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Aula 24/03

Apresentação Gabriel (monitor da disciplina)

Introdução e recapitulação....

Nas últimas aulas falamos sobre:


Alteridade
Etnocentrismo
Evolucionismo

Alteridade permanece como uma questão central na antropologia


Falamos sobre as formas com que as sociedades europeias ao longo dos
últimos séculos lidou com a experiência da alteridade e como isso fundou a
antropologia como disciplina

Como a história da disciplina é atravessada por questões complicadas como


etnocentrismo, colonialidade e racismo e como essas questões infelizmente
ainda permanecem de forma sutil e velada, ou às vezes explícita, em diversos
âmbitos da nossa sociedade.

Importância de compreender esses processos de história do pensamento


antropológico, científico e do senso comum, inclusive para desnaturalizar e
combater certas opressões e violências.

Evolucionismo influenciou teorias eugenistas, nazistas, racistas,


segregacionistas (Lombroso, Nina Rodrigues, etc.) – relação perversa entre a
medicina, a pseudociência e a antropologia no início do sec XX – baseados
nas teorias evolucionistas, darwinistas etc.

Hoje vamos falar de um antropólogo que reverteu um pouco essa história....


Franz Boas (1858-1942) – viveu 84 anos
Alemão/judeu - radicado nos EUA
Judeu, nasceu na Alemanha em ... estudou física (diferença na percepção das
cores, azul do mar)

antropólogo Franz Boas viveu muitos anos pesquisando os esquimós no Alasca,


interessado em como as pessoas percebem de maneira diferente as cores. Em seu
estudo, Boas descobriu que, para os esquimós, existe uma palavra para definir
água potável e outra para água do mar. Há também diferenças entre a neve que
está no chão, a que está caindo e aquela que cai com o vento.

Texto: as limitações do método comparativo...

INTRODUÇÃO A BOAS, CONTEXTO, IDEIAS MAIS GERAIS:

Partindo da teoria evolucionista da época e a descoberta da unidade psíquica da


espécie humana, a Antropologia tentava explicar tanto as semelhanças culturais
quanto as diferenças culturais.

Duas questões centrais da época:


- o que explica a existência de costumes semelhantes entre povos sem contato
histórico.
- Diferenças culturais em torno de questões consideradas até então naturais da
humanidade, como família, parentesco, papeis de gênero etc.

A Antropologia da época, segundo Boas, busca responder ao questionamentos


sobre quais as origens das similaridades culturais entre povos distantes e como
elas se afirmam em diferentes culturas. Trata-se principalmente de “ideias
universais”, como o tabu do incesto (Levi-Strauss) e o próprio etnocentrismo,
presente de diferentes formas em todas as culturas.
“A descoberta dessas idéias universais, contudo, é apenas o começo do trabalho
do antropólogo. A indagação científica precisa responder a duas questões em
relação a elas: primeiro, quais são suas origens? Segundo, como elas se
afirmaram em várias culturas?
A segunda questão é a mais fácil de responder. As ideias não existem de forma
idêntica por toda parte: elas variam. Tem-se acumulado material suficiente para
mostrar que as causas dessas variações são tanto externas, isto é, baseadas no
ambiente - tomando o termo ambiente em seu sentido mais amplo -, quanto
internas, isto é, fundadas sobre condições psicológicas (será que ai entraria a
questão da escolha?). A influência dos fatores externos e internos sobre ideias
elementares/universais corporifica um grupo de leis que governa o
desenvolvimento da cultura. Portanto, nossos esforços precisam ser direcionados
no sentido de mostrar como tais fenômenos modificam essas ideias
elementares/universais.” (p. 27)

“Quando se trata desse problema - o mais difícil da antropologia -, assume-se o


ponto de vista de que, se um fenômeno etnológico desenvolveu-se
independentemente em vários lugares, esse desenvolvimento é o mesmo em toda
parte; ou, dito de outra forma, que os mesmos fenômenos etnológicos devem-se
sempre às mesmas causas [IDEIA EVOLUCIONISTA]. Isso leva à generalização
ainda mais ampla de que a semelhança de fenômenos etnológicos encontrados
em diversas regiões é prova de que a mente humana obedece às mesmas leis
[LEIS UNIVERSAIS QUE REGEM A MENTE HUMANA]em todos os lugares.
É óbvio que essa generalização não se sustentaria, caso desenvolvimentos
históricos diferentes pudessem conduzir aos mesmos resultados. [NOÇÃO
DEFENDIDA POR BOAS]” (p. 29)

[INTRODUZ À ANTROPOLOGIA A HISTÓRIA COMO FORMA DE


COMPREENDER A DIVERSIDADE CULTURAL. HISTÓRIAS
DIFERENTES, CULTURAS DIFERENTES. DIFUSÃO E TROCAS APENAS
EM CONTEXTOS MAIS PRÓXIMOS, DIFERENTE DO QUE OS
DIFUSIONISTAS RADICAIS PREGAVAM – DE QUE AS SEMELHANÇAS
ENTRE POVOS SÓ PODERIAM SER EPXLICADAS ATRAVÉS DAS
TROCAS – UMA CULTURA LEVANDO IDEIAS PRONTAS A OUTRAS
ATRAVÉS DO TEMPO. ]

Sua existência apresentaria para nós um problema inteiramente diverso: como


desenvolvimentos culturais tão freqüentemente levam aos mesmos resultados? É
preciso compreender com clareza, portanto, que, quando compara fenômenos
culturais similares de várias partes do mundo, a fim de descobrir a história
uniforme de seu desenvolvimento, a pesquisa antropológica supõe que o mesmo
fenômeno etnológico tenha-se desenvolvido em todos os lugares da mesma
maneira. Aqui reside a falha no argumento do novo método, pois essa prova não
pode ser dada. Até o exame mais superficial mostra que os mesmos fenômenos
podem se desenvolver por uma multiplicidade de caminhos.

Se não é possível provar, a Antropologia da época estava fazendo pseudociência,


e não ciência.

Para Boas, não se pode comparar culturas diferentes, pois as diferenças seriam
tiradas de contexto histórico.

RESULTADOS SEMELHANTES, CAMINHOS/CAUSAS DIFERENTES.


CAUSAS SEMELHANTES, RESULTADOS DIFERENTES

EXEMPLO:
TOTENS DOS CLÃS (UMA FORMA DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL QUE SE
REPETE EM DIFERENTES LUGARES E CULTURAS PELO MUNDO,)

“Certamente justifica-se a conclusão de que as condições psíquicas do homem


favorecem a existência de uma organização totêmica da sociedade, mas daí não
decorre que toda sociedade totêmica tenha se desenvolvido em todos os lugares
da mesma maneira.”

Portanto, a ocorrência frequente dessas formas não prova nem uma origem
comum, nem que elas tenham sempre se desenvolvido de acordo com as mesmas
leis psíquicas. Pelo contrário, o mesmo resultado pode ter sido alcançado por
quatro linhas diferentes de desenvolvimento e de um número infinito de pontos
de partida. (p. 31)

página 31 – quatro exemplos possíveis do uso da máscara em diferentes povos


1 As máscaras são usadas para enganar os espíritos quanto à identidade daquele
que as usa. O espírito da doença que pretende atacar a pessoa não a reconhece
quando ela está de máscara, e esta serve, assim, como proteção.
2 Em outros casos a máscara representa um espírito personificado pelo
mascarado, que, dessa forma, afugenta outros espíritos hostis.
3 Outras máscaras, ainda, são comemorativas. O mascarado encarna uma pessoa
morta cuja memória deve ser relembrada.
4 Máscaras também são empregadas em representações teatrais para ilustrar
incidentes mitológicos.!

Não se pode dizer que a ocorrência do mesmo fenômeno sempre se deve às


mesmas causas, nem que ela prove que a mente humana obedece às mesmas leis
em todos os lugares. (p. 31)

BOAS REFUTA A IDEIA VIGENTE DE QUE O MÉTODO COMPARATIVO


COMPROVARIA QUE FATOS SEMELHANTES PROVARIAM A
EXISTÊNCIA DE LEIS GERAIS QUE REGEM AS SOCIEDADES
HUMANAS

BOAS DEFENDE QUE “as comparações se restrinjam àqueles fenômenos que


se provem ser efeitos das mesmas causas.” (métodos como arqueologia e
linguística poderiam ser utilizados para compreender esses desenvolvimentos
históricos)

Boas como pai fundador da Antropologia estadunidense: 4 linhas centrais:


Antropologia física ou biológica; antropologia cultural; arqueologia; antropologia
linguística

Funda a escola culturalista – foco nas culturais plurais, diversidade, história


como forma de compreender a cultura de um povo, crítica a comparações fora de
contexto, pseudocientíficas; grande crítico do método evolucionista e do uso à
época que acabou por fundamentar linhagens como a antropologia física criminal
(Lombroso, Nina Rodrigues no Brasil) – políticas eugenistas etc. Boas é muito
importante na instituição do trabalho de campo como âmago da Antropologia:
conviver, fazer cadernos de campo, registrar, fotografar, aprender a língua...
Malinowski, que cria o método etnográfico per si, escreve sobre isso muitas
décadas depois.
POR ISSO A IMPORTÂNCIA DE UMA ANÁLISE HISTÓRICA, DA
CULTURA EM SUA PRÓPRIA LÓGICA, EM SUA PRÓPRIA LINGUA

Os estudos comparativos a que me refiro tentam explicar


costumes e idéias de notável similaridade encontradas aqui e ali.
Mas eles também têm o plano mais ambicioso de descobrir as leis
e a história da evolução da sociedade humana. O fato de que
muitos aspectos fundamentais da cultura sejam universais - ou
que pelo menos ocorram em muitos lugares isolados - quando
interpretados segundo a suposição de que os mesmos aspectos
devem ter se desenvolvido sempre a partir das mesmas causas,
leva à conclusão de que existe um grande sistema pelo qual a
humanidade se desenvolveu em todos os lugares, e que todas as
variações observadas não passam de detalhes menores dessa
grande evolução uniforme. [CONCLUSÃO ERRÔNEA E
PSEUDOCIENTÍFICA]

Dessa maneira, devemos também considerar que


todas as engenhosas tentativas de construção de um grande sistema da evolução
da sociedade têm valor muito duvidoso, a menos
que se prove também que os mesmos fenômenos tiveram sempre
a mesma origem [O QUE É PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL]. Até que isso
seja feito, o pressuposto mais aceitável é que o desenvolvimento histórico pode
ter seguido cursos variados.

O objetivo de nossa investigação é descobrir os processos pelos quais certos


estágios culturais se desenvolveram. Os costumes e as crenças, em si mesmos,
não constituem a finalidade última da pesquisa. Queremos saber as razões pelas
quais tais costumes e crenças existem - em outras palavras, desejamos descobrir a
história de seu desenvolvimento.

Temos outro método que em muitos aspectos é bem mais seguro. O estudo
detalhado de costumes em sua relação com a cultura total da tribo que os pratica,
em conexão com uma investigação de sua distribuição geográfica entre tribos
vizinhas, propicia-nos quase sempre um meio de determinar com considerável
precisão as causas históricas que levaram à formação dos costumes em questão
e os processos psicológicos que atuaram em seu desenvolvimento. Os resultados
das investigações conduzidas por esse método podem ser tríplices. Eles podem
revelar as condições ambientais que criaram ou modificaram os elementos
culturais; esclarecer fatores psicológicos que atuaram na configuração da
cultura; ou nos mostrar os efeitos que as conexões históricas tiveram sobre o
desenvolvimento da cultura. (P. 33 E 34)

MÉTODO HISTÓRICO [PROPOSTO POR BOAS]


Sua aplicação se baseia, em primeiro lugar, num território geográfico pequeno e
bem definido, e suas comparações não são estendidas além dos limites da área
cultural que forma a base de estudo.

DIFUSÃO CULTURAL – INTERCAMBIO ENTRE SOCIEDADES


GEOGRAFICAMENTE PROXIMAS SEMPRE EXISTIU

SÓ PODE SER POSSÍVEL UMA COMPARAÇÃO ENTRE HISTÓRIAS –


DEPOIS DE UM INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA DENTRO DE CADA
CULTURA

O problema psicológico está contido nos resultados da investiga-


ção histórica. Quando esclarecemos a história de uma única cultura e
compreendemos os efeitos do meio e das condições psicológicas que nela se
refletem, damos um passo adiante, pois podemos então investigar o quanto essas
ou outras causas contribuíram para o desenvolvimento de outras culturas. Assim,
quando comparamos histórias de desenvolvimento, podemos descobrir
leis gerais [SERÁ? – À ÉPOCA, ERA UMA GRANDE PREOCUPAÇÃO
DA CIÊNCIA, ENCONTRAR LEIS GERAIS]. Esse método é muito mais
seguro do que o comparativo, tal como ele é usualmente praticado, porque, em
lugar de uma hipótese sobre o modo de desenvolvimento, a história real forma
a base de nossas deduções. A investigação histórica deve ser o teste crítico
demandado pela ciência antes que ela admita os fatos como evidências.

Além disso, Boas também critica o método "difusionista".


Ao contrário do evolucionismo, do qual também eram críticos,
os autores difusionistas colocavam todo o peso explicativo da
questão da diversidade cultural humana na idéia de difusão. Ou
seja, ao invés de supor, como os evolucionistas, que a ocorrência
de elementos culturais semelhantes em duas regiões geograficamente afastadas
seria prova da existência de um único e mesmo
caminho evolutivo, os difusionistas pressupunham que deveria
ter ocorrido a difusão de elementos culturais entre esses mesmos
lugares (por comércio, guerra, viagens ou quaisquer outros
meios).

Alguns autores, chamados de "hiperdifusionistas", chegaram mesmo a defender a


existência de um único grande centroem geral, o Egito antigo - a partir do qual a
civilização se teria difundido para todas as regiões do mundo. Ou seja, por outros
caminhos, o resultado dos difusionistas acabava sendo semelhante ao dos
evolucionistas - e suas suposições também não podiam ser bem fundamentadas.
Embora Boas reconhecesse cabalmente a importância geral do fenômeno da
difusão, ele limitava sua pertinência explicativa apenas a áreas relativamente
próximas, onde se pudesse reconstituir com razoável segurança a história das
transmissões culturais.

BOAS CRITICA TODAS AS FORMAS DE DETERMINISMO (RACIAL,


GEOGRÁFICO/AMBIENTAL, ECONÔMICO) – E VAI DELINEANDO O
CONCEITO DE CULTURA COMO ELEMENTO EXPLICATIVO DA
DIVERSIDADE HUMANA [ATÉ ENTÃO, A CENTRALIDADE DA
ANÁLISE NÃO ERA A CULTURA, MAS LEIS GERAIS, OU AMBIENTAIS,
OU PSÍQUICAS, OU GENÉTICAS, ETC.] [AS DIFERENÇAS CULTURAIS
ERAM TRATADAS APENAS COMO ITENS EM CAIXINHAS,
ELEMENTOS A SEREM ANALISADOS – FORA DE CONTEXTO]

IMPORTÂNCIA CABAL DE BOAS NA CENTRALIDADE DO CONCEITO


DE CULTURA COMO ELEMENTO EXPLICATIVO DA DIVERSIDADE

VER CONCEITO DE CULTURA DE TYLOR [EVOLUCIONISTA]

ESCOLA ALEMÃ E O CONCEITO DE CULTURA – KULTUR – ESPÍRITO


DE UM POVO...

É preciso observar, no entanto, que a principal


contribuição para a antropologia cultural não foi como formalizador de teorias;
seu papel foi acima de tudo o de crítico de teorias então consagradas, como o
evolucionismo e o racismo. Com
isso, abriu caminho para que outros antropólogos - muitos deles, seus alunos -
desenvolvessem as implicações decorrentes da
percepção da relatividade das formas culturais sob as quais os
homens têm vivido

BOAS FORMOU GERAÇÕES DE ANTROPÓLOGAS QUE TIVERAM UM


OLHAR BASTANTE DIFERENTE PARA AS DIFERENÇAS CULTURAIS.

A concepção boasiana de cultura tem como fundamento


um relativismo de fundo metodológico, baseado no reconhecimento de que cada
ser humano vê o mundo sob a perspectiva da
cultura em que cresceu - em uma expressão que se tornou famosa, ele disse que
estamos acorrentados aos "grilhões da tradição". [INFLUENCIA A NOÇÃO DE
RUTH BENEDICT, DE QUE A CULTURA É A LENTE PELA QUAL CADA
UM ENXERGA O MUNDO] O antropólogo deveria procurar sempre relativizar
suas próprias noções, fruto da posição contingente da civilização ocidental e de
seus valores.

A percepção do valor relativo de todas as culturas - a palavra aparece agora no


plural, e não no singular, como no caso dos evolucionistas - servia também para
ajudar a lidar com as difíceis questões colocadas para a humanidade pela
diversidade cultural. [CONTEXTO DE ASCENÇÃO DO NAZISMO E
PROFUNDA SEGREGAÇÃO RACIAL NOS EUA] É com isso em mente que
podemos apreciar plenamente a força de "Raça e progresso" (1931)

ESSAS NOÇÕES FORAM MUITO IMPORTANTES AINDA NA


DESNATURALIZAÇÃO DE PAPEIS DE GENERO (MEAD)

Vigorosa crítica às teorias racistas, que na época dominavam não só o senso


comum, como também boa parte do ambiente acadêmico. É também um exemplo
da intensa participação de Boas na cena pública norte-americana em relação às
questões sociais.

Haveria uma enorme variabilidade genética, mesmo em uma população


considerada "racialmente homogênea", daí o absurdo científico de se pensar em
"raças
puras". Traços ou características que habitualmente se associavam a uma
determinada raça estariam, na verdade, presentes em várias outras. [BOAS
TRAZ A QUESTÃO DA MULTIPLICIDADE MESMO EM POVOS
CONSIDERADOS HOMOGÊNEOS – NÃO EXISTE RAÇA PURA PORQUE
SEMPRE HOUVERAM TROCAS CULTURAIS E GENÉTICAS]

Em um contexto internacional crescente mente racista e belicista, Boas desafiava


Keith a provar, não apenas que a antipatia racial seria "implantada pela natureza",
e não efeito de causas sociais, como também a afirmação de que as guerras
teriam uma função positiva de seleção. [ENFRENTAMENTO A TEORIAS
EUGENISTAS E RACISTAS]

BOAS (1858-1942) COMO UM DOS FUNDADORES DA ETNOGRAFIA

para Boas, o trabalho de campo era crucial, tudo deveria ser anotado, os materiais
constitutivos das casas, as notas das melodias, os mitos, os ingredientes e formas
de preparar alimentos... riqueza de detalhes...

“Por outro lado, enquanto raramente antes dele as sociedades tinham sido
realmente consideradas em si e para si mesmas, cada uma dentre elas adquire o
estatuto de uma totalidade aut^onoma. O primeiro a formular com
seus colaboradores (cf. em particular Lowie, 1971) a cr´ıtica mais radical e
mais elaborada das no¸c~oes de origem e de reconstitui¸c~ao dos est´agios,1 ele
mostra que um costume s´o tem significa¸c~ao se for relacionado ao contexto
particular no qual se inscreve. Claro, Morgan e, muito antes dele, Montesquieu
tinham aberto o caminho a essa pesquisa cujo objeto ´e a totalidade das
rela¸c~oes sociais e dos elementos que a constituem. Mas a diferença é que a
partir de Boas, estima-se que para compreender o lugar particular ocupado
por esse costume não se pode mais confiar nos investigadores e, muito menos
nos que, da "metrópole", confiam neles. Apenas o antropólogo pode elaborar
uma monografia, isto é, dar conta cientificamente de uma microssociedade,
apreendida em sua totalidade e considerada em sua autonomia teórica. Pela
primeira vez, o teórico e o observador estão finalmente reunidos. Assistimos
ao nascimento de uma verdadeira etnografia profissional que não se contenta
mais em coletar materiais `a maneira dos antiquários, mas procura detectar
o que faz a unidade da cultura que se expressa através desses diferentes
materiais.”

Boas foi um dos primeiros a demonstrar a importância do etnólogo aprender a


língua da sociedade a qual está estudando. As tradições não poderiam ser
traduzidas pois perderiam o sentido dentro de seu próprio contexto cultural e
linguistico.

“enquanto professor, o grande pedagogo que formou a primeira gera¸c~ao de


antrop´ologos americanos (Kroeber, Lowie, Sapir, Herskovitz, Linton. . . e, em
seguida, R. Benedict, M. Mead). Ele permanece sendo o mestre incontestado da
antropologia americana na primeira metade do s´eculo XX.”

Levi Strauss – Raça e História

1952 (Unesco)
Como explicar a diversidade das culturas humanas?

Para o autor, as culturas humanas não diferem umas das outras do mesmo modo,
nem no mesmo plano.
As culturas humanas estão justapostas no espaço (planeta), próximas ou
distantes, mas todas são contemporâneas (ou seja, não é possível pensar em
“infância da humanidade”, ou “culturas primitivas”, ou “ancestrais vivos da
cultura europeia”)
A diversidade humana é infinitamente mais rica do que jamais poderemos saber,
pois, ainda que nos tornemos etnólogos e arqueólogos, jamais poderemos entrar
em contato com civilizações do passado, com sua história e diversidade em sua
plenitude. Um inventário completo da diversidade cultural humana teria mais
lacunas do que casas preenchidas.
As culturas diferem de modos diferentes: se duas culturas tiverem surgido de um
tronco comum, suas diferenças serão distintas do que duas que jamais tiveram
algum contato [DIFERENÇAS QUE DIFEREM DE MODOS DIFERENTES,
RS].
Pesquisar: império Inca (Peru) / Império Daomé (Africa)
“Nas sociedades humanas, operam simultaneamente forças que trabalham em
direções opostas: umas tendem a manter – e mesmo a acentuar – particularidads,
enquanto outras agem no sentido da convergência e do assemelhamento.” (p.
360) [PENSANDO NOS CONTATOS E RELAÇÕES ENTRE CULTURAS]

A diversidade não se coloca apenas entre culturas, mas dentro de uma própria
sociedade.
As culturas humanas nunca estão sozinhas, mesmo aquelas mais afastadas.
Sociedades ameríndias – isoladas de outros continentes por dezenas de milhares
de anos. Mas ainda assim se tratava de milhares de sociedades em contatos e
trocas umas com as outras.
“A diversidade das culturas humanas não deve levar-nos a uma observação
fragmentar ou fragmentada: é menos função do isolamento dos grupos do que
das relações que os unem”

O etnocentrismo
A diversidade humana é um fenômeno natural, resultante das relações diretas ou
indiretas entre as sociedades. (p. 362)

“A atitude mais antiga, certamente assentada em sólidas bases psicológicas, já


que tende a reaparecer em cada um de nós quando confrontados a uma situação
inesperada, consiste em repudiar, pura e simplesmente, as formas culturais
morais, religiosas, sociais ou estéticas mais afastadas daquelas a que nos
identificamos.” (p. 362)
Noções de bárbaro (termo cunhado pelos gregos, semelhante ao som dos
pássaros, animais, estado de natureza)
Noção de selvagem – da selva, animalesco
Ambos em oposição à linguagem e cultura humanas
Em ambos os casos, rejeita-se a diversidade cultural. Coloca-se o diferente para
fora da cultura, fora da humanidade, ou seja, na natureza.

“Tal atitude de pensamento, em nome da qual os ‘selvagens’ (ou todos aqueles


que se decida considerar como tais) são relegados para fora da humanidade, é
justamente a atitude mais marcante e mais distintiva dos próprios selvagens ” (p
363)
O etnocentrismo é uma marca de todos os grupos humanos, mesmo aqueles ditos
primitivos. Exemplos de nomes de grupos sociais que significam em suas
línguas: “os humanos” “os bons” “ os completos”; e grupos vizinhos como
“ruins” “lendeas” “fantasma” “assombração” etc...

“Bárbaro, é antes de tudo, aquele que crê na barbárie” (p. 364)

Falso evolucionismo – tentativa de suprimir a diversidade das culturas fingindo


reconhece-la plenamente

“Pois se tratarmos os diferentes estados em que se encontram as sociedades


humanas, antigas ou distantes, como estágios ou etapas de um desenvolvimento
único, com o mesmo ponto de partida e dirigindo-se ao mesmo objetivo, é claro
que a diversidade só pode ser aparente. A humanidade torna-se uma e idêntica a
si mesma; mas essa unidade e identidade só podem realizar-se progressivamente,
e a variedade das culturas ilustra os momentos de um processo que dissimula
uma realidade mais profunda ou adia sua manifestação” (p. 365) [FALSA
DIVERSIDADE DENTRO DA FALSA TEORIA EVOLUCIONISTA]

O evolucionismo biológico (de Darwin) e o pseudoevolucionismo cultural são


teorias muito diferentes

Ver página 366 – a diferenciação do evol. Biológico (fósseis de esqueletos


diferentes, que deram origem a outros seres semelhantes porém adaptados – ex.
cavalo)
Contraposição ao machado como objeto arqueológico – um machado não dá
origem a outro machado.
Afirmar que um machado evoluiu a partir do outro, constitui uma metáfora
destituída de rigor científico
Antiguidade – Pascal – comparava a humanidade a um ser vivo que passava
pelas fases da infância, adolescência e maturidade
Cada sociedade pode dividir as culturas, a partir de seu ponto de vista em três
categorias: suas contemporâneas porém distantes; as que se manifestaram no
mesmo espaço em outro tempo; e as que existiram antes em outro espaço.
Vestígios arqueológicos, pedra lascada – sempre serão apenas hipóteses
Dois tipos de história – p. 370

Ideia de progresso (dialoga com a crítica ao evolucionimso) – p. 371

Idade da pedra lascada; idade da pedra polida; idade do couro; idade do bronze;
idade do ferro ...
Paleolítico – tendencia antiga a colocar em etapas, ordem, subsequentes – porem
admite-se que essas “etapas” coexistiram de diferentes formas

Neandertais não precedeream o homo sapiens, mas coexistiram em certo período

“o desenvolvimento dos conhecimentos em pré-história e arqueologia tende a


distribuir no espaço formas de civilização que tendíamos a imaginar como
distribuídas no tempo” (p. 372)

O “progresso” não é nem necessário, nem contínuo; procede por saltos, pulos, ou,
como dizem os biólogos, por mutações. Tais saltos nem sempre levam adiante na
mesma direção, mas são acompanhados por mudanças de orientação, um pouco
como o cavalo no jogo de xadrez, que tem sempre vários movimentos à
disposição, mas nunca no mesmo sentido.
A humanidade em progresso não se assemelha a uma pessoa subindo uma
escada, mas mais a uma pessoa que lança a sorte nos dados, sempre a conta é
diferente.
Apenas as vezes a história é cumulativa
[para pensar: quantas vezes, na nossa sociedade global e múltipla, diversa, não
observamos grandes retrocessos? Como podemos dizer sobre uma ideia de
evolução ou progresso, enquanto o capitalismo, quanto mais amplia suas
tecnologias, inclusive para produção de alimentos, mais vê pessoas morrendo de
fome, refugiados morrendo nos mares em fuga de guerras, em busca de abrigos,
que muitas vezes não vão acontecer? Os direitos sociais conquistados parecem
muito frágeis, não há garantias. Perde-se com muita facilidade coisas
conquistadas com muita luta e ao longo de muito tempo – ex. direito das
mulheres X Damares e red pill]

Ler página 373 sobre a contribuição do ser humano que chegou às Américas e
seu exemplo de história cumulativa, bem como suas contribuições para a
miserável Europa da época.

Tendemos a considerar outros culturas cumulativas apenas quando se


assemelham a nós (no caso de levi-strauss, “nós”, europeus do sec. XX)

Como lidamos com outras culturas que possuem outras formas de simbolizar,
outros valores os quais nem podemos mensurar?

“A historicidade, ou, para dizer mais precisamente, a riqueza em eventos de uma


cultura ou de um processo cultural não é função de suas propriedades intrínsecas,
mas da situação em que nos encontramos em relação a elas, do número e da
diversidade dos interesses que investimos neles.” (p. 375)

Nunca fez tanto sentido a frase: tudo é relativo!

Oposição entre culturas progressivas e culturas inertes: diferença de foco!

Metáfora do microscópio – p. 375 – SE A LENTE DO MICROSCÓPIO


ESTIVER REGULADA DE UMA CERTA MANEIRA, PARA UMA CERTA
DISTÂNCIA OU TIPO DE ILUMINAÇÃO, CASO O OBJETO ESTEJA EM
CONDIÇÕES DIFERENTES, APARECERÃO BORRADOS
Teoria da relatividade – metáfora do trem (p. 375) – PARA UM VIAJANTE
SENTADO À JANELA DE UM TREM, A VELOCIDADE E O TAMANHO
DOS OUTROS TRENS VAI DEPENDER DO SENTIDO EM QUE ELES
ESTÃO VIAJANDO, DA DISTANCIA ENTRE ELES, DA VELOCIDADE EM
QUE SEU PRÓPRIO TERM ESTÁ VIAJANDO – HÁ MULTIPLOS
SENTIDOS E VELOCIDADES POSSÍVEIS. QUANDO CRUZAMOS COM
UM TREM (OU UM CARRO EM SENTIDO OPOSTO) NA ESTRADA, O
QUE PODEMOS ENXERGAR SÃO APENAS VULTOS, IMPRESSÕES
MUITO VAGAS.

PARA LEVI-STRAUSS, CADA MEMBRO DE UMA CULTURA, É TÃO


SOLIDÁRIO A ELA QUANTO UM PASSAGEIRO É DE SEU TREM.
[SISTEMA COMPLEXO DE REFERÊNCIAS - EDUCAÇÃO,
ENDOCULTURAÇÃO, VALORES, PRÉ-CONCEPÇÕES (OS ”GRILHÕES
DA TRADIÇÃO” COMO DIZ BOAS) – QUANDO ESTAMOS EM UM
TREM, PODEMOS NOS MOVIMENTAR E CAMINHAR POR ELE, MUDAR
DE VAGÃO, SENTAR EM OUTRO BANCO, OLHAR UMA OU OUTRA
JANELA ETC. MAS TEMOS UM CERTO LIMITE, QUE É O TREM EM SI.
ESTAMOS EM REFERÊNCIA A ELE.

“Deslocamo-nos literalmente junto com esse sistema de referências, e as


realidades culturais de fora só podem ser observadas através das deformações a
que ele as sujeita, quando não nos impede, simplesmente, de ver o que quer que
seja” (p. 376)

Ver páginas 375 e 376 – trem das culturas. Endoculturação em nosso trem. Visão
borrada de outras culturas em outros trem, tamanhos, sentidos, ritmos...

Distinção errônea entre culturas que se movem / culturas que não se movem –
pode ser explicada pela mesma diferença de posição que faz com que um trem
em movimento se mova ou não para o viajante.

Velocidade como valor metafórico – metáfora do trem tem valor invertido do


mundo da física para o mundo da cultura. [PARA AS CIENCIAS HUMANAS
SUBSTITUI-SE VELOCIDADE POR INFORMAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO] –
PODEMOS ACUMULAR INFORMAÇÕES MUITO MAIS DETALHADAS
SOBRE UM TREM QUE SE MOVE NO MESMO SENTIDO E
VELOCIDADE QUE O NOSSO – ENQUANTO OS EM SENTIDO
DIFERENTE PARECERÃO BORRÕES – NÃO TERÃO SIGNIFICADO.

“Sempre que tendemos a qualificar uma cultura humana como inerte ou


estacionária devemos, portanto, nos perguntar se o aparente imobilismo não
resulta de nossa ignorância quanto aos seus verdadeiros interesses, conscientes
ou inconscientes, e se, tendo critérios diferentes dos nossos, essa cultura não seria
vítima, em relação a nós, da mesma ilusão. Ou seja, pareceríamos
desinteressantes um para o outro, simplesmente porque não nos parecemos.” (p.
377) [ETNOCENTRISMO]

CONTRIBUIÇÕES E TROCAS ENTRE AS CULTURAS – PÁGINA 378-379

Sobre a universalização da cultura ocidental – p. 380

Ocidentalização resulta menos de livre escolha do que de falta de opção

Soldados, comércios, plantações e missionários ao longo do mundo


[IMPOSIÇÃO E VIOLENCIAS, ESTUPROS, EXTERMÍNIOS, AMEAÇAS]

Interferiu, exterminou pessoas e modos de vida, [ALGUMAS FEMINISTAS


DECOLONIAIS DIZEM QUE O PRÓPRIO CONCEITO DE GÊNERO E
VIOLÊNCIAS DE GÊNERO FORAM TRAZIDAS COM A COLONIZAÇÃO
E REPRODUZIDA POR HOMENS INDÍGENAS]

Acaso e civilização p. 383 - FOGO, CERÂMICA ETC. - NÃO É SÓ ACASO,


NEM SÓ INVENÇÃO E GENIALIDADE

Nenhuma cultura é estacionária / toda sociedade é cumulativa, em algum grau

Probabilidades [TROCAS CULTURAIS - QUANTO MAIS JOGADORES


EM PARCERIA, MAIOR A PROBABILIDADE DE SEQUENCIAS E
DESCOBERTAS, RESULTADOS MAIS AMPLOS] [DIVERSIDADE E
PROGRESSO ESTÃO RELACIONADOS DE ALGUMA FORMA –
DIVERSIDADE DE REPOSTAS CULTURAIS]

ACÚMULOS – PENSANDO EM CULTURAS CUMULATIVAS – OCORREM


NAS TROCAS

“quando estamos interessados em certo tipo de progresso, reservamos o mérito às


culturas que o realizam no mais alto grau, e ficamos indiferentes diante das
demais. Portanto, o progresso nunca é senão o máximo de progresso num sentido
predeterminado pelo gosto de cada um.” (p. 390)

A colaboração das culturas (p. 390)

As formas mais cumulativas de história nunca ocorreram sozinhas, nunca foram


um feito de culturas isoladas (migrações, trocas comerciais, guerras,
empréstimos)

Quanto maiores as trocas e coalizões, maiores serão os acúmulos das culturas

A Europa no início do Renascimento era lugar de encontro e fusão das


influências as mais diversas: as tradições grega, romana, germânica e anglo-saxã,
as influências árabe e chinesa.

A América não tinha menos contatos culturais, quantitativamente. Porem a


ocupação do continente americano é muito mais recente. E a forma com que
escolheram viver e se estabelecer tb eram diferentes. As condições climáticas
podem levar a respostas sociais distintas tb (não no sentido determinista, mas
penso que há grandes diferenças entre um continente gelado de um território
tropical e extremamente rico em biodiversidade. Alias há estudos que
comprovam que a biodiverisidade da floresta amazônica, a terra preta e várias
ervas e plantas, são fruto da forma com que os povos originários lidam com a
floresta. Diferente do ímpeto explorador e destruidor dos europeus)

A sociedade cumulativa resulta mais de seu comportamento do que de sua


natureza.
Em que medida uma sociedade pode conhecer, compreender a outra?
[COMPREENDER SEUS SIGNIFICADOS E MOTIVAÇÕES] (grande questão
antropológica)

“consideramos a noção de civilização como um conceito-limite, ou modo


abreviado de designar um processo mais complexo. Pois, se nossa demonstração
for válida, não há e nem pode haver uma civilização mundial no sentido absoluto
(...) civilização supõe a coexistência de culturas que apresentem o máximo de
diversidade entre si; civilização é, na verdade, tal coexistência. A civilização
mundial só poderia ser a coalizão, em escala mundial, de culturas que
mantenham cada qual sua originalidade.” (p. 395)

O duplo sentido do progresso

A coalizão tem o risco de gerar homogeinização – se a diversidade é condição


inicial, os ganhos diminuem com o tempo. [CONTRASENSO]

Colonialismo, mudanças a força, apenas em seu próprio benefício (europa,


depois EUA)

Dois processos contraditórios que estão sempre acontecendo na humanidade


– a busca pela unificação e as rupturas e diversificação

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