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ANTROPOLOGIA

JURÍDICA

Dr. Javier Marzal


OBJETIVOS DA AULA
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Explorar as Definir as duas Compreender a
origens da tendências Cultura como
Antropologia principais da conceito
como filosofia e Antropologia fundamental da
ciência. (Etnocentrismo e antropologia e como
Relativismo elemento norteador
cultural). das pesquisas
antropológicas.
OBJETIVOS DA AULA
Problema central da nossa aula:

Quais foram os fundamentos que permitiram


transformar a filosofia antropológica numa
ciência? Qual a importância do conceito
antropológico de cultura para as diferentes
áreas das ciências humanas?
ALGUNS DITADOS POPULARES

"Quem semeia vento, colhe tempestade"

"Cachorro mordido por cobra, tem medo até de linguiça"

"Quem não arrisca, não petisca"

"Em terra de cego, quem tem um olho é rei"

"Quem espera, sempre alcança"

"Cão que late, não morde"


Alguém em
particular ensinou Vocês conhecem Vocês dominam
esses ditados para seus significados? todos eles?
vocês?

Se vocês dominam a maioria desses significados,


significa que há algo em comum entre vocês.
ANTROPOLOGIA
Do grego, o termo é formado pelos vocábulos:

ANTHOPOS
LOGOS

homem
ser humano conhecimento
saber
“ Curiosidade pela evolução da espécie humana e
suas manifestações culturais: costumes, crenças,
ORIGEM hábitos, universo psíquico, mitos, religião, rituais,
processo histórico, linguagem, leis, relações de
parentesco, relações sociais.

“ Ciência que estuda a diversidade cultural


humana, situada em determinado local e tempo
DEFINIÇÃO na história da humanidade. Estudo sobre o ser
humano, suas relações e a formação das
culturas.
CARACTERÍSTICAS DA
FILOSOFIA ANTROPOLÓGICA
Segundo o antropólogo francês Françoise Laplantine,
no seu livro: Aprender antropologia

“ Em todas as sociedades existiram


homens que observavam homens.
(LAPLANTINE, 2005, p. 7)
É um saber tão antíguo quanto a humanidade.

Esse saber surge da necessidade de conhecer o outro, de explicar o fenômeno do


estranho e de se identificar como parte de algo/identidade grupal.

Observar – Estranhar – Explicar – Saber – Transmitir

Conceitos fundamentais que vamos ver ao longo da disciplina:

Estranho - Estranhamento - Outro - Identidade - Cultura


ANTROPOLOGIA COMO FILOSOFIA E COMO CIÊNCIA

Na sua história a antropologia pode ser


visto como uma filosofia
mas também como uma ciência.
ANTROPOLOGIA COMO
FILOSOFIA E COMO CIÊNCIA
Desde a antiguidade os seres humanos se interessam
pelos outros, mas sobretudo, pelos diferentes.

Era costume que os cronistas, viajantes, soldados, comerciantes


e os missionários descrevessem os lugares que tinham visitado.
Na Idade Clássica, os gregos reuniam informações (registros e
relatos) sobre os povos diferentes.

O historiador Heródoto (Século V a. C),


considerado o pai da História.
Seu pensamento marcou o que hoje
conhecemos como antropologia.
• Heródoto viajava frequentemente e produzia relatos
detalhados sobre diferentes povos, suas tradições,
costumes, religiões e práticas sociais.

• A associação de Heródoto com a antropologia é devido


ao fato de que suas abordagens e métodos, se
concentravam em entender e descrever as diferenças
culturais e sociais entre os povos, podem ser
considerados precursores dos métodos antropológicos
modernos.

• Sua ênfase na observação direta, coleta de dados e


relatos detalhados das sociedades estrangeiras
contribuiu para a base do pensamento antropológico.
AS BASES DO ETNOCENTRISMO

Francisco López de Gomara (em História Geral dos índios), em relação à conquista
do México afirma:

“ É a grande glória e a honra de nossos reis e dos espanhóis, ter feito


aceitar aos índios um único Deus, uma única fé e um único batismo
e ter tirado deles a idolatria, os sacrifícios humanos, o canibalismo,
a sodomia; e ainda outras grandes e maus pecados, que nosso bom
Deus detesta e que pune. Da mesma forma, tiramos deles a
poligamia, velho costume e prazer de todos esses homens sensuais;
mostramos-lhes o alfabeto sem o qual os homens são como animais
e o uso do ferro que é tão necessário ao homem. Também lhes
mostramos vários bons hábitos, artes, costumes policiados para
poder melhor viver. Tudo isso e até cada uma dessas coisas vale
mais que as penas, as pérolas, o ouro que tomamos deles, ainda
mais porque não utilizavam esses metais como moeda.”
AS BASES DO ETNOCENTRISMO
A colonização de América exemplo do pensamento etnocentrista.

O interesse pelo outro diferente não era passivo / modificar o outro / colonizá-lo
/ adaptá-lo a um modelo de humanidade europeia.
ANTROPOLOGIA COMO
CIÊNCIA: O ETNOCENTRISMO
Século XVIII. O botânico sueco Charles Linnaeus criou a
primeira classificação científica dos seres vivos (taxonomia) em
um sistema binomial de nomenclatura: gênero e espécie.

• A relação com a • Os seres humanos


antropologia é a passaram a serem
relação estabelecida considerados uma
por ele, entre os espécie dentro do
primatas e os seres reino animal (Homo
humanos. sapiens).
ANTROPOLOGIA COMO
CIÊNCIA: O ETNOCENTRISMO
Século XIX. Se desenvolve- teoria evolucionista de Darwin

• A Antropologia se transforma em ciência.


Aquelas descrições dos diferentes povos e
suas culturas adquiriram um caráter
científico.
ANTROPOLOGIA COMO
CIÊNCIA: O ETNOCENTRISMO
A teoria de Darwin – adaptada – estudo das culturas
diferentes- interpretação equivocada- superioridade
de alguns grupos – subespécies superiores.

“ Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso


próprio grupo é tomado como centro de tudo e
todos os outros são pensados e sentidos através dos
nossos valores, nossos modelos, nossas definições
do que é a existência. No plano intelectual, pode ser
visto como a dificuldade de pensarmos a diferença;
no plano afetivo, como sentimentos de estranheza,
medo, hostilidade etc.
(ROCHA, 1994, p. 5).
Everardo Rocha, antropólogo e professor brasileiro.
ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA IMPLICOU:

A construção de vários conceitos, começando pelo


próprio conceito de Ser Humano, não apenas
enquanto sujeito, mas enquanto objeto do saber -
Trânsito dos objetos pesquisados pelo ser humano: da
natureza ao próprio SH como objeto da observação.
A constituição de um saber não é apenas produto de
reflexão (transcendental), mas de observação / ativa.

Isto é, um novo modo de acesso ao ser humano, que passa a


ser considerado em sua existência concreta, envolvido nas
determinações de suas relações de produção, de sua
linguagem, de suas instituições, dos seus comportamentos.

O surgimento de uma nova problemática: a da cultura


diferente / a do “outro” em tanto diferente.

O diferente considerado inferior marcou os primeiros tempos


da ciência antropológica. Olhar etnocentrista.
ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA:
O RELATIVISMO CULTURAL
Finais do século XIX o antropólogo alemão Franz Boas marcou
um giro importante na história da Antropologia.

• Usando uma estação baleeira escocesa como base,


Boas viajou amplamente com os Inuítes, aprendendo
sua língua, vivendo em suas tendas e casas de neve,
compartilhando sua comida e experimentando suas
alegrias e tristezas. Ao mesmo tempo, ele estava
tomando notas detalhadas e fazendo levantamentos
e mapeando a paisagem e a costa.

• Ilha de Baffin, no extremo norte do Canadá


ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA:
O RELATIVISMO CULTURAL
Frequentemente me pergunto que vantagens nossa “boa sociedade”
possui sobre aquela dos “selvagens” e descubro, quanto mais vejo de
seus costumes, que não temos o direito de olhá-los de cima para baixo.

Onde, em nosso povo, poder-se-ia encontrar hospitalidade tão


verdadeira quanto aqui?
Nós, “pessoas altamente educadas”, somos muito piores, relativamente
falando.

Creio que, se esta viagem tem para mim (como ser pensante) uma
influência valiosa, ela reside no fortalecimento do ponto de vista da
relatividade de toda formação [Bildung], e que a maldade, bem como o
valor de uma pessoa, residem na formação do coração [Herzensbildung],
que eu encontro, ou não, tanto aqui quanto entre nós (BOAZ, 2009, p. 9).
ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA:
O RELATIVISMO CULTURAL
- Reconhecimento de - Deve-se evitar quaisquer
que cada ser humano julgamentos de valor a
vê o mundo sob a respeito de outras culturas
perspectiva da cultura mesmo que elas provoquem
em que cresceu. estranhamento.

- Nenhuma cultura seria


superior a outra e sim - O relativismo cultural não é
diferente. só um instrumento
metodológico, mas uma
- Cada cultura possui forma de resolver questões
seus próprios códigos éticas ou situações difíceis
que devem ser colocadas em relação a
respeitados pelo diversidade cultural.
pesquisador / visitante.
O QUE É CULTURA?
Existem mais de 160 definições de cultura, mas vamos ficar com a do
antropólogo brasileiro Roque de Barros Laraia:

“ O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem


moral e valorativa, os diferentes comportamentos
sociais e mesmo as posturas corporais são assim
produtos de uma herança cultural, ou seja,
resultado da operação de uma determinada
cultura.

(LARAIA, 2003, p. 68).


CARACTERÍSTICAS
DA CULTURA:
- A cultura é apreendida - A cultura é uma interpretação da
(interação social, natureza (as necessidades
internalização das tradições biológicas são interpretadas e
das comunidades) moldadas pela cultura. Fome / o
que comer, como e onde...)

- A cultura é simbólica
(ferramentas, implementos, - A cultura é totalizante (configura
utensílios, vestuário, ornamentos, nossas vidas, determina valores e
costumes, instituições, crenças, formas de viver)
rituais, jogos, linguagem etc.)

- A cultura tem seus elementos


interligados (sistemas integrados
- A cultura é compartilhada e estruturados / a mudança de
(forma parte de grupos) um elemento afeta os outros).
nead@faculdadecesusc.edu.br

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