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Sumário
Capítulo III — Uma maneira negligenciada de ser: a maneira empática - Carl R. Rogers
(página 69)
Capítulo XI — A pessoa que está surgindo: uma nova revolução - Carl R. Rogers (página
211)
Capítulo II
Rachel Rosenberg
A psicoterapia tem passado por grandes e profundas mudanças em sua curta existência.
Novos métodos são constantemente elaborados, atendendo a objetivos variados de um
número sempre crescente de pessoas que buscam. . . Contudo, essa busca é, no homem,
muito anterior ao nosso estágio atual de conhecimento, e uma reflexão nos leva a ver no
psicoterapeuta de agora o descendente direto do xamã. Deste restam ainda, como herança
a seu representante atual, auras de ritual mágico, de segredo fechado e de força pessoal
incomum (Bugental, 1964). A mente cientificista prefere negar tal associação, mas ela se
evidencia até mesmo nos objetivos declarados dos sistemas psicoterápicos conceituados.
Por exemplo, a meta de terapia proposta por Schutz (1967), autor freqüentemente citado,
é a de “tornar a experiência de vida mais vital” (p. 12), certamente um propósito difícil
de ser submetido a um tratamento experimental de dados.
Mudanças no campo
Um dos efeitos em parte associados a esta visão mais abrangedora se encontra nos
parâmetros de normalidade e, em decorrência, nos critérios de avaliação de uma terapia
bem-sucedida. -Se antes se pretendia, através de tratamento, trazer à “normalidade”
pessoas claramente perturbadas, vê-se hoje como “normal” qualquer ser humano buscar
um crescimento ininterrupto de seus potenciais no contexto terapêutico. De fato, constata-
se que certo tipo de relacionamento pode beneficiar os indivíduos em geral,
independentemente de os rotularmos psicóticos, neuróticos ou normais (Rogers e Wood,
1974, p. 214).
Há, porém, distinções a fazer nas novas tendências que surgem. E, por outro lado, o
eventual cliente ou paciente, psicótico ou mediano, se reveste inevitavelmente de
características que a época lhe confere e que exigem uma revisão do papel social do
terapeuta. Portanto, uma consideração sobre a terapia em geral não poderá ser desligada
de duas realidades fundamentais:
As tendências recentes
“Tanto quanto me é possível ver, esta perspectiva (dos grupos) não difere da que adotei
durante anos em terapia individual” (p. 53).
Entretanto, o grupo não é apenas um organismo passível de ser tratado teoricamente como
indiviso, nem consiste somente numa soma de pessoas independentes entre si. As reações
do indivíduo no grupo, e do grupo como um todo, não se sobrepõem simplesmente às do
atendimento individual; os resultados terapêuticos seguem linha semelhante às de
atendimentos individuais, mas mobilizam recursos pessoais diferentes e, provavelmente,
têm características específicas que ainda não diferenciamos claramente.
Assim, a abordagem através de grupos parece constituir na terapia, além de um caminho
mais acessível a maior número de pessoas, um campo para novas possibilidades
terapêuticas.
A centralização no aqui e agora tem aspectos bastante variados de acordo com linhas
teóricas específicas, mas não se restringe à terapia centrada no cliente e à gestalterapia.
Abordagens bem diversas como a análise transacional e o psicodrama se valem do
comportamento ou da vivência na própria situação terapêutica e aderem, portanto, a este
movimento que, na verdade, se torna característico de toda uma cultura.
Em suma, a conceituação de psicoterapia tem sido muito ampliada nas duas últimas
décadas por propostas e inovações na sua prática. Numa outra perspectiva, vemos
também’ marcantes mudanças na população que é alvo da preocupação psicoterápica. As
características e necessidades mais prementes e identificadas do cliente diferem hoje, em
certos pontos importantes, dos casos que eram considerados típicos pela geração anterior
à nossa.
O cliente hoje
Dois momentos — Pode-se, para fins de análise, classificar os clientes em dois grupos:
os que precisam de ajuda para superar dificuldades ou carências que os tolhem em seu
ajustamento; e aqueles cujo nível de realização é satisfatório segundo os padrões comuns,
mas que buscam desenvolver-se acima do grau de suficiência, convictos da possibilidade
de um crescimento contínuo em suas vidas. Maslow (1962) representa bem estes dois
níveis possíveis de plena estatura humana através de uma hierarquia de motivos (capítulo
3). Numa outra abordagem, o primeiro grupo seria visto como patológico e necessitado
em alguma medida de reconstrução, enquanto o segundo refletiria com clareza a
permanente tendência à auto-realização, que segundo Rogers (1964) é inerente à natureza
humana.
Mudanças sociais — Nesta busca de chegar mais próximo de ser ele mesmo, o indivíduo
enfrenta hoje uma estrutura social cujas Coordenadas são confusas e instáveis. Embora
os padrões tradicionais de conduta continuem a ser reforçados e transmitidos pelas
instituições socializadoras — a família, as escolas, os órgãos oficiais —, movimentos
atuais apontam fatos perturbadores e despertam questionamentos profundos. A situação
convencional da mulher torna-se absurda nas contingências modernas, e não é mais aceita
como inevitável.
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Valores e significados — Quanto mais falho se mostra o código vigente para prover uma
estrutura em que o indivíduo possa acreditar, tanto mais coloca no próprio indivíduo o
peso de optar por seus valores. Muitas pessoas se recusam à acomodação de seguir rumos
sacramentados pelos costumes. Submetem-se aos conflitos e desconfortos de procurar
caminhos mais autênticos de realização pessoal. À medida que se desmascara e se
enfraquece a estrutura tradicional das instituições sócio-cu1turais, vem à tona a
capacidade de autodeterminação. Naturalmente, este processo ocorre em dois sentidos:
quanto mais o homem deposita em si mesmo o locus de suas opções, mais apto e corajoso
se torna para “desmascarar” propostas sociais falsas ou desumanizadoras.
Mais do que nunca, o homem ocidental tem possibilidades explícitas de conduzir seu
destino. Ele nunca foi tão livre socialmente para escolher sua profissão, sua residência,
seu estilo de vida, seus valores religiosos. Esta liberdade, porém, é muito enganosa e vê-
se restrita por todo um conjunto de pressões que tendem a impedir a sua utilização. A
força conservadora da família, as represálias empregatícias e a imposição social para
seguir modelos convencionais são pesos que tentam acorrentar as pessoas a modos de
vida que elas muitas vezes percebem como incoerentes em relação às suas próprias
avaliações. Às repressões externas, soma-se a carga de conflitos intrapessoais, pois há
noções de certo e errado, necessidades de preservar uma imagem que seja aceitável e
outras pulsões que, de dentro, dificultam o pleno exercício da liberdade.
Fundamentalmente, o medo de assumir a liberdade é o medo das outras pessoas — o que
pensarão e farão se...
Assim, as antigas “verdades” ensinadas assumem caráter falso na vivência de hoje e o ser
humano procura reconstruir, para si, uma imagem válida do seu universo. Onde, porém,
encontrará valores em que possa acreditar sinceramente? De forma terrível, ele tem
perdido sua confiança na família, na pátria, na escola, no amor, na segurança, no “bom”
comportamento e na solidariedade como bens permanentes a proteger e alcançar. Sente-
se angustiado com as perspectivas deste vazio, e culpado por isso, de modo vago mais
intenso. Vem a propósito uma citação: “...o número crescente daqueles doentes que só
sabem se queixar da insensatez vazia e tediosa de suas existências não deixa mais dúvida
de que. . . a neurose do tédio, ou a neurose do vazio, é a forma de neurose do futuro
imediato” (Boss, 1975, p. 17). Como outros existencialistas, Boss atenta profundamente
para esta sensação de vazio que domina o homem moderno. Para Frankl (1972), este mal
não se enquadra no psicológico, tendo antes caráter espiritual, e ele propõe no espiritual
a terceira dimensão humana, além da somática e da mental. Ainda segundo o autor, é de
extrema importância esta dimensão, da qual se ocupa a logoterapia, fundada por ele. “A
logoterapia tenta fazer o paciente se dar conta totalmente de que ele próprio é responsável;
e, portanto, deve deixar para ele a opção quanto a pelo que, em relação a que ou a quem,
ele se considera responsável” (p. 111).
O homem tem dado provas, muitas vezes dramáticas, de que para sobreviver em sua
essência humana depende de metas que o ultrapassem. Sua vida precisa de um significado
que o transcenda. A fé religiosa, o amor por outras pessoas, a crença no valor humano e
o sentido missionário de uma causa têm representado alguns destes possíveis significados
que o homem encontra para viver a sua vida e lutar por ela. Numa época em que descrença
e descoberta se alternam, vemos a tecnologia engolir o individual e a ciência nos reduzir
a biocomputadores, mas, também, respectivamente, nos transportar a outros planetas e
revelar potencialidades incríveis.
O provável usuário de terapia, tanto quanto o terapeuta, oscilam hoje entre o vazio
deixado por estruturas em decomposição e a multiplicidade de novos dados sobre
caminhos futuros possíveis. Não se trata mais de saber se o indivíduo tem bom contato
com a realidade e se adapta a ela. Trata-se de seu grau de equilíbrio entre as muitas
realidades que ele vislumbra. Nunca ele teve, na verdade, tanto “contato com a realidade”.
A todo instante, sem esforço de sua parte, os meios de comunicação o envolvem nos
acontecimentos e nas tendências de todos os pontos geográficos do mundo. Mas, ligado
a tudo, perde os limites que seu grupo — nacional, etário ou sócio- econômico — lhe
assegurava, e sente-se confuso, anônimo, desconhecido de si mesmo. Continua sendo
treinado e equipado para se mover num determinado espaço de vida, e sente-se só e
incapaz nas situações mais amplas que não previa. Espera-se da mulher, e ela é preparada
para isto, que se contente com o bom desempenho conjugal e materno. Do homem, exige-
se que seja bem-sucedido e competente. De ambos, que honrem os valores representativos
da sua cultura. Apesar de tais injunções, deparam-se com outros dados e realidades que
não querem — ou não conseguem — ignorar, e que provocam o questionamento do que
lhes foi pregado.
Para além dessas formas diversas de descrever a realidade, mais recentemente propõe-se
que há “realidades separadas” e um “espaço interior” (Lilly, 1973). Elas se referem a
maneiras de percepção diferentes das que habitualmente conhecemos e a territórios que
podemos descobrir e explorar em nós através de nossa consciência expandida em direções
antes insuspeitadas.
Na sua busca de ancoragem, a pessoa prossegue, por vezes trôpega, outras vezes com
certezas súbitas, prendendo-se a realidades parciais. Pode-se constatar, hoje, que há dçis
modos de conhecer a realidade. O primeiro se expressa naquilo que o indivíduo crê ser
real, e é algo que ele pode perceber e relatar. O segundo modo consiste num nível mais
profundo de conhecimento, em que a pessoa sabe uma realidade porque a sente como tal.
Ambas as formas podem se referir a um mesmo objeto, e a diferença entre elas talvez se
deva apenas às limitações da linguagem para descrever o que é emocional ou intuitivo
em nós. Esta idéia é apoiada por um estudo de Lee (1973) sobre as codificações da
realidade. A autora se baseia na premissa de que “um membro de uma determinada
sociedade não somente codifica a realidade vivenciada através do uso de uma linguagem
específica e outras características padronizadas de sua cultura, mas de fato apreende a
realidade apenas como ela é apresentada por este código” (p. 128). Conhecemos hoje
realidades mais ricas e contraditórias do que nosso código racional abrange, e somos
ignorantes quanto à nossa verdadeira força para lidar com elas. Assim o protótipo de
homem atual, incluindo aquele que se coloca como cliente e o que assume a posição de
terapeuta, é em parte um produto específico do seu momento de evolução.
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Ele busca na terapia uma forma adicional de ajuda, diferente da que procurava em outro
período histórico. O tipo de atendimento psicoterápico que lhe era suficiente e valioso já
não lhe basta para enfrentar os dilemas existenciais que o sobrecarregam; Por outro lado,
esta ajuda pessoal poderá se tornar dispensável num futuro social que satisfaça de maneira
mais adequada os seus anseios. Nesta perspectiva, as novas formas de terapia poderiam
representar, mais do que avanços técnicos, uma resposta à problemas sentidos hoje frente
à própria estrutura sócio-histórica.
De fato, cresce a procura pelas terapias que pretendem oferecer autoconhecimento, maior
congniência, vivências enriquecedoras, formas experimentais de relacionamento,
ampliação na percepção, etc. Nitidamente, tais metas traduzem um profundo desejo de
crescimento pessoal e a crença na eficácia desses procedimentos. Entretanto, os objetivos
mais tradicionalmente associados à terapia persistem e, em ambos os casos, é lícito
definirmos uma busca de crescimento que as pessoas sentem como tolhido ou bloqueado.
A distorção da auto-imagem, a conduta inadequada, a incapacidade de enfrentar uma
situação nova, ou a percepção de novas limitações pessoais são algumas das formas
assumidas por um processo que podemos entender como, unicamente, um empecilho ao
crescimento humano natural e completo. A diversidade de sensações ou sintomas de que
se reveste, o grau de intensidade e de duração que o caracteriza são aspectos que não
alteram o fenômeno básico do indivíduo estar sendo menos do que aquilo que ele
realmente poderia ser.
A terapia constitui um dos meios de prover condições externas que liberem a tendência à
plena auto-realização. O processo pode envolver mudanças de rumo, momentos de
instabilidade, o sacrifício de certos ganhos anteriores, o confronto com erros cometidos.
A presença ativa e real do terapeuta adequado assegura a força necessária para continuar
neste caminho acidentado, cheio de imprevistos, para o auto-encontro. O apoio a que se
alude aqui não é aquele que cria uma dependência de uma força — ou pessoa — externa
o apoio que permite à pessoa expor-se ao risco de enfrentar os seus desconhecidos
internos pode provir de fontes diversas, mas não e um mero reasseguramento. Origina-se
de uma nova auto-imagem mais confiante, da descoberta de recursos pessoais, da certeza
de que se será valorizado e estimado enquanto pessoa em qualquer circunstância, ou da
fé na própria capacidade de levantar-se após uma queda. Estas são forças que nos
impelem para uma jornada contínua em direçao a uma integração cada vez mais íntima
com nosso eu, com o mundo e com a vida.
Reconheço que a proposta, nestes termos, aparece como grandiloqüente, mas é preciso
considerar que este sentido de integração pessoal, cósmica e vibrante não reside
exclusivamente em momentos grandiosos. Ela existe no dia-a-dia, na rotina, tanto quanto
em experiências culminantes inesquecíveis, e refere-se a um modo de ser no mundo para
o qual se tende. Ou seja, o indivíduo auto e heterointegrado não se estabiliza num dado
ponto de vivência, pois parte inerente desta integração é justamente o caráter de
transitoriedade, de vivência plena no momento, que se denomina como processo-de-
devir. Nas palavras de Szasz (1974), a relação terapêutica moderna contém uma noção de
que o indivíduo é .um estudante perpétuo do viver humano, com sincero desejo de
aprender e mudar, e estimulado pela esperança de êxito.
A sua “carga existencial” é especialmente pesada, não só por causa das características da
época atual, mas porque ele tem consciência da distância entre o que o mundo é e o que
poderia ser. Contraposto a seu sentimento de impotência, há para ele a visão de um mundo
efervescendo em invenções e novas alternativas. Inevitavelmente, conhece múltiplas
realidades concomitantes e relativas, e vive num universo que nunca foi tão ambíguo.
Cada pessoa então pode e deve encontrar as suas respostas para questões como profissão,
sexualidade, atuação social, formas de se relacionar, etc., ou seja, para os grandes e
pequenos problemas de se ser humano.
Terapia e realidade — Qualquer forma de terapia pode ser vista como um processo que
interfere na percepção da realidade. Todo indivíduo, em cada momento, constrói a sua
imagem do real para si mesmo e para as situações que vive; o processo terapêutico deve
levá-lo a conceituar o mundo e/ou ele mesmo de um modo que lhe facilite encontrar
soluções que o satisfaçam mais. Ou seja, para que a pessoa venha a sentir-se menos
inibida, solitária, controlada ou infeliz é preciso que ela perceba elementos, em si ou no
meio externo, que representem novas e melhores possibilidades de ajustamento. O
processo de mudanças na percepção é contínuo no desenvolvimento humano, mas refere-
se com freqüência a idéias ou sentimentos que o indivíduo reluta em admitir.
Cada um de nós, em sua evolução, forma um autoconceito que tenta manter intacto e, em
graus variáveis, nega ou distorce a realidade para preservar esta auto-imagem, quando ela
é “ameaçada” por certos novos elementos vistos como detratores (Rogers, 1959). Uma
tendência a conservar a Gestalt faz perceber um mundo com características constantes e
a mesma propensão atinge situações vivenciadas e a auto-imagem. Ocorre assim uma
certa medida de “cristalização” para defender a integridade do eu. A rigidez conseqüente
pode afetar toda a conduta do indivíduo, ou manter-se num grau extremamente reduzido.
O que a pessoa não admite à sua percepção pode referir-se, por exemplo, a um afeto
positivo por alguém que racionalmente se desaprova; ao medo de fracassar e ser rejeitado;
ao fato de ter mais capacidade ou força do que considera; o fato de ter menos capacidade
ou força do que considera. Elementos sentidos como incoerentes em relação a
autopercepções anteriores produzem angústia, em face da ameaça de ruírem as estruturas
sólidas, boas ou más, erigidas ao ‘longo da vida. Se uma pessoa se vê como um ser
responsável, e valoriza muito o senso de responsabilidade, pode ser terrível a ela admitir
outros motivos pessoais divergentes como válidos para suas ações. Não somente recusará
ceder a essas outras necessidades, como chegará a não percebê-la e, portanto, a não as
atender.
Fazer admitir novos elementos à consciência é um dos efeitos diretos ou indiretos de
qualquer relação em que haja crescimento pessoal. Mas se tais elementos se apresentam
como estranhos demais às realidades percebidas, trazem sentimentos de desconforto,
perda e vazio. Se o indivíduo se percebe — mesmo que muito sutilmente — coagido a
admitir atitudes ou traços que não “reconhece” como seus, o resultado pode ser um
acirramento das defesas ou, por outro lado, uma desintegração de toda a estrutura anterior
que, apesar de falha, lhe era familiar. Por outro lado, a possibilidade de mudanças
construtivas liga-se estreitamente a uma percepção mais ampla e precisa da realidade. O
delicado ponto de equilíbrio entre facilitar novas percepções e evitar o sentimento de
ameaça à estrutura do eu parece ser um fator crítico no andamento de processos
terapêuticos. Por sua essência, a abordagem centrada na pessoa afasta-se o mínimo
possível das Gestalten existentes e das imagens formadas pelo cliente, pois busca
entender e destacar, do universo interno do cliente, apenas elementos deste universo. Os
elementos focalizados são em alguma medida reconhecidos pela pessoa como seus e
podem, portanto, ser explorados mais a fundo, com menor “perigo” à integridade pessoal
do que quaisquer outros.
O homem atual tem à sua frente uma conceituação de realidade como múltipla, inacabada,
polarizada e ambígua. Não mais vê a si mesmo, nem ao mundo, como passíveis de
contornos fixos. Ele encontra na terapia um meio de possível ajuda pessoal para
desvendar maior conhecimento e para conviver de maneira a mais enriquecedora possível
com as realidades simultâneas e contraditórias que existem a seu redor e em si mesmo. O
terapeuta que percebe e respeita as contingências e as carências da pessoa de agora estará
mais apto a utilizar os seus próprios recursos e as mais variadas técnicas para facilitar o
autêntico crescimento daqueles a quem deseja ajudar.
Aos problemas muito recentes que se colocam à prática da terapia, a vivência me traz
uma resposta, provisória e pessoal, que creio ser útil expor como conclusão.
Em primeiro lugar, ela se refere ao papel social do terapeuta. Observo que, à medida que
se permite às pessoas tomarem maior consciência de seus verdadeiros desejos e
sentimentos, inevitavelmente elas se sentem mais poderosas em relação a seu destino e
mais diretamente responsáveis por si mesmas. Tal mudança, por sua vez, constitui um
terreno fértil para o desencadeamento de uma atuação social mais claramente propositada
e possivelmente mais efetiva.
Referências bibliográficas
Francoeur, A. K. e Francoeur, R. T. — Hot & Cool Sex: Cultures in Conflict. New York:
Harcourt Brace Jovanovich, 1974.
Lilly, J. C. — The Center of the Cyclone: An Autobiograghy o! Inner Space. New York:
Bantam Books, 1973.
Schutz, W. C. — Joy: Expanding Human A warener. Ney York: Grove Press, 1967.
Szasz, T. — The Myth of Mental Illness. New York: Harper and Row, 1974.