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SER HUMANO, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

Prof.ª. D. Sc. RENATA SILVA GOMES

1. O ESTUDO DO SER HUMANO inicia-se com a


ANTROPOLOGIA - Compreensão do ser humano (o homem é
objeto de estudo da Antropologia)
 Não existe um observador imparcial
 O observador existe dentro de um contexto
 Um pano de fundo, paradigma da sociedade em que o
observador vive
 Toda norma precisa ser interpretada (lei, decreto,
medida provisória, portaria)

 Cada cultura tem sua forma construtiva própria, sua forma de


organização hierárquica, sua forma de organização familiar,
técnicas de cultivo, de cuidados e curas, além de normas
éticas e de convívio social.

Ex. :

 O Código de Hamurabi baseado nas Leis de Talião


(“Olho por olho, dente por dente”) é um conjunto de leis
para organizar e controlar a sociedade, criadas na
Mesopotâmia, por volta do século XVIII a. C.

 Os aquedutos dos astecas

 O ancestral do computador Grego

 Formas de tratamento e cura:

1. Babilônios - Os sacerdotes curandeiros


desempenharam para a Medicina um grande
papel, já que fizeram o detalhamento de várias
doenças, e descobriram dezenas de princípios
médicos.

2. Egípcios - Imhotep, o primeiro médico conhecido


pelo nome, destacasse a cura de diversas
doenças a cerca de 2.850 anos antes de Cristo.
3. Hindus - Esse povo foi o responsável pela
descoberta de muitos efeitos relacionados à idade,
doença e morte.

4. Hebreus - os médicos da região de Israel tinham


como principal função fazer a supervisão das
regras de higiene social. A evolução da Medicina
nessa época se deu devido à dissecação de
animais sacrificados.

5. O imperador chinês Shen Nung (ca. 2696 a.C.),


considerado “pai da medicina e farmacologia
chinesa”, tinha um jardim botânico com plantas
medicinais e tóxicas e foi o autor do primeiro
tratado sobre drogas na China antiga, onde
identificou 365 drogas divididas em três níveis:
superior, não-tóxicas (wudu), as que evitam o
envelhecimento e prolongam a vida; intermédio,
não-tóxicas e tóxicas (youdu), as que previnem
doenças e fortalecem o corpo; e, inferior,
maioritariamente tóxicas, as que curam
efectivamente as doenças

 A relação do homem com o meio ambiente pode ser


harmônica ou desarmônica, dependendo da cultura
desenvolvida por cada comunidade.

 Em um país como o Brasil, onde a diversidade cultural é


muito grande, vimos casos terem diferentes
entendimentos, isso , devido as variadas formas de vida,
em suma o que é crime no sul pode não ser no norte,
o que é proibido no leste pode não ser no oeste, tudo
conforme os costumes, o entendimento, a forma de
aplicação da norma. Mais do que isso: o que se entende
como justo por um grupo pode ser considerado inaceitável
por outro.
PRÉ-HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA

1. O EUROPEU ENCONTRA UM MUNDO QUE


DESCONHECIA – “descoberta do novo mundo”

Durante o século XVI a Europa foi invadida por escritos e


crônicas a respeito dos povos até então desconhecidos. - A
maioria desses escritos estava impregnada de informações
fantasiosas. Chegou-se a duvidar da condição humana do
aborígine.

 As Relações Jesuítas, coletânea de relatórios enviados pelos


missionários dessa congregação religiosa aos seus superiores.
São 73 volumes repletos de descrições e opiniões a respeito
dos novos povos, dos produtos da terra, dos seus hábitos e
costumes)

2-ESTRANHAMENTO

 Estranhamento significa perplexidade diante de uma cultura


diferente. Essa perplexidade implica reconhecer que algo,
antes considerado natural, passe a ser problemático.

 Assim, o encontro de culturas distintas e distantes pode


provocar um novo olhar sobre si mesmo e sobre os hábitos,
práticas ou costumes antes considerados evidentes.

 o homem é dotado de uma extraordinária aptidão para


inventar diferentes modos de vida e formas de organização
social.

 A variedade de culturas introduz diferenças entre os


seres humanos, mas também permite reconhecer algo
comum a todos – a extraordinária capacidade de elaborar
costumes, crenças, línguas, instituições, modos de
conhecimento –, que aponta para uma humanidade plural.

1.1. O FASCÍNIO PELO ESTRANHO: significa enaltecer a cultura


das sociedades primitivas e censurar a cultura europeia;
1.1.1.A FIGURA DO BOM SELVAGEM À DO MAU CIVILIZADO.

a) LAS CASAS: esse dominicano, em l550, opõe-se à


classificação dos índios como bárbaros, afirmando que eles
têm aldeias, vilas, cidades, reis, senhores e uma ordem
política que em alguns reinos é melhor que a dos europeus;

b) Américo Vespúcio: sobre os índios da América afirma


que se trata de pessoas bonitas, de corpo elegante e que
nenhum possui qualquer coisa que seja seu, pois tudo é
colocado em comum;

c) Cristóvão Colombo: sobre os habitantes do Caribe afirma


que não há no mundo homens e mulheres nem terra melhor;

d) La Hotan: em 1703 escreve que os hurons (América do


Norte) vivem, em suas tribos, sem prisões e sem tortura,
passam a vida na doçura, na tranquilidade e gozam de uma
felicidade desconhecida dos europeus;

e) Diderot, Século XVIII, por exemplo, chegou a sugerir que


as sociedades primitivas constituíam um apogeu a partir do
qual a humanidade só conheceu decadência.

 A figura do bom selvagem, contudo, encontrará sua


formulação mais sistemática e mais radical com
Rousseau (início do século XVIII). No Brasil é possível
enxergar esse fascínio na obra literária de José de
Alencar (meados do século XIX), especialmente nos
romances O guarani e Iracema. Cabe também
mencionar o pensador luso-brasileiro
 Padre Antônio Vieira, que, em seus Sermões,
protestou veementemente contra a escravidão dos
índios.

1.2. A RECUSA DO ESTRANHO: significa censurar e excluir


tudo o que não seja compatível com a cultura europeia.

Para gregos e romanos, tudo que não participava da sua


cultura era catalogado como bárbaro. A civilização europeia
utilizou o termo selvagem com o mesmo sentido. Os termos
selvagem e bárbaro evocam um gênero de vida animal, por
oposição à cultura humana.
1.2.1.A FIGURA DO MAU SELVAGEM E DO BOM CIVILIZADO

“A extrema diversidade das sociedades humanas raramente


apareceu aos homens como um fato, e sim como uma aberração
exigindo uma justificação.

 o Renascimento, os séculos XVII e XVIII falavam


de naturais ou de selvagens (isto é, seres da floresta),
opondo assim a animalidade à humanidade. O
termo primitivos é que triunfará no século XIX, enquanto
optamos preferencialmente na época atual pelo de
subdesenvolvidos.

 Essa atitude, que consiste em expulsar da cultura, isto


é, para a natureza todos aqueles que não participam da
faixa de humanidade à qual pertencemos’ e com a qual
nos identificamos, é, como lembra Lévi-Strauss, a mais
comum a toda a humanidade, e, em especial, a mais
característica dos “selvagens”. (LAPLANTINE, 1999, p.
40)

São vários os critérios utilizados para se saber se aos índios podia


se conceder o estatuto de humano. Laplantine (1999, p.41) cita
alguns:

A) a aparência física: eles estão nus ou “vestidos de peles de


animais”;
B) os comportamentos alimentares: eles” comem carne crua”, e é
todo o imaginário do canibalismo que irá aqui se elaborar;
C) a inteligência tal como pode ser apreendida a partir da
linguagem: eles falam “uma língua ininteligível”.

OBS: Assim, não acreditando em Deus, não tendo alma, não tendo
acesso à linguagem, sendo assustadoramente feios e
alimentando-se como um animal, o selvagem é apreendido nos
modos de um bestiário.

E esse discurso sobre a alteridade, que recorre


constantemente à metáfora zoológica, abre o grande leque
das ausências: sem moral, sem religião, sem lei, sem escrita,
sem Estado, sem consciência, sem razão, sem objetivo, sem
arte, sem passado, sem futuro. E ainda, “sem barba”. “sem
sobrancelhas”, “sem pelos”, “sem espírito” “sem ardor para com
sua fêmea”.

Muitos textos da época vão reforçar esta concepção: a de que os


indígenas representariam o avesso da “civilização”. De um lado, a
civilização e a humanidade (Velho Mundo), do outro, a natureza e a
barbárie (Novo Mundo).

Importante frisar, que além dos povos da América, os do continente


Africano eram suscetíveis da mesma leitura.

 Tudo, na África, é nitidamente visto sob o signo da falta


absoluta: os “negros” não respeitam nada, nem mesmo
eles próprios, já que comem carne humana e fazem
comércio da “carne” de seus próximos. Vivendo em uma
ferocidade bestial inconsciente de si mesma, em uma
selvageria em estado bruto, eles não têm moral, nem
instituições sociais, religião ou Estado.

Petrificados em uma desordem


inexorável, nada, nem mesmo as força
da colonização, poderá nunca preencher
o fosso que os separa da História
universal da humanidade”.
(LAPLANTINE, 1999, p. 45).

Portanto, quem se afastasse do modelo dito como “civilizado”, era


reduzido à condição de coisa, de objeto sem valor.

Nesse sentido as manifestações de alguns juristas e historiadores:

a) Selpuvera: esse jurista espanhol, em 1550, afirma


que os europeus, por superarem as nações bárbaras em
prudência e razão, mesmo que não sejam superiores em
força física, são, por natureza, os senhores; portanto, será
sempre justo e conforme o direito natural que os bárbaros
(preguiçosos e espíritos lentos) estejam submetidos ao
império de príncipes e de nações mais cultas;

b) Gomara: em seu livro História geral dos índios, escrito


em 1555, afirma que a grande glória dos reis espanhóis foi
a de ter feito aceitar aos índios um único Deus, uma única
fé e um único batismo e ter tirado deles a idolatria, o
canibalismo, a sodomia, os sacrifícios humanos, e ainda
outros grandes e maus pecados, que o bom Deus detesta
e que pune;

c) Oviedo: na sua História das Índias, de 1555, escreve


que as pessoas daquele “país” são, por sua natureza,
ociosas, viciosas, de pouco trabalho, covardes, sujas e
mentirosas;

d) Cornelius de Pauw: no seu livro Pesquisas sobre os


americanos, de 1774, refere-se aos índios americanos
como raça inferior, insensíveis, covardes, preguiçosos,
inúteis para si mesmos e para a sociedade, e a causa
dessa situação seria a umidade do clima.

e) Hegel passou a afirmar que os nativos africanos e


americanos vivem em estado de selvageria e em situação
deplorável; que as religiões desses povos são meras
superstições, motivo pelo qual os levam a divinizar vacas e
macacos; que não possuem instituições sociais e por isso
vivem inconscientes de si mesmos. Nessa trilha afirma
“que a diferença entre os povos africanos e asiáticos, por
um lado, e os gregos e romanos e europeus, por outro,
reside precisamente no fato de que estes são livres e o
são por si; ao passo que aqueles o são sem saberem que
são, isto é, sem existirem como livres”

 O PENSAMENTO LÓGICO-RACIONAL DOS CIVILIZADOS


(EUROPEUS) considerado superior, verdadeiro e evoluído

 O PENSAMENTO PRÉ-LÓGICO E PRÉ-RACIONAL DOS


SELVAGENS OU PRIMITIVOS (AFRICANOS, ÍNDIOS,
ABORÍGINES). inferior, falso, supersticioso e atrasado,
cabendo aos europeus “auxiliar” os selvagens “primitivos” a
abandonar sua cultura e adquirir a cultura “evoluída” dos
colonizadores

A ideologia da recusa do estranho forneceu ao colonialismo as


justificativas para o uso da força no sentido de escravizar os
índios ou de integrá-los à cultura europeia. Essa ideologia
também serviu para negar humanidade aos negros africanos e
submetê-los ao regime de escravidão nas colônias americanas.

Assim, no Brasil, o colonizador europeu impôs a sua cultura, mas


uma cultura inspirada na ideologia da recusa do estranho, razão
pela qual o direito brasileiro, do período colonial, é essencialmente
um direito que visa garantir e perpetuar os interesses dos
colonizadores. Na prática, trata-se de um modelo jurídico que visa
proteger uma economia colonial fundada na propriedade fundiária e
cuja produção depende do uso da mão de obra escrava. Segundo
relato de Stuart Schwarz (LOPES, 2000, p. 265), a cidade de
Salvador, por volta do ano de 1700, tinha aproximadamente 40.000
habitantes, dos quais 57% eram escravos.

É importante fixar que a ideologia da recusa do estranho, maquiada


com outros discursos, continua presente no mundo contemporâneo
e, às vezes, até de forma mais violenta que no período colonial.

OBS: Nas grandes Antilhas, conforme relata Lévi-Strauss, alguns


anos após a descoberta da América, enquanto os espanhóis
enviavam comissões de investigação para pesquisar se os
indígenas tinham ou não uma alma, os indígenas dedicavam-se a
afogar brancos prisioneiros, a fim de verificar, por uma observação
demorada, se seus cadáveres eram ou não sujeitos à putrefação.
Essa passagem ilustra um paradoxo: quem pretende estabelecer
uma discriminação cultural acaba por se identificar com aquilo que
se pretende negar. O europeu, por exemplo, ao recusar
humanidade ao africano, colocou sob suspeita a sua própria
humanidade.

OBS2: nós (os civilizados: europeus e norte-americanos) e os


outros (os bárbaros: nativos de lugares exóticos ou povos de
países periféricos). Os outros são representados como um grupo
indiferenciado, caracterizado por suas diferenças em relação aos
europeus (nós), uma diferença sempre desfavorável para eles (os
outros), que são tidos como irracionais, supersticiosos,
obstinadamente conservadores, movidos pela emoção,
sexualmente descontrolados, propensos à violência, e assim por
diante.

São essas diferenças que motivam e justificam o colonialismo e


outras formas de dominação. Said conclui que o orientalismo é um
tipo de projeção ocidental (civilização) sobre o Oriente (barbárie) e o
desejo de governá-lo. Algumas pessoas acreditam que as culturas
podem ser classificadas como superiores e inferiores, e tendem a
prezar mais a sua própria cultura.

O nacionalismo anda nesse sentido, quando faz menção à


superioridade da cultura nacional. Alguns teóricos entendem que,
em termos de cultura, as fronteiras nacionais se diluíram, portanto,
não faz sentido falar da cultura de determinado Estado nacional,
visto que o fenômeno da globalização unificou o Ocidente numa
única cultura, a cultura de consumo cuja expressão maior são os
Estados Unidos.

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