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AULA 1
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Como pudemos ver, para a Bioenergética, o guarda-chuva se abre da
seguinte forma: dentro da Psicologia existem diversas abordagens, uma delas é
a Psicologia Corporal; dentro da Psicologia Corporal existem três grandes
movimentos, que são o reichiano, o pós-reichiano e o neorreichiano; a
Bioenergética faz parte do movimento neorreichiano. Veremos mais detalhes de
cada um desses movimentos a seguir.
O movimento reichiano é aquele que dá origem à abordagem da
Psicologia Corporal, que tem como fundador Wilhelm Reich. O movimento pós-
reichiano mantém como base a teoria inicial de Reich, porém, começa a propor
pequenas alterações de compreensão da teoria, nomenclaturas e práticas
corporais – tem como principal autor Federico Navarro. Por fim, o movimento
neorreichiano se enquadra dentro da abordagem corporal devido à visão de
homem e de mundo de ambas ser compatível, porém, propõe mudanças bem
significativas na teoria, conceitos e práticas corporais. Podemos ver que dentro
do movimento neorreichiano existem três autores principais: Alexander Lowen,
fundador da Bioenergética, David Boadella, fundador da biossíntese e Gerda
Boyesen, fundadora da Biodinâmica. Nosso objetivo nesta disciplina é estudar a
primeira delas, a Bioenergética.
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pela instituição de ensino responsável. Deve ficar claro para seus pacientes e
clientes qual é sua formação, sem espaço para dúvidas – propagandas que não
deixam nítidas as informações sobre formação e habilitações de profissionais da
área podem induzir a sociedade ao erro, o que poderia caracterizar exercício
ilegal da profissão.
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Foi dessa forma que começou a desenvolver sua nova abordagem terapêutica,
que passou por algumas fases, conforme veremos a seguir.
Inicialmente seu método de trabalho foi chamado de Análise do Caráter,
que consistia em considerar o caráter do paciente como um todo durante o
processo terapêutico, não apenas os sintomas, como era feito na psicanálise.
Frente a frente com o paciente, Reich observava as expressões emocionais
desse, indo além do que era apenas dito. Reich começou a perceber também
que existiam alguns padrões emocionais e comportamentais em seus pacientes
e foi reunindo esses padrões em tipos de caráter, os quais chamou de “traços de
caráter”.
Para auxiliar na compreensão do termo “caráter” e seu significado prático
no processo terapêutico, segundo Navarro (1995), o caráter é a maneira habitual
de agir e reagir de um indivíduo, por intermédio do seu comportamento. Ou seja,
ao compreender os principais traços de caráter de um indivíduo, era possível
identificar seus padrões emocionais e comportamentais e direcionar o projeto
terapêutico de forma mais assertiva.
A respeito da formação dos traços de caráter, esta ocorre desde a
fecundação do indivíduo até sua puberdade, principalmente, podendo se
estender também para a vida adulta. Conforme as experiências vivenciadas pelo
indivíduo, que podem ser prazerosas ou traumáticas, esse vai desenvolvendo
sua forma habitual de agir e reagir no mundo. No caso de experiência negativas,
o indivíduo utiliza mecanismos de defesa naturais para se proteger, e essa forma
de responder aos acontecimentos, dependendo de sua frequência e intensidade,
vai se cristalizando em seu comportamento. Ou seja, o indivíduo perde sua
fluidez, sua capacidade de agir e reagir conforme as situações se apresentam,
em vez disso, desenvolve um comportamento rígido e encouraçado.
Em seguida, o seu trabalho seguiu para uma nova fase, chamada de
Vegetoterapia Caracteroanalítica. Segundo Volpi (2019), nessa fase, a Análise
do Caráter foi revisada e ampliada por Reich, deixando de ser uma terapia
apenas psicológica, e passando a ser também biofísica, tendo como base as
reações neurovegetativas. Aqui, Reich desenvolveu o conceito de “couraças
musculares” – regiões corporais com tensões musculares crônicas –, e mapeou
o corpo em sete segmentos de couraça. Foi nessa fase que o aspecto corporal
ganhou destaque no trabalho de Reich, o que depois veio a se tornar o nome da
abordagem que dedica sua origem a ele, a Psicologia Corporal.
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Por fim, ao se aprofundar nos estudos referentes à energia – para a qual
Reich deu o nome de “orgone” – a última fase de seu trabalho foi chamada de
Orgonoterapia, que, posteriormente, consolidou-se como uma ciência natural,
denominada Orgonomia (VOLPI, 2019). A partir de suas pesquisas e estudos,
Reich descobriu a importância da energia para a saúde do organismo. Constatou
que se um organismo estava bem energeticamente, ou seja, a circulação e a
vibração energética estavam fluindo positivamente, esse apresentava maior
potencial para a saúde (física e emocional). Já se um organismo estava com a
circulação e a vibração energética estagnada, ele apresentava maiores chances
de desenvolver desequilíbrios em sua saúde (física e emocional).
Reich concluiu, então, que os traços de caráter e as couraças musculares
não geravam apenas rigidez no comportamento e no corpo do indivíduo, mas
também bloqueavam a circulação saudável de energia no organismo. A partir
desse momento de seu trabalho, a base da teoria e da prática da Psicologia
Corporal, conforme é seguida até hoje, foi definida e nela se considera que os
aspectos mente, corpo e energia são inseparáveis na construção do bem-estar
e da saúde de cada indivíduo, assim como devem fazer parte do processo
terapêutico.
Algumas das principais obras de Reich, para se aprofundar mais, são A
análise do caráter e A função do orgasmo.
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Navarro também se destaca na história da Psicologia Corporal, pois
divulgou o trabalho de Reich mundo afora, inclusive no Brasil, a partir do ano de
1986 (Volpi, 2019). O autor vinha para o país ministrar formações de
orgonoterapeutas, além de participar de congressos e realizar sessões
terapêuticas. Foi também responsável por escrever algumas obras que
organizam a metodologia reichiana, facilitando aos profissionais da área e
interessados a acessar, compreender e aplicar as técnicas da abordagem.
Uma curiosidade, inclusive, é que Navarro foi um dos grandes
responsáveis pela formação de José Henrique Volpi, um dos diretores do Centro
Reichiano em Curitiba, que hoje ministra formações em Psicologia Corporal,
juntamente com sua esposa Sandra Mara Volpi. O casal é também responsável
por organizar e promover o Congresso Brasileiro de Psicoterapias Corporais,
que, em 2021, completa sua 25° edição.
Algumas das principais obras de Navarro são Caracterologia pós-
reichiana, Metodologia da vegetoterapia caractero-analítica e
Somatopsicopatologia.
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realidade na qual ele está inserido. Pode-se dizer que a visão de homem e de
mundo de uma abordagem é o que caracteriza essa abordagem e aqueles
métodos e trabalhos que quiserem se encaixar dentro dela devem compactuar
com a mesma visão, como é o caso da Bioenergética em relação à Psicologia
Corporal.
Quando nos perguntamos, de forma objetiva, o que diferencia a visão da
Psicologia Corporal das demais abordagens da Psicologia, a resposta é: sua
visão de que mente, corpo e energia são inseparáveis e igualmente
determinantes na formação e no modo de ser e se comportar de um indivíduo. É
dessa união que as características do indivíduo se formam e é também a partir
desses três aspectos que a terapia corporal deve ser conduzida.
O aspecto mental do indivíduo, ou sua psique – um termo muito utilizado
por psicólogos – sempre foi o foco da psicologia. Ao pesquisar no dicionário é
possível constatar que “psique” tem muitos significados, como: mente, intelecto,
sentimentos, a parte imaterial do ser humano, entre outros. Por muito tempo se
acreditou que a mente e o corpo do indivíduo funcionavam de forma totalmente
independente e o que se apresenta em um desses aspectos nada tinha a ver
com o outro aspecto. Devido a isso, a psicologia e a medicina trabalharam
também de forma independente, acreditando que uma tinha o objetivo único de
tratar o corpo, enquanto a outra de tratar a mente.
Na Psicologia Corporal, esse conceito foi reavaliado. Como vimos, por
meio de seus estudos e prática clínica, Reich percebeu que a mente e o corpo
estavam diretamente relacionados e que o que acontecia com um desses
aspectos influenciava o outro.
A partir disso, o aspecto corporal – ou somático – foi incorporado ao
trabalho terapêutico da abordagem. Na visão da corporal, todas as experiências
vivenciadas por nós, desde a fecundação e durante toda nossa vida, geram
respostas emocionais e corporais. Quando passamos por uma situação positiva,
experimentamos emoções positivas, assim como nosso corpo responde de
forma fluida e expansiva. Já quando passamos por uma situação negativa, o
contrário acontece, experimentamos emoções negativas e nosso corpo
responde com contrações e contenções, perdemos a fluidez.
Dessa forma, as marcas deixadas em nós por essas experiências
impactam tanto a nossa mente, criando padrões emocionais e comportamentais,
como também nosso corpo, criando padrões posturais, modo de se movimentar,
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regiões corporais com excesso ou falta de tônus, podendo gerar inclusive
doenças físicas. Podemos chamar essas marcas de “estruturas de caráter” e
“couraças musculares”, como já vimos brevemente e nos aprofundaremos nos
próximos conteúdos.
Mais adiante, o aspecto energético foi incorporado na visão de homem e
de mundo da abordagem. A energia está presente em todo organismo vivo, tudo
que há na terra, que possui qualquer centelha de vida, possui energia. A energia
é responsável por nos manter vivos, por possibilitar o movimento, a troca, a
vitalidade, a sexualidade, a reprodução, o trabalho, as emoções, e muito mais.
Um organismo saudável é aquele com energia circulando e disponível para os
processos de carga e descarga. É necessário que haja um equilíbrio entre esses
aspectos, para que não haja excesso ou falta de energia.
Uma das causas de nossos desequilíbrios físicos e psíquicos é esse
excesso de energia, que não é descarregada conforme deveria, ou a falta de
energia, pela incapacidade de absorvê-la e permitir que circule no organismo. As
couraças musculares são responsáveis por limitar esse ciclo de carga e
descarga que deveria acontecer naturalmente, considerando um organismo
saudável.
TEMA 5 – AUTORREGULAÇÃO
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Um dos principais objetivos da Corporal, assim como da Bioenergética, é
restaurar a capacidade, ou parte da capacidade, de autorregulação do
organismo do paciente. Para isso, é necessário considerar diversos caminhos,
que veremos mais adiante, mas, resumidamente, entre eles estão: o trabalho
com as estruturas de caráter a partir da análise verbal (conversa com o paciente),
para amadurecimento emocional e da personalidade do paciente; aplicação de
práticas corporais com o objetivo de flexibilizar as couraças musculares e o
restabelecer o fluxo energético; estimular o paciente a ter mais contato com o
seu corpo e sua potência energética; buscar desenvolver a liberdade do paciente
em lidar com suas emoções e sensações; entre outros.
NA PRÁTICA
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FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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