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Fortaleza
Novembro de 2023
1. INTRODUÇÃO
No que diz respeito à Psicologia Clínica, que é o campo de atuação mais clássico e
ainda hoje mais aderido, esse trato com a subjetividade da pessoa humana tem um caráter
ainda mais central de escuta clínica e aplicação de técnicas, intervenções e tratamentos no
âmbito psicoterapêutico, seja na perspectiva da mente propriamente dita, do comportamento,
da cognição, do inconsciente ou das questões de qualidade mais existencial, para as quais as
abordagens guiarão cada psicoterapeuta.
Esses e outros caminhos seguidos na clínica constituem hoje os meios pelos quais o
processo psicoterapêutico ocorre. Ainda que, essencialmente, seja originada dos esforços
humanos de auxílio e cura ainda na antiguidade, a psicoterapia como atividade profissional é
possível ser definida como
Considerando esta área de atuação, esse trabalho visa realizar uma apresentação da
Psicologia Clínica em sua generalidade, como também algumas questões relacionadas à sua
prática que refletimos a partir das entrevistas com os profissionais, como as diferenças com
relação às abordagens, as motivações teóricas e pessoais para o trabalho psicoterapêutico e a
educação continuada.
A área de atuação na clínica possui, portanto, várias nuances que merecem uma
atenção mais demorada com o fim no melhoramento de nossa formação e futura atuação
profissional. É tendo em vista tais assuntos e, de modo mais específico, a relação entre as
abordagens teóricas e empíricas, além das teorias psicológicas, com a prática clínica de
diferentes profissionais, que realizamos esta pesquisa, já que essa relação parece ser
fundamental para o desenvolvimento fazer clínico de cada psicólogo e, consequentemente,
para a qualidade do atendimento.
2. MÉTODO
Para elaboração deste relatório realizamos uma pesquisa qualitativa que consiste em o
investigador se deslocar para o local de pesquisa com o intuito de compreender o fenômeno
de estudo a partir da óptica das pessoas envolvidas, levando em consideração todas as
perspectivas pertinentes. Diversas formas de informação são reunidas e avaliadas para
adquirir uma compreensão abrangente do fenômeno (Godoy, 1995). Para isso, relacionamos a
teoria e a prática dos temas abordados na escrita deste texto.
Essas entrevistas foram realizadas com três profissionais e foram marcadas de forma
presencial e a distância via whatsapp, foram gravadas e transcritas para permitir a análise dos
dados. Neste devido relatório os chamaremos de Psicóloga X, Psicólogo Y e Psicólogo Z para
que suas identidades permaneçam sigilosas. A primeira é professora universitária e atua na
clínica por meio das teorias cognitivas, neurociências e epigenética; o segundo é psicólogo
clínico com experiência em psicanálise, em transição para a TCC, mas cujo fundamento
filosófico está na psicologia tomista; o terceiro, apesar do contato com diferentes abordagens,
tem como principal abordagem a logoterapia de Viktor Frankl.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por meio das entrevistas e das leituras realizadas, podemos entender, de modo geral,
as principais atribuições do profissional em Psicologia Clínica e melhor relacionar a prática
da profissão com as teorias que a fundamentam, de acordo com o modo pelo qual cada
psicólogo trabalha. Os entrevistados trouxeram em suas falas, assuntos e perspectivas que
contribuem para as discussões que aqui propomos realizar, no que diz respeito às motivações
e escolhas, à formação, às condições e rotina e as perspectivas e especificidades de cada
profissional.
Apesar dos diferentes caminhos tomados dentro da psicologia clínica pelos três
profissionais, por meio de distintos motivos e escolhas, algo parece ser de comum acordo: a
busca por acolher a pessoa, não seu comportamento ou doença. Os caminhos para atingir esse
fim são diversos, mas tal fim ético surge nas respostas dos entrevistados, demonstrando uma
preocupação humanista que orienta a prática profissional.
A psicóloga X indica essa perspectiva quando diz “Eu vejo a pessoa e não a doença”,
ou o psicólogo Z quando diz “Eu não olho só ‘pro’ comportamento da pessoa. Eu olho pra
pessoa que me chega”. O psicólogo Y demonstra essa visão com as seguintes palavras:
Dessa maneira, tal visão demonstra uma perspectiva crítica quanto ao reducionismo
em Psicologia, de modo que, com o entendimento da complexidade desse conhecimento e de
seu objeto de estudo, os profissionais tendem a utilizar dos aparatos psicoterapêuticos, mas
adaptá-los às realidades de cada caso.
Agora, o meu foco maior sempre foi com crianças e bebês, porque a partir do
pressuposto, e quanto mais precoce a intervenção, você está evitando os
sofrimentos. Então, assim, como é que eu vou atuar nisso? (...) Então, essa foi a
minha escolha.
Já o psicólogo Z ressalta a influência de Viktor Frankl em sua escolha que indica uma
identificação com a visão do neuropsiquiatra austríaco sobre a dignidade humana e como ela
influencia um fazer psicoterapêutico frente ao sofrimento das pessoas. O valor do ser humano
é algo que perpassa as falas do entrevistado e o desenvolvimento e objetivo da Logoterapia
que, segundo o seu fundador, é ajudar as pessoas a fazerem melhor uso de seus recursos
espirituais para resistir às adversidades (Frankl, 2019).
3. 2 Formação
3. 2. 1 Formação dos entrevistados
Embora ambos os 3 entrevistados tenham obtido a mesma graduação universitária, é
fascinante perceber a distinção de suas motivações e princípios nesse percurso acadêmico.
Suas perspectivas individuais sobre como essa formação específica contribuiu para moldar
sua atuação como psicólogo revelam nuances significativas. Além disso, destaca-se a
singularidade intrínseca no direcionamento e no trajeto que cada um escolheu, conferindo
uma riqueza de experiências para a profissão. Essa diversidade de visões e trajetórias
enriquece não apenas a compreensão da formação em si, mas também ressalta a vastidão de
possibilidades que se desdobram a partir de uma base comum.
Nossa primeira entrevistada, a psicóloga X, já na faculdade entrou em um projeto de
pesquisa em um hospital universitário onde ela realizava um trabalho sobre o
desenvolvimento de bebês com o dia a dia da relação mãe-bebê. Assim que concluiu a
graduação ela já se direcionou ao curso de mestrado onde trabalhava junto com um
neurologista, e, sua pesquisa consistia na avaliação neuropsicológica de crianças com
epilepsia. Ela tinha a intenção de traçar um perfil para esses pacientes e descobrir qual era o
melhor teste psicológico para aquela área ambulatorial. Foram utilizados a escala WISC e o
SON-R. Mais adiante, a profissional realizou seu doutorado na Alemanha sobre estresse na
prematuridade, medindo cortisol e atualmente ela é neuropsicóloga e trabalha como
professora na graduação e na pós-graduação, além de trabalhar na clínica e com pesquisa.
A Psicóloga X considera que sua formação foi de suma importância para seu
desempenho na psicologia clínica, ela fala que as pesquisas em sua formação proporcionaram
uma base sólida para atuar na clínica e em ambientes hospitalares. Além disso, ela enfatiza
que a pesquisa foi fundamental, superando até mesmo a experiência prática na clínica. Ao
participar de um projeto de pesquisa e estágio, adquiriu habilidades práticas e teóricas,
contribuindo significativamente para seu desenvolvimento. A participação em congressos
durante a faculdade e o mestrado, assim como a oportunidade de estudar na Alemanha, foram
experiências marcantes. Com o contato com profissionais de diversas áreas internacionais,
sua formação foi enriquecida e isso foi fundamental para sua trajetória profissional atual. Até
hoje, a professora investe em formações continuadas:
Eu não paro. Eu estou todo o tempo fazendo curso. Congresso também. Todo ano eu
vou para o congresso. Porque a neurociência muda muito rápido. É a minha base
principal nas neurociências. Então, eu tenho que estar me atualizando o tempo todo.
3. 3 Rotina e condições
A entrevistada X possui uma rotina bem desgastante, pois ramifica seu tempo
desempenhando diversas atividades, sendo elas a sua atuação como professora tanto na
graduação quanto na pós-graduação, e o desenvolvimento de trabalhos na área da pesquisa e
também na clínica.
Sobre o mercado de trabalho, avalia que a psicologia clínica está muito em alta.
Apesar de não fazer marketing do seu trabalho em redes sociais, ela acredita que fazer um
trabalho bem feito e ter um networking é fundamental. A entrevistada consegue muitos dos
seus clientes por indicação de outros profissionais, inclusive no início de sua carreira, recebia
muitos clientes que eram indicados pela neurologista com quem trabalhava em um projeto de
pesquisa. A neuropsicóloga também realiza muitas palestras e ministra alguns cursos onde
tem seu trabalho muito indicado.
Atuando profissionalmente apenas como psicólogo clínico, de forma presencial e
online, o entrevistado Y costuma sempre fazer anotações após as consultas sobre as coisas
mais importantes e pontos a serem trabalhados, como também planejar atividades para serem
realizadas com o paciente. Diariamente via de regra ao chegar na clínica ele lê suas anotações
sobre todos os pacientes do dia.
O psicólogo Z atua como psicólogo clínico com atendimento online e presencial, ele
possui também uma empresa que trabalha com educação online, auxiliando outros
profissionais da saúde a transmitir seus conhecimentos da melhor forma. Na clínica ele
atende às terças, quartas e quintas pela manhã e nas sextas a tarde e ele acha importante frisar
que:
O entrevistado comenta sobre o mercado de trabalho para psicólogo clínico e diz que
é “o melhor dos mundos”, a procura aumentou muito desde a pandemia e que antes disso ele
participou ativamente de uma campanha chamada Janeiro Branco que tinha como slogan
“Quem Cuida da Mente Cuida da Vida”.
Estas são três das inúmeras maneiras de atuação profissional que encontramos em
Psicologia Clínica. São realidades que envolvem o lugar que ela ocupa nas vidas de cada um
dos profissionais que, por sua vez, influencia na forma como atuam com as intervenções
realizadas no setting terapêutico com os pacientes.
4. CONCLUSÃO
Em síntese, mesmo com uma grande quantidade de artigos sobre as abordagens, não é
alto o número de produções sobre a Psicologia Clínica em específico. Contudo, o trabalho
desdobrou-se de uma ótima maneira, beneficiando-se da abundância de profissionais na área
da psicologia clínica. A alta disponibilidade de psicólogos nos proporcionou a oportunidade
de conduzir três entrevistas de boa qualidade. Os insights obtidos por meio desses diálogos
destacaram a notável diversidade que existe nessa esfera, revelando uma multiplicidade de
abordagens e metodologias. É evidente que, independentemente de suas perspectivas teóricas
específicas, os profissionais entrevistados demonstraram habilidade em adaptarem-se às
demandas singulares apresentadas em seus respectivos consultórios.
Podemos perceber também que a clínica como área de atuação possui grandes pontos
positivos, como o fato de ter a possibilidade de ter mais autonomia ao gerenciar seus
horários, permitindo ao psicólogo desta área ter flexibilidade para desempenhar outras
atividades em paralelo, como vimos no caso da entrevistada X que além da clínica trabalha
como professora e pesquisadora.
Devemos compreender portanto que, para a Psicologia Clínica é de suma importância
ter uma ótima formação acadêmica e complementá-la com cursos e especializações. O
aspirante a essa profissão deve se manter conectado e atualizado e manter um estudo contínuo
mesmo após a graduação. Um cliente ou paciente lhe trará no consultório uma vida inteira e o
profissional precisa sempre estar o mais preparado possível.
Quanto à profissão na sociedade, apesar da percepção do senso comum quanto à
psicologia, é uma área que está em ascensão e vem crescendo a cada dia, principalmente após
o advento da pandemia, quando a demanda de psicólogos clínicos aumenta e a profissão vem
se estabelecendo bem no mercado de trabalho.
Por fim, por meio desta pesquisa passamos a compreender de modo mais próximo o
que, de fato, o profissional exerce no dia-a-dia de sua área e como os conhecimentos teóricos
se alinham às práticas profissionais, fundamentando, juntamente com as histórias de vida de
cada entrevistado, as perspectivas sobre a clínica como lugar de acolhimento, escuta,
psicoeducação e transformação.
Lembramos que o que foi exposto neste relatório designa o viés pelo qual se decidiu
abordar as falas dos entrevistados sobre os temas mencionados, mas que não se esgota em si
mesmo, podendo motivar pesquisas sobre, por exemplo, o lugar da psicologia clínica na vida
dos profissionais da área ou a crítica ao reducionismo da Psicologia entre os psicólogos
clínicos e as implicações na prática clínica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MANZINI, Eduardo José. A entrevista na pesquisa social. Didática, São Paulo, v. 26/27, p.
149-158, 1990/1991. Disponível em:
https://www.marilia.unesp.br/Home/Instituicao/Docentes/EduardoManzini/Entrevista_na_pes
quisa_social.pdf Acesso em: 02 nov. 2023.
SOUZA, Alberto Carneiro Barbosa de. Introdução à psicologia clínica. Fortaleza: Editora
Saraiva, 2021. E-book. ISBN 9786589881742. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786589881742/. Acesso em: 30 out. 2023.
Ferreira Neto, J. L. (2004). A formação do psicólogo: clínica, social e mercado. São Paulo,
2004
APÊNDICES
6. Seus valores e princípios de vida tem alguma relação com sua atuação nessa área e
abordagem?
7. Você realiza alguma outra atuação profissional além da atuação como psicólogo
clínico?
8. Você considera que sua formação na graduação em Psicologia lhe concedeu um bom
aparato teórico e prático para sua profissão?
9. Para além da graduação, quais as formações que você procurou ter para que melhor
pudesse atuar profissionalmente?
10. Quais cursos ou especializações você pretende fazer para agregar no seu trabalho?
14. Quais os materiais e meios dos quais você se utiliza para a realização de seu trabalho
(internet, livros, testes, jogos, etc)?
17. Como você avalia o mercado de trabalho para o psicólogo clínico hoje?
18. Quais as estratégias que você tem para melhor se colocar no mercado de trabalho?
Psicóloga X: Eu sempre, a minha decisão maior, eu atuei na clínica e atuei na área hospitalar.
Primeiro, na área hospitalar, como pesquisa, dando apoio a essas mães e o desenvolvimento
desses bebês. Agora, o meu foco maior sempre foi com crianças e bebês, porque a partir do
pressuposto, e quanto mais precoce a intervenção, você está evitando os sofrimentos. Então,
assim, como é que eu vou atuar nisso? Tanto em hospitais, quanto na clínica, entende? Então,
essa foi a minha escolha. E a escolar, na minha época, não se falava muito. Era muito pouco.
Até hoje, eu acho muito precário o número de psicólogos que tem na área escolar. Eu acho
que isso tem que mudar. Já tivemos grandes avanços. E aí, também, esse foi um dos motivos
que eu fui, que era como eu estava fazendo essa estimulação precoce. Tanto na área
hospitalar, quanto na clínica. Meu objetivo era trabalhar ali com crianças, mas hoje eu
trabalho com crianças, com adolescentes, com adultos e com jovens. Até porque eu uso
muitas neurociências e eu vejo que eu tenho que trabalhar o desenvolvimento como um todo.
Entrevistadora: A área de atuação da clínica, como é que você vê, assim, como profissional?
O que é que seria a psicologia clínica pra você?
Entrevistadora: Acho que você já iniciou esse assunto, mas como é que seria, o que você diria
sobre seu papel como profissional da saúde?
Psicóloga X: É fundamental. A gente tem que trabalhar com prevenção. E muito do nosso
adoecimento, ela vem de crenças, pensamentos disfuncionais, comportamentos disfuncionais.
Entende? Da falta de autoconhecimento. Na hora que você trabalha isso e você trabalha a
resiliência, porque o estresse sempre vai existir. O problema sempre vai existir. A questão é
como você lida com isso. Não tem como a gente dizer, não, aquela pessoa vai vivenciar sem
estresse. Não. Até porque o estresse também tem o seu lado bom, que é o eu-estresse, né, que
a gente chama. E tem um de estresse que é o estresse ruim. Agora, o que eu faço com isso?
Como eu encontro as soluções? Eu vou ser uma pessoa que vai quebrar diante daquela
situação estressante? Ou seja, não vou ter resiliência, o termo resiliência vem da física, né,
vem da engenharia. Ou eu vou me moldar aquilo ali, me transformar e saber lidar com aquela
situação sem quebrar, sem fissurar. Entende? Então a gente trabalha muito com o
desenvolvimento das potencialidades, o trabalhar com as dificuldades, pro crescimento do
nosso paciente. Para isso precisa ter inteligência emocional, precisa ter autoconhecimento,
autocontrole, empatia. Né? Autorregulação. Que são funções executivas aí. Flexibilidade
cognitiva.
Entrevistadora: É, então, assim, só pra gente ter mais clareza… Sobre o público alvo e
também qual a abordagem psicoterapêutica?
Psicóloga X: Terapias cognitivas, terapias cognitivas como um todo. Não só a TCC, a TCC é
uma delas. Neurociências, que é uma ciência, não é uma abordagem. Aí dentro da abordagem
das neurociências, principalmente neurociências cognitivas e neurociências sociais, que eu
uso muito, e epigenética, que é outra ciência. Então eu utilizo duas ciências, né, mais a
abordagem da psicologia, que são as terapias cognitivas. E o público-alvo? Público-alvo é
bem... Assim, é bem variado, né? Eu trabalho, como eu falei, com bebês, crianças, adultos,
adolescentes e idosos, mas o meu foco maior hoje na clínica, a grande maioria dos meus
pacientes, são adolescentes e crianças. Certo. Hoje o foco maior são crianças e adolescentes.
Psicóloga X: Pela questão de trabalhar com prevenção, de evitar os efeitos duradouros, né, de
determinados eventos que a pessoa passou, experiências que a pessoa passou ao longo da
vida. Então se eu já posso intervir antes com bebês e com crianças, então, por exemplo, um
bebê que nasceu prematuro, a gente sabe que passa por inúmeras situações estressantes, e isso
que vão ter consequências biopsicossociais. O que eu vou esperar, tá certo? Para poder fazer
intervenção, se eu já posso começar desde cedo. E eu gosto também dessa questão de usar a
ludicidade, que a gente utiliza muito com crianças. É um desafio maior ainda. Como eu
trabalho em todas as áreas, o tratamento de crianças e adolescentes é mais desafiador do que
com adultos. E eu gosto de desafios também. Porque as terapias cognitivas. Inclusive quando
eu estagiei, eu estagiei inclusive em psicanálise também. Então eu estagiei na psicanálise,
estagiei na psicobiologia, que era esse trabalho no hospital. Estagiei, que depois virou o
departamento de neurociências, né, e lá eles trabalhavam também muito com as terapias
cognitivas. Então eu fui estagiando as duas em paralelo para decidir e, para mim, fez mais
lógica você, essa área das neurociências, juntamente aí com as terapias cognitivas. E a
epigenética eu descobri ela em 2009. Então muitas lacunas que as neurociências deixavam,
eu supri. Porque eu via, por exemplo, um bebezinho que já nascia mais estressado, mas que a
gestação foi tranquila. Eu perguntava, por que esse bebê é mais estressado se a gestação foi
tranquila? E aí quando você via a história de vida da mãe, quando adolescente, repleta de
eventos estressores, né, e aí quando eu conheci a epigenética, eu comecei a entender que o
comportamento da mãe, mesmo antes dela estar grávida, influencia essa futura geração, vai
influenciar os filhos pela epigenética. E aí respondeu muita coisa pra mim, e incorporei
também o trabalho da epigenética na clínica. Eu tenho acesso desde 2009. Foi um privilégio
que eu tive.
Entrevistadora: Bom, seguindo mais nessa lógica, nesse assunto que você estava falando, os
seus valores, os seus princípios de vida, eles têm alguma relação com essa escolha pela
atuação, nessa área, nessa abordagem, com esse público?
Psicóloga X: Sim, tem, claro, sim, porque eu sempre procurei facilitar o processo de
desenvolvimento de um indivíduo. Sempre procurei trabalhar na área da saúde. Inclusive, eu
comecei na Odonto, porque eu queria trabalhar exatamente a prevenção das cáries de criança.
Só que eu comecei a estagiar e falei, não é isso que eu quero. Até chegar na psicologia foi um
percurso. Então, influenciou, sim.
Entrevistadora:Agora, sobre a sua graduação em psicologia, se você considera que ela te deu
um bom aparato teórico e prático para a sua profissão?
Entrevistadora: Então, você diria que é mais a questão da pesquisa que ajudou mais essa
experiência?
Psicóloga X: Não a pesquisa, mas a prática. A prática fazendo esse projeto, porque a gente
não só pesquisa, mas a gente é montado com várias... Então, a pesquisa é uma das melhores
formas de aprender. E a prática, as intervenções que a gente fazia com essas mães, porque
não era só pesquisa, era um projeto de pesquisa, mas um projeto de estágio também. E, fora,
comecei cedo esse projeto. Então, assim, foi incrível. Me deu muita habilidade prática,
teórica, tudo. A minha faculdade foi essencial para o meu desenvolvimento e para o alcance
que eu estou hoje. Na faculdade, eu já participei de congressos, eu sempre pegava coisas por
fora, me envolvia muito. No mestrado, então, era um congresso direto. Aí que eu participei
mais, mandava trabalhos. Então, foi isso. E a minha ida para a Alemanha foi perfeita. Foi
fantástica. A experiência que eu tive, tanto de pesquisa quanto de prática, contato com outros
profissionais de diversas áreas. O Instituto lá era internacional e tinha gente da engenharia,
tinha gente da medicina, tinha gente da psicologia, da enfermagem, outras áreas da saúde.
Então, com vários profissionais do mundo inteiro, porque eles recebiam convidados, né?
Então, minha gente do mundo inteiro, Estados Unidos, outras áreas da Europa. Então, foi um
privilégio a minha formação. Contribuiu muito para o que eu sou hoje.
Entrevistadora: Você já fala do mestrado e do doutorado, mas, assim, quais outros cursos e
especializações você fez?
Psicóloga X: Eu não fiz especialização... Eu já fui direto para o mestrado, mas eu fiz projeto
de extensão na área hospitalar. Já fui direto para o mestrado, doutorado, etc. E fiz outros
cursos também. Minha vida inteira foi fazendo curso.
Psicóloga X: Flexibilidade cognitiva, inteligência emocional, porque a gente lida com muitos
conflitos, muitas dificuldades, escuta, criatividade, principalmente quem vai trabalhar com
crianças e adolescentes, tem que ter muita criatividade, mas com adultos também, uma
grande velocidade de processamento, linkar as ideias rapidamente e bastante conhecimento.
Psicóloga X: Linkar as ideias, a teoria, a prática, porque vai ter coisas, por exemplo, você vai
usar ali uma determinada técnica que com aquela pessoa não funciona, e aí você vai ter que
linkar rapidamente. Linkar, o que eu posso fazer agora? Eu já usei todas as que aquela pessoa
não funcionou. Qual é essa que eu posso estar usando agora que eu acho que vai funcionar
para ela? Tem que ter muita flexibilidade cognitiva, eu digo que é como um jogo de xadrez,
você tem as técnicas, você tem a jogada, mas você não vai fazer aquilo ali de forma rígida,
porque cada paciente é um paciente. Você vai fazer de acordo com a jogada que ele fizer, aí
você vai saber qual técnica usar, e sempre partir dos interesses do paciente, de forma de
acessão. Então, você não pode ser muito rígido, senão você... a terapia não flui. Tem que ter
muita flexibilidade cognitiva.
Psicóloga X: Um dia comum? Nunca um dia comum. Você diz em que sentido?
Entrevistadora: A rotina… de manhã, o que você faz de tarde, se você atende à noite
também?
Psicóloga X: Jogos, testes... Testes privativos do psicólogo, que só o psicólogo pode usar.
Padronizados, validados aqui pro Brasil. Hoje a gente só pode usar os validados pro Brasil. E
muitos jogos, jogos que eu crio. Material que eu crio também. E escalas, né? Que não são
privativas do psicólogo, mas são validadas pro Brasil. Mas qualquer profissional da
universidade pode usar também. Então, varia muito. Desenhos, trabalho com desenhos.
Psicóloga X: Na maioria dos casos, TDAH. O que vem mais pra mim é TDAH. O principal é
o TDAH, depois o autismo. A maioria dos meus pacientes chegam com caso de TDAH. E
autismo. Tanto para avaliação, quanto para psicoterapia.
Psicóloga X: Às vezes o trabalho com os pais. Porque quem trabalha com criança ou
adolescente tem que trabalhar com os pais. É desafiador. Mas eu tenho que trabalhar, tem
dado super certo. A gente trabalha muito com a psicoeducação. E a questão do tempo. Eu
queria ter mais tempo.
Entrevistadora: E sobre o mercado de trabalho para psicólogo clínico hoje?
Entrevistadora: Quais as estratégias que você mais utiliza para se colocar no mercado de
trabalho?
Psicóloga X: Fazer o meu trabalho com qualidade. Porque nem marketing eu utilizo. Nunca
utilizei. O que eu tenho é do Sinapses, que é do nosso grupo. Mas não, eu nunca precisei
utilizar. Vai passando de boca a boca. Quando eu comecei, a neurologista me passava os
pacientes. Então, eu tenho vínculos muito com outros profissionais que me passam paciente.
Esse foi o segredo de como eu comecei. E depois, quando eu mudei pra cá, eu não abri a
clínica logo, eu dei um tempo. Até porque o pessoal não me conhecia. E eu comecei a dar
aula, fui ficando conhecida. Os pacientes vão chegando. Não pode. E qual é o teu marketing?
Fazer o trabalho bem feito, vai passando de boca a boca. Você fazer o seu trabalho bem feito,
vai passando de boca a boca. Uma amiga vai indicando pra outra amiga, que vai indicando
pra outra, que vai indicando pra outra. E quando eu também dou muitos cursos, participo
muito de congresso, o pessoal vê as apresentações e vão procurar também. Esse é o
marketing. Só posso dizer que é um marketing que você faz. Mas não tem rede social. Nada
disso não. Não faço divulgação.
Entrevistadora: Então, acho que a gente chegou ao fim das questões. Se a professora quiser
dizer mais alguma coisa…
Psicóloga X: Mensagem final, invistam mesmo. Bebam de todas as fontes, enquanto vocês
estiverem na graduação. Não liguem para essa disputa de abordagem. Vocês sabem. Criem a
autenticidade de vocês. Veja o que mais interessa para vocês. E façam um trabalho muito bem
feito. Desde a graduação. E vocês vão ser reconhecidos pelo trabalho e pronto. Aí a procura
vem como consequência. Eu digo que nota, o dinheiro que você vai ganhar depois. Tudo isso
é consequência de um trabalho bem feito. Se você faz um trabalho bem feito, você vai ser
valorizado. Se você não faz, depende do seu entendimento. E aguardem o processo. Porque
muitas pessoas já querem ver o resultado. Você precisa primeiro plantar, regar. E curtir o
processo. Comemorar cada fase do processo. Dá mais energia para continuar. E pronto. Aí
você vai colher as consequências do seu trabalho. E a psicologia é importantíssima. Está
crescendo cada vez mais. Lá fora as neurociências são muito valorizadas. Aqui já passa a ser
valorizada também. Mas ainda lá fora. Aqui ainda está engatinhando. Em relação a isso.
Invista no trabalho de vocês. E pronto. Independente de qual abordagem você venha a seguir.
Eu posso dizer que a neurociência pode ser usada em todas as abordagens. E ter um
diferencial, sabe? Então assim. Busquem o caminho de vocês. E olhem para o processo.
Resultado é consequência do processo. E todas as áreas são muito boas. E digo mais, vai
crescer ainda mais. Vai crescer ainda mais. Porque as pessoas estão ficando cada vez mais
adoecidas. Por uma série de fatores, infelizmente. Então a demanda na clínica está alta.
Entrevistadora: De início, se você puder falar algumas informações iniciais como quando foi
realizada a graduação, as suas formações na área, desde quando trabalha com a psicologia
clínica...
Entrevistadora: E por que você decidiu seguir nessa área da psicologia clínica?
Psicólogo Y: Bom, porque pelo fato de eu atender muitas pessoas na comunidade [religiosa],
na própria questão da escuta, então eu vi que seria muito útil. Era algo que eu gostava, que eu
me identificava, mas que seria muito benéfico também para as pessoas que eu fosse atender,
porque seria algo científico.
Psicólogo Y: Sim. Quando eu entrei na faculdade, o intuito foi justamente tentar melhorar
aquilo que eu já fazia, só que diante de tudo que eu fui vendo da psicologia, eu vi que eu me
encontrava mais na psicologia clínica, justamente pelo fato de já exercer um trabalho
parecido na escuta de pessoas.
Entrevistadora: Você já começou a falar sobre isso quando falou de cura, mas como você vê o
seu papel como um profissional da área da saúde?
Psicólogo Y: Bem, o meu papel eu acredito que é justamente aquele de acolher, de escutar,
mas, acima de tudo, estar ali disponível para o meu paciente. Eu procuro exercer a profissão
da psicologia de uma maneira muito humana, vendo que quem está ali diante de mim –
lembrando até mesmo da psicologia do humanismo – é uma pessoa que sente como eu sinto,
que pensa como eu penso, então eu olho para a pessoa não como uma doença, não como um
diagnóstico quando ela chega até mim com algum diagnóstico, eu olho para ela realmente
como um ser humano, uma pessoa.
Psicólogo Y: Isso mesmo. Posso conhecer todas as teorias, mas ao tocar uma pessoa, no caso,
é uma alma que eu estou tocando.
Entrevistadora: Bom, por que a escolha pela abordagem ou pelas abordagens, no caso?
Psicólogo Y: No meu caso, a TCC, que é aquela que eu venho ultimamente começando o
processo de formação veio justamente porque eu comecei a perceber que a psicanálise vai até
um certo ponto, mas que há uma necessidade de algo mais e esse algo mais a TCC conseguiu
responder no processo terapêutico com os pacientes.
Psicólogo Y: Antes, primeiro porque eu me senti bastante cativado pela forma como a
professora apresentou a psicanálise e isso me encantou. E, pelo fato de ser da comunidade, e
trabalhar com pessoas principalmente a questão da cura interior, das feridas interiores e de
ver o quanto os traumas realmente influenciam a vida de uma pessoa, eu vi que Freud
conseguia me dar resposta para eu entender muitas coisas que eram as causas, as origens de
inúmeras feridas que vinha de certa forma tratando no plano espiritual, na realidade da fé,
com as pessoas. A psicanálise me ajudou a entender isso.
Entrevistadora: Os seus valores, seus princípios de vida, têm alguma relação com a
abordagem que você escolheu ou a atuação, de maneira geral, na psicologia clínica?
Psicólogo Y: Eu tenho os meus valores e, quando eu comecei na psicanálise, foi muito uma
questão do encantamento com a professora, uma excelente psicóloga, psicanalista, então me
cativou muito, mas com o tempo eu fui percebendo que psicanálise me deixava a desejar em
algumas coisas. Como também me deixa a desejar a própria TCC que eu estou em formação.
O que eu percebo é: o ser humano é algo tão complexo que nenhuma abordagem é capaz de
abraçar.
Entrevistadora: E você como que se utiliza do conhecimento da psicologia tomista para tentar
uma unidade que você não encontra em nenhuma abordagem?
Psicólogo Y: Isso. A psicologia tomista ilumina essas abordagens. Contudo, eu não levo
propriamente toda a filosofia da psicologia tomista, mas para mim, como ela, de certa forma,
me leva a perceber que vai de acordo com os meus valores, então para mim fez muito
sentido.
Entrevistadora: Certo. Você realiza alguma outra atuação profissional além da psicologia
clínica ou realizou em algum momento?
Psicólogo Y: Não.
Entrevistadora: Você considera que a sua formação na graduação em psicologia lhe concedeu
um bom aparato teórico e prático para a sua profissão?
Psicólogo Y: Sim, considero sim. Pelo menos na questão clínica, eu considero realmente,
totalmente. Algumas pessoas falam que ficou alguma deficiência, já ouvi muitos psicólogos
comentarem isso, que a faculdade não ajudou, mas não foi o meu caso. Eu já saí da faculdade
muito seguro, com um bom embasamento, tanto que eu terminei em outubro, comecei em
dezembro e não tive nervosismo, medo ou insegurança, fui muito seguro.
Entrevistadora: Além da graduação, quais as formações que você procurou ter para que
melhor pudesse atuar profissionalmente? Você falou da sua formação em psicanálise e está
iniciando a de TCC, é isso?
Psicólogo Y: Eu pretendo fazer, quando terminar essa formação da TCC, uma pós-graduação
em TCC.
Psicólogo Y: Isso.
Entrevistadora: Você considera que essa sua visão tem muito a ver com a psicanálise, no
sentido de deixar a pessoa falar...?
Entrevistadora: Você poderia descrever a sua rotina em uma dia comum? Você chega no seu
consultório, o que é que você faz, se você revisa o que foi feito antes...
Psicólogo Y: Sim. Quando eu chego, sempre dou uma olhada nas minhas anotações dos
pacientes que vou atender naquele dia. Sempre gosto de escrever após cada sessão com os
pacientes aqueles pontos que foram os mais importantes, como também sempre planejo, levo
algo para ir trabalhando com o paciente. Claro, de acordo com o que ele vai me trazer
naquele dia, algo novo, mas eu também procuro levar algo para trabalhar com ele aquilo que
ele trouxe na semana anterior. Seja, por exemplo, na questão de dar uma orientação, uma
folha para preencher para trabalhar uma questão da autoestima, uma pequena tarefa... Como a
TCC normalmente trabalha.
Psicólogo Y: No primeiro dia que a pessoa vai, aquilo que é o básico, como nome completo,
data de nascimento, eu anoto na hora. Mas normalmente é quando a pessoa sai que eu faço as
anotações daquilo que foi o mais importante e que eu vejo que eu preciso trabalhar nas
sessões seguintes com a pessoa.
Entrevistadora: E quais os materiais e meios dos quais você se utiliza para a realização do seu
trabalho (internet, livros, testes, jogos, etc)?
Psicólogo Y: Eu utilizo mais filmes. Eu gosto de orientar filmes. Alguns testes também,
poucos. E pequenas tarefas, por exemplo, uma pessoa com ansiedade tem um excesso de
futuro ou de passado; eu gosto muito de trabalhar com ela trazendo a presentificação. Dou
uma folha e peço para ela que descreva tudo o que ela faz em todas as horas do dia, sem
detalhes e é algo para ela, desde que todos os dias ela procure fazer isso, pois vai
presentificando ela e auxiliando muito na questão da ansiedade e eu percebo o quanto isso é
eficaz. Já existem outras pessoas que não gostam de escrever, não gostam dessa espécie de
tarefa, então nesses casos eu vou trabalhando ali mesmo [no setting terapêutico].
Psicólogo Y: Ansiedade, depressão e desejo de suicídio, muito forte; nos nossos tempos é
algo que vem prevalecendo muito. Agora, há muitos relatos também de abuso sexual.
Psicólogo Y: Para mim, falando aqui por mim, eu já me deparei com uma situação de um
caso muito delicado que envolvia situações complicadíssimas e na hora eu fiquei muito tenso:
“E aí, como é que eu vou fazer? Como eu vou lidar com essa situação?”. E aí no dia seguinte
eu já marquei supervisão, porque envolvia relatos de morte e muitas coisas bem complicadas.
Então, por mais que se estude a teoria, quando você chega na prática é totalmente diferente.
Então, dependendo dos relatos que chegam, para mim, alguns geraram um certo temor.
Porque é algo novo, como é que eu vou reagir diante dessa situação?
Entrevistadora: Certo. Então a principal dificuldade seria quando chega algo mais delicado,
inesperado.
Psicólogo Y: Sim. Para mim foi. Por exemplo, algo muito simples, mas foi quando eu atendi
um rapaz com altas habilidades. Ele me trouxe isso e eu sabia que a pessoa com altas
habilidades tem essas altas habilidades em certos pontos, mas em outros têm dificuldade. E
ele era muito bom em matemática; resolveu uma multiplicação grande imediatamente ali. E,
em um primeiro momento, foi um impacto para mim, porque vem aquele sentimento que não
é verdadeiro (“nossa, então ele sabe... [tudo]”), mas quando eu fui conversando com ele, fui
percebendo o outro lado.
Entrevistadora: Certo. Agora sobre o mercado de trabalho. Como é que você avalia para o
clínico hoje?
Psicólogo Y: Eu nem sei te dizer ao certo, porque, como você sabe, eu sou consagrado e eu
não trabalho no tempo integral. Eu atendo nas segundas-feiras à tarde online, e na terça à
tarde e noite e na quinta também.
Psicólogo Y: Meu maior marketing são os próprios pacientes. Na medida em que eu fui
começando a atender foi passando. Logo nos inícios ainda fazia algumas postagens, mas hoje
pouco faço, porque sempre tem pessoas esperando para os horários em que eu posso atender.
Psicólogo Y: Sim. Por exemplo, teve uma pessoa que eu comecei a atender e trabalhei muitas
técnicas da TCC com ela, só que ela tinha grandes melhoras, mas eu percebi que ali havia
uma grande obsessão, dos pensamentos. Ela me levava que tinha certeza que o marido era
100% fiel a ela, mas ela tinha um ciúme doentio e tinha certeza também que ele tinha um
envolvimento com a vizinha. E ela dizia: eu sei que isso é loucura da minha cabeça, eu sei
que isso não é real, mas eu acredito que seja. Era uma obsessão. Embora a terapia tenha
ajudado bastante nas três primeiras semanas, chegou um ponto em que ficou muito claro que
ela precisava de uma ajuda medicamentosa. E aí eu encaminhei ela para o psiquiatra. E
realmente, logo que ela começou, deu boas respostas e superou aquela situação.
Psicólogo Y: Depende da realidade da pessoa. Teve uma pessoa que foi a questão do
nutricionista. Ela foi ao nutricionista, fez todo o acompanhamento e depois percebeu a
necessidade de fazer uma bariátrica, então teve todo aquele acompanhamento
multidisciplinar.
Entrevistadora: Pronto. Gostaria de dizer mais alguma coisa sobre a atuação do psicólogo
clínico, o seu trabalho, principalmente alguma orientação ou conselho a quem ainda está na
graduação? Enfim, o que você quiser falar...
Psicólogo Y: O conselho, a orientação que eu tenho a dar é que não tenham medo. É muito
importante estar muito presente nas aulas, realmente estudar, porque foi algo que eu fui
fazendo. Foi muito difícil dar conta, mas eu procurei ser muito presente de estudar cada coisa.
E nada do que você estuda se perde. Pelo menos comigo foi assim. Não existe nada que eu
tenha estudado na graduação que eu não tenha precisado na clínica. Quando você começa a
atender as pessoas, você começa a entender que era preciso, mesmo aquelas coisas que não
parecem muito importantes. Até aquele trabalho que é uma visita em algum local, por
exemplo, e você na clínica no futuro vai lembrar que foi lá naquele local, fazendo tal coisa,
que você aprendeu a lidar com aquela situação. Porque é vida. Você vai estar diante de um ser
humano que tem uma vida, então você vai se deparar com mil e uma coisas, é muito legal
isso.
Entrevistador: Bom, por que você decidiu seguir nessa área de Psicologia Clínica?
Psicólogo Z: Eu sou Z, sou psicólogo, tenho 31 anos, sou graduado pela UFC e desde quando
eu entrei na faculdade eu entrei com o desejo de ser psicólogo clínico. O meu imaginário ele
era preenchido para o psicólogo aquele que faz consultas, como um profissional da área da
saúde que realiza consultas. E quando eu entrei na faculdade, esse desejo permaneceu. Toquei
em várias outras áreas, estagiei na escolar, sabia que existia psicólogo na área escolar, sabia
que existia psicólogo do esporte, só que, por exemplo, até na perspectiva do esporte era
perspectiva clínica. Sabia que tinha psicólogo organizacional, sabia que tinha outras áreas que
o psicólogo estava inserindo e conheci tantas outras. Mas... o meu desejo era ir para clínica.
Eu identificava que essa era a minha habilidade. No setting terapêutico. Quando eu... Como
foi que eu decidi isso? Lá na faculdade, na UFC, a gente tem a partir do... do sétimo semestre,
a gente precisa escolher a ênfase. Que é a ênfase em processos clínicos ou processos sociais.
Alguma coisa assim. Eu escolhi processos clínicos. Eu tinha recém-lido o livro do Viktor
Frankl. Já tinha estudado algumas abordagens, mas... quando eu li o livro do Victor Frankl,
foi quando eu me identifiquei. Porque, por exemplo, ao ler as outras abordagens eu fiquei
assim, cara, será que eu vou querer a clínica mesmo? Foi o momento que eu tive a dúvida.
Mas quando eu li o livro do Viktor Frankl, Em Busca de Sentido, que eu conheci a
logoterapia, eu disse, não cara, é, me encontrei. E foi daí que eu consegui, que eu decidi pela
psicologia clínica. Fiz uns estágios, dois estágios, no IPRED. Passei seis meses no IPRED,
passei seis meses em outro lugar que eu não vou me recordar. E o meu último ano da
faculdade foi atendimento clínico. Atendimento clínico na clínica escola. E também foi o ano
que eu comecei a... Eu tinha um colega que era do Núcleo de Psicologia Clínica que, através
do livro do Viktor Frankl, fazia um grupo de estudos no Núcleo de Psicologia Clínica da
UFC, no NUPLIC. Entrei, me engajei no laboratório lá, enfim, me envolvi pra caramba. E eu
tinha um colega lá que ele tinha aberto uma clínica. Então, o meu último semestre da
faculdade foi, eu abri mão da bolsa da faculdade, da bolsa de extensão, e fui ficar lá fazer
estágio voluntário com ele. Eu percebi como é a dinâmica clínica e isso só confirmou esse
meu desejo de ir pra área clínica. Ótimo.
Psicólogo Z: Cara, a psicologia clínica é o... a área da psicologia onde nós, profissionais,
temos a oportunidade de contribuir não só pro autoconhecimento daquela pessoa que nos
chega, né, pra que ela possa se conhecer, obviamente, a partir da abordagem da metodologia
que é usada, mas ela é uma oportunidade que nós temos de contato direto de acompanhar o
processo de transformação daquela pessoa. Não somos nós quem transformamos aquela
pessoa. Não é aquilo que eu digo, ah, faça isso, faça aquilo. Eu não trago isso pra uma
perspectiva diretiva. Mas é o contato mais próximo que, na minha leitura, nós temos, dentro
das diversas áreas da psicologia, com o cliente e a oportunidade que nós temos de
acompanhar de perto essa transformação. Essa transformação porque a partir do momento
que a pessoa se conhece, a partir do momento que ela... que nós, profissionais, vamos
jogando luz em algumas áreas da vida delas, ela vai tendo insights, ela vai refletindo, ela vai
tomando novas decisões, essa transformação vai acontecendo. E, naturalmente, essa pessoa
vai se tornando uma pessoa melhor. Ela vai respondendo melhor às situações que a vida
apresenta. E é muito gratificante pra mim ver isso. É óbvio que, por exemplo, você percebe
isso em várias áreas. Quem é da escolar percebe isso de outra maneira, quem é da
organizacional, quem é, por exemplo, do esporte, quem é de tantas outras áreas percebe isso.
Mas a vida clínica é aquele momento tipo um a um. É onde a gente toca naquela história de
vida. É naquela pessoa. Não no comportamento. Que aí é o ponto da minha visão de mundo.
Eu não olho só pro comportamento da pessoa. Eu olho pra pessoa que me chega. Ela é um ser
que chegou até mim e eu acompanho a transformação desse ser.
Entrevistador: Muito bem. Por que você fez essa escolha por esse recorte e por essa
abordagem?
Psicólogo Z: É, eu vejo isso. Eu não vejo isso de uma maneira intencional porque os caras
querem fazer isso. Mas é porque é isso que a gente aprende na faculdade. E é isso a questão
que eu trago. Você vai pegar desde o Wundt, quando há todo um processo de desconstrução
da pessoa. Ah, não. Você vai pegar as origens, a epistemologia, todas essas abordagens
terapêuticas, elas olham pro recorte. Ah, não é mente. Ah, é o comportamento. Ah, é só isso.
E aí você vai reduzindo. Você vai reduzindo. E a formação, ela traz essa perspectiva
reducionista e pandeterminista. E aí eu não consigo olhar pra pessoa. Então, eu digo isso.
Acaba que muitos profissionais fazem isso, não porque, entendam, são ruins, não são
capazes. Não, nada disso. É porque a formação, ela traz isso. E, cara, eu te garanto. É...
profissionalmente, é libertador. Quando você olha pra pessoa. É a pessoa que chega. É a
pessoa que tem uma história. Tem um livro que eu gosto muito, que é o Mapa do Mundo
Pessoal, do Julián Marías, e ele vai dizer isso. É a pessoa. É a pessoa que chega. É a pessoa
que tem uma história. Que a gente departamentaliza por questão didática. Ah, agora nós
vamos trabalhar essa área da sua vida. É... Essa área da vida vai ter outros, e outros, e outros.
Entrevistador: Bom, seus valores e princípios de vida têm alguma relação com a sua atuação
nessa área e abordagem?
Psicólogo Z: E aqui entra uma outra questão. Quem atende, cara, é uma pessoa. Eu sou a
minha ferramenta de trabalho. Então eu chegar e dizer assim, olha, eu gosto de usar sapatos
sociais. Entendeu? Óbvio que o sapato social, tem a galera mais do tênis, tem a galera de uma
pegada mais esporte, tem a galera de uma pegada mais social. Você dizer que isso não fala da
tua profissão, é a minha pessoa. A forma como eu me visto traz a minha pessoa, comunica os
meus valores, comunica quem eu sou. Mas aqui eu não estou para ser palco dos meus valores.
Aqui eu estou para acolher aquela pessoa, acolher e escutar primeiro aquela pessoa que
chega. Mas não dá para eu deixar de ser quem eu sou. Isso é uma grande ilusão. Muitos
dizem, ah, você precisa ser, você não vai conseguir, cara. Você não vai conseguir. Agora, não
é um espaço para que eu possa ficar dizendo, você tem que fazer isso, você tem que fazer
aquilo, até porque não vai ser eficaz. Permitam-me usar até esse termo, é burrice o
profissional faz isso. Não é eficaz. Não é eficaz. Mas, eu não vou deixar de ser o Z. O Z que
traz os seus princípios, o Z que traz os seus valores. O Z que, beleza, terminou a sessão.
Digamos que um princípio e valor mesmo, e de fato é. Minha mãe me educou muito, é Z
com todo mundo que você encontrar, diga, com licença, obrigado, por favor. Saúde. Saúde às
pessoas. Isso é da minha pessoa. Aí, beleza, terminou a sessão. Pum. Pô, Y, Boa semana pra
você, cara, tudo de bom. Ah, mas não interessa se na sessão, por exemplo, eu fiz uma
intervenção que o cliente ficou, tipo assim, mexido comigo. O que acontece? Você faz uma
intervenção com o cliente que, pô, ele fica, boa semana, qualquer coisa estamos aqui.
Entendeu? Então, isso também faz parte. Agora as pessoas, elas se prendem muito. Ah, não,
vou me anular, vou deixar de ser quem eu sou.
Entrevistador: Você considera que seus princípios e valores de vida te levaram a ser quem
você é, de ser um psicólogo e de ir pra Logoterapia?
Psicólogo Z: Cara, influenciaram sim. Influenciaram. Mas eu gosto de dizer, eu sou uma
pessoa que gosta de buscar aquilo que é. Eu gosto de contemplar a realidade. E deixar com
que a realidade se mostre pra mim. A realidade é implacável. Então, por exemplo, de início,
só pra você ter ideia, antes de eu conhecer a Logoterapia, eu achei que eu ia ser da AEC,
Análise do comportamento, Análise experimental do comportamento. E aí, eu disse assim,
cara, só que a realidade se impõe pra mim de outra forma. Não é só o comportamento. Você
tá entendendo? Então, não é que eu vou determinar, ah, pronto, sei lá, vou marcar uma pessoa
religiosa. Ah, vai pra Logoterapia. A igrejinha dos profissionais que tem, sei lá, um perfil
mais religioso, vão pra Logoterapia. Não, cara. Não é isso. A realidade se mostra, chega uma
pessoa. E o Viktor Frankl, ele traz um registro da realidade. Assim como os outros
profissionais que tentam trazer os seus registros da realidade. O Viktor Frankl traz o dele. E a
dele bate com o que é a realidade. Chega uma pessoa. Não vou negar aquilo que a pessoa
traz. Entendeu? Não é um ponto de vista. Você tá entendendo? É a realidade que se apresenta.
E não dá pra mudar. Entendi.
Entrevistador: Você realiza alguma outra atuação profissional, além da sua como psicólogo
clínico?
Psicólogo Z: Sim. Tenho uma empresa que trabalha com marketing digital. Não gosto de
dizer marketing digital, porque isso dá a ideia que é apenas divulgação. Mas eu trabalho com
educação online. Então, auxiliando outros profissionais da saúde a transmitirem o seu
conhecimento da melhor forma. Para pessoas do mundo inteiro. Através de treinamentos
online. Através de workshops online. Então, eu tenho esse trabalho. Tanto de estruturação.
Daquele material, daquele trabalho. E de como alcançar as pessoas. Pra que essas pessoas
experimentem desse trabalho. Então, eu tenho uma empresa de educação digital. Não é
educação digital porque não é pra educar pro mundo digital. Mas é uma empresa de
educação. Cujo foco é promover, produzir conteúdo através do mundo digital.
Psicólogo Z: Cara, eu tenho uma formação em logoterapia. Eu não paro de estudar. Meia
hora, dez minutos, duas horas, quatro horas. Eu estudo todo dia. Porque todo cliente me traz
uma perspectivista. Ah, o estudo é trabalho. Não, cara. O estudo faz parte da minha vida. Eu
gosto. Se eu lido com pessoas, eu preciso conhecer pessoas. Essa é uma das coisas que eu
mais bato na tecla com psicólogos. Por que os psicólogos, na grande maioria, são inseguros?
Porque eles vão buscar um curso para responder uma questão pontual. Só que eu lido com
uma pessoa. Ah, se essa pessoa não se encaixa naquela questão pontual que o curso me
ensinou, eu me perco. Entendeu? Então, eu estou todo momento estudando pessoas. Quais
são essas coisas das pessoas? Como é que as pessoas se comportam? Entendeu? Como é que
elas lidam com as situações? Quais são as situações que elas lidam? Então, por isso que eu
não leio só psicologia. Eu leio literatura. Que é relato de pessoas que viveram antes de nós.
Enfim, amplio o imaginário. Leio sobre abordagens técnicas. Leio sobre diversas coisas.
Dentro de cursos, tem vários. Além de cursos de extensão. Mas, já desde o início, eu entendi
que eu não vou procurar um curso de extensão. Ah, eu tenho pessoas que passam por
transtornos X. Ah, eu vou ler. Se eu precisar fazer um curso disso, eu vou fazer. Para aprender
sobre isso. Mas o estudo, ele é contínuo.
Psicólogo Z: Acolher e escutar. A gente escuta isso na faculdade inteira. Escutamos isso na
faculdade inteira. E muitas pessoas, elas tropeçam sendo diretivas nos seus valores. Ah, mas
eu não... A gente escuta muito isso, criticando os religiosos. Ah, o cara é católico. Ah, o cara
vai impor os valores dele. Ah, beleza. O cara, o que ele for, ele vai impor os valores dele. Por
quê? Porque ele esqueceu que o mais importante é acolher e escutar. Ah, mas acolher e
escutar não gera resultado. Amigo, que resultado? Entendeu? Acolhe e escuta. E essas são as
habilidades mais difíceis. São cinco anos que eu estou ouvindo a mesma coisa. E eu estou
precisando desenvolver essa habilidade de acolher e escutar. Tu souber acolher e escutar, tu
vai saber fazer uma boa intervenção. Tu vai saber, por exemplo, aplicar o exercício
comportamental para ele realizar. Tu vai saber fazer a intervenção certinha, pra que ele tenha
um insight e ele compreenda.
Psicólogo Z: Hoje eu atendo terças, quartas e quintas pela manhã. E atendo nas sextas à
tarde. Já fui dono de clínica, loquei salas para outros psicólogos. Hoje trabalho somente com
outra psicóloga. Por conta dessa outra empresa que eu criei. Maravilha. E um ponto
importante. Eu sempre digo, hoje a minha rotina é em vista da minha perspectiva de trabalho,
na minha leitura, é impossível a pessoa atender com qualidade mais do que seis clientes no
dia. Sabe? Com qualidade. Por quê? Porque cada pessoa é única. Não é que ela te suga. Mas é
porque ela demanda de você. Ela demanda atenção e tudo mais. Por exemplo, por isso que eu
atendo pela manhã. E isso foi um ponto. Muitas pessoas saem da faculdade dizendo assim.
Ah não, mas o povo é adulto, só vai procurar à noite. Cara, nunca tive problema de fechar
todos os meus horários pela manhã. Nunca tive problema.
Entrevistador:Você trabalha online ou presencialmente?
Entrevistador: Quais materiais e meios dos quais você se utiliza para a realização do seu
trabalho? Tipo, internet, livros, TED, jogos, etc.
Psicólogo Z: Pronto, eu gosto muito de usar alguns testes psicológicos quando necessário. Eu
gosto de ter as ferramentas acessíveis. Como eu digo, eu olho para a pessoa. Então, eu tenho
a minha caixa de ferramentas aqui. Dentro dessa caixa de ferramentas estão as intervenções e
aquilo que as abordagens trazem. Então, jogos, baralhos, testes psicológicos, até recursos da
sala. Tipo, almofada, tapete, essas coisas. Porque utilizo algumas dinâmicas para contribuir
na intervenção com os clientes.
Psicólogo Z: Cara, as principais demandas são pessoas trazendo... a gente precisa diferenciar.
Uma coisa é a queixa, aquilo que ela diz. Outra coisa é aquilo que verdadeiramente é.
Quando você vai entender, é uma coisa mais relacionada à história de vida e tal, etc. Mas as
principais queixas que elas trazem são os sintomas. Elas se sentem ansiosas, elas se sentem
inseguras. Muita questão de ausência de sentido de vida. Muitas pessoas imersas num
materialismo, numa vida material que elas não conseguem encontrar sentido. Seja porque elas
não têm aquilo que elas gostariam de ter e se comparam com outras pessoas e vivem uma
vida vazia. Seja porque elas já têm aquilo que elas gostariam de ter e nada disso preencheu a
vida delas. Entende? Entendi.
Psicólogo Z: Cara, o melhor dos mundos. Todo mundo procura. Principalmente depois da
pandemia. Eu participei ativamente da fundação da Campanha Janeiro Branco. Então, eu vi
quando a Campanha Janeiro Branco começou a surgir. A Campanha Janeiro Branco foi com
o slogan Quem Cuida da Mente Cuida da Vida. Idealizada pelo psicólogo Leonardo Abraão,
de Uberlândia. E ele conseguiu colocar na boca do Brasil essa questão de quem cuida da
mente cuida da vida. Eu tinha me formado, eu conheci o Leonardo Abraão um ano, dois anos
depois, e a campanha surgiu. Antes as pessoas achavam, tinha muita aquela imaginação que
psicólogo é coisa só pra louco. Hoje, as pessoas já tem um nível de consciência e as pessoas
dizem abertamente, pô, vai pra terapia. Quem diz, ah, psicólogo é pra louco, já é corrigido
pelos outros colegas assim, não cara, vai ser bom pra ti. Vai pra terapia. Então as pessoas
querem buscar. Então tem mercado. As pessoas querem buscar profissionais. minha agenda é
lotada, cara. Ah, mas por que de fulano não é? Porque a pessoa precisa ser vista.
Entrevistador: Quais estratégias você utiliza para melhor se colocar no mercado de trabalho?
Psicólogo Z: Produção de conteúdo. Produção de conteúdo. Por quê? É isso que as pessoas
precisam entender de uma vez por todas. Veja só. Ah, mas produção de conteúdo veio com a
pandemia com o Instagram. Não, não veio. Veja só. Esquece a internet. Quem ia, por
exemplo, pra programas de rádio? Pra programas de TV? Quem dava palestras em empresas?
Isso é o que, minha gente? Se não produzir conteúdo gratuito e você ainda tinha que se
deslocar, tinha que se arrumar, tinha um tempo limitado cada tempo de televisão, de
entrevista, a pessoa era vista falando sobre aquele conteúdo. Quem assistia, quem lia aquele
texto que saia no jornal, criava uma empatia com aquela pessoa. E aí, já começava a surgir a
prévia, já tinha-se a prévia da relação terapêutica. Porque a relação terapêutica tem como
pilar fundamental a confiança, a identificação. Então, com a internet tudo se facilitou. Porque
se eu produzo um canal no YouTube, se eu produzo vídeos para o Instagram, se eu faço um
podcast, eu estou distribuindo esse conteúdo para o maior número de pessoas do mundo
inteiro, não só da minha cidade, não só da minha região. Então, eu estou dando oportunidade
para que as pessoas se conectem comigo. Não é aquele marketing direto, venha para a terapia,
eu cobro mais, esse não funciona, é burrice esse também. Por isso que a produção de
conteúdo é fundamental. Agora, ela não é uma coisa para amanhã. É o que as pessoas
querem, as pessoas são muito imediatistas, elas querem ir para amanhã. Eu, desde 2018,
produzo vídeos. Já foram mais de mil vídeos publicados. Fora o conteúdo de carreira para
psicólogo. Então, você aperfeiçoa. Ah, Marco, eu não gosto de vídeos. É uma pena.
Entendeu? Eu acho mais fácil superar essa barreira, do que você ter que utilizar de outros
meios para que as pessoas te conheçam, para que elas tenham pontos de contato com você.
Funciona? Funciona espetacularmente. Mas faz parte, é do ofício. O ofício não é só entregar
o serviço, mas é você divulgar também.
Entrevistador: A última pergunta é mais aberta, mas se você gostaria de acrescentar alguma
coisa a mais?
Psicólogo Z: Cara, é só agradecer. Obrigado pela entrevista, obrigado pela escolha. Espero
que eu tenha contribuído. E dizer para os profissionais que a nossa profissão é fundamental
para as pessoas. E é fundamental principalmente aqueles profissionais olharem para a pessoa,
não para recortes dela. Quando você olha para a pessoa, você realiza um bom trabalho. E para
aqueles que pensam que o mercado está difícil, tem muita gente procurando. Agora, é preciso
investir também nesse aprendizado.