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Trabalho final de Teoria antropológica I

Professor: J. Max M. Piorsky Aires


Discentes: Ana Beatriz Freire, Ana Júlia, Maria Gabriela e Sarah Junqueira
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INTRODUÇÃO

Em um contexto mais amplo, o evolucionismo e o difusionismo emergem como


fundamentais correntes teóricas no estudo antropológico das culturas. Este resumo
visa aprofundar nossa compreensão dessas abordagens ao analisar os trabalhos de
renomados antropólogos, incluindo Lewis Henry Morgan, cuja teoria evolucionista
delineou uma progressão social de estágios mais primitivos para formas mais
complexas de organização; Edward Tylor, cujas reflexões sobre uma cultura
primordial influenciaram profundamente o difusionismo, destacando a disseminação
de características culturais entre sociedades; Arnold Kaplan, que minuciosamente
explorou as interações entre cultura e ecologia, enriquecendo a compreensão do
difusionismo ambiental e James Frazer, cujas obras pioneiras lançaram luz sobre
rituais e mitos em diversas culturas.
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EVOLUCIONISMO CULTURAL

O evolucionismo cultural, é uma corrente teórica que floresceu no século XIX,


buscava compreender a diversidade cultural por meio de uma perspectiva evolutiva,
enxergando as sociedades humanas como atravessando estágios de
desenvolvimento sequenciadas. Essa perspectiva compartilha algumas semelhanças
com a teoria da evolução biológica, mas se concentra nas mudanças culturais, como
desenvolvimento de instituições sociais, tecnologia, religião e organização política ao
invés das mudanças genéticas.

“Pode-se afirmar agora, com base em convincente evidência, que a


selvagens precedeu a barbárie em todas as tribos da humanidade, assim
como se sabe que a barbárie precedeu a civilização. A história da raça
humana é uma só - na fonte, na experiência, no progresso.” (MORGAN,
Lewis. A sociedade antiga. 1877).

“Como a humanidade foi uma só na origem, sua trajetória tem sido


essencialmente uma, seguindo por canais diferentes, mas uniformes, em
todos os continentes, e muito semelhantes em todas as tribos e nações da
humanidade que se encontram no mesmo status de desenvolvimento. Segue-
se daí que a história e a experiência das tribos indígenas americanas
representam, mais ou menos aproximadamente, a história e experiência de
nossos próprios ancestrais remotos, quando em condições correspondentes.
Sendo uma parte do registro humano, suas instituições, artes, invenções e
experiências práticas possuem um grande e especial valor que alcança muito
mais do que apenas a raça indígena.” (MORGAN, Lewis. A sociedade antiga.
1877).

Lewis Henry Morgan, antropólogo e jurista norte-americano, foi um dos


pioneiros na sistematização do evolucionismo cultural. Em sua obra Sociedade Antiga,
Morgan propôs a ideia de que as sociedades evoluíam de estágios inferiores para
superiores, passando por três principais fases: selvageria, barbárie e civilização. Ele
classificou os grupos humanos de acordo com suas tecnologias, destacando a
importância da evolução das ferramentas como motor do progresso cultural.

“Entre as evidências que nos ajudam a traçar o curso que a civilização


mundial realmente seguiu está aquela grande classe de fatos aos quais achei
conveniente denotar usando o termo "sobrevivências." Trata-se de
processos, costumes, opiniões, e assim por diante, que, por força do hábito,
continuaram a existir num novo estado de sociedade diferente daquele no
qual tiveram sua origem, e então permanecem como provas e exemplos de
uma condição mais antiga de cultura que evoluiu em uma mais recente.”
(TYLOR, Edward. Cultura primitiva. 1871).
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“Cultura ou Civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é


aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei,
costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem
na condição de membro da sociedade.” (TYLOR, Edward. Cultura primitiva.
1871).

Edward Burnett Tylor, por sua vez, foi um antropólogo britânico que contribuiu
significativamente para a teoria evolucionista. Em sua obra Cultura Primitiva, Tylor
introduziu o conceito de "animismo", argumentando que a religião nas sociedades
mais primitivas surgiu da crença na existência de almas em objetos inanimados. Tylor
acreditava em uma evolução cultural uniforme, propondo que todas as sociedades
passassem pelos mesmos estágios de desenvolvimento.

A ideia central por trás do evolucionismo cultural é que as sociedades passam


por estágios de desenvolvimento cultural semelhantes aos estágios de evolução
biológica.

Herbert Spencer, por exemplo, aplicou a ideia de evolução às sociedades


humanas, sugerindo que as culturas passam por estágios semelhantes aos estágios
de evolução biológica, começando com sociedades simples e primitivas e progredindo
para formas mais complexas e avançadas. No entanto, é importante notar que o
evolucionismo cultural foi criticado por simplificar demais a diversidade cultural e por
sua tendência a classificar as sociedades em uma hierarquia de desenvolvimento.

Embora esses antropólogos tenham contribuído para o entendimento inicial da


diversidade cultural, o evolucionismo cultural foi criticado posteriormente por sua
abordagem etnocêntrica e simplista. Críticos apontaram a falta de consideração pelas
especificidades culturais e a imposição de uma trajetória única de desenvolvimento. A
diversidade cultural e a complexidade das sociedades foram negligenciadas em prol
de uma visão linear e hierárquica.

O evolucionismo cultural foi gradualmente substituído por outras abordagens


teóricas, como o funcionalismo e o culturalismo, que ofereciam perspectivas mais
holísticas e contextualizadas sobre as sociedades humanas.
A antropologia contemporânea, distanciando-se do evolucionismo, abraçou
teorias mais sensíveis às nuances culturais. A compreensão da diversidade cultural é
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agora moldada por perspectivas relativistas, interpretativas e simbólicas,


reconhecendo que cada sociedade possui sua própria história e dinâmica cultural
única. Essa evolução na abordagem antropológica reflete um compromisso em
compreender as complexidades da condição humana em sua totalidade, sem
generalizações simplistas ou hierarquias culturais.

A ciência do homem coincide, numa certa medida, com o que há muito tem sido
conhecido como a filosofia da história, bem como com o estudo ao qual, nos últimos
anos, foi dado o nome de Sociologia. Na verdade, poder-se-ia sustentar, com alguma
razão, que a Antropologia Social, ou o estudo do homem em sociedade, é apenas
uma outra expressão para Sociologia. No entanto, penso que as duas ciências podem
ser convenientemente distinguidas e que, enquanto o nome Sociologia deve ser
reservado para o estudo da sociedade humana no mais abrangente sentido das
palavras, o nome Antropologia Social pode, com vantagem, ser restringido a um
departamento particular daquele imenso campo de conhecimento. FRAZER, James.
Evolucionismo Cultural. 1871.

Nessa descrição da esfera da Antropologia Social, está implícito que os


ancestrais das nações civilizadas um dia foram selvagens, e que transmitiram - ou
podem ter transmitido - a seus descendentes mais cultos idéias e instituições que,
embora incongruentes com contextos subseqüentes, estavam perfeitamente de
acordo com os modos de pensamento e ação da sociedade mais rude na qual se
originaram. Em suma, a definição pressupõe que a civilização, sempre e em toda
parte, tem evoluído a partir da selvageria. A massa de evidências sobre a qual se
baseia esse pressuposto é, em minha opinião, tão grande que torna indiscutível este
raciocínio indutivo. FRAZER, James. Evolucionismo Cultural. 1871.

Assim, o estudo da vida selvagem é uma parte muito importante da


Antropologia Social. Pois, em comparação com o homem civilizado, o selvagem
representa um estágio estacionado, ou melhor, retardado do desenvolvimento social,
e, portanto, um exame de seus costumes e crenças fornece o mesmo tipo de evidência
da evolução da mente humana que o exame de um embrião fornece da evolução do
corpo humano. Em outras palavras, um selvagem está para um homem civilizado
assim como uma criança está para um adulto; e, exatamente como o crescimento
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gradual da inteligência de uma criança corresponde ao crescimento gradual da


inteligência da espécie e, num certo sentido, a recapitula, assim também um estudo
da sociedade selvagem em vários estágios de evolução permite-nos seguir,
aproximadamente - embora, é claro, não exatamente -, o caminho que os ancestrais
das raças mais elevadas devem ter trilhado em seu progresso ascendente, através da
barbárie até a civilização. Em suma, a selvageria é a condição primitiva da
humanidade, e, se quisermos entender o que era o homem primitivo, temos que saber
o que é o homem selvagem hoje. FRAZER, James. Evolucionismo Cultural. 1871.

Frazer sugere que a ciência do homem, em certa medida, coincide com a


filosofia da história e a Sociologia. Embora a Antropologia Social, o estudo do homem
em sociedade, seja considerada uma expressão da Sociologia, ele argumenta que as
duas ciências podem ser convenientemente distinguidas. Enquanto a Sociologia se
concentra no estudo da sociedade humana em sentido amplo, a Antropologia Social
pode ser mais especificamente aplicada a um departamento particular desse vasto
campo de conhecimento.

James Frazer, nesta descrição, sugere a ideia evolutiva de que as nações


civilizadas têm suas raízes em ancestrais selvagens. Ele argumenta que esses
antepassados transmitem ideias e instituições que, embora não se alinhem com
contextos posteriores, eram consistentes com as sociedades mais primitivas de onde
originaram. Em resumo, a definição implica que a civilização, universalmente, evoluiu
a partir da selvageria. Frazer baseia esse pressuposto em uma ampla evidência,
considerando-o indiscutível através do raciocínio indutivo.

James Frazer destaca a importância do estudo da vida selvagem na


Antropologia Social, considerando o selvagem como um estágio estacionado ou
retardado do desenvolvimento social em comparação com o homem civilizado. Ele
argumenta que examinar os costumes e crenças da selvagem fornece evidências da
evolução da mente humana, assim como o estudo de um embrião que oferece
informações sobre a evolução do corpo humano. Frazer compara o selvagem ao
homem civilizado como uma criança ao adulto, sugerindo que o crescimento gradual
da inteligência de uma criança reflete o crescimento da inteligência da espécie.
Portanto, estudar sociedades selvagens em vários estágios de evolução possibilita
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uma compreensão aproximada do caminho que os ancestrais das raças mais


elevadas seguiram, ascendendo da barbárie à civilização. Em resumo, Frazer
posiciona a selvageria como a condição primitiva da humanidade, indicando que
compreender o homem primitivo requer o conhecimento do homem selvagem
contemporâneo.
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DIFUSIONISMO CULTURAL

O difusionismo cultural é uma teoria que sugere que as inovações culturais,


como tecnologia, crenças e práticas sociais, se espalham de uma sociedade para
outra através de contatos diretos ou indiretos. Essa ideia enfatiza a difusão, ou seja,
a propagação de elementos culturais entre diferentes grupos, contribuindo para a
diversidade cultural. O difusionismo como abordagem teórica nas ciências sociais,
especialmente na antropologia, teve suas raízes no século XIX.

"A ideia de que todas as partes da cultura estão inter-relacionadas é essencial


para o estudo da cultura como um todo." (TYLOR, Edward. A ciência cultura. 1871).

Tylor entendia a difusão da cultura como um dos principais mecanismos para


explicar a disseminação de traços culturais entre diferentes grupos, seu conceito de
cultura vem dos pressupostos iluministas.
É conhecido por desenvolver essa teoria que sugere que as sociedades
passam por estágios de desenvolvimento cultural, desde o mais primitivo ao mais
avançado.

"O homem primitivo é um filósofo não treinado, que observa os fenômenos da


natureza e, ao tentar explicá-los, tece em sua mente os mitos que compõem sua
cosmogonia.” (TYLOR, Edward. A ciência cultura. 1871).

“Progresso, degradação, sobrevivência, renascimento e modificação são, todos


eles, aspectos da conexão que liga a complexa rede da civilização.”

A troca de ideias e práticas é considerada fundamental para a compreensão da


diversidade cultural.
Exemplos de difusionismo cultural podem ser a escrita alfabética adotada por
vários países do mundo ao mesmo tempo, muitas vezes distintos em outros aspectos
ou a propagação de religiões monoteístas através de diversas culturas.
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O difusionismo foi criticado por alguns antropólogos por sua tendência a


simplificar demais a complexidade cultural, atribuindo a difusão como a única
explicação para a diversidade cultural.
Ao longo do tempo, o difusionismo foi substituído ou incorporado por teorias
mais holísticas, como o culturalismo e o funcionalismo, que consideravam uma gama
mais ampla de fatores na compreensão das culturas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, a exploração das perspectivas de Lewis Henry Morgan, Edward


Tylor, Arnold Kaplan e James Frazer sobre evolucionismo e difusionismo revela a
riqueza e a complexidade das teorias antropológicas que moldaram a compreensão
das culturas humanas. O evolucionismo, delineado por Morgan e Tylor, oferece uma
visão cronológica da evolução social, enquanto o difusionismo, influenciado por Tylor
e aprofundado por Kaplan, destaca a interconexão cultural por meio da disseminação
de elementos entre sociedades. Frazer, por sua vez, enriquece o debate com suas
análises aprofundadas de rituais e mitos.

Essas perspectivas, embora representem marcos importantes na história da


antropologia, também suscitam críticas e revisões contemporâneas. Reconhecendo
as limitações temporais e culturais dessas teorias, é imperativo considerar o
dinamismo cultural e a diversidade que transcende as categorias propostas. Ao final,
este fichamento sublinha a importância de abordagens críticas e integrativas,
reconhecendo a evolução cultural como um fenômeno multifacetado e os processos
de difusão como intrinsecamente interligados à complexidade das sociedades
humanas ao longo do tempo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TYLOR, Edward. A ciência cultura. 1871

FRAZER, James. Evolucionismo Cultural. 1871

TYLOR, Edward. Cultura primitiva. 1871

MORGAN, Lewis. A sociedade antiga. 1877.

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