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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH


Colegiado de Ciências Sociais
Disciplina: Introdução à Antropologia
Prof.: José Valdir Jesus de Santana
Aluna: Erika Souza Silva

Instrumento de Avaliação

1. Explique o contexto de surgimento da Antropologia e o que caracteriza a “Antropologia


de gabinete”
O embrião da reflexão antropológica dá-se ainda no século XIV com a descoberta do Novo
Mundo e dos povos que ali habitavam, com as primeiras discussões, entre os séculos XVI e
XVIII, incorrendo desde a tentativa religiosa de se poder atribuir aos “selvagens” alguma
humanidade, uma alma até a possibilidade de uma civilidade dos povos descobertos,
levando em consideração determinismos biológicos ou geográficos. Mas, é a partir do
século XIX, em meio ao colonialismo europeu, que a Antropologia abandona a perspectiva
especulativa para se firmar como a “ciência do homem”, ao defini-lo como objeto de uma
ciência positiva que busca compreender sua existência - agora por meio de bases
epistemológicas e empíricas - entre os mais diversos grupos, em sua totalidade e nos seus
múltiplos aspectos: biológico, cultural, social, psicológico, linguístico. O selvagem dá lugar ao
“primitivo. A partir desse novo eixo, surge um modo de fazer antropologia que antecederia
a etnografia a partir do que Malinowski chamaria de “observação participante”: a
antropologia de gabinete foi a forma de teorização entre os evolucionistas que consistia em
tentar reconstituir a evolução linear dos povos primitivos a partir de relatos etnográficos e
de objetos coletados feito por viajantes que mantiveram contato com nativos dos territórios
explorados. Para justificar este modo de trabalho como científico e afastar dúvidas sobre a
veracidade dos relatos, Tylor utilizava um “teste de recorrência” que consistia em convergir
relatos de variadas fontes sobre um mesmo objeto coletado (CASTRO, 2005, p.33).

2. O pensamento evolucionista na antropologia foi inspirado pelo impacto que a ideia de


evolução teve na biologia (através da obra de Darwin) e na filosofia (em autores como
Herbert Spencer). Entre o período que vai de 1870 até a Primeira Guerra Mundial, foi a
corrente hegemônica em antropologia. Caracterize o Evolucionismo cultural em sua fase
clássica, apresente seus principais autores e suas elaborações teóricas. Explique o método
comparativo dos evolucionistas.
A Antropologia Evolucionista buscava explicar o processo evolutivo das sociedades a partir
de um desenvolvimento progressivo e unilinear comum, em estágios que abarcavam desde
a forma mais simples de sociedade até a mais complexa, buscando entender as leis
universais que orientariam a marcha civilizatória dos povos primitivos rumo ao paradigma
europeu de civilização. Tomando por objeto de estudo os povos primitivos e analisando seus
sistemas de parentesco e as práticas religiosas, os evolucionistas postulavam que, ao
possuírem uma origem monogênica e compartilharem de uma mesma unidade psíquica, as
comunidades humanas, mesmo em sua diversidade, seguiriam, obrigatoriamente, os
mesmos estágios históricos de desenvolvimento, sendo o estágio final o modelo de
civilização e progresso econômico e tecnológico da sociedade europeia. Para dar
cientificidade ao modelo teórico, os evolucionistas adotaram o método comparativo, que
consistia em comparar as sociedades primitivas contemporâneas em seus graus evolutivos à
sociedade europeia a fim de tentar reconstituir seus estágios iniciais.
Entre os principais teóricos destacam-se Lewis Morgan, autor de Ancient Society, que
estudou o sistema de parentesco entre os índios iroqueses nos Estados Unidos e definiu os
estágios de desenvolvimento evolutivo da humanidade em selvageria e barbárie, cada uma
com subperíodos inicial, intermediário e final, e civilização. O inglês Edward Tylor é
considerado o pai da antropologia cultural por ter definido o conceito de cultura, no sentido
de civilização, como o complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e
quaiquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da
sociedade (TYLOR, 1871 apud CASTRO, 2005, p.17). Tylor acreditava poder reconstruir o
passado das sociedades humanas por meio da ideia de “sobrevivências”, onde aspectos
culturais continuam a existir em diferentes estágios evolutivos. Em o Ramo de Ouro, James
Frazer se debruça sobre magia e religião retratando etapas que se iniciam com a magia,
caminho inicial de todos os grupos humanos, para posteriormente evoluir para a religião e,
por fim, a ciência.

3. Como reação ao evolucionismo, no final do século XIX e primeiras décadas do século XX


uma série de autores enfatizou a ideia de difusão cultural como chave explicativa para a
ocorrência de fenômenos similares em diferentes partes do mundo. Qual a diferença
entre difusionismo e evolucionismo?
Com base nos estudos no campo biológico de Darwin, mas sobretudo na filosofia evolutiva
de Hebert Spencer, o Evolucionismo buscava explicar os diversos grupos humanos sob a
perspectiva de remontar a origem comum dos vários povos (monogenismo) a partir de uma
evolução unilinear e progressiva. As várias sociedades humanas, desde a mais primitiva até
a mais civilizada, são dotadas de uma mesma unidade psíquica que as faz partilhar de uma
cultura/civilização única, sendo suas desigualdades dadas no espaço-tempo de uma marcha
em estágios de desenvolvimento rumo à civilização sob o paradigma da sociedade europeia
e seu progresso econômico e técnico.

O difusionismo cultural, contrário à abordagem evolucionista, propunha explicar, por meio


do método histórico, a diversidade cultural sob o prisma do empréstimo ou repartição de
traços culturais entre culturas próximas (Cuche, 1999, p.68) a partir do contato entre essas
culturas numa mesma área geográfica por meio de comércio, guerras entre outras formas
de contato, provocando uma irradiação destes traços culturais, e não por essas culturas
supostamente partilharem uma mesma trajetória evolutiva.

4. Por que o Evolucionismo Cultural é etnocêntrico? O que caracteriza o etnocentrismo?


Todo grupo cultural tende a valorizar suas particularidades e traços culturais, enxergando,
em si mesmas, importância e grandiosidade. Assim, todas as culturas tendem a ser
etnocêntricas. Entretanto, a crítica à escola evolucionista encontra-se no fato de que, na
tentativa de remontar o passado dos povos primitivos, diferentes culturas são consideradas
atrasadas, arcaicas sob o paradigma da sociedade europeia, alçada a modelo de progresso e
fim que deve ser trilhado e buscado pelos mais diversos grupos culturais na sua jornada de
desenvolvimento. Esta perspectiva, que seria contestada por Franz Boas, Malinowski e Lévi-
Strauss, justificou a dominação exploratória europeia em várias partes do globo – América,
Ásia e África – no contexto do colonialismo, sob o argumento de que essas diferentes
culturas deveriam compartilhar do progresso econômico e tecnológico trazido pelo
colonizador, naturalmente superior por ter atingido o estágio máximo da evolução cultural.

Referências bibliográficas
CASTRO, Celso (Org.). Evolucionismo cultural: textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2005.

LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2000.

CUCHE, Denny. A noção de cultura nas ciências sociais. São Paulo: EDUSC, 1999.

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