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Resgate a sua Criança Interior
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Crianças amadas sabem que são valorizadas

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01/01/2016

Rosimeire Zago,

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O Resgate da Criança Interior

Muitas vezes, esquecemos de permitir que a maravilha e a beleza da vida


penetrem em nossos corações. No entanto, precisamos nos sentir mais leves e
soltar as partes mais rígidas do nosso ser para nos conectarmos com nossos reais
sentimentos, ou seja, com nossa Criança Interior.

Nesta entrevista ao Vya Estelar, num total de 28 perguntas, divididas em duas


partes, cada uma com 14 perguntas, a psicóloga Rosemeire Zago desvenda o
arquétipo (imagem do inconsciente) da Criança Interior, a sua importância e como
resgatá-la.

Vya Estelar: O que é a Criança Interior?

Rosemeire: Para a realidade psicológica, a criança é um símbolo, um meio para


expressar um fato psíquico. Para entender essa simbologia e toda esta entrevista,
sugiro que use suas faculdades intuitivas, mais do que as analíticas.

Ou seja, a criança representa todas as nossas lembranças da infância, nossas


emoções, nossos sonhos, é tudo que está abandonado. É um símbolo sempre
presente de nossas esperanças e possibilidades criativas.

A Criança Interior representa, assim, a totalidade na nossa psique (mente), a


renovação psicológica. É nossa parte genuína que vamos perdendo quando
adultos. É a parte que nos falta quando nos sentimos vazios internamente. Ela é o
ser, sentir, vivenciar, viver.
Vya Estelar: Qual é a importância em encontrar a Criança Interior?

Rosemeire: É a descoberta de nós mesmos. É importante entrar em contato com


a criança interior para vivenciarmos o processo de individuação, ou seja, o
crescimento. Entrar em contato com ela é renovar, expandir. Isso se dá quando
entramos em contato com nossos reais sentimentos, deixando as máscaras de
lado, e nos conscientizamos que temos o lado negativo, mas, também, o positivo.
Com isso vamos ao encontro de nosso verdadeiro self, ou seja, o "verdadeiro Eu".

É preciso amar primeiro nossa Criança, para, depois, amarmos outras pessoas e
recebermos amor. Do contrário, sempre serão relacionamentos doentes e
destrutivos, muitas vezes repetindo padrões da infância. Possuímos uma única
arma contra dificuldades internas, que é a descoberta emocional da verdade sobre
a história individual de nossa infância.

Hoje, o resgate da Criança Interior é o elemento mais importante do trabalho


terapêutico, pois oferece a esperança por que todos nós ansiamos. Ouvir essa
criança é essencial ao processo de tornar-se único. A necessidade de encontrar a
Criança Interior faz parte da jornada de todo ser humano que se encaminha na
direção do autoconhecimento e de sua totalidade. Ninguém teve uma infância
perfeita. Todos nós carregamos questões inconscientes que não foram resolvidas.
Sabemos que 80 a 95% das pessoas não receberam atenção adequada, então o
resgate da Criança Interior se torna a tarefa da maioria das pessoas.

Vya Estelar: Onde vive essa Criança Interior?

Rosemeire: Em nossas fantasias, devaneios, sonhos, desejos, imaginações,


intuições e, principalmente, em nossas emoções. Quando você chora, quem está
chorando é sua Criança abandonada, sozinha. Está presente também na parte de
nossa psique que vivencia a angústia e o sofrimento, como também quando você
brinca, tem prazer naquilo que faz. Quando você cria algo, também é sua Criança,
ela é nossa maior fonte de criatividade.

Vya Estelar: Todos nós temos essa Criança?

Rosemeire: Sim. Todos nós tivemos uma infância, feliz ou não.


A criança sobrevive dentro de nós e está aguardando o reconhecimento de sua
presença. Ainda existe uma criança viva em cada um de nós que continua
precisando de pai e mãe. E nós devemos nos tornar seu pai e sua mãe,
oferecendo à nossa própria Criança Interior a compreensão, amparo, carinho e
amor, que muitos não tiveram na infância; ou seja, alguém que suporte seu
sofrimento e suas angústias.

"Não são os traumas que sofremos na infância que nos tornam


emocionalmente doentes, mas a incapacidade de expressar esses
traumas". (Alice Miller)

Vya Estelar: Como perdemos essa Criança e quando?

Rosemeire: Por diversos motivos. Acontece mais ou menos assim: Falta de


demonstração de amor na infância, carência, dependência emocional,
necessidade de aprovação, querer agradar para ser aceito e amado, afasta-se de
quem é de verdade e a consequência é: angústia, crise e doença.

Perde-se o contato com a Criança quando não se sente permissão para expressar
sentimentos de tristeza, raiva, perda, frustração, sente que seus sentimentos não
importam, não se sente valorizado (a), amparado (a). Quando há abandono,
críticas, cobranças, comparações, humilhações, tudo aquilo que o faz afastar-se
de seus reais sentimentos e necessidades, ou seja, de quem realmente é,
transformando-se naquilo que querem que seja. Não importa o que faça, nunca
está certo. Nada do que diz, sente ou pensa está certo. É considerado o louco, o
bobo. O sentimento que ficará registrado é o da rejeição, do abandono. A Criança
Interior pode desaparecer com 5 anos.

Vya Estelar: Os pais são os culpados?

Rosemeire: Não, pois, na verdade, se eles não proporcionaram algo, é porque


eles também não tinham ‒ ou até precisavam tanto quanto a criança. Quando
falamos da maneira como os pais nos educaram, não estamos buscando
culpados, mas, sim, a origem de muitos conflitos para que haja uma compreensão
e posterior elaboração.

Vya Estelar: Quem é o autor dessa teoria?

Rosemeire: Carl Gustav Jung, psiquiatra suiço (1875-1961), que publicou o


ensaio A psicologia do Arquétipo da Criança em 1940. Tudo começou com ele
próprio resgatando lembranças da sua infância. Ele vivia sob o domínio de uma
pressão interna que o fez revisar toda sua vida. Ocorreu-lhe então uma
lembrança, carregada de afeto, em que estava com a idade de dez ou doze anos.
Lembrou-se de que, quando menino, gostava de brinquedos de construção,
fazendo casinhas e castelos, usando garrafas como suportes. Depois, usava
pedras naturais e terra. Essa lembrança emergiu acompanhada de muita emoção.
Perguntou-se como chegar a esse garoto. Percebeu que havia esquecido esse
jovenzinho, mas ficou evidente para ele que aquela criança continuava viva e
queria alguma coisa dele.

Brincar a sério

Pensou que só lhe restava uma forma de voltar àquele garoto e passou a se
entregar, sempre que o tempo o permitia, ao brinquedo de construção. Denominou
esta atividade de "brincar a sério". Isso ocorreu quando estava desesperado com
a perda de sua ligação com Freud e o rumo de sua vida profissional e pessoal.
Por intermédio desse "brincar a sério", entrou em contato com aquela sua criança
esquecida e abandonada e a trouxe de volta para sua vida. Podemos dizer que se
tornou a mãe perdida de sua própria criança triste. Através desse contato com a
Criança Interior, começou uma imensa onda de criatividade. Sempre que se sentia
bloqueado ou precisava criar algo, se entregava ao brincar. Esse momento
marcou um ponto crucial em seu destino. Na medida que conseguia traduzir as
imagens que se ocultavam nas emoções, sentia paz.

Vya Estelar: Qual o principal sintoma da desconexão interna com a


Criança?

Rosemeire: Carência. Toda criança precisa de aprovação. Quando não


consegue obtê-la, não tem outra escolha senão encontrar amor e aprovação junto
aos outros. Quando adultos, continuamos essa busca, é como se fosse a nossa
própria Criança buscando alguém que supra suas necessidades da infância. É um
vazio nunca preenchido, uma carência eterna.

Carência afetiva

Isso é carência afetiva: precisar de que os outros preencham um vazio enorme.


Na verdade, a pessoa se relaciona com outro buscando aquilo que ela não
consegue dar a si própria, se relaciona com a parte que falta dela mesma. Essa
carência é o reflexo de ausência dentro de si, que começa quando nos afastamos
dos nossos reais sentimentos.

Por isso as pessoas se sentem tão sozinhas, carentes, e assim mantêm


relacionamentos destrutivos, dependentes. É o resultado da desconexão com ela
mesma, ou seja, começa quando, para ser aceita, se afasta de seus sentimentos.
A conexão externa com os outros só poderá acontecer quando houver uma
conexão interna consigo mesma. Neste momento os relacionamentos serão muito
mais saudáveis, pois estarão baseados na troca, no crescimento mútuo e não nas
carências.

Desconexão e perda

A falta de conexão com a Criança Interior emerge de forma mais intensa em


momentos de perda, sofrimento e abandono intenso. É quando a pessoa se sente
perdida, abandonada, em desespero e profunda angústia. Acontece muito nos
casos de perdas em geral, por morte ou separação. Muitas pessoas buscam uma
relação de dependência desejando, ainda que inconscientemente, que o outro
cuide dela, a alimente. Se o outro não corresponde às suas necessidades ‒ ou
quando o outro se parte ‒ surge a decepção, frustração, desespero, pois perdeu o
referencial ao colocar sua vida na mão de outra pessoa, quando na verdade, o
referencial tem que estar dentro de si e acreditar que é capaz de cuidar de si
mesma.
O perfeccionismo e o medo de estar errado também são sintomas da desconexão,
pois desenvolve a necessidade de ser perfeito para ser aceito, fatos que ocorrem
muito no ambiente de trabalho.

"Em todo adulto espreita uma criança ‒ uma criança eterna, algo que
está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita
cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da
personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa".

(Jung)

Vya Estelar: Só perde a conexão com a criança interior em casos de


abandono na infância?

Rosemeire: Não, pois, mesmo quando a mãe ou o pai esteve presente, a criança
pode registrar o sentimento de abandono ‒ como em momentos em que não foi
ouvida ou que sentimentos não foram reconhecidos, em lares de brigas,
agressões, em famílias disfuncionais; ou seja, doentes emocionalmente. Podendo
resultar em dois aspectos principais:

► Profunda sensação de ausência pessoal de valor, achando-se sempre errada.


Quantos adultos não se sentem assim? Desenvolvem assim, uma enorme
necessidade de agradar, dificuldade em dizer não, como que para provarem (a si
mesma) que têm valor, são importantes.

► Sensação de culpa. Como registrou que não foi amada ‒ ou não o suficiente ‒
se culpa. São aquelas pessoas que desenvolvem o papel de vítima, "tudo é culpa
sua". Assim, apegam-se facilmente a qualquer objeto, pessoa, que represente
segurança (sexo, dinheiro, poder).

Vazio só é preenchido pelo amor próprio

A ausência pessoal de valor (baixa autoestima) e sentimentos de culpa resulta


geralmente no sentimento de inferioridade. Mas, na verdade, o que ocorre é que o
adulto nega tudo isso, seus sentimentos verdadeiros e carências, passando a
valorizar mais as conquistas externas, sempre "imaginado" que algo irá preencher
seu vazio, quando na verdade esse vazio só pode ser preenchido através do amor
próprio.

Vya Estelar: Há uma relação da educação da infância com a perda da


criança?

Rosemeire: Sim, pois, dependendo da maneira como fomos tratados, podemos


perder o contato com nossa criança.

Por exemplo, famílias que não falam nada do que acontece, sabe aqueles
sussurros das paredes? Nada influencia mais as crianças do que fatos silenciosos
que ficam só no fundo e ninguém pode falar sobre eles. Podem levar uma pessoa
à loucura, pois nunca se sabe o que está realmente acontecendo. Quando
relembram fatos, não conseguem ver nenhuma relação dos seus sentimentos com
as imagens registradas.

O que fica registrado na criança são os seus sentimentos da época.

O que sua casa sussurrava quando criança?


"Não há dinheiro suficiente".
"Você não é tão bonito, ou tão inteligente quanto seu irmão, prima".
As eternas comparações são um verdadeiro desastre na educação.
Ou ainda, "Você não sabe fazer nada, não presta para nada".
Ou a criança que vê a mãe chorando e ao perguntar o que houve, tem
como resposta: "nada".

Como confiar?

Como as crianças não entendem, recorrem ao que chamamos de "pensamento


mágico", ou seja, idealizam que tudo é ótimo, feliz. Quando adultos, passam a ter
muita dificuldade em entender o que houve. Mesmo que as palavras não sejam
ditas claramente, as mensagens são ouvidas na psique da criança com a clareza
como se cada palavra houvesse sido pronunciada.

Outro exemplo: se o pai espanca regularmente a mãe, que sentido tem para um
menino que sua mãe bata nele porque ele bate na irmã? Faz sentido dizerem que
ele não pode fazer isso? Quando somos pequenos, quase sempre, os pais são os
heróis.

Quando a criança se dá conta que seus pais nunca suportarão o que ela sente, ou
é muito criticada, ou ainda, se sente rejeitada, deixada de lado, ela desiste de ser
ela mesma e desenvolve o que chamamos de um "falso Eu", ou seja, começa a
ignorar seus sentimentos e ser da forma que acredita que será aceita. Com isso
se afasta de quem é realmente, originando o vazio, a busca pelo externo, a
carência, a necessidade de aprovação, reconhecimento, agradar, ser aceita.
Enfim, surge a necessidade visceral de amor. Esse processo geralmente só é
rompido e percebido através da psicoterapia.

Vya Estelar: Como evitar que isso ocorra, que orientações é possível dar
aos pais?

Rosemeire: O tempo e a qualidade que os pais dedicam às crianças indica para


elas o grau que eles as valorizam. A questão não é tanto o que os pais não lhes
dão, mas o que não lhes tiram, como sua capacidade de ser ela mesma,
expressar seus sentimentos. A melhor forma de uma pessoa se perder dela
mesma é ignorarem ou invalidarem o que ela sente. Quando somos pequenos,
não temos o benefício da comparação, discernimento; os pais são figuras divinas
aos olhos infantis. Quando eles fazem as coisas de determinada maneira, parece
para a criança pequena, que essa é a maneira como as coisas devem ser feitas.

Bem amadas!

As crianças amadas sabem que são valorizadas, e essa sensação de valor é


essencial à saúde mental. E quando uma pessoa se sente valiosa, ela cuidará de
si mesma, suprindo todas suas necessidades, como alguém cuida de algo de
valor. Ela não dependerá que outros a façam se sentir importante, pois ela saberá
disso. Não permitirá que a maltratem, não aceitará migalhas para ter um pouco de
atenção e amor.

A depressão e a Criança Interior

Vya Estelar: A depressão tem algo a ver com a perda da Criança?

Rosemeire: Acredito que sim. A depressão é causada pelo fato da criança ter que
se adaptar a um "falso Eu", abandonando seu Eu verdadeiro, o que cria um
sentimento de vazio. Se a depressão antes de tudo é um convite à introspecção,
olhar para dentro de si em busca de algo pode ser a oportunidade da pessoa
encontrar-se. Jung já dizia que a depressão pode ser concebida como um
mergulho no inconsciente, com o propósito de dar início a uma viagem pelo seu
próprio interior, ou seja, uma oportunidade para crescer, proporcionando e
aumentando seu autoconhecimento. E entrar em contato com sua Criança Interior
pode proporcionar esse encontro.

Não só a depressão, mas qualquer outro sintoma ‒ ou fracasso, momentos de dor,


solidão ‒ deve ser considerado um convite para as pessoas renascerem para uma
vida diferente, pois podemos nesse momento perceber nossos recursos interiores
e que somos capazes. É o momento que poderá proporcionar crescimento: o
encontro com seu verdadeiro Eu.

Vya Estelar: E pessoas agressivas?

Rosemeire: O comportamento agressivo é o resultado da violência na infância e


da mágoa e da dor não resolvidas. Os agressivos não assumem a
responsabilidade por seu comportamento, porque geralmente agem assim de
forma inconsciente, apenas repetindo um padrão conhecido. A energia emocional
do passado, não resolvida ‒ ou seja, não tendo com quem expressar e suportá-la
‒ acaba sendo expressa da única forma conhecida, repetindo o padrão. As
crianças precisam da segurança do exemplo de emoções saudáveis. Quando o
ambiente familiar é de violência, quando adultos repetem o que experimentaram
na infância. Inconscientemente, tendemos a repetir alguns padrões negativos até
que, através do sofrimento intenso, consigamos perceber as mensagens e
modificar nossa realidade.
Vya Estelar: Como posso ajudar alguém a encontrar sua Criança Interior?

Rosemeire: Apoiando e permitindo que expresse seus reais sentimentos, dando


muito colo.

Sobre a autora e o texto

Rosimeire Zago é psicóloga de abordagem junguiana, com especialização em


psicossomática. Desenvolve uma abordagem voltada para o autoconhecimento e
Criança Interior.

Matéria disponível em: http://www.vyaestelar.com.br/post/2321/resgate-sua-


crianca-interior. Acesso em 31 de março de 2018.

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