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A ideia de que o comportamento humano era duplamente determinado por aspectos “social” e
“biológico”, sendo que os primeiros devem ser estudados pelos cientistas sociais.
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As três características do fato social são: generalidade, pois se aplica a todos os indivíduos de uma
sociedade; externalidade, ou seja, é algo exterior aos indivíduos; e poder de coerção sobre o
comportamento individual.
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Os debates e discussões com os psicólogos na época foi registrado no artigo intitulado, “Relações reais e
práticas entre a psicologia e a sociologia”, publicado em 1924.
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Essa questão foi abordada por Mauss no artigo intitulado, “Efeito físico no indivíduo da ideia de morte
sugerida pela coletividade”, publicado em 1924.
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A noção de técnica corporal foi desenvolvida por Mauss no artigo intitulado, “As Técnicas do
Corpo”, publicado em 1935.
que ele mesmo teceu”. Portanto, o papel da antropologia seria entender as teias e
analises, buscando o significado para as ações dos indivíduos dentro de cada cultura e
sociedade. A cultura também é entendida como um código público, pois ela atua na
comunicação entre as pessoas, criando símbolos e significados nas relações humanas.
Geertz acreditava que a etnografia precisa ser uma “descrição densa”, ou seja,
a descrição feita pelo antropólogo não pode ser superficial ou apenas descrever os fatos
que estão ocorrendo, mas sim, entender e interpretar o significado que as pessoas dão
aos fatos, partindo do pressuposto que as ações em culturas diferentes possuem também
significados diferentes. Uma descrição densa é aquela que consegue compreender os
significados que as pessoas atribuem para aquilo que fazem, para exemplificar podemos
mencionar a diferença entre o piscar de olhos e a piscadela. A diferença é que o piscar
de olhos é involuntário, um ato fisiológico que não tem um significado nem uma
mensagem, enquanto a piscadela é um código público que atua na comunicação entre as
pessoas.
Para Marshal Sahlins, o grande desafio da antropologia histórica não seria
somente entender como os eventos são ordenados pela cultura, mas sim entender como
nesse processo a cultura é reordenada pelos eventos históricos, levando a sua
transformação estrutural. Sahlins argumenta que o processo histórico se desdobra em
um movimento continuo e reciproco, que transita entre a prática da estrutura e a
estrutura da prática, procurando ambivalências nas logicas e interpretações culturais que
acomodam sistemas de longa, curta e media duração.
Como exemplo, podemos citar a obra “Ilhas da História”, onde Sahlins faz uma
reavaliação funcional de dicotomias clássicas da teoria antropológica, como “Estrutura
Vs. Historia”, “Sincronia Vs. Diacronia”, “Sistema Vs. Evento”, analisando como um
evento histórico paradigmático – a chegada dos colonizadores ingleses no Hawai –
levou a um reordenamento da sua estrutura sociocultural. A chegada dos colonizadores
– portando adornos e “objetos mágicos” - causou forte impacto nos nativos, que
acreditavam que aquelas pessoas eram os deuses encarnados que vieram a terra para
trazer a salvação a eles. Num primeiro momento os colonizadores se aproveitaram dessa
situação, sendo agraciados e reverenciados como deuses, porém os nativos começaram a
observar o comportamento daqueles homens e recorrendo aos mitos históricos,
perceberam que suas atitudes eram contrárias as atitudes dos deuses descritas nos mitos.
A postura dos nativos em relação aos colonizadores se transforma em atitudes de
resistências, matando então capitão Cook e alguns colonizadores ingleses.
A relação entre o feminismo e a antropologia - inaugurada com a pesquisa de
Benedict e Mead - é retomado por antropólogas contemporâneas como Marilyn
Strathern, Judith Butler e Donna Haraway. Essas pesquisadoras se identificam com o
que Strathern denominou de “feminismo antropológico”. De acordo com ela, o
feminismo antropológico deve manter a sua autonomia, recusando-se a ser apagado pela
absorção por outras teorias, identificando uma divisão na vida social que é produzido
pelas relações hierarquizadas de desigualdade e de dominação entre homens e mulheres,
sendo que a opressão e a dominação devem ser analisadas a partir de etnografias
realizadas em contextos socioculturais específicos.
Judith Butler fornece elementos importantes para pensarmos sobre questões de
gênero, desigualdade e método antropológico no século XXI. Essa autora defende que a
luta pelos direitos das minorias sexuais e de gêneros sejam lutas pela igualdade e justiça
social, entendendo que entre essas minorias pode existir uma politica de alianças, ou
seja, entender quais características e necessidades existências esses grupos tem em
comum, para que os mesmos possam se unir na luta em busca de direitos reconhecidos.
Nesse sentido surge uma politica de coabitação, levando os grupos a entenderem o que é
viver com o outro. Esses corpos passam a ocupar as ruas e outros lugares públicos, na
intenção de que seus corpos sejam vistos e suas vozes ouvidas. O método utilizado
busca evidenciar como a noção de gênero é também fruto dessas alianças e associações
políticas.
Donna Haraway, no seu “Manifesto Ciborgue”, defende a potencialidade
política da imagem do ciborgue enquanto híbrido de natureza-cultura: um organismo
cibernético, híbrido de máquina e organismo vivo, realidade e ficção 8. Para que exista
libertação é necessário que tenhamos a consciência da opressão, daí a importância de
dar visibilidade à multiplicidade de experiências vividas pelas mulheres, incluindo as
suas relações de associação com a tecnologia e com outros atores políticos. Três
rupturas são marcantes para a origem da politica ciborgue. 1) ruptura com a fronteira
entre humano e animal. 2) ruptura com a distinção entre o organismo e máquina. 3)
ruptura com a fronteira entre o físico e o não físico. Com o surgimento do mito do
ciborgue temos fronteiras transgredidas, elementos de um novo trabalho politico e
abertura de um novo cenário para a coesão e ação politica dos coletivos.
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Exemplos de ciborgues são retirados pela autora da ficção científica, da biologia molecular, da
bioinformática e da medicina.