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Aula 15/03/2023

REVISÃO ALTERIDADE
- retomar a questão da alteridade (o reconhecimento do “outro” como diferente do
“eu”, ou do “nós”) – lidar com essa diferença (há muitas formas possíveis de lidar com
essas diferenças, todas estão dentro do que chamamos alteridade)
- reconhecer (e como consequencia, exaltar a si mesmo, ou criticar, questionar, duvidar,
desnaturalizar) o eu, o nós, a partir do reconhecimento do outro.
- Reconhecer-se ainda como um “outro” diante de outros sujeitos. O “outro” é sempre
um “eu”

- Vimos que a alteridade pode ser algo que se relaciona a empatia, ao reconhecimento
da diversidade, das potencialidades, diversidade cultural etc.
- mas também pode desenvolver-se em intolerância, violência, racismo, genocídio,
colonização, aniquilação do outro, imposição da sua cultura e costumes á força sobre
um outro (lembrança: mesmo que não pareça, sempre houve e sempre haverá
resistência. Indígenas, africanos escravizados, mulheres, todos possuem suas formas de
lutar e resistir, suas estratégias, suas formas de confrontar ou burlar o poder e a
violência).

Laplantine:
“De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros, mas míopes
quando se trata da nossa. A experiência da Alteridade (e elaboração dessa experiência)
leva-nos a ver aquilo que nem teríamos começado a imaginar, dada nossa dificuldade
em fixar nossa atenção no que é habitual, familiar, cotidiano e que consideramos
“evidente”. (...) O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente
pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos
uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única” (1989:21)

Roberto Da Matta diz que a antropologia é uma espécie entre mundos, universos de
significação distintos, através de métodos e “um certo olhar” / transformar o exótico em
familiar e o familiar em exótico (veremos isso quando formos falar de etnografia)

Ainda sobre o surgimento, os primórdios da Antropologia....


- grandes navegações, no período do Renascimento (os valores medievais ainda marcam
a sociedade europeia, porém, propõe-se romper com o teocentrismo, começa-se a entrar
em vigor um enfoque humanista, valorização da razão, nos valores da antiguidade
clássica, da Grecia Antiga, da filosofia, das artes... ) – período marcado pelo
Antropocentrismo (autoestima do homem branco europeu, rs), pelas ideias de conquista
- os navegadores, viajantes, faziam relatos dessas viagens, que alimentavam intelectuais
europeus (muitos deles filósofos, mas tb de outras áreas), e assim vai surgindo uma
semente da ciência do ser humano.
- grande questão que se coloca nessa época: os selvagens tem alma ou não? São
humanos ou não? O que torna uma pessoa humana? São da mesma espécie?
Missionários... os selvagens deveriam ser catequisados ou não? Os valores cristãos se
aplicariam a eles?
- controvérsia frei Las Casas e o jurista Sepulveda: ver página 26 Laplantine (ler para
as alunas)
- Movimento de pêndulo dos europeus entre o bom e o mau selvagem, mas sempre
orientados pelo etnocentrismo europeu – europeus enquanto sujeitos, os demais, como
objeto (seja de pena, de tolerância, de violência, de dominação)
 ou era um monstro, um "animal com figura humana", a meio caminho entre a
animalidade e a humanidade mas também que os monstros éramos nós, sendo
que ele tinha lições de humanidade a nos dar;
• levava uma existência infeliz e miserável, ou, pelo contrário, vivia num estado de
beatitude, adquirindo sem esforços os produtos maravilhosos da natureza, enquanto que
o Ocidente era, por sua vez, obrigado a assumir as duras tarefas da indústria;
• era trabalhador e corajoso, ou essencialmente preguiçoso;
• não tinha alma e não acreditava em nenhum deus, ou era profundamente religioso;
• vivia num eterno pavor do sobrenatural, ou, ao inverso, na paz e na harmonia
• era um anarquista sempre pronto a massacrar seus semelhantes, ou um comunista
decidido a tudo compartilhar, até e inclusive suas próprias mulheres;
• era admiravelmente bonito, ou feio;
• era movido por uma impulsividade criminalmente congênita quando era legítimo
temer, ou devia ser considerado como uma criança precisando de proteção;
• era um embrutecido sexual levando uma vida de orgia e devassidão permanente, ou,
pelo contrario, um ser preso, obedecendo estritamente aos tabus e `as proibições de seu
grupo;
• era atrasado, estupido e de uma simplicidade brutal, ou profundamente virtuoso e
eminentemente complexo;
• era um animal, um "vegetal"(de Pauw), uma "coisa", um "objeto sem valor"(Hegel),
ou participava, pelo contrário, de uma humanidade da qual tinha tudo como aprender
São objetos-pretextos que podem ser mobilizados tanto com
vistas `a exploração econômica, quanto ao militarismo político, `a conversão
religiosa ou `a emoção estética. Mas, em todos os casos, o outro não ´e considerado para
si mesmo. Mal se olha para ele. Olha-se a si mesmo nele.” (Laplantine)

Séc XVIII há a invenção do conceito de ser humano não apenas como sujeito como
objeto do saber cientifico, através da observação, empiria...

Laplantine explica que os primeiros viajantes do sec XIV tinham um olhar curioso e
cosmográfico, descritivo, mas não eram filósofos. Por outro lado, os filósofos do sec
XVIII eram filósofos, mas não eram viajantes, analisavam relatos de décadas ou séculos
atras.

Apenas no sec XIX a antropologia realmente se constitui como disciplina autônoma, e


reivindica o lugar de saber científico. À época, uma “ciência das sociedades primitivas”,
em todas as suas dimensões... sociais, culturais, biológicas, etc.

Ora, no século XIX, o contexto geopolítico ´e totalmente novo: ´e o período da conquista


colonial, que desembocará em especial na assinatura, em 1885, do Tratado de Berlim, que rege
a partilha da África entre as potências europeias ´ e põe um fim `as soberanias africanas

“E no movimento dessa conquista que se constitui a antropologia moderna, o antropólogo


acompanhando de perto, como veremos, os passos do colono. Nessa ´época, a África, a ´Índia, a
Australia, a Nova Zelândia passam a ser ´ povoadas de um n´úmero considerável de emigrantes
europeus; não se trata mais de alguns missionários apenas, e sim de administradores. Uma rede
de informações se instala. São os questionários enviados por pesquisadores das metrópoles (em
especial da Grã-Bretanha) para os quatro cantos do mundo, e cujas respostas constituem os
materiais de reflexão das primeiras grandes obras de antropologia que se sucederão em ritmo
regular durante toda a segunda metade do século.” (Laplantine)

O DETERMINISMO BIOLÓGICO

Teorias velhas e persistentes que atribuem capacidades específicas inatas a raças ou a


outros grupos humanos.

O determinismo biológico, associado ao que conhecemos como darwinismo social, foi


criado para justificar porque algumas etnias deveriam ser consideradas superiores às
outras. O determinismo biológico foi usado como justificativa para várias situações
tenebrosas da história da humanidade, como por exemplo, o nazismo, onde Adolf Hitler
pregava a superioridade da "raça ariana" sobre as demais. O determinismo biológico é
baseado em uma série de estereótipos, como por exemplo: todo asiático tem inteligência
acima da média, negros são melhores em esportes e europeus são culturalmente mais
elevados.

Esses estereótipos foram utilizados como forma de dominação social utilizando o falso
pretexto de argumentação científica. Um caso famoso de tentativa de validar o
determinismo biológico é o do médico e anatomista alemão Franz Joseph Gall, que no
século XIX criou a frenologia, uma pseudociência que utilizava caracteres físicos
craniais para determinar o caráter, personalidade e potencial para criminalidade.
Baseando-se em medidas craniais, Franz alegava ser capaz de determinar se uma pessoa
tinha potencial para cometer um crime ou não. Essa teoria foi utilizada para justificar
muitas barbáries e sedimentar a “superioridade” que a etnia branca exercia sobre as
demais.

“Os antropólogos estão convencidos de que as diferenças genéticas não são


determinantes das diferenças culturais”.

Qualquer criança pode ser educada em qualquer cultura.

Declaração UNESCO, 1950. Ver pág. 18 – “diferenças culturais se explicam pela


história cultural de cada grupo” – ler em sala esse tópico 10 da declaração. [contexto:
sociedade extremamente racista, com escravidão recente em muitos países, segregação
nos EUA e Àfrica do Sul – pesquisar um pouco sobre]

[trazer o debate para o campo da psicologia, pedir que os alunos falem o que pensam
sobre características inatas e diversidade cultural, comportamento]

p. 19 – debate sobre diferenças biológicas entre os sexos determinarem diferenças


comportamentais

divisão sexual do trabalho – determinado culturalmente

Mead e os estudos de sexo e comportamento.

Endoculturação – o comportamento, os costumes, os hábitos são aprendidos, e não


determinados biologicamente.
O DETERMINISMO GEOGRÁFICO

O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam


a diversidade cultural. Seria uma ideia de que “a ação mecânica das forças naturais
sobre uma humanidade puramente receptiva”

Teorias como essa ainda alegam que as diferenças condicionadas pelos fatores
ambientais, como clima, relevo, etc., poderiam ser incorporadas geneticamente e
herdadas por gerações. Essa visão pseudocientífica também deu munição a segregações,
racismos, intolerância e uso de poder pela falsa ideia de superioridade.

Teoria desenvolvida principalmente por geógrafos do início do sec XX – consideravam


o clima um fator importante na dinâmica do progresso.

Antropólogos como Boas, refutaram esse tipo de determinismo e demonstraram que


existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais.

Esquimós e lapões – ambiente semelhante – respostas diferentes

Keesing também mostra a grande variação cultural entre os indígenas do sudoeste


americano (Pueblo e Navajo)

Outro exemplo, indígenas do Xingu – mesmo ambiente, dietas totalmente diferentes

Ver último parágrafop. 24.

Antropologia em seus inícios, embora completamente equivocada, como veremos em


questões como etnocentrismo e ideias de evolucionismo cultural, contribuiu de certa
forma para enfraquecer na ciências ideias como o determinismo biológico e geográfico.
Infelizmente, não foi suficiente para acabar com essas noções. Como podemos observar
na história da humanidade, através do genocídio de povos indígenas, da população
negra, escravização, eugenia, nazismo, dentre outras tantas ideologias, que se baseiam
por vezes em ideias religiosas, ou em peseudociencias, para justificar a dominação e a
violência. Ainda vamos falar um pouco disso adiante, nas próximas aulas.
EVOLUCIONISMO CULTURAL

Morgan, Tylor, Frazer – evolucionismo, final do século 1800

Evolucionismo cultural é conhecido como o processo de evolução da humanidade (grupos


sociais) oriundo da produção de objetos e costumes - que os ajudasse a conviver com os
diferentes tipos de ambientes. As distintas sociedades evoluiriam todas na mesma direção,
passando por etapas e fases de desenvolvimento e diferenciação culturais inevitáveis e
escalonadas, seguindo uma transformação que levaria do simples ao complexo, do
homogêneo ao heterogêneo, do irracional ao racional.

“Todas essas obras, que tem uma ambição considerável (seu objetivo não
é nada menos que o estabelecimento de um verdadeiro corpus etnográfico da
humanidade) - caracterizam-se por uma mudança radical de perspectiva em
relação `a ´época das "luzes “o indígena das sociedades extra-europeia não ´e
mais o selvagem do século XVIII, tornou-se o primitivo, isto ´e, o ancestral do
civilizado, destinado a reencontrá-lo. A colonização atuará nesse sentido. Assim a
antropologia, conhecimento do primitivo, fica indissociavelmente ligada
ao conhecimento da nossa origem, isto é, das formas simples de organização
social e de mentalidade que evoluíram para as formas mais complexas das nossas
sociedades.

A antropologia evolucionista pregava que – existe uma espécie humana idêntica, mas
que se desenvolve em ritmos desiguais (tecnologia, economia, sociedade e aspectos
culturais), passando pelas mesmas etapas até chegar à civilização.

Morgan (Sociedade Antiga), torna-se uma referencia para encontrar em qual lugar na
escala de evolução cada sociedade se encontra

Selvageria

Considerada a infância da humanidade


As pessoas viviam nas florestas e bosques, caçando e coletando frutos das árvores.

Aos poucos manipulam o fogo e incluem peixes na alimentação

Confecção de tecidos e cestos

Uso do arco e flecha para caça

Ao final, começam a manipular argila e produzir cerâmica – o que Morgan considera o


ponto de virada para a barbárie

Barbárie

Utilizam cerâmica (cozimento, rituais)

Domesticação de animais e plantas

Irrigação – agricultura

Uso de tijolos de adobe e pdras na arquitetura

Fundição do minério de ferro

A invenção da escrita alfabética e seu uso para registros literários seria o ponto de
virada para a civilização

Civilização

Cidades – estado – ciência - leis


Sobre “O ramo de Ouro”, Frazer (magia vista como religião em potencial, ilusão de
controle mágico sobre e natureza.... passando pela religião, chegando à ciência, que
chega ao objetivo real do controle sobre a natureza.)

Magia – religião – ciência


“esses homens do século passado colocavam
o problema maior da antropologia: explicar a universalidade e a diversidade
das t´técnicas, das instituições, dos comportamentos e das crenças, comparar as práticas
sociais de populações infinitamente distantes uma das outras
tanto no espaço como no tempo. Seu mérito ´e de ter extraído (mesmo se o
fizerem com dogmatismo, mesmo se suas convicções foram mais passionais
do que racionais) essa hipótese mestra sem a qual não haveria antropologia,
mas apenas etnologias regionais: a unidade da espécie humana, ou, como
escreve Morgan, da "família humana". Pode-se sorrir hoje diante dessa visão
grandiosa do mando, baseada na noção de uma humanidade integrada, dentro
da qual concorrem em graus diferentes, mas para chegar a um mesmo n´nível
final, as diversas populações do globo. Mas são eles que mostraram pela primeira vez
que as disparidades culturais entre os grupos humanos não eram
de forma alguma a consequência de predisposições congênitas, mas apenas o
resultado de situações t´técnicas e econômicas.

Sobre evolucionismo...

Afirmação de um filósofo John Gray, em 2005:


"Os seres humanos diferem dos animais principalmente pela capacidade de acumular
conhecimento. Mas não são capazes de controlar seu destino nem de utilizar a sabedoria
acumulada para viver melhor. Nesses aspectos somos como os demais seres. Através
dos séculos, o ser humano não foi capaz de evoluir em termos de ética ou de uma lógica
política. Não conseguiu eliminar seu instinto destruidor, predatório. No século 18, o
Iluminismo imaginou que seria possível uma evolução através do conhecimento e da
razão. Mas a alternância de períodos com avanços e declínios prosseguiu inalterada. A
história humana é como um ciclo que se repete, sem evoluir."

Você concorda com ele?... -

Ler “Humanidade” ou “Human Family” (família humana, mesmo termo de Morgan), por Maya
Angelou

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