Você está na página 1de 5

Antropologia

1º Semestre Prof.Dr.AntonioWalterRibeirodeBarrosJunior
Possui graduação em Direito - Instituição Toledo de Ensino (1993),
mestrado em Letras (Língua e Literatura Alemã) pela Universidade
AULA 6 de São Paulo (2002) e doutorado em Letras (Língua e Literatura
Alemã) pela Universidade de São Paulo (2008). Atualmente é
professor adjunto especial da Universidade Sagrado Coração,
onde exerce o cargo de coordenador da especialização Lato
Sensu em Antropologia. É professor do curso de Letras, Letras/
Tradutor, Artes Cênicas, Música, Arquitetura e Urbanismo, Design
e cursos da área de Ciências Sociais. Tem experiência na área
de Letras, Arte e Cultura com ênfase em Literatura, Estética e
Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: literatu-
ra, cultura, estética, arte, educação, sociologia e antropologia.

1
Aula 6

Principais Teorias Antropológicas:


Evolucionismo Cultural –
Difusionismo.

Ro ommolec totatem
Objetivos Específicos:
Iniciar o estudo das Principais Teorias Antropológicas: Evolucionismo Cultural e Difusionismo.
ANTROPOLOGIA

Prezados Alunos,

Neste trabalho introdutório sobre antropologia, vamos apenas elencar algumas características das principais
correntes teóricas no âmbito desta nova ciência.

Como toda construção intelectual, a Antropologia surge e se desenvolve condicionada às condições de seu
próprio contexto histórico-social de produção. O período de 1860 a 1920 coincide com a fase de expansão colonial
do mundo europeu, bem como com o advento da Antropologia como “estudo sobre o outro”. A produção científica
antropológica inicial europeia vai, portanto, reproduzir tal contexto.

Para entender estas transformações, iniciaremos a leitura do texto a seguir.

1. Teorias Antropológicas

1.1 Evolucionismo Cultural 7


Nesta teoria inspirada no Evolucionismo biológico, a cultura está intimamente relacionada e de certo modo
condicionada ao processo de evolução técnica. Seus principais representantes são Leslie Alvin White, Gordon
Childe e Julian Steward. Esta corrente surge no início do século XX.

Com a Teoria da Evolução em mente, diversos cientistas buscavam explicar a diversidade cultural e anatômica
entre os homens. A partir de teses das “diferenças raciais”, surgiram concepções racistas defendendo maior controle
sobre a demografia humana, defendendo a possível inferioridade dos povos negros (principalmente no que se refere
à inteligência, à moralidade e à criminalidade), bem como do combate à miscigenação (eugenia).

Influenciada, portanto, pela discussão evolucionista, a antropologia do séc. XIX privilegiou a crença de que
a sociedade europeia representava o apogeu de um processo evolucionário. Neste paradigma, sociedades com
“pequeno desenvolvimento tecnológico” aparecem como exemplos de etnias "mais primitivas". Esta visão usava
o conceito de “civilização” para classificar, julgar e, no limite, justificar o domínio de alguns povos sobre outros.

Esta maneira de ver o mundo a partir do conceito civilizacional de “superior/inferior”, ignorando outros critérios
de análise da produção cultural e disseminando a ideia de “culturas inferiores” ou “primitivas”, recebe o nome de
etnocentrismo. Nesta “visão etnocêntrica”, o homem europeu se atribui o valor de “civilizado”, fazendo crer que os
outros povos, como por exemplo, os aborígenes da Austrália, os índios da América do Norte ou os latino-americanos,

7 - Ibid, p. 63 a 65.
2
Aula 6
bem como os habitantes das Ilhas da Oceania, estivessem, portanto, “situados fora da cultura e da civilização”.

O debate centrava-se no modo como as formas mais simples de organização social teriam evoluído. Assim, tais
sociedades ditas “primitivas” caminhariam naturalmente para formas mais complexas como aquelas vistas nas so-
ciedades europeias. Nesta forma de apreender a experiência humana, todas as sociedades, mesmo as desconhecidas,
progrediriam em ritmos diferentes, seguindo uma linha evolutiva. Isso balizou a ideia de que a demanda colonial
seria "civilizatória", pois levaria os povos ditos "primitivos" ao "progresso tecnológico-científico" das sociedades
tidas como "civilizadas". Como corolário dessa orientação teórica, concluía-se que:

Culturas ágrafas estariam nos estágios iniciais de uma escala evolutiva, cujo ápice seria o modelo ocidental de
cultura.

Tais equívocos faziam parte da cosmovisão que pretendia estabelecer as diretrizes de uma lei universal de
ANTROPOLOGIA

desenvolvimento. Partindo de tais princípios, surgem os conceitos de progresso e determinação.

Quanto ao método utilizado pelos antropólogos desta corrente, destacamos que se concentravam numa incan-
sável comparação entre dados retirados a partir das sociedades e de seus contextos sociais. Tais dados eram, então,
classificados de acordo com as tendências de cada pesquisador e serviam para comparar as sociedades entre si,
fixando-as num estágio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica, de modo a
que todo costume representasse uma etapa numa escala evolutiva. Entendiam os evolucionistas que os costumes
possuíam alguma substância ou finalidade específica de gerar o plano para o estágio seguinte de evolução, e não
eram vistos como elementos do tecido social, interdependentes de seu contexto.

O Darwinismo Social é fruto dessa tentativa de aplicar as análises e teses da Biologia no âmbito do estudo das
sociedades humanas. Foi empregado para tentar explicar a pobreza pós-revolução industrial, sugerindo que os
que estavam pobres eram, portanto, os menos aptos. Durante o séc. XIX, conforme já dito, as potências europeias
também se utilizaram desta teoria para justificar o neo-imperialismo. Assim, existiriam características biológicas
e sociais determinantes da superioridade de alguns grupos sobre outros.

Alguns padrões eram vistos como indícios de superioridade, como por exemplo, o maior poder aquisitivo,
maior habilidade nas técnicas e ciências acadêmicas (em detrimento de outras formas de saber), etc.

Só para se ter uma ideia, no início do séc. XX, a Antropologia ainda era considerada por muitos cientistas
como uma subdisciplina da História Natural. Ainda predominava, nesse período, certo “determinismo biológico”,
segundo o qual se considerava as diferenças culturais como fruto de diferenças biológicas.

Principais contribuições desta corrente antropológica:

 Concepção de que etnia e raça são coisas distintas

 Formalização e unidade de análise

 Noção de que fenômenos culturais não são fortuitos

 Avanço nos estudos de parentesco e formas de casamento de grupos ágrafos

No século passado (séc. XX), vimos o surgimento da escola do neoevolucionismo cultural que se desenvolveu
principalmente nos Estados Unidos, sem contudo ter muita influência na América Latina. Os neo-evolucionistas
mais famosos foram Leslie A . White (presidente da Associação Americana de Antropologia em 1964), V. Gordon
Childe (arqueólogo australiano que adotou o modelo histórico-cultural), Julian Haynes Steward (Ecologia Cultural)
e o brasileiro Darcy Ribeiro (co-responsável pela criação da Universidade de Brasília).

3
Aula 6
1. 2 Difusionismo
O Difusionismo antropológico defendia que o desenvolvimento cultural ocorria por meio do processo de
difusão de elementos culturais de uma cultura para outra, isto é, por meio do contato entre os povos. Acredita-se
que o resultado deste processo pode ser apreendido por meio de um estudo metódico e utilizando técnicas espe-
cíficas de investigação das culturas. Seus principais representantes são: Smith, Perry, Grabner, Franz Boas, Wissler
e Kroeber. Esta corrente tem seu apogeu entre 1900 e 1930.

A Antropologia difusionista foi contemporânea e crítica do Evolucionismo Cultural. O antropólogo difusionista


privilegiava o entendimento da natureza da cultura, em termos de origem e extensão de uma sociedade a outra.
Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria o mecanismo fundamental de evolução cultural. Acreditavam
que tanto as diferenças quanto as semelhanças culturais eram consequência da tendência humana para imitar e
absorver traços culturais, como se a humanidade possuísse uma "unidade psíquica".
ANTROPOLOGIA

Nos EUA, Franz Boas (apud Knupp, 2009) passou a desenvolver a ideia de que cada cultura tem uma
história particular e considerava que a difusão de traços culturais acontecia em toda parte. Nasce, assim, a noção
antropológica de relativismo cultural, opondo-se à posição etnocêntrica da escola evolucionista que estudamos há
pouco.

Assim, a Antropologia finalmente chegava ao nível da investigação empírica metodológica e ao trabalho de


campo. Para Boas, cada cultura estaria associada à sua própria história. Para compreender a cultura seria preciso
reconstruir a sua própria história. Surgia assim o Culturalismo (também conhecido como Particularismo Histórico).

Em síntese, podemos afirmar que esta corrente adota uma abordagem diacrônica da cultura, tendo como
objetivo principal, explicar as semelhanças e diferenças culturais, por meio da presença/ausência de processos
de difusão. O método que passa a ser adotado é o da ‘pesquisa de campo’, considerado imprescindível para uma
verdadeira pesquisa antropológica. A técnica mais usual entre esses antropólogos é a da observação participante
(ou participativa), já que o contato direto com o sujeito pesquisado é fundamental para eliminar qualquer etno-
centrismo que estivesse presente na pesquisa.

Algumas das principais contribuições conceituais dessa corrente:

Introdução das ideias de:


- Traço (ou elemento) cultural (menor elemento que permite a descrição da cultura)

- Complexo cultural (exemplos: cultura do carnaval, cultura do café, do fumo...)

- Padrão cultural (comportamento generalizado)

- Área cultural (refere-se a um território) trocas culturais.

- Pesquisa de campo: coleta de dados primários

Ainda no século XX, surgem as seguintes escolas derivadas:

- “Personalidade e cultura”, a qual promove um diálogo com a Psicologia, enfatizando as formas de intera-
ção do indivíduo com a sociedade e reafirmando a ideia de que “a cultura marca e é marcada pelo sujeito (Ruth
Benedict e Margareth Mead).

4
Aula 6
- “Cultura e linguagem”, a qual trabalha a tese de que deve haver um diálogo c/ a linguística (etnolinguística),
considerando a língua como causa das estruturas sociais. Deste modo, língua e cultura são pontos de vista comple-
mentares e intrinsecamente ligados. A linguagem não serviria apenas para designar uma realidade preexistente,
mas para organizar o mundo em que vivemos (Edward Sapir).

- “Cultura e ambiente”, defendendo a tese de que a cultura é influenciada pelo meio ambiente e vice-versa. A
tecnologia empregada no meio ambiente, os modelos de comportamento e exploração de área ecológica, bem como
a busca de equilíbrio entre as esferas ambiental e cultura constituem alguns dos principais problemas levantados
pela escola (Julien Steward).

ATIVIDADE
Após a leitura das páginas 50/51 da obra Antropologia: Uma reflexão sobre o homem, responda: qual a relação
ANTROPOLOGIA

entre os fatores de diferenciação e a diversidade cultural humana?

Utilize sempre fonte Times ou Arial 12. Seu texto deve ter no máximo 03 linhas e deve ser redigido na mo-
dalidade escrita padrão da Língua Portuguesa.

Você também pode gostar