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A Antropologia como Ciência Social

A Antropologia é a ciência que busca entender como o ser humano pode levar
vidas tão diferentes. Entre um inuíte da Groenlândia e um aborígine do deserto
australiano há imensas diferenças e uma coisa em comum: ambos são humanos. Essa
diversidade estonteante da experiência humana é o objeto principal da
Antropologia. Podemos dizer que a Antropologia se dedica ao estudo da diferença,
usando como exemplos as várias formas que as sociedades escolheram para viver e
organizar sua coletividade.
Inicialmente, a Antropologia se dedicou a entender as sociedades chamadas
“primitivas”, sociedades não ocidentais, que hoje os cientistas denominam
sociedades de pequena escala ou, ainda, sociedades simples (embora muitos
questionem essas classificações). Durante a segunda metade do século XIX, a
expansão do sistema capitalista, na forma do colonialismo europeu, levou as
sociedades ocidentais a entrar cada vez mais em contato com essas populações nos
quatro cantos do mundo.
Desde o começo do século XX, a Antropologia tornou-se fonte de
conhecimentos sobre a diferença cultural, desempenhando papel importante na
garantia e na defesa dos direitos de diversas populações consideradas “diferentes”.
A partir de meados do século XX, a Antropologia passou também a buscar entender
o que acontece no interior das sociedades ocidentais, desenvolvendo a Antropologia
urbana.
Diferenças internas presentes nas sociedades ocidentais passaram a ser
objeto de investigação antropológica, ampliando o diálogo com outras ciências
sociais.

ESCOLAS ANTROPOLÓGICAS Mas como a Antropologia explica as manifestações


culturais em meio à diversidade existente? Veremos a partir de agora de que
maneira diferentes escolas antropológicas desenvolveram as definições de cultura
que são hoje objeto de seu estudo.

ANTROPOLOGIA EVOLUCIONISTA A Antropologia Evolucionista foi desenvolvida na


Inglaterra, no século XIX, especialmente por meio de estudos de Edward Burnett
Tylor (1832-1917). Para Tylor, cultura é “o todo complexo que inclui conhecimentos,
crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.
A escola evolucionista é importante para a Antropologia principalmente por
ter elaborado a primeira teoria social da cultura. No entanto, ela também é
responsável pela construção de outro postulado, hoje já ultrapassado, segundo o
qual as sociedades tem início num estado primitivo e se tornam civilizadas com o
passar do tempo.
Essa tese contribui para justificar o processo de colonização da África e da
Ásia no século XIX, pois a Europa levaria a civilização aos povos de outros
continentes. Baseada numa visão eurocêntrica do mundo essa forma de pensar
ainda hoje exerce influência em nossa sociedade, mesmo sendo refutada pela
Antropologia contemporânea. Isso pode ser percebido, por exemplo, quando
utilizamos como modelo padrões de comportamento típicos do Ocidente –
principalmente da Europa Ocidental e dos Estados Unidos – para analisar formas de
organização social e práticas culturais de outras regiões do globo.

ANTROPOLOGIA CULTURALISTA/FUNCIONALISTA Para a Antropologia


Funcionalista, a definição de cultura pode ser resumida como um todo integrado,
uma síntese de instituições (jurídicas, religiosas, etc.) responsáveis pela perpetuação
da dinâmica social entre seus membros. Assim, as instituições sociais (família,
sistema legal, etc.) são meios coletivos de satisfazer necessidades individuais
(alimento, abrigo) e sociais (casamento, segurança coletiva).
O reconhecimento da diversidade cultural foi uma das contribuições do
funcionalismo para a Antropologia. A abordagem funcionalista nos permite
entender, por exemplo, como os variados ritmos e danças existentes expressam as
maneiras pelas quais os grupos sociais se relacionam com a música e com a arte. Do
mesmo modo, outras expressões culturais (religiosas, artísticas, alimentares,
vestimentas, etc.) e formas de organização social (políticas, econômicas,
institucionais, etc.) devem ser compreendidas tendo como base os sentidos
atribuídos a elas por seus próprios praticantes, e não por aqueles que as observam
de longe.
A crítica ao evolucionismo foi feita pela escola culturalista, da qual o alemão
naturalizado estadunidense Franz Boas é o principal representante. Para ele, o
conceito de civilização deve ser relativizado na medida em que depende dos
parâmetros utilizados para considerar as representações. Segundo esse pensador,
as diferenças culturais seriam resultado das trajetórias independentes dos grupos
humanos. Assim, não indicariam uma hierarquia, mas as escolhas e experiências de
cada sociedade.

ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL Corrente surgida na virada da primeira para a


segunda metade do século XX, a Antropologia Estrutural inspira-se originalmente na
Linguística (ciência da linguagem). Para os estruturalistas, a cultura é um conjunto
de sistemas simbólicos (arte, religião, educação) que atua de modo integrado e
constitui a totalidade social. Logo, não é possível compreender uma cultura com
base em elementos isoladamente considerados: ela só faz sentido como um todo,
assim como uma língua só faz sentido no conjunto de sua estrutura gramatical, de
seu vocabulário e de sua prática oral.
De acordo com seu principal representante, o antropólogo Claude Lévi-
Strauss, existem elementos universais nas diferentes culturas – as estruturas – que
devem ser estudados pela Antropologia por meio da explicação dos modelos
inconscientes que servem de referência para que indivíduos e coletividades
organizem o mundo e deem sentido a ele.

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