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ESCOLAS OU CORRENTES DA ANTROPOLOGIA CULTURAL

1. EVOLUCIONISMO

Evolucionismo cultural O Evolucionismo Cultural surgiu no século XIX e foi a primeira


das teorias culturais surgidas nessa época. A Teoria Evolucionista seria, portanto, uma
aplicação dos conceitos de Evolução ao fenômeno cultural. Segundo esta teoria, o
crescimento e o desenvolvimento da civilização dão-se por meio das transformações
culturais que podem ser perpetuadas por várias gerações. Se um traço cultural for, de
alguma forma, positivo para a população, ele é transmitido para as próximas gerações, a
fim de torna-las mais aptas à vivência em sociedade, como uma espécie de seleção
natural. Da mesma forma que, se um traço cultural for negativo, ele pode eliminar
determinada cultura, sem que haja perpetuação da mesma. Diferente do que se pensa,
Darwin (1809-1882) não foi o único a influenciar as linhas de pensamento no século XIX.
Os primeiros evolucionistas trouxeram ideias sobre os conceitos de evolução
concomitantemente ou até mesmo anteriores a Darwin. Os termos “evolução” e
“sobrevivência do mais apto” foram popularizados por Spencer (1820-1903). Além
desses, outros representantes também popularizaram conceitos como o de Evolução do
Estado, proposto por Maine (1822-1888). Haddon (1855-1940) e outros ressaltavam a
evolução nas formas de arte, do realismo ao convencionalismo. Quanto à evolução da
família, McLennan (1827-1881) se destacou com a defesa da evolução do matrimônio.
Frazer (1854-1941) e Comte (1798-1857) defenderam que as sociedades passavam
por três etapas de evolução. Sendo que o primeiro, defendia magia, religião e
ciência, e o segundo, que o homem passava do estado “teológico” para o
“metafísico” e chegava ao “positivo” ou científico. Além desses, representantes como
Bastian (1826-1905), Lubbock (1834-1913) e Buckle (1857-1861).

2. DIFUSIONISMO

O difusionismo, também conhecido por historicismo, opunha-se à corrente


evolucionista partindo da ideia segundo a qual, na história da humanidade, as
verdadeiras inovações são em número reduzido e propagam-se a partir de centros
culturais, ou seja, sustenta que as inovações são iniciadas numa cultura específica,
para só então serem difundidas de várias maneiras a partir desse ponto inicial. É
evidente que existe a difusão cultural: o nosso alfabeto veio dos fenícios, os nossos
algarismos são árabes, o cristianismo veio do Médio Oriente, etc.

A influência da escola difusionista foi, porém, efémera por causa dos exageros de
alguns dos seus promotores, que faziam da difusão o factor único da evolução das
sociedades. Os principais autores difusionistas são alemães ou austríacos (o padre
Schmidt, 1868 – 1954; F. Graebner, 1877-1934; L. Frobenius, 1873 -1938), mas
houve também um “hiperdifusionismo” inglês com G. Elliot-Smith (1871-1937) e o
seu discípulo W. J. Perry.

Os difusionistas tinham tendência para ignorar o fenómeno de convergência que faz


com que uma mesma instituição ou um mesmo traço cultural se encontre em
civilizações diferentes, sem que haja uma origem comum. Por exemplo, em todos os
sistemas económicos de auto-subsistência em que o parantesco é importante, o
estatuto de um homem será menos avaliado pelo número e raridade de bens que
possui, do que pelo número maior ou menor de parentes dedicados com que pode
contar. Características importantes podem ser historicamente produzidas sem que
se deva pensar numa origem comum. Se os Maias do Iucatão e os Hindus
conheciam o zero, é claro que não houve difusão deste traço entre essas duas
culturas.

Actualmente considera-se vã a procura das origens; no que respeita à história


remota dos povos sem escrita, só se podem estabelecer algumas referências
prudentes; e, sobretudo, um elemento de um sistema social é ininteligível quando
extraído do conjunto que o contém e o explica.

Há historicamente três linhas de pensamento difusionistas a que chamaremos


escolas:

a) O difusionismo inglês ou a escola inglesa: defende a difusão como sendo a


única causa da expansão e dinâmica cultural, nega a teoria do paralelismo cultual
exposta pelo evolucionismo e considera a existência apenas de um centro cultural
(difusão heliocêntrica), desde o qual todos os traços culturais foram difundidos. Este
centro cultural era o Egipto Antigo. Os principais proponentes dessa teoria foram
Grafton Elliot Smith (1871-1937) e William James Perry (1887 -1949), ambos
estudaram o Egipto Antigo intensamente, resultando na sua crença que o Egipto era
o único centro cultural. As teorias destes pensadores passaram a ser designadas de
pan-egiptismo

b) O difusionismo alemão ou escola alemã: os seus fundadores são Father


Wilhelm Schmidt e Fritz Graebener, os quais defenderam a teoria dos círculos
culturais de difusão que surgiram em determinados espaços e épocas e daí se
difundiram. Estes teóricos acreditavam que o progresso da difusão seria a via mais
eficiente para o avanço da civilização e advogavam a necessidade de fortalecer os
contactos dos povos menos civilizados com os círculos culturais. O que em certo
modo procurava legitimar a exploração colonial da Europa pelo mundo. O
difusionismo é importante ainda hoje. O conceito de difusionismo explica como
alguns traços culturais adquiridos e difundidos.

c) O difusionismo americano ou escola americana: considerou as culturas


particulares como sendo o principal campo de estudo da Antropologia. Segundo
Franz Boas, a cultura é tão complexa que não permite um levantamento histórico de
carácter universal. A antropologia deve centrar os seus estudos em pequenas
comunidades culturais, nomeadamente clãs, tribos, castas e outras formas
primitivas de organização social. Acrescenta Boas que a difusão não é um processo
linear e mecânico, mas pressupõe uma elaboração complexa por parte dos povos
que apreende certos traços culturais. Considera que para a compreensão das
culturas é importante o seu levantamento histórico, pois o facto de determinados
traços culturais terem origem diversas condiciona a compreensão da cultura, ou
seja, precisa-se conhecer a história de uma dada cultura para compreender a
cultura em si.

Em síntese, o difusionismo ajuda a explicar a aculturação, mas não é a capaz de


explicar todos os aspectos culturais como os primeiros difusionistas acreditavam.
Existem exemplos de culturas em contactos próximos, mas que não partilham
muitos traços. Por isso, o difusionismo aparece como uma corrente problemática por
várias razões. Primeiro, é difícil demonstrar que uma inovação teve um ponto de
partida único. Segundo, muitas invenções e ideias culturais podem ter sido
descobertas ou ter evoluído isoladamente. Terceiro, as adaptações às necessidades
humanas sociais podem facilmente ter tomado formas similares em diversas
culturas, caso tenham sido as melhores soluções possíveis para problemas
similares. Por exemplo, o aparecimento de pirâmides no Egipto e na América
Central se é que, até hoje, nada tenha provado que a técnica de edificação de
pirâmides se tenha difundido do Egipto à América Central, o mesmo se pode afirmar
em relação ao fogo que já era utilizado pelos índios americanos e pelos africanos
sem que estes povos tenham tido contacto algum no passado.

Bibliografia

TOMÁS, Adelino Esteves. Manual de Antropologia Sócio-Cultural. Universidade


Pedagógica Sagrada Família, s/d.
SANTOS, Armindo dos.Antropologia Geral: etnografia, Etnologia, Antropologia
Social. Universidade Aberta, 2002. pgs. 123-170.
COLLEYN, Jean-Paul. Elementos de Antropologia Social e Cultural. Edições 70,
Lisboa, 2005.
VILANCULO, Gregório Zacarias. Manual de Antropologia Cultural de Moçambique.
Universidade Pedagógica: Maxixe, s/d.

3. FUNCIONALISMO

O que é funcionalismo?
O funcionalismo é uma escola teórica que surgiu na Inglaterra no primeiro terço
do século 20 , no âmbito das ciências sociais , especialmente da sociologia e
da antropologia . Parte-se da ideia de que todos os elementos de
uma sociedade têm alguma função significativa nela, e que desempenham um
papel, mesmo que imprevisível, na manutenção de sua estabilidade ou equilíbrio.

O funcionalismo consiste em uma visão filosófica empirista e moderna da sociedade.


Ela toma emprestada, pelo menos em princípio, a ideia do organismo biológico, para
pensar o coletivo humano como uma entidade com necessidades, ligada de alguma
forma aos fenômenos sociais.
Vistas desta forma, as instituições sociais, regras, normas , etc., constituem meios
desenvolvidos coletivamente com o objetivo de satisfazer essas necessidades, e são
definidas, portanto, de acordo com o cumprimento de uma função social. Em termos
mais simples, essa teoria estuda as sociedades sem considerar seu passado e
sua história , mas como os encontra .

O funcionalismo pode, no entanto, ser aplicado de forma diferente a diferentes


campos do conhecimento. Por exemplo, existe um movimento arquitetônico, uma
teoria psicológica e outras abordagens diferentes que têm o mesmo nome.

Pode ajudá-lo: Fenômenos sociais

Surgimento do funcionalismo
O termo “funcionalismo” vem dos estudos do etnógrafo polonês Bronislaw
Malinowski (1884-1942), seguidor do sociólogo e filósofo francês Émile Durkheim
(1858-1917), para quem as culturas são todas “integradas, funcionais e coerentes”.
Por isso, seus elementos não podem ser analisados isoladamente, mas
necessariamente considerando os demais.

Tanto Malinowski quanto Durkheim são considerados figuras importantes no


surgimento dessa vertente teórica, assim como Alfred Reginald Radcliffe-Brown,
Herbert Spencer, Robert Merton e, mais recentemente, Talcott Parsons.

É comumente considerado que o funcionalismo é uma reação ao evolucionismo e ao


particularismo histórico, escolas que pensaram a realidade a partir de sua gênese
histórica, ou seja, de como o presente (biológico, social, político etc.) foi construído
ao mesmo tempo. tempo .

Postulados de funcionalismo
Os postulados do funcionalismo são quatro e podem ser declarados da seguinte
forma:

 Cada cultura tende a formar um todo equilibrado , lidando com suas


próprias tendências para o equilíbrio e para a mudança .
 A estrutura das sociedades funciona como a estrutura dos
organismos: guiada pelas necessidades básicas .
 Cada elemento de um sistema social está necessariamente ligado aos
outros.
 Descrições úteis devem ser feitas para futuras teorias sobre o ser humano.
Características do funcionalismo
O funcionalismo é caracterizado pelo seguinte:
 Surgiu em 1930 na Inglaterra , como resultado do trabalho anterior de
Durkheim, Radcliffe-Brown, Bronislaw Malinowski e outros importantes
sociólogos e antropólogos.
 Considera a cultura como um todo orgânico , integrado, coerente e
funcional.
 Isso permitiu o surgimento da antropologia científica nos Estados Unidos.
Também a separação entre etnografia e etnologia.
 Propõe uma série de teorias baseadas em diferentes disciplinas do
conhecimento, dotadas de abordagens particulares: teoria hipodérmica, teoria
dos efeitos limitados, etc.
 Ele surge como uma resposta ao evolucionismo e particularismo histórico .
Bases do funcionalismo
Três correntes de pensamento são essenciais para o surgimento da teoria
funcionalista e servem de base:

 O Empirismo , filosofia corrente desde a antiguidade, mas concretizada no


século XVIII, e visa conhecer a realidade por meio da observação de
fenômenos perceptíveis.
 O positivismo , doutrina filosófica fundada por Auguste Comte (1798-1857),
que se apresenta como a única verdade possível que se obtém por meio
da ciência e da aplicação do método científico .
 A teoria liberal , aquela que emerge da doutrina do liberalismo , ou seja,
a doutrina que defende a liberdade individual, a igualdade perante a lei e o
laicismo, entre outras implicações filosóficas.
Crise de funcionalismo
O funcionalismo como escola enfrenta seu declínio em face do surgimento da
crítica marxista e da Teoria do Conflito, para a qual a abordagem da análise social é
radicalmente diferente: em vez disso, eles enfatizam as relações de poder ao longo
da história. Como um método para compreender a gestação de um dado sociedade.

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