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As deusas perguntaram:
- Não ficamos admiradas de você chorar por ele, disseram, apesar de nós sempre
corrermos atrás dele pelo bosque, você era o único que podia comtemplar, de perto, a
sua beleza!
- Quem mais do que você poderia saber disso? Afinal, era em sua margem que ele se
debruçava todos os dias!
- Eu choro por Narciso, mas jamais percebi que ele era tão belo.
As deusas perguntaram:
- Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se debruçava na minha margem,
eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza refletida.
Ou seja o rio também era narcisista. Todos somos. Não existe como separarmos uma
classe-de-narcisistas e uma classe de não-narcisistas.
Sigmund Freud em seu texto de 1914 “Introdução ao Narcisismo” escreve sobre dois
conceitos importantes, tomando por base o mito grego de Narciso. O primeiro conceito
chamado de narcisismo primário se configura através da primeira relação que o bebê
construirá com a mãe ou a pessoa que esta desenvolvendo essa função materna. A
mãe por sua vez abre mão do seu próprio narcisismo para suprir as expectativas do
bebê que precisa dos cuidados materno, fazendo com que o bebê se sinta amado e
desejado, ocupando o centro da vida de sua cuidadora. Sendo assim, o ego do bebê
começa a ser nutrido para que se desenvolva de forma saudável.
É importante que fique claro, quando o sujeito se encontra dentro desta configuração
emocional, por varias vezes cairá em armadilhas do seu próprio eu, o eu que deseja
ser o centro, um eu egocêntrico, exigindo que o outro o satisfaça a qualquer custo.
Os rituais existem, a todo momento estamos utilizando de vários tipos para satisfazer
um vazio, preencher uma lacuna. Buscamos mecanismos que nos ajudem amenizar a
dor emocional; o intuito aqui não é de forma alguma julgar ou apontar o dedo
nomeando de certo ou errado, mas é pensarmos sobre uma realidade dolorosa e
difícil.
Narciso esta diante de dois dilemas. Tornar-se aquilo que o outro quer que ele seja,
afinal de contas foi exatamente isso que sua mãe fez quando procurou Tirésias, o
cego vidente, ela privou o filho de conhecer a si mesmo, ele cresceu sem poder olhar
para si mesmo, sem olhar sua imagem no espelho. Tudo o que Narciso sabia de si, ele
sabia por intermédio dos outros.
Crescer sem poder olhar para si mesmo na relação objetal (mãe-bebê) torna o caos
interno antes latente, agora manifesto, trilhando um caminho doloroso cheio de
ilusões. Projetar a responsabilidade no outro para dizer quem eu sou traz
aprisionamento e dependência emocional, penso eu que, todo narcisista tenta
corresponder a demanda de se tornar aquilo que o outro quer que ele seja e não de
fato quem ele é, no final ele se torna aquilo que não se é.
Cria-se um ritual para amenizar o sofrimento emocional, esse ritual cria a dependência
de buscar a todo custo uma validação, uma aceitação, o individuo implora pelo olhar
do outro, acaba por cair na armadilha dos elogios e dissimulações alheias, pela falta
de reconhecimento. Para o narcisista não existe nada mais terrível do que passar a
vida em branco, não existe nada mais terrível do que não ser notado, do que não ser
percebido; o narcisista não é capaz de reconhecer o seu valor (a mãe não foi capaz de
reconhecer), por isso busca alguém para “dar o seu valor”.
O valo já é intrínseco ao sujeito, ele precisa começar a reconhece-lo de forma
saudável, sendo assim, poderá existir, poderá ser real. Melanie Klein (1934) escreve
sobre a importância na construção dos relacionamentos que a criança desenvolve em
seu ambiente, criando a Teoria das Posições, um importante conceito que se configura
dentro da Posição Esquizoparanoide é o “seio bom” e “seio mau”, o que quero dizer
com isso é que, todos nós possuímos partes boas e ruins, reconhecer o próprio valor
esta ligado a reconhecer o que é bom e o que não é sem implorar pelo olhar do outro,
mas sendo capaz de olhar para si mesmo.
Winnicott (1994) diz: “Quando olho, sou visto; logo existo.” Falando em psicanálise é
preciso contar com o mínimo necessário de afeto, cuidado, ser o objeto desejado, é
preciso o mínimo de olhar do outro (mãe). Não tem como estar uno ao paciente em
analise que nunca pode contar com o mínimo necessário de afeto emocional. Para
Winnicott quando o bebê nasce ele esta fundido com a mãe, ele se encontra em uma
dependência absoluta, ele existe, mas ainda não é. Narciso existia através do outro e
só através do outro, ele não havia expandido para o ser. Quando comtemplou sua
beleza nas margens do lago acabou devorando a si mesmo e abraçou a morte.
O segundo nome mais conhecido e que leva destaque dentro da teoria psicanalítica.
A diferença entre fase e posição: A primeira (Freud, 1905), traz a proposta de algo
fixo, cristalizado; o indivíduo passa por cada uma das fases, cada avanço não é
possível retornar para a fase anterior. A segunda (Klein, 1930), nos propõem a ideia
de flexibilidade, onde o sujeito pode transitar entre uma posição e outra.
Posição Esquizoparanóide
É a posição inicial na vida do bebê. Ele ainda não percebe o outro além dele mesmo,
ainda não existe o reconhecimento total do objeto (mãe). Os objetos ligados a
satisfação do bebê são fragmentos, “Seio Bom” e “Seio Mau”.
Sempre existirá uma tensão gerada pelo desejo de satisfação, no caso das crianças
muito pequenas o objeto que reduz essa tensão é a pessoa ou a parte da pessoa que
atende suas necessidades.
O primeiro vínculo que será estabelecido com seu primeiro objeto é com a mãe e com
seu seio, tornando-se modelos para seus futuros relacionamentos interpessoais.
Posição Depressiva
Acontece a junção dos fragmentos do objeto, o bebê começa a reconhecer que existe
o outro além dele mesmo. Porque ele precisa reconhecer a realidade, e a realidade
não é feita só de satisfação.
O que isso causa? Angústia, desconforto, culpa, sensações extremamente
desconfortáveis.
Porquê? Quando acontece a união do que é bom e do que é mau, é como se o bebê
tivesse odiado o objeto (mãe) que ele tanto amava.
IDEALIZAÇÃO: parte boa = objeto maravilhoso e a outra parte como péssima, ruim...
ABAFAMENTO DAS EMOÇÕES: As emoções são escondidas para não ter contato
com a realidade.
A idealização se desfaz.
A projeção volta.
A cisão se desfaz.
Gratidão.
Retribuição.
Num terceiro modelo de vinculo, o simbiótico (que mais nos interessa nesse
capítulo), do grego syn, “junto”, mais bios, “vida”. Nesse modelo existe entrega e
interdependência na dupla. Isso ocorre sem que haja perda das referencias
individuais. Existe harmonia entre as partes, e a possibilidade de satisfação das
necessidades é mutua, o que estimula o crescimento de ambos.