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ESTADO E SOCIEDADE
Unidade I
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL
1. Antropologia
(Michael Crichton - The Lost World. In: FLAMMARION, Camille. Urânia. 8a ed., São
Paulo: FEB, 1998).
1.1
Abordagens Antropológicas
constituir um saber científico (ou pretensamente científico) que toma o homem como
objeto de conhecimento.
A antropologia não é apenas o estudo de tudo que compõem uma sociedade.
Ela é o estudo de todas as sociedades humanas (a nossa inclusive), ou seja, das culturas
da humanidade como um todo em suas diversidades históricas e geográficas.
Visando constituir os “arquivos” da humanidade em suas diferenças
significativas, ela inicialmente privilegiou claramente as áreas de civilização exteriores
à nossa.
Além disso, apenas a distância em relação a nossa sociedade nos permite fazer
esta descoberta: aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, cultural.
Disso decorre a necessidade, na formação antropológica, daquilo que não
hesitarei em chamar de "estranhamento" (depaysement), a perplexidade provocada pelo
encontro das culturas que são para nós as mais distantes, e cujo encontro vai levar a uma
modificação do olhar que tínhamos sobre nos mesmos.
De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros, mas
míopes quando se trata da nossa. A experiência da alteridade (e a elaboração dessa
experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa
dificuldade em fixar nossa atenção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que
consideramos “evidentes”.
Aos poucos, notamos que o menor dos nossos comportamentos (gestos,
mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de "natural".
todas as suas formas econômicas, políticas, intelectuais - deve ser sempre retomada e
questionada.
O que não significa, de forma alguma, que o antropólogo esteja destinado, por
alguma crise de identidade, a adotar ipso facto a lógica das outras sociedades e a
censurar de modo peremptório a sua própria sociedade.
1.2.
A Antropologia Jurídica
ponto de vista, é natural as pessoas dividirem seus bens. Devido a essa crença, os
primeiros comerciantes ingleses nunca puderam instalar um posto comercial em
território esquimó. Os esquimós sempre estavam dispostos a repartir suas peles e
alimentos com os ingleses, porém nunca conseguiram entender porque estes mantinham
um estoque enorme de mantimentos sem dividi-lo. Tal procedimento não lhes era
natural ou, melhor, era um “crime”. Por três vezes os ingleses estabeleceram postos
comerciais no território esquimó no século passado e por três vezes, após algumas
discussões sobre justiça e divisão, as comunidades esquimós simplesmente mataram os
comerciantes ingleses e distribuíram seus alimentos. Isto foi “justo” para o direito
esquimó, já que, para eles, o crime mortal não era o roubo, mas sim a ganância.
Outra lei esquimó foi relatada pelo antropólogo Knud Rasmussen (Intellectual culture of
the Igulik eskimos. In: Reports of the Fifit Thule Expedition – 1921-1924): uma regra
geral de todas as sociedades esquimós é que em épocas de provações e falta de
alimentos, geralmente no inverno, os indivíduos que não podem mais produzir ou caçar
não devem comer. Este era um dos mais sagrados deveres dos idosos: devido aos
rigores do inverno e à escassez de alimentos, eles deviam sacrificar-se para que os
demais membros do grupo pudessem sobreviver. Era bem possível, em tais casos, que
os velhos perambulassem pela neve e desaparecessem. Porém Rasmussem informou que
era mais correto e honroso para o filho mais velho ajudar seus pais a cometerem o
suicídio. Qualquer outra coisa era sinal de desrespeito. Ele conta o caso de uma família
com quem estava viajando em pleno inverno de 1921, em que a velha mãe da família
decidiu que não mais poderia continuar viajando. Para honrá-la, o filho construiu-lhe
um iglu sem saída e ela sentou-se dentro dele, confortavelmente. Depois disto, a família
inteira cantou músicas de despedida ao redor do iglu durante toda a noite e continuou a
viagem na manhã seguinte. Isto é homicídio na visão ocidental, mas é um ato de justiça
para os esquimós.
Este é, então, um postulado básico da antropologia legal: As regras são feitas a partir de
bases sociais e econômicas e precisam ser vistas em seu conteúdo social. Além disso, de
acordo com Sally Falk Moore (Law as process, as anthropological approach, 1978) e
outros antropólogos jurídicos, as sociedades sem Estado, “primitivas”, raramente têm
leis nocivas ou inúteis. Sem um instrumento para fazê-las cumprir e sem maneira de
escrevê-las, as leis desnecessárias serão geralmente esquecidas dentro de poucos anos.
Desse modo, as leis dos povos “primitivos” são freqüentemente muito mais verdadeiras
do que as das sociedades modernas, além de serem geralmente conhecidas por quase
todos os membros da sociedade. Assim, é possível falar de uma “cultura legal” como
aquela estrutura e hierarquia de normas e valores que permitem a uma pessoa sobreviver
em seu ambiente, em sua sociedade. Além disso, as leis que compõem o padrão legal
das sociedades simples devem ser relativamente poucas, já que não as há escritas e
poucos são os especialistas em Direito (se é que há algum) para elaborá-las.
1.3
A Antropologia Jurídica no Brasil
2. Sociologia
2.1
Origens e Fundamentos
época, como Saint-Simon, Comte, Le Play e alguns outros, concentrarão suas reflexões
sobre a natureza e as conseqüências da revolução. Em seus trabalhos, utilizarão
expressões como "anarquia", "perturbação", "crise", "desordem", para julgar a nova
realidade provocada pela revolução. Nutriam em geral esses pensadores um certo rancor
pela revolução, principalmente por aquilo que eles designavam como "os seus falsos
dogmas", como o seu ideal de igualdade, de liberdade, e a importância conferida ao
indivíduo em face das instituições existentes.
A tarefa que esses pensadores se propõem é a de racionalizar a nova ordem,
encontrando soluções para o estado de "desorganização" então existente. Mas para
restabelecer a ordem e a paz, pois é a esta missão que esses pensadores se entregam,
para encontrar um estado de equilíbrio na nova sociedade, seria necessário, segundo
eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais, instituindo, portanto, uma ciência da
sociedade. (...) A tarefa que os fundadores da sociologia assumem é, portanto, a de
estabilização da nova ordem. Comte é muito claro quanto a essa questão. Para ele, a
nova teoria da sociedade, que ele denominava de “positiva”, deveria ensinar os homens
a aceitar a ordem existente, deixando de lado a sua negação. (...)
A partir da terceira década do século XIX, intensificam-se na sociedade
francesa as crises econômicas e as lutas de classes. A contestação da ordem capitalista,
levada a cabo pela classe trabalhadora, passa a ser reprimida com violência, como em
1848, quando a burguesia utiliza os aparatos do Estado, por ela dominado, para sufocar
as pressões populares. Cada vez mais ficava claro para a burguesia e seus representantes
intelectuais que a filosofia iluminista, que passava a ser designada por eles como
"metafísica”, “atividade crítica inconseqüente”, não seria capaz de interromper aquilo
que denominavam estado de “desorganização”, de "anarquia política" e criar uma ordem
social estável.
Determinados pensadores da época estavam imbuídos da crença de que para
introduzir uma "higiene" na sociedade, para “reorganizá-la”, seria necessário fundar
uma nova ciência. Durkheim, ao discutir a formação da sociologia na França do século
XIX, refere-se a Saint-Simon da seguinte forma: “o desmoronamento do antigo sistema
social, ao instigar a reflexão na busca de um remédio para os males de que a sociedade
padecia, incitava-o por isso mesmo a aplicar-se às coisas coletivas. Partindo da idéia
de que a perturbação que atingia as sociedades européias resultava do seu estado de
desorganização intelectual, ele entregou-se à tarefa de pôr termo a isto. Para refazer
uma consciência nas sociedades, são estas que importa, antes de tudo, conhecer. Ora,
esta ciência das sociedades, a mais importante de todas, não existia; era necessário,
portanto, num interesse prático, fundá-la sem demora”.
Como se percebe pela afirmação de Durkheim, esta ciência surge com
interesses práticos e não “como que por encanto”, como certa vez afirmara. (...)
Na concepção de um de seus fundadores, Comte, a sociologia deveria orientar-
se no sentido de conhecer e estabelecer aquilo que ele denominava leis imutáveis da
vida social, abstende-se de qualquer consideração crítica, eliminando também qualquer
discussão sobre a realidade existente, deixando de abordar, por exemplo, a questão da
igualdade, da justiça, da liberdade. Vejamos como ele a define e quais objetivos
deveriam ela perseguir, na sua concepção:
"Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos
fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados os fenômenos
astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis,cuja
descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Os resultados de suas pesquisas tornam-se o
ponto de partida positivo dos trabalhos do homem de Estado, que só tem, por assim
dizer, como objetivo real descobrir e instituir as formas práticas correspondentes a
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esses dados fundamentais, a fim de evitar ou pelo menos mitigar, quanto possível, as
crises mais ou menos graves que um movimento espontâneo determina, quando não foi
previsto. Numa palavra, a ciência conduz à previdência, e a previdência permite
regular a ação".
Não deixa de ser sugestivo o termo “física social”, utilizado por Comte para
referir-se à nova ciência, uma vez que ele expressa o desejo de construí-la a partir dos
modelos das ciências físico-naturais. A oficialização da sociologia foi, portanto, em
larga medida uma criação do positivismo, e uma vez assim constituída procurará
realizar a legitimação intelectual do novo regime.
Esta sociologia de inspiração positivista procurará construir uma teoria social
separada não apenas da filosofia, mas também da economia política como base para o
conhecimento da realidade social. Separando a filosofia e a economia política, isolando-
as do estudo da sociedade, esta sociologia procura criar um objeto autônomo, o social,
postulando uma independência dos fenômenos sociais em face dos econômicos.
Não será esta sociologia, criada e moldada pelo espírito positivista, que
colocará em questão os fundamentos da sociedade capitalista, já então plenamente
configurada. Também não será nela que o proletariado encontrará a sua expressão
teórica e a orientação para suas lutas práticas. É no pensamento socialista, em seus
diferentes matizes, que o proletariado, esse rebento da revolução industrial, buscará seu
referencial teórico para levar adiante as suas lutas na sociedade de classes. É neste
contexto que a sociologia vincula-se ao socialismo e a nova teoria crítica da sociedade
passa a estar ao lado aos interesses da classe trabalhadora.
Texto adaptado de "O que é Sociologia" de Carlos Benedito Martins - 38ª ed. - São
Paulo Brasiliense, 1994.
2.2
A Sociedade como fruto da Interação
2.3
As Ações Sociais
Nesse sentido, Weber construiu quatro (4) tipologias de ação social que
auxiliam a compreensão dos comportamentos coletivos:
- Ação social racional com relação a fins. Faz-se presente quando o indivíduo
orienta suas práticas e comportamentos a partir de um cálculo racional que envolve as
estratégias e meios necessários para atingir os objetivos desejados. É o tipo de ação
social mais comum na sociedade capitalista.
(Adaptado de: Robson dos Santos; SOCIOLOGIA – Ciência & Vida; ano III, nº. 24, p. 60 -1)
3. Ciência Política
A expressão Ciência política pode ser usada em sentido amplo e não técnico para
indicar qualquer estudo dos fenômenos e das estruturas políticas, conduzido
sistematicamente e com rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos
expostos com argumentos racionais. Nesta acepção, o termo "ciência" é utilizado dentro
do significado tradicional como oposto a "opinião". Assim, "ocupar-se cientificamente
11
Com a queda do Império Romano, no ano 476, teve início uma importante fase da
história da humanidade, conhecida por Idade Média. Esse longo período, que perdurou
por dez séculos, ou mil anos, foi um dos mais importantes, pois do ano 500 ao ano 1500
ocorreu a junção das culturas de muitos povos, bárbaros ou civilizados, que afluíram
para o Império Romano já em ostensivo declínio. Enquanto visigodos, ostrogodos,
teutões ou germanos e os francos localizavam-se na parte ocidental da Europa, a parte
sul era conquistada pelos mulçumanos, que fecharam o Mediterrâneo às populações
ocidentais. (...)
Na verdade ocorreu um retorno à atividade rural. A Igreja, por intermédio dos seus
conventos e mosteiros, tornou-se proprietária de grandes áreas. Além de centros de
estudos e de meditação, os mosteiros representaram núcleos de preservação da cultura,
em torno dos quais surgiam muitas cidades.
A terra transformou-se na riqueza por excelência. Retornava-se à economia agrária,
acentuada a partir do século VIII. Nascia o regime feudal, caracterizado por
propriedades onde os senhores e os trabalhadores viviam do produto da terra. Eram
grandes propriedades rurais, denominadas feudos, que buscavam ser auto-suficientes
econômica e politicamente, obedientes à autoridade do senhor feudal (proprietário) e
nas quais os servos exerciam suas atividades agrícolas ou artesanais. Eram nobres os
senhores, daí denominarem-se os feudos de “baronias”, “marcas”, “condados” ou
“ducados”. O soberano – Rei – embora simbolicamente dirigisse o Estado
(Monarquias), na prática não possuía influência ou poder de decisão nos feudos, onde a
autoridade máxima era a do senhor feudal e onde trabalhavam os seus servos. (...)
Foi no final da Idade Média, conhecida por Era Medieval, com prevalência do sistema
feudal (feudalismo), que nasceu o capitalismo. Em sua primeira fase,
caracteristicamente de natureza agrária, não se observaram grandes surtos econômicos.
A produção “industrial” era manufatureira, estando a cargo dos artífices ou artesãos.
Pelas dificuldades de transporte, os agrupamentos sociais exercitavam uma economia de
auto-suficiência, não havendo grande preocupação com o acúmulo de riquezas, pois a
rígida moral religiosa continha os excessos de bens e a ostentação.
(GASTALDI, J. Petrelli. Elementos de Economia Política. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2003).
Fonte:
ANDERSON, Perry. O Estado absolutista no Ocidente In: Linhagens do Estado
absolutista. Parte I, cap. 1,pp.13-45.
______. O absolutismo no Leste In: Linhagens do Estado absolutista. Parte II, cap.
2,pp.227-257.
http://www.cienciashumanas.com.br/resumo_artigo_5535/
artigo_sobre_linhagens_do_estado_absolutista
5.1. Socialização
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O processo pelo qual um indivíduo se torna membro da sociedade (na verdade, de uma
sociedade) é chamado de socialização.
5.2. Tipificação
sociologia, ao domínio dos ‘grupos primários’, cuja unidade [...] ‘não é somente de
harmonia e amor’.”
Comportamentos que evidenciam essa referida “cordialidade”:
- Emprego dos diminutivos (“inho”), como forma de familiarização com coisas ou
pessoas, em evidente recusa à formalização que “esfria” as relações, que retira o
emocional do cerne da interação.
- Omissão do nome de família no tratamento social (por gerar formalidade), ênfase nas
categorias de parentesco, vizinhança e amizade (laços de sangue e de lugar).
- Catolicismo brasileiro assentado na intimidade com o sagrado, ênfase nos sentimentos
e afastamento dos ritos litúrgicos formais.
- Dificuldade em distinguir os domínios do público e do privado; do Estado e da
família, forte tendência a ver uma esfera como extensão da outra. Conseqüência dessa
“confusão”: Patrimonialismo (lembrar dos tipos ideais de dominação, por Max
Weber): a gestão política como assunto de interesse particular, com base na confiança
pessoal e não no mérito da competência ou em capacidades abstratas, racionais, (como a
ordenação impessoal, característica da burocracia presente na dominação legal). O
patrimônio público é tratado como extensão dos domínios privados; a coisa pública
submetida às vontades e aos interesses particulares. Em nível de ciência política: o
avesso do republicanismo, que torna práticas políticas extremamente danosas à
sociedade, tais como o nepotismo, toleradas e até admitida como corretas.
Em síntese: Em nível das relações sociais, recusa a qualquer forma de convívio que não
seja ditado por uma ética de fundo emotivo, horror às distâncias e ao formalismo nas
relações sociais, aversão ao ritualismo; em nível político, o patrimonialismo.
(Texto de referência “O homem cordial”, capítulo de: HOLANDA, Sérgio Buarque de.
Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995).