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I ACONSELHAMENTO

- Aconselhamento psicológico • psicoterapia: auto-aflrmaçlo


como determinante básico do comportamento humano·

OsWALDO DE BAlUtos SANTOS--

Partindo, Inicialmente, da terapia centrada no cliente, de acordo


com as proposições de Rogers, o autor relata suas observações rea-
lizadas durante 20 anos, aprOximadamente. Os dados então colhidos
levàram-no a explorar um fato importante que ocorria durante a
terapia: a maioria dos clientes atendidos para fins de aconselha-
mento ou sessões terapêuticas apresentava melhoras na medida
em que se tomavam capazes de atribuir as causas de seus proble-
mas e dificuldades a si mesmos e não a fatores externos. Uma
questão importante foi então levantada pelo autor: haveria algum
fenômeno psiCOlógico relacionado com o autoconceito que fosse
responsãvel por um melhor ajustamento? Foram observados 80
clientes (adultos e adolescentes, homens e mulheres de diferentes
status sociais e econômicos). Um check-list com 13 Indicadores de
progresso foi Informalmente usado para guiar as observações. Todos
os cl1entes, Independentemente de seu status, mostraram melhoras
fortemente a!lsociadas a alterações na sua auto-imagem, auto-
estima, autoconceito e auto-afirmação. Como conclusão, foi poss:vel
admitir-se o levantamento de uma nova hipótese: a auto-afirmação
seria um dos mals Significativos determinantes do comportamento
humano; talvez, o mais proemlnen~. As implicações desses resul-
tados para a revisão das teorias .de motivação .e de técnicas tera-
pêuticas são discutidas.

o livro ora publicado e esta comunicação referem-se ao trabalho


na psicologia clínica iniciado nos anos 60, depois de concluído o curso
de p6s-graduação na Universidade de Columbia, nos EUA, e após
a tese de doutoramento na Universidade de São Pau1o. São relatadas
as experiências como psicólogo clinico, após ter trabalhado muitos
anos no campo da psicologia industrial e na orientação vocacional.
• Fste. trabalho, apresentado ao XX Congresso Internacional de Psicologia
Aplicada, realizado em Edimburgo, Escócia, de 25 a 31 de julho de 1982, repre-
senta, também. um resumo do livro recentemente publicadO pelo autor e inti-
tulado Aconselhamento pstcológico Ir patcoterq.pta; auto-afirmação - um deter-
minante básico do comportamento humano. São Paulo, Pioneira, 1982. (Artigo
apresentado à Redação em 24.8.82.)
-- Endereço do autor: Rua Plinto de Moraes, 45- Sumaré - 01252 - SP.

Arq. bl'8.l. PB1c. No de Janeiro 35(4) :81-4 out./dllll. 1983


Primeiramente, comenta~se o longo caminho do diagnóstico para
a ajuda psicológica e propõe-se a. classificação dos métodos de aconse~
lhamento e de psicoterapia em três categorias principais: métodos
centrados no contexto sócio-cultural; métodos centradoS no contexto
pessoal; métodos mistos e centrados no problema. Um capítulo espe-
cial é dedicado às idéias e técnicas rogerianas e um n~rogerianismo
é sugerido.
Partindo inicialmente da terapia centrada na pessoa, de acordo
com as proposições de Rogers, relatam-se observações acumuladas
durante cerca de 20 anos. Tais observações levaram à exploração de
um importante fato que ocorria durante a terapia: a maioria dos clien~
tes atendidos para aconselhamento psicológico ou terapia caminhava
no sentido de um melhor bem-estar e produtividade na medida em
que atribuíam a si mesmos e não a fontes externas as causas de
seus problemas e düicuÍdades. Nesse momento, uma questão impor~
tante foi levantada: haveria algum fenômeno psicológico relacionado
com o autoconceito que poderia ser ·responsâvel pela redução de
tensões e melhor ajustamento às condições de vida? Nesta faixa refe~
rencial foi observado, através dos anos, com todos os tipos de clientes,
independentemente de seu status social ou econômico, que a melhora
havida estava fortemente associada a alterações na sua auto-imagem,
auto-estima, autoconceito e auto-afirmação.
É óbvio que a conclusão não é nova. Todos os sistemas e teorias
psicológicas a têm mostrado, inclusive Freud, Adler, Jung, Sartre,
May, Rogers e muitos outros. Contudo, o ponto importante - que
pode ser considerado uma nova contribuição - é o papel da auto-
afirmação no comportamento humano.
Para esclarecer essas idéias, foi necessário rever alguns conceitos
básicos sobre motivação. Seguindo essa linha, chega-se a uma hipó-
tese de que a auto-afirmação é um dos mais significantes determinan!O'
tes do comportamento humano; talvez o fator preponderante, não
considerado o campo biológico (necessidades naturais para sobrevi~
vência).
A auto-afirmação é um fenômeno complexo; pode ser entendida
como uma grande e variada revisão do ego, tanto cognitiva como
emocional, seguida pelo julgamento feito pela pessoa sobre si mesma
(eu pessoal) e sobre sua adaptabilidade às expectativas externas (eu
SOCial). As bases do comportamento humano - isto é, as necessidades
e os motivos que consciente ou inconscientemente estabelecem os alvos
da atividade, excluídos os fatores p~ramente orgânicos - estariam
concentradas nos conceitos sobre si mesmo e sobre seu papel. na
vida. Ser alguém reconhecido como pessoa seria um importante alvo,
mesmo com limitações e falhas. Os exemplos podem ser encontrados
diariamente em todas as formas do comportamento humano: crian~
ças que desejam fazer coisas por elas próprias; adolescentes que
tentam mostrar que já são crescidos; adultos que lutam pelo status •
e pelo poder. De outro lado, a experiência mais trau~âtica parece
ser o sentimento de ser ignorado, de não ter valor, ser esquecido ou
colocado em lugar inferior em qualquer aspecto da vida; significa,
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também, o sentimento de ser incapaz diante dos valores e das expecta-
tivas sociais.
As conseqüências de tais observações durante anos podem parecer
triviais: uma espécie de conclusão já conhecida e sem importância!.
Não obstante, o sucesso da terapia foi sempre associado à revisão do
eu (self) e à obtenção de um sentimento mais forte de auto-afirma-

- ção. O livro sobre o assunto e esta comunicacão visam chamar a


atenção para esse foco da vida emocional e indicar a possibilidade
de se dar essa direção para uma nova compreensão do comporta-
mento humano. Essa compreensão significaria, também, novos cami-
nhos no processo terapêutico, tanto quanto em ~titudes profiláticas
em outros campos.
Muitas escolas filosóficas, especialmente os chamados movimen-
tos humanísticos, o existencialismo e aantipsiquiatria ~m chegado
por diferentes caminhos a conclusões similares. Muitas outras teorias
e técnicas terapêuticas têm sugerido que o sentimento de valor pes-
soal, a auto-imagem e o autoconceito têm significativa influência na
terapia. Essa posição é mais sensível em Adler e Rogers. Mesmo o
reforço, na teoria de Skinner, é de alguma forma ligado à idéia: o
efeito de se ter completado uma tarefa pode ser em si mesmo uma
forma de auto-afirmação. Embora muitas teorias tenham postulado
algum efeito derivado do sentimento de auto-estima e autovalor, não
há teoria ou técnica que enfatize a auto-afirmação como o mais signi-
ficante fator na existência humana e, como conseqüênciar na tera.pia
psicológica.

- A principal contribuição do livro e desta comunicação a um


congresso científico é esquematizada no seguinte: a) a motivaç~o
humana é altamente influenciada pela auto-afirmação; esta concep-
ção levanta a hipótese de ser a a,uto-afirmação o mais significativo
determinante do comportamento; b) os melhores resultados com
teorias e técnicas rogerianas e similares têm sido encontrados, na
experiência do autor, quando há ênfase na auto-afirmação, isto é,
quando o terapeuta e o cliente atuam na área cognitiva e emociOnal
examinando, em conjunto, os sucessos e os fracassos através da vida,
sem medos e ansiedades; quando ambos são capazes de conciliar o eu
pessoal (características e necessidades pessoais) com o eu social
(características e necessidades grupais e SOCiais); c) a estrutura psi-
cológica torna-se mais forte na medida em que a .pessoa se rec0-
nhece como um ser vivo bastante real, com características que lhe
são próprias; quando é capaz de apreciar seu próprio território;
quando se sente como alguém com suas próprias idéias e maneira de
~r, aberta ao mundo, capaz de sentir, pensar e agir em função
de suas capacidades e limitações, sem sentimentos permanentes de
perda ou de inferioridade.
Por enquanto somente há dados clínicos que sustentam a hipó-

.. tese. A contribuição agora apresentada provém da observação de


centenas de casos atendidos durante cerca de 20 anos. Há grande
necessidade de pesquisas nesse campo; .tenta-se, apenas, abrir um
novo caminho, com uma fundamentação empírica, para expandir
nossa compreensão da motivação humana. As conseqüêneias poderão
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ser de grande valor para o aperfeiçoamento des-pfucessos terapêuticOs
tanto quanto para outros aspectos da vida. São dados vários exem-
plos .relacionados com a família, a vida escolar, o trabalho e pessoas
idosas.

Abstract
Initially starting from person centered therapy according to Rogers'
-
propositions, the author relates his observations over 20 years. Those
observation led him to explore an important fact that occurred during
therapy: the majority of clients who attended counseling or thera-
peutic sessions would improve as long as they were able to attribute
the reasons for their problems and difficulties to themselves and
not to externaI ca~s. An important question was then raiIed by the
author: would thete be any psychological phenomenon related to the
self-concept that could be responsible for better adjustment? Eighty
clients (adults and adolescents, male and female, of different social
and economic. status) were observed. A checklist with 13 indicat()rs
of progress was unformally used to guide the observation. All clients,
independent of their social or economic status, showed improvement
strongly associated with -à.lterations in their self-image, self-esteem,
self-conêept and. self-assertion. A new hypothesis is possible: self-
assertion is one of the most significant determinants of human beha-
vior - perhaps the most prevailing goal of human life. The impU-
cations of these results for the revision of theories of motivation -and
therapy techniques are discussed. .

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