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Sociologia - Etnocentrismo

Escrito por Daniela Diana

Etnocentrismo é um conceito antropológico usado para definir atitudes nas quais consideramos nossos
hábitos e condutas como superiores aos de outrem. Isso acontece em todas as sociedades, devido aos
preconceitos produzidos pela própria dinâmica cultural e que nos leva a adotar os padrões culturais que
nos são familiares. O etnocentrismo ocorre porque nossa compreensão do que seria a existência,
dificultando nossa capacidade de perceber a diferença como algo "normal". Evidentemente, esse tipo
de fenômeno está relacionado aos choques culturais, mas podem ser vistos cotidianamente em nossa
própria cultura. De fato, o etnocentrismo afeta todas as pessoas, em todas as culturas do globo, em
maior ou menor grau. Isso porque é muito "normal" julgarmos "etnocêntricamente" assuntos
relacionados à política, à sexualidade, ao feminismo, à questão racial, às drogas, etc.

Charge de Carlos Ruas nos mostra como ocorre o pensamento etnocêntrico

Este fenômeno possui dimensões intelectuais (racionais) e afetivas (psicológicas) que estão na gênese
de quase todas as atitudes e comportamentos preconceituosos, radicais e xenófobos. Na melhor das
hipóteses, o etnocêntrico irá considerar sua cultura como natural em relação às outras, tidas por ele
como "anormais" e "absurdas". Assim, o pensamento etnocêntrico torna-se um perigo quando inculca
ideias de superioridade racial e cultural. Isso porque ele coloca um grupo étnico no centro de tudo,
limitando ou impedindo qualquer outra possibilidade de existência. O que sabemos do "outro" não passa
de uma representação determinada pelas ideologias que imperam em determinados períodos. A partir
disso, o etnocentrismo é matéria de reforço para figurações negativas do "outro" enquanto forma de
manutenção do status quo.

Curiosidade

Etnocentrismo é um substantivo masculino de raiz grega, formado pelo prefixo "ethnos" que significa
nação, tribo, raça ou povo, mais o sufixo "centrismo", que sugere centro.

Exemplos do Etnocentrismo na História

Foi assim, por exemplo, durante os Descobrimentos, quando a cristandade declarou sua missão sagrada
de levar a fé pela ação dos missionários e conquistadores.

Imagem mostra o etnocentrismo religioso

Posteriormente, o Iluminismo irá afirmar o triunfo da razão e será a medida de todo progresso que
justificou o colonialismo ocidental. Junto à isso, desenvolve-se uma outra definição mais específica do
etnocentrismo, a saber, o "Eurocentrismo", pelo qual o europeu foi considerado o modelo de "homem
civilizado".
Nos anos seguintes, até o início do século XIX, evidências pseudocientíficas irão embasar vários dados
que permitirão o estabelecimento de uma linha evolutiva da cultura em estágios: selvagens, bárbaros e
civilizados. De modo similar, o racismo científico irá constituir uma ideologia de superioridade da raça
branca. Nesse momento, ser branco e europeu era considerado o máximo da evolução cultural e social
no planeta.

Etnocentrismo e Relativismo Cultural

O Relativismo Cultural é uma linha de pensamento da Antropologia que busca relativizar as culturas,
instituindo uma teoria geral da relatividade cultural. Esse conceito está apoiado numa metodologia capaz
de analisar os vários sistemas culturais, sem o determinismo da visão etnocêntrica. O significado de um
ato para o Relativismo Cultural, não é tomado de forma absoluta, mas considerado em seu próprio
contexto. A partir dessa perspectiva, compreendemos que o "outro" também possui seus valores, os
quais devem ser considerados segundo o sistema cultural em que estão inseridos.

Quem inventou o conceito de etnocentrismo?

O antropólogo britânico Edward Tyler (1832-1917) em seus estudos utilizava a corrente evolucionista
que embasava a existência de cultura superior e inferior. A corrente evolucionista acredita que a
sociedade começa de forma primitiva até chegar ao progresso.

Conforme as palavras de Edward Tyler:

Comparando os vários estágios de civilização entre as raças conhecidas da história, com ajuda
da inferência arqueológica derivada dos restos de tribos pré-históricas, parece possível formar
uma opinião, ainda que grosseira, sobre uma condição anterior geral do homem. Do nosso ponto
de vista, essa condição deve ser tomada como a primitiva, mesmo que na realidade, algum
estágio ainda mais remoto possa ter existido antes dela. Essa condição primitiva hipotética
corresponde, em considerável medida, à das tribos selvagens modernas que, apesar da diferença
e distância entre si, têm em comum certos elementos de civilização que parecem resíduos de um
estágio anterior da raça humana em geral. Se essa hipótese for verdadeira, então, apesar da
contínua interferência da degeneração, a tendência central da cultura, desde os tempos primevos
até os modernos, foi avançar, a partir da selvageria, na direção da civilização (TYLOR, 2005).

Entretanto, o etnocentrismo sempre existiu. Os europeus acreditavam que a cultura europeia era a certa
e que todas as outras culturas deveriam compartilhar dos mesmos valores. Ao longo da história vários
momentos etnocêntricos foram acontecendo, a exemplo a Segunda Guerra Mundial com o Nazismo,
que acreditava na superioridade da raça ariana sobre as outras, e a Guerra Fria onde os Estados Unidos
da América – EUA e União Soviética competia para impor qual cultura era melhor.

Quais são os tipos de etnocentrismo?

O etnocentrismo existe até hoje e pode ser expressado de diversas formas, desde as mais explícitas e
até veladas. São práticas para classificar, subjugar e inferiorizar outras culturas. A sua narrativa é
sempre impor uma opinião, julgamento, doutrina, moral, valores, segundo a sua própria visão de mundo
ou de determinado grupo. Ela não busca compreender o mundo na visão do outro, e sim utilizar a
violência verbal ou física. São exemplos de etnocentrismo a intolerância religiosa e a xenofobia. No caso
da intolerância religiosa, ou etnocentrismo religioso, o intolerante acredita que sua religião é a certa e
todas as outras devem seguir os mesmos preceitos. Por último, a xenofobia, o xenofóbico acredita que
existe uma cultura superior, denominando a de “primeiro mundo” e a cultura inferior que seria o “terceiro
mundo”. E todas as demais culturas devem seguir seus hábitos, moral e vestimentas. Logo, o
etnocentrismo não aceita o diferente, sua visão de mundo é centrada nele mesmo, em sua própria
cultura e modo de vida.

Que críticas recebe a visão etnocêntrica?

Foi com o pai da antropologia, o alemão Franz Boas (1858-1942) que a palavra etnocentrismo foi
rompida, contraponto com o relativismo. O relativismo compreende que não existe uma cultura certa ou
errada, desenvolvida ou subdesenvolvida, primitiva, e sim culturas diferentes. O relativismo entende que
a cultura de uma pessoa ou grupo não pode ser avaliada segundo o preceito de uma cultura dominante
e sim compreendida através dos próprios valores daquela cultura.

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