicológica,
com ajuda profissional esse caminho se
torna bem mais fácil. É preciso
desenvolver algumas habilidades
necessárias para lidar com seus traumas ,
desarmar algumas defesas dentro de você
e se permitir outros caminhos.
57
4- Com o passar dos dias, semanas e
meses, irá notar a diferença em sua
forma de se posicionar no mundo e isso
mudará não só as suas relações
amorosas, mas também suas relações de
trabalho e todas as áreas de sua vida,
porque o amor permeia tudo o que
fazemos. Quando deixamos de viver
uma vida de repetições, um horizonte
de possibilidades aparece em nossa
frente. Todos esses pontos são possíveis
de serem refletidos, mas eu reforço que
esse atravessando para algumas pessoas
pode ser bastante difícil e com a ajuda
de um profissional esse caminho pode
ser reduzido e atravessado de uma
forma mais leve e segura, outras
questões que emergirem desse processo
também podem ser trabalhadas e
ressignificadas de forma mais precisa
58
com a ajuda de um profissional, então
não tente resolver tudo sozinho, vá até
onde você consegue e se precisar de
ajuda, contate um profissional, sua
saúde mental deve ser sempre sua
prioridade. Espero que esse livro digital
ajude você a trilhar melhor esse
caminho intenso e por vezes obscuro
que são as relações humanos. Se
aproxime mais de vocês, dos seus
sentimentos, daquilo que aquece seus
corações, sua essência.
59
Se você gostou desse conteúdo te
convido para ouvir o meu podcast "A
invenção do amor" disponível em todas as
plataformas de streaming musical.
Lembrando que esse é um livro
introdutório e, apesar de tratarmos
questões profundas da constituição
humana seu objetivo não é ser um
manual de cura das repetições, mas se
propor a elucidar o motivo de suas
repetições em seus relacionamentos. Para
de fato tratar questões referentes aos
traumas no Amor, procure ajuda de um
profissional especialista nessa área de
estudo da psicologia.
andersonalvespsi@hotmail.com
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Referências bibliográficas: