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DISCIPLINA: PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM


Professora: Maria Ercilena de A. Batista
Profissão:Psicóloga/ Palestrante e Mestra em Ciências da Educação

INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM: CONCEITO,


ÁREA DE ATUAÇÃO, OBJETIVO E FUNÇÃO

INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA APLICADA À ENFERMAGEM:

A psicologia, por se tratar de uma ciência que lida justamente com as questões afetivas
do ser humano e suas relações sociais, está diretamente ligada à área de enfermagem e também
intimamente relacionada a seus profissionais.
É necessário aplicar a psicologia na área de enfermagem para que os futuros
profissionais possam aprender e compreender um novo olhar ao estabelecer seu relacionamento
com o paciente e também com seus familiares, e não deixar essas práticas somente com o
profissional da área de assistência social.
O cuidado com o ser humano através da enfermagem se mostra necessário ao se
associar à outra área, neste caso a área de psicologia, pois é esse conhecimento que vai ajudar
na forma de tratar esse paciente, não apenas nos cuidados básicos como dar banho, realizar a
troca de uma roupa, mas sim no contato que o profissional passa a ter com o outro indivíduo,
como por exemplo, dar um conselho, orientar, ou simplesmente lhe proporcionar um sorriso.
Quando o profissional de enfermagem estabelece essa comunicação com o paciente,
usando todo o conhecimento de psicologia que foi introduzido em seu curso, é então criado
um vínculo de confiança com esse paciente. E muitas vezes através desse relacionamento o
tratamento pode apresentar melhores resultados e uma recuperação mais satisfatória.

Relação da Psicologia com a Enfermagem

A psicologia estuda nossa mente, nossas emoções, ações, sentimentos, relacionamentos e


como e por que agimos de determinada forma nas diferentes situações. Nela nada se perde e
nada é por acaso. Tudo se transforma em dados para compreender o indivíduo. Mas afinal como
a equipe de enfermagem usa a psicologia durante suas atividades?
Há duas correntes na área da saúde que devemos conhecer para responder esta questão:
a primeira trata o doente como um paciente passivo e vê a doença como um fator único que
pode ser tratado com medicamentos e procedimentos que assegurem sua melhora em quadros
clínicos, e a segunda serve para perceber que além de apresentar sinais e sintomas da doença,
o paciente possui problemas sociais, econômicos, pessoais e psicológicos que influenciam e
que contribui para o surgimento de novas doenças. Ou seja, a enfermagem conhecida como a
“Arte do cuidar” caminha junto com “Ciência do comportamento”, que é a Psicologia em geral.
Nos momentos de encontros entre dois ou mais seres acontece à interação e percepção.
Esses profissionais precisam saber que eles são um elemento nuclear da equipe de saúde, na
qual o paciente se apoia na busca de informação, suporte emocional, satisfação de suas
necessidades básicas, tais como: segurança, higiene, conforto, etc. Diante disso, o profissional
auxiliar técnico de enfermagem deve trabalhar melhor as questões do conhecimento
interpessoal e intrapessoal a fim de desenvolver habilidades de comunicação que possa
contribuir para o bem estar dele e do paciente.
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CONCEITO DA PSICOLOGIA

O que é Psicologia?

Psicologia é o estudo científico dos processos mentais e do comportamento do ser


humano e as suas interações com o ambiente físico e social. A palavra provém dos termos
gregos psico (alma ou atividade mental) e logía (estudo). Psicologia é a ciência que estuda o
comportamento humano e seus processos mentais. Melhor dizendo, a Psicologia estuda o que
motiva o comportamento humano – o que o sustenta, o que o finaliza e seus processos mentais,
que passam pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem, inteligência.
Segundo o psicólogo austríaco H. Rohracher, psicologia "é a ciência que investiga os
processos e estados conscientes, assim como as suas origens e efeitos". Esta definição indica
bem a dificuldade de abranger em um só conceito todos os fenômenos psíquicos. São possíveis
e justificáveis dois aspectos fundamentalmente distintos: o das ciências naturais, que procura
uma explicação causal, e o das ciências filosóficas, que pede uma explicação de sentido. A
Psicologia procura descrever sensações, emoções, pensamentos, percepções e outros estados
motivadores do comportamento humano.
O estudo da natureza humana é realizado desde a Antiguidade por pensadores, filósofos
e teólogos, porém, esses estudos confundiam-se com a Filosofia. Sócrates, Platão e Aristóteles
foram os precursores da investigação da alma humana.
O psicólogo alemão Wilhelm Wundt (1832-1920) foi o fundador do primeiro
laboratório de psicologia experimental em Leipzig, Alemanha (1879). A psicologia
experimental surgiu na Alemanha com Wundt e em França com Ribot, que se expandiu
mediante a investigação do pensamento, da vontade, dos reflexos condicionados (Pavlov), da
introdução da análise factorial (Ch. Spearman) e finalmente, da medição da inteligência (A.
Binet).

ÁREA DE ATUAÇÃO

Psicologia Clínica: A psicologia clínica tem como fim diagnosticar, tratar e aliviar o
sofrimento e as disfunções psicológicas ou outros problemas das pessoas, intervindo
geralmente ao nível da saúde mental. Esta especialização da Psicologia é, portanto, muito
importante ao promover o bem estar e o desenvolvimento pessoal dos indivíduos.

Psicologia Hospitalar Uma das questões primordiais no tratamento médico e hospitalar é a


aderência do paciente a esse tratamento e aos procedimentos que são necessários. Por isso, com
frequência, o psicólogo hospitalar é chamado a intervir. A importância do trabalho psicológico
neste contexto compreende uma visão do paciente e das influências emocionais e sociais que
operam na sua capacidade de recuperação, aceitação e colaboração, assim como na sua
mobilização para a cura.

O Psicólogo do trânsito atua na parte de estudos, ações educativas, engenharia e operação do


tráfego, no que compete às áreas de processos psicológicos, psicossociais e psicofísicos.
Se você já passou pelo processo de habilitação para dirigir já conhece um Psicólogo do
Trânsito, afinal, dentre as atividades possíveis dessa especialização está a aplicação de testes
psicológicos e elaboração de pareceres e laudos de candidatos à obterem a Carteira Nacional
de Habilitação (CNH).
O Psicólogo Escolar/Educacional -atua no sistema educacional formal, realizando
pesquisas, diagnóstico de alunos e instituições e aqueles que participam do processo ensino-
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aprendizagem, também realiza intervenção preventiva ou corretiva em grupo e


individualmente.
O Psicólogo Escolar/Educacional na escola tem como parte de sua missão contribuir no
desenvolvimento de melhores práticas e novos procedimentos educacionais.

O Psicólogo Jurídico-atua junto à Justiça em processos de análise e atenção a pessoas


conectadas a processos jurídicos, privados de liberdade ou não.
Psicólogo Jurídico, segundo o CFP, são: atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais,
Justiça do Trabalho, da família, da criança e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e
perícias, para serem anexados aos processos, a fim de realizar atendimento e orientação a
crianças, adolescentes, detentos e seus familiares; orienta a administração e os colegiados do
sistema penitenciário sob o ponto de vista psicológico, usando métodos e técnicas adequados,
para estabelecer tarefas educativas e profissionais que os internos possam exercer nos
estabelecimentos penais; realiza atendimento psicológico a indivíduos que buscam a Vara de
Família, fazendo diagnósticos e usando terapêuticas próprias, para organizar e resolver
questões levantadas.

Psicologia do Esporte- atua especificamente na área esportiva, como sugere o nome. Podendo
ele atuar na área de pesquisa e na prática, diretamente com atletas, técnicos e comissão técnica
esportiva. O objetivo do Psicólogo do Esporte é trabalhar com a saúde mental, comportamento
cognitivo e motor dos envolvidos com esportes de alto rendimento.

O Psicólogo Social- atua em diferentes espaços, podendo ser em espaços institucionais e


comunitários, com enfoque na saúde, educação, trabalho, lazer, meio ambiente, comunicação
social, justiça, segurança e assistência social, em prol do coletivo. O Psicólogo Social pode se
dedicar ao estudo social (pesquisa e pesquisa-ação) para compreender a influência da sociedade
em comportamentos individuais e também na proposição de políticas públicas.

O Psicólogo Psicomotricista está presente nas áreas de educação, reeducação e terapia


psicomotora, com enfoque na motricidade (motricidade pode-se compreender por conjunto de
funções nervosas e musculares que permite os movimentos voluntários ou automáticos do
corpo). Atribuições possíveis do Psicólogo Psicomotricista: atua junto à crianças em fase de
desenvolvimento: bebês de alto risco, crianças com dificuldades/atrasos no desenvolvimento
global; crianças com de necessidades especiais (deficiências sensoriais, preceptivas, motoras,
mentais e relacionais) em consequência de lesões. Atua no atendimento à 3º idade. Atua junto
a escolas e empresas, no diagnóstico das situações-problema vivenciadas na organização,
objetivando a conscientização da importância do relacionamento humano, através de técnicas
psicomotoras que buscam o respeito do limite, da autonomia e do ritmo de cada indivíduo.

O Psicopedagogo- pode atuar em diversos ambientes educacionais, visando sempre


compreender os processos de aprendizagem para que possa atuar também na intervenção
buscando melhorias para educadores e alunos e todos envolvidos no processo escolar.
O Psicopedagogo tem vária atribuições: como buscar a compreensão dos processos cognitivos,
emocionais e motivacionais, integrados e contextualizados na dimensão social e cultural onde
ocorrem. Trabalhar para articular o significado dos conteúdos veiculados no processo de
ensino, com o sujeito que aprende na sua singularidade e na sua inserção no mundo cultural e
social concreto.
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O Neuropsicólogo trabalha na área da saúde e pesquisa. Embasado pela neurociência,


esse profissional atua no diagnóstico, acompanhamento, tratamento e na pesquisa da cognição,
das emoções, da personalidade e do comportamento e o funcionamento cerebral, nesse âmbito.

Algumas atividades do Neuropsicólogo são, segundo o CFP: utilizar instrumentos


especificamente padronizados para avaliação das funções neuropsicológicas envolvendo
principalmente habilidades de atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória,
aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento da informação, afeto, funções motoras
e executivas. Estabelecer parâmetros para emissão de laudos com fins clínicos, jurídicos ou de
perícia; complementa o diagnóstico na área do desenvolvimento e aprendizagem.

O Psicólogo Organizacional e do Trabalha é atuante no que compete à relação do


homem com as organizações de trabalho. É uma figura forte dentro da área de Recursos
Humanos, podendo atuar com a seleção, treinamento e desenvolvimento dos funcionários e
também com enfoque na saúde do trabalhador.

Existem muitas atividades possíveis ao Psicólogo Organizacional e do Trabalho, que


constam no decreto oficial do CFP. São elas: planejar e desenvolver ações destinadas a
equacionar as relações de trabalho, o sentido de maior produtividade e da realização pessoal
dos indivíduos e grupos inseridos nas organizações, estimulando a criatividade, para buscar
melhor qualidade de vida no trabalho. Participa do processo de desligamento de funcionários
de organizações, em processos de demissões e na preparação para aposentadorias, a fim de
colaborar com os indivíduos na elaboração de novos projetos de vida. Elabora, executa e avalia,
em equipe multiprofissional, programas de desenvolvimento de recursos humanos. Participa
dos serviços técnicos da empresa, colaborando em projetos de construção e adaptação dos
instrumentos e equipamentos de trabalho ao homem, bem como de outras iniciativas
relacionadas à ergonomia.

OBJETIVO DA PSICOLOGIA é diagnosticar, prevenir e tratar distúrbios emocionais


e doenças mentais. A psicologia procura descrever sensações, emoções, pensamentos,
percepções e outros estados motivadores do comportamento humano. Para isso, o psicólogo
(profissional da psicologia) utiliza de métodos capazes de analisar os fenômenos
comportamentais e psíquicos dos pacientes. Os comportamentos dos animais, por outro lado,
são estudados pela Etologia. Grande parte das investigações em Psicologia são realizadas
através do método de observação, sendo a observação sistemática, delimitada pelas condições
do que se pretende observar, a mais utilizada.

A FUNÇÃO DO PSICÓLOGO é trabalhar nas queixas associadas aos conflitos


internos da pessoa, que invariavelmente geram incômodos à própria pessoa ou às pessoas do
seu universo de relacionamento (amigos, colegas de trabalho, filhos, namorado, esposa etc). O
psicólogo deve ir à busca das origens dos incômodos, entendendo suas funções. Deve discutir
a forma pela qual o individuo trata essas questões, sempre almejando tornar a vida da pessoa
a mais confortável possível. Geralmente os psicólogos se baseiam em uma
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abordagem, e eventualmente em mais de uma abordagem, para utilizar clinicamente nas sessões
de psicoterapia. A abordagem, nesse caso, seria o uso clínico do conhecimento obtido pela
psicologia em cada linha de estudo/raciocínio.

BREVE ESTUDO DA PERSONALIDADE: DIFERENÇAS INDIVIDUAIS,


CARÁTER, TEMPERAMENTO.

A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE

PERSONALIDADE E SUA FORMAÇÃO

A organização da personalidade é formada a partir dos genes, experiências particulares,


percepções individuais, capazes de tornar o individuo único na maneira de ser e desempenhar
o papel social. Compreender esses aspectos não é tarefa fácil, pois estão envolvidos muitos
fatores como o biológico, social e psicológico. Com outras palavras, a personalidade é um
conjunto de características indenitárias próprias de cada um que foram geneticamente herdadas,
socialmente aprendidas, formando o mundo interno psíquico do indivíduo e é
consideravelmente estável à medida que o tempo vai passando, e isso garante um melhor ajuste
ao meio ambiente (BUSATTO, 2006; VOLPI, 2004.
O processo de formação da personalidade ocorre através do processo de socialização,
pois é com base nisto que os impulsos biológicos e culturais se interagem, porém o processo
evolutivo do individuo só começa na primeira infância. No entanto, é necessário frisar que o
processo evolutivo não ocorre somente na primeira infância, porém tudo que acontece nesta
fase é de extrema importância para compreender as nuances psicológicas dos seres.
Em psicologia, a personalidade é o conjunto de emoções, cognições e condutas que
compõem o padrão de comportamento de uma pessoa. É a maneira como nos sentimos,
pensamos ou nos comportamos. É um conjunto de processos que interagem uns com os outros
e se autorregulam, formando um sistema dinâmico. Atualmente as duas definições mais usadas
e aceitas em psicologia são:
• “A personalidade é a soma total dos padrões de conduta, atual ou potenciais de um
organismo determinados pela herança e o ambiente”. Hans Eynseck (1947).
• “A personalidade são os padrões de conduta (incluindo emoções e pensamentos) que
caracterizam a adaptação do individuo às situações da vida” Michel (1976).

Sigmund Freud e a Psicanálise

Fundador de uma nova corrente em Psicologia, a Psicanálise, Sigmund Freud apresenta-


nos uma nova perspectiva sobre o ser humano e suas motivações. A psicanálise tem
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como principais instrumentos de trabalho a hipnose, a interpretação de sonhos e a livre


associação de palavras.
Freud considera que o objetivo da Psicologia é o estudo da motivação humana, que em
grande parte é inconsciente e deve ser estudada através dos sonhos, símbolos ou associações
livres. A personalidade, para Freud, é determinada principalmente por processos e forças
inconscientes moldadas nos primeiros anos de vida (6-8 anos). Para termos
acesso ao inconsciente ficamos limitados a processos indiretos – a hipnose. Mas apesar de
Freud utilizar a hipnose para ajudar as pessoas a reviverem experiências traumáticas do
passado, desenvolveu o método de associação livre, onde os pacientes eram encorajados a dizer
tudo o que lhes viesse à mente, sendo também convidados a relatar os seus sonhos.

ASPECTO ESTRUTURAL, FUNCIONAL E DO DESENVOLVIMENTO DO


APARELHO PSÍQUICO

Modelo topográfico é dividido em consciente, pré-consciente e inconsciente.


O modelo estrutural é dividido em Id, Ego e Superego.
Freud encontra na mente uma divisão entre três dimensões:
1. Consciente (EGO) – raciocínio, operações lógicas.
2. Pré-consciente (SUPEREGO) – memórias, interiorização de proibições sociais,
produzem angústias, ansiedades e castiga o EGO quando aceita impulsos do ID.
3. Inconsciente (ID) - pulsões, desejos e medos recalcados. Não obedece à lógica
nem à moral.

Segundo FREUD, a estrutura da personalidade é formada por três instâncias, o id, o ego e o
superego, descritas a seguir.

ID
O Id contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento e está presente
na constituição, acima de tudo os instintos que se originam da organização somática e
encontram expressão psíquica sob formas que nos são desconhecidas. O id é o sistema original
da personalidade, a matriz o qual se originam o ego e o superego. O id é o reservatório
inconsciente das pulsões, as quais estão sempre ativas. Ele está diretamente relacionado à
satisfação das necessidades corporais. Para Freud, ele age de acordo com o princípio do
prazer.
O id não tolera aumentos de energia, que são experienciados como estados de tensão
desconfortáveis. Consequentemente, quando o nível de tensão do organismo aumenta, como
resultado ou de estimulação externa ou de excitações internamente produzidas, o id funciona
de maneira a descarregar a tensão imediatamente e fazer o organismo voltar a um nível de
energia confortavelmente constante e baixo. Esse princípio de redução de tensão pelo qual o id
opera é chamado de princípio do prazer. (HALL, LINDZEY, CAMPBELL, 1998, p.53)
O id representa o mundo interno da realidade subjetiva, não tendo conhecimento da
realidade objetiva (função do ego). Para atingir seu objetivo de satisfação, o id tem sob seu
comando as ações reflexas (inatas e automáticas, como piscar e espirrar, por exemplo) e o
processo primário, que envolve uma reação psicológica mais complexa. Outro exemplo é
quando a pessoa está faminta. O processo primário apresenta à pessoa a imagem mental de um
alimento, sendo essa alucinação chamada de realização do desejo. O processo primário
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sozinho não é capaz de reduzir a tensão, pois a pessoa faminta não pode comer as imagens
mentais. Desenvolve-se, então, um processo secundário e começa a tomar forma o ego.

EGO
As características do processo secundário (raciocínios maduros necessários para lidar
racionalmente com o mundo exterior) estão contidas no ego, que é a segunda estrutura da
personalidade freudiana e o mestre racional da personalidade. Enquanto o id obedece ao
princípio do prazer, o ego obedece ao princípio da realidade. “O objetivo do princípio da
realidade é evitar a descarga de tensão até ser descoberto um objeto apropriado, para a
satisfação da necessidade.” (HALL, LINDZEY, CAMPBELL, 1998, p. 54).
O ego controla o acesso à ação e decide que instintos serão satisfeitos e de que maneira.
Ele é a porção organizada do id, e existe para atingir os objetivos do id e não frustrá- los.

SUPEREGO
O último sistema da personalidade a se desenvolver é o superego, força moral da
personalidade, obtida por meio da introjeção dos valores e padrões dos pais e da sociedade.
“Ele é o representante interno dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade conforme
interpretados para a criança pelos pais e impostos por um sistema de recompensas e punições”
(HALL, LINDZEY, CAMPBELL, 1998, p. 54).
A principal preocupação do superego é decidir se uma coisa é certa ou errada, para
poder agir de acordo com os padrões morais da sociedade, desenvolvendo-se em respostas às
recompensas e punições dadas pelos pais por volta dos cinco ou seis anos de idade. Para receber
recompensas e evitar punições, a criança passa a orientar seu comportamento de acordo com
os pais. Quando ela é punida, seu comportamento fica incorporado à consciência. Quando ela
é recompensada ou elogiada, esse comportamento fica incorporado no seu ideal de ego. A
consciência pune, fazendo-a se sentir culpada e o ideal de ego recompensa, fazendo-a se sentir
orgulhosa.
Com isso, a criança aprende um conjunto de regras que são aceitas ou rejeitadas por
seus pais, introjetando esses ensinamentos, as recompensas e castigos, tornam-se auto-
administráveis.
O controle dos pais é substituído pelo autocontrole. Nós passamos a nos comportar,
pelo menos em parte, de acordo com as diretrizes morais agora em grande parte inconscientes.
Como resultado dessa introjeção, experimentamos culpa ou vergonha sempre que agimos (ou
pensamos em agir) em desacordo com esse código moral. (SCHULTZ, SCHULTZ, 2002, p.
51)
As principais funções do superego são inibir os impulsos do id (principalmente
sexuais e agressivos); persuadir o ego a substituir objetivos realistas por objetivos moralistas;
buscar a perfeição. Apesar das aparentes diferenças entre o id e o ego, na verdade, o superego
é como o id ao não ser racional e como o ego ao tentar exercer um extremo controle sobre os
instintos.
O superego não busca prazer (como o id), nem a obtenção de metas realistas (como o
ego), mas apenas a perfeição moral. O id pressiona por satisfação, o ego tenta adiá-la e o
superego coloca a moralidade acima de tudo. (SCHULTZ, SCHULTZ, 2002, p. 51)
Id, ego e superego, na verdade, são apenas nomes para vários processos psicológicos. A
personalidade, normalmente, funciona como um todo e esses diferentes princípios trabalham
juntos, sob a liderança do ego. O id seria o componente biológico da personalidade, o ego o
componente psicológico e o superego o componente social. O ego, por ficar no meio, é
pressionado pelo id, pela realidade e pelo superego e o “resultado inevitável desse confronto,
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quando o ego é excessivamente pressionado, é o surgimento da ansiedade” (SCHULTZ,


SCHULTZ, 2002, p.51).

PERSONALIDADE: DIFERENÇAS INDIVIDUAIS

A personalidade é algo subjetivo, é única de cada ser humano, A personalidade é


um conjunto de qualidade externas que fornece as características de determinado indivíduo.
Tais características podem e devem ser apreciadas por outras pessoas, pois é a partir delas que
identificamos e diferenciamos uma pessoa da outra. É através da personalidade que
identificamos os padrões de conduta e comportamento de determinada pessoa. É através destas
que se pode predizer qual poderá ser a sua reação diante de determinada situação, estímulos ou
condições externas. Deste modo, qualquer conceito que se possa atribuir a palavra
“personalidade” está se referindo, em qualquer momento, ao processo de desenvolvimento
psicossocial.
Quando o individuo nasce não informa através de sinais que possui uma consciência ou
sabedoria acerca da sua existência e da existência de outras pessoas, porém na medida que os
estímulos e as situações do meio em que vive vão se perfazendo, o indivíduo, vai ganhando
características próprias e formando sua personalidade.
Estes estímulos afetam o indivíduo, atingindo o sistema nervoso central, bem como os
demais órgãos sensoriais do corpo, fazendo com que comece a formar uma estrutura
psicológica chamada de “eu”, a qual é considerada como parte consciente do ser humano. O
“eu”, segundo ao autor, tem por função principal lidar com a realidade, isto de forma racional
e equilibrada. O “eu” também amadurece e na medida em que isto vai acontecendo, ele vai
aprendendo a se relacionar com outros aspectos mais reais da vida humana.
Dentre estes aspectos pudemos destacar a percepção sensorial, a coordenação motora,
a inteligência, a adaptação ao meio em que vive, e a acumulação de conhecimento, dentre
outros aspectos importantes. Durante a formação da personalidade de um indivíduo é preciso
se levar em conta todos os mecanismos de formação sejam eles primários ou secundários, pois
ambos são fatores que impulsionam a formação da personalidade.

Traços de Personalidade

Para se falar de personalidade é preciso entender o que vem a ser um traço de


personalidade. O traço é um aspecto do comportamento duradouro da pessoa; é a sua tendência
à sociabilidade ou ao isolamento; à desconfiança ou à confiança nos outros. Um exemplo: lavar
as mãos é um hábito, a higiene é um traço, pois implica em manter-se limpo regularmente
escovando os dentes, tomando banho, trocando as roupas, etc.
Pode-se dizer que a higiene é um traço da personalidade de uma pessoa depois que os
hábitos de limpeza se arraigaram. O comportamento final de uma pessoa é o resultado de todos
os seus traços de personalidade. O que diferencia uma pessoa da outra é a amplitude e
intensidade com que cada traço é vivido. Por convenção, o diagnóstico só deve ser dado a
adultos, ou no final da adolescência, pois a personalidade só está completa nessa época, na
maioria das vezes.
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Dez Traços de Personalidade

1. Aberto

Em primeiro lugar, encontramos o traço de personalidade "aberto" em oposição ao traço


"reservado". As pessoas com um elevado grau do traço relacionado com a abertura costumam
ser pessoas afetuosas, carinhosas, participativas, comunicativas, estão abertas a novas
experiências e aventuras.

2. Reservado

As pessoas com uma grau elevado do traço de personalidade "reservado" se


caracterizam por serem pessoas prudentes, sérias, críticas, evitam salir da rotina e não estão tão
abertas a novidades.

3. Introvertido

Também temos o par oposto de traços de personalidade "introversão/extroversão". Por um lado,


as pessoas com um nível alto de introversão desfrutam do tempo que passam sozinhas, preferem
estar sós ou relacionar-se com grupos de pessoas menores. Cabe destacar que a introversão
costuma ser confundida com a timidez, mas não se referem ao mesmo conceito, a timidez
implica uma dificuldade ou um medo de socializar que não existe na introversão.

4. Extrovertido

As pessoas com um nível alto do traço de personalidade extroversão desfrutam da


socialização. Entre as características das pessoas extrovertidas encontramos que são faladoras,
assertivas e alegres nas relações sociais.

5. Seguro

Em quinto lugar, chega o traço de personalidade “seguro”. Quanto às pessoas com alto
grau de segurança, geralmente são pessoas autoconfiantes e ativas, não duvidam de si mesmas,
falam com confiança.

6. Hesitante

As pessoas muito hesitantes costumam ser reservadas, individualistas, inseguras,


duvidosas, mostram medo de errar, entre outros receios.

7. Submisso

Em sétimo lugar, temos o traço de personalidade "submisso" e, no lado contrário, o


traço "dominante". Em relação ao traço de submissão, as pessoas que mostram um grau alto
desse rasgo costumam mostrar-se obedientes perante outras pessoas, dóceis, cedem com
facilidade, inseguras, conformistas, evitam os conflitos, entre outras características.

8. Dominante
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Contrariamente ao traço de personalidade submisso, as pessoas com um nível alto o


traço de dominância, costumam ser pessoas agressivas, autoritárias, imponentes, teimosas, etc.

9. Relaxado

Finalmente, encontramos em contraposição os traços de personalidade "relaxado" e


"excitável". As pessoas que são muito relaxadas se caracterizam por serem calmas, tranquilas,
tolerantes, cautelosas, pouco ativas.

10. Excitável

O último traço da lista de traços de personalidade é a excitabilidade. As pessoas muito


excitáveis se caracterizam por serem inquietas, impacientes, muito ativas, movidas,

A Importância da Vida Afetiva

Situações, sentimentos e lembranças representam algo diferente para diferente pessoas,


por causa das nossas diferentes percepções. A perda de um ente querido, por exemplo, costuma
ser algo ruim para todos, mas mesmo assim representará algo diferente para cada um. Na
verdade mais importante que a própria realidade é a representação dos fatos dessa realidade.

O que é Afetividade:

Afetividade é um termo que deriva da palavra afetivo e afeto. Designa a qualidade que
abrange todos os fenômenos afetivos.
No âmbito da psicologia, afetividade é a capacidade individual de experimentar o
conjunto de fenômenos afetivos (tendências, emoções, paixões, sentimentos). A afetividade
consiste na força exercida por esses fenômenos no caráter de um indivíduo. A afetividade tem
um papel crucial no processo de aprendizagem do ser humano, porque está presente em todas
as áreas da vida, influenciando profundamente o crescimento cognitivo.

Afeto é qualquer estado que engloba sentimento e emoção, ou seja, é um conjunto de


estímulos que chegam ao nosso mundo interior e recebem significados. Os dois afetos básicos
são: amor e ódio.

Emoções
A emoção é um estado de excitação física e psíquica acompanhadas de breves reações
em resposta a um acontecimento inesperado. Elas podem ser positivas e negativas, dependendo
de como ocorre, o momento em que acontecem e o modo como chegam a ser decodificadas de
acordo com as experiências das pessoas. Algumas emoções podem ser vistas como positivas
e negativas como o choro, riso, etc. Em toda conduta, nunca há uma ação puramente intelectual,
assim como não há atos que sejam puramente afetivos.

Ansiedade
Um dos maiores problemas da mente é encontrar meios para resolver ou amenizar a
ansiedade. A ansiedade é um aumento esperado ou previsto de tensão e pode aparecer em uma
situação real ou imaginária.
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A ansiedade é uma sensação que se manifesta através de vários sintomas, fazem parte
da vida de muitas pessoas, principalmente moradoras os centros urbanos. Sintomas Físicos –
falta de ar, taquicardia, nervosismo, suores, problemas digestivos (prisão de ventre, enjoos,
gases), fome exagerada, falta de apetite, etc. Esses sintomas indicam que seu emocional não
esta bem, portanto não adianta tratar as causas emocionais que geram esta ansiedade.
Sintomas Psicológicos – medos sem sentido, sentimento exagerado de irritação,
ingestão exagerada de bebidas alcoólicas ou calmantes, mania de perfeição, medo de críticas,
medo de errar, sentimentos de inveja, etc.

TEMPERAMENTO E CARÁTER

A fisiologia do indivíduo ajuda a formar sua personalidade, por conta da liberação de


algumas substâncias que podem ocasionar certos comportamentos. Entretanto, é importante
ressaltar que o papel biológico na produção da personalidade é apenas um dos fatores que o
fazem, ou seja, a personalidade é formada através de um processo muito mais amplo do que
apenas a composição química de um sujeito. Ele sofre influência do caráter e do temperamento.
O caráter é construído através das experiências sociais e pela compreensão dos valores
morais e culturais, ou seja, ele é aprendido através da família, escola e na sociedade de maneira
geral. É a expressão da personalidade por meio das atitudes de uma pessoa.
O caráter é o conjunto de reações e hábitos comportamentais de uma pessoa que vão
sendo adquiridos ao longo da vida e que especificam o modo individual de cada pessoa. Estão
inclusos as atitudes e valores conscientes, o estilo de comportamento (timidez, agressividade)
e as atitudes físicas (postura, movimentação do corpo).
Um exemplo de expressão corporal relacionada ao caráter seria na apresentação de um
trabalho, cada pessoa irá reagir de maneira diferente: uns terão taquicardia, sudorese, diarreia,
outros estarão tranquilos, relaxados.
O conjunto das dimensões da personalidade de afeto negativo, afeto positivo e
impulsividade tem manifestação precoce e são pouco influenciadas pelo desenvolvimento vital,
por isso são chamados de temperamento. Já o conjunto das dimensões empatia e tolerância e
integridade do self que se definem ao longo do tempo, são formadas pela interação individuo-
meio e influenciadas pelas disposições inatas, cuidados parentais e históricos biográfico, são
chamadas de caráter (BUSATTO, 2006).

TEORIA DOS QUATROS TEMPERAMENTOS

A teoria de Hipócrates

Hipócrates, filósofo grego, foi o primeiro a formular uma teoria do temperamento,


Segundo Empédocles há quatro tipos de temperamento, conforme domine no corpo do
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indivíduo um dos quatro fluidos corporais (humores): sanguíneo (sangue), fleumático (linfa
ou fleuma), colérico (bílis) e melancólico (astrabílis ou bílis negra).
Na antiguidade, os temperamentos, ou o conjunto de fatores constituintes de uma
personalidade, estavam ligados aos humores; a predominância de um ou outro designava um
tipo específico. Distinguiam-se 4:
• Sanguíneo: expansivo, otimista, mas irritável e impulsivo;
• Fleumático: sonhador, pacífico e dócil, preso aos hábitos e distante das paixões;
• Colérico: ambicioso e dominador, tem propensão a reações abruptas e explosivas;
• Melancólico: nervoso e excitável, tendendo ao pessimismo, ao rancor e à solidão.

OS 4 PRINCIPAIS TIPOS DE TEMPERAMENTO

Sanguíneo
Este temperamento é expansivo, otimista e impulsivo, extrovertidos e sensíveis, os
sanguíneos são indivíduos que não passam desapercebidos, pois são espontâneos e gostam de
interagir. Além disso, costumam fazer gestos largos e falar bem em público.
Pontos fortes: são comunicativos, resiliente, adaptáveis e entusiastas;
Pontos que precisam ser trabalhados: impulsividade, falta de atenção, superficialidade e
exagero.

Fleumático
Este temperamento é sonhador, pacífico, dócil. Os fleumáticos prezam a rotina, o
silêncio e dificilmente perdem o controle, pois costumam avaliar antes de reagir. São pacientes,
observadores, disciplinados, preferem não manifestar suas opiniões em público e não
costumam reagir bem às críticas.
Pontos fortes: são equilibrados e confiáveis;
Pontos que precisam ser trabalhados: lentidão, resistência as mudanças e indecisão.

Colérico
Este temperamento é explosivo, ambicioso e dominador. Indivíduos coléricos são
determinados e possuem grande capacidade de planejamento, além de muita energia e
impulsividade. São líderes natos e explosivos.
Pontos fortes: determinação, habilidade de liderança e praticidade;
Pontos que precisam ser trabalhados: egocentrismo, intolerância e impaciência.

Melancólico
Este temperamento é tímido, artístico e solitário. Os melancólicos têm a sensibilidade
muito aflorada, e são pessoas profundas, detalhistas e introvertidas, com tendência a guardar
seus sentimentos. São fiéis, desconfiados e tendem a escolher profissões que possam exercer
sozinhos.
Pontos fortes: lealdade, dedicação e sensibilidade;
Pontos que precisam ser trabalhados: egoísmo, pessimismo e inflexibilidade.

Temperamento não é destino


Daniel Goleman — psicólogo, escritor, PhD da Universidade de Harvard e responsável
por popularizar o conceito de Inteligência Emocional — afirma que, embora existam pontos
que determinam o temperamento, muitos circuitos cerebrais da mente humana são maleáveis e
podem ser trabalhados. Isso significa, portanto, que temperamento não é destino.
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Exercitar hábitos saudáveis e entender, controlar e canalizar nossas emoções é essencial


para desenvolver a Inteligência Emocional de um indivíduo. Todos os seres humanos têm a
possibilidade de melhorar e devolver habilidades. A Inteligência Emocional pode ser
desenvolvida e treinada com a construção de novos hábitos e outras formas de pensar,
refletindo diretamente no comportamento.

ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO PROCESSO SAÚDE/DOENÇA

A doença é um aspecto que faz parte da vida do ser humano. Todas as pessoas em algum
momento da vida poderão adoecer ou já adoeceram. Ela é entendida como algo que se
manifesta no corpo biológico do sujeito. Este é o entendimento mais comum na sociedade.
Apesar de ser um aspecto biológico, também pode ser entendida como social pois implicará
nas relações que este sujeito possui. A doença sempre se apresenta de forma negativa na vida
do sujeito. Ela se faz da perda da saúde impedindo o sujeito de dar uma sequencia normal as
suas atividades. O sujeito psíquico munido de sua subjetividade enfrentará o adoecimento de
forma singular.

O processo de adoecimento estará relacionado com sua história de vida. A doença


provoca no sujeito o encontro com o real. E estar doente pode acarretar muitas perdas ,mas uma
talvez é fundamental, a perda da saúde. Ao receber uma notícia inesperada ou de grande
impacto o sujeito entra em uma espécie de órbita. No processo de adoecimento o sujeito
também entra em órbita e passa por quatro posições: negação, revolta, depressão e
enfrentamento.

Diante do processo de hospitalização o sujeito também passa por perdas e a mais


significativa é a perda de sua subjetividade. O hospital e suas implicações provocam no sujeito
um mal estar. Sua singularidade não é levada em conta e sua rotina é alterada. Tudo isso implica
em algo grave: o sofrimento psíquico. Todas as pessoas estão sujeitas a passar em algum
momento da vida por situações que podem causar algum tipo de sofrimento. Este assunto
abordará alguns aspectos sobre o sofrimento psíquico no processo de hospitalização onde o
foco é a doença e o sujeito hospitalizado.

A DOENÇA

No preâmbulo da Organização Mundial da Saúde (OMS) 1948, a saúde é definida como


um estado completo de bem-estar físico, mental e social. Pensando sobre essa perspectiva, a
doença se trata de uma interrupção desse estado, que pode ser em apenas um aspecto, mas que
influenciará em todos, visando o sujeito como um todo. A saúde e a doença são fenômenos
sociais, pois resultam de fatores múltiplos. Podemos notar que as doenças possuem tanto
aspectos psicológicos quanto sociais, não sendo apenas biológico o que sugere um modelo
biopsicossocial.

Nesse sentido, adoecer produz um desequilíbrio na vida do sujeito podendo causar um


sofrimento psíquico. Para Simonetti (2011), as doenças podem ser agudas ou crônicas. “Uma
doença aguda é aquela de início súbito e com pouco tempo de evolução, e a doença crônica é
a que já se arrasta a um bom tempo, geralmente mais de seis meses”. De acordo com o autor,
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a doença aguda pode se desenvolver rapidamente mas, tem um período curto de duração. Já a
doença crônica se desenvolve lentamente porém, ela poderá ser contínua ou se prorrogar por
longos períodos.

Conhecer essa diferença se torna essencial para o trabalho do psicólogo, pois tais
doenças geram aspectos psicológicos distintos e o seu tratamento implicará em longos ou
breves períodos de hospitalização. Segundo Ávila (1996, p.31), “A doença se caracteriza
fundamentalmente por um estado negativo, de ausência de saúde.” A doença é um mal na vida
do indivíduo, pois afeta o seu bem-estar. Ter o estado de saúde alterado provoca no sujeito
sentimentos diversos. Para a medicina, estar doente é ter seu estado saudável modificado, algo
que para o indivíduo é crucial. Segundo o referido autor “do ponto de vista da medicina, pode-
se caracterizar o indivíduo doente abstraindo completamente as categorias que este próprio
indivíduo considera como definidoras do seu bem-estar.”

A doença pode surgir devido a uma alteração ou variação do ambiente em que o sujeito
vive. Pode aparecer quando ocorre uma mudança repentina no seu estilo de vida. Algo que o
tira de um lugar já definido, onde ele esteja adaptado. Esse fator externo o influencia
diretamente tanto em seu aspecto psíquico como social, podendo então levá-lo à uma
manifestação no estado físico.

A doença é sentida pelo sujeito no corpo biológico e no psicológico. Os sintomas físicos


surgem provocando também uma angústia. Para Ávila (1996), “A doença se faz preceder por
um estado subjetivo que toma a forma de uma queixa, centrada em descrições somáticas, como
dores ou fadigas, e psíquico como angústia.” Essa angústia surge como uma reação do sujeito
frente a esse estado.

O HOMEM DIANTE DA ENFERMIDADE

A hospitalização coloca o sujeito em um ambiente físico diferente do seu habitual. A


partir desse momento várias outras circunstâncias começam a fazer parte de sua nova rotina.
Consequentemente ocorre o afastamento do emprego e de suas tarefas diárias. Outra pessoa
terá que assumir seus compromissos fora do hospital. E como se não bastasse, dentro da
instituição sua rotina também será pré-determinada a partir do seu diagnóstico. Seus horários
terão que ser adaptados a sua nova rotina.

Essa situação produz no sujeito angústia e sofrimento. Um sentimento de medo e


insegurança. O hospital remete ao sujeito a morte. Não se vai ao hospital porque está bem de
saúde. Se vai para o hospital por um motivo desagradável, porque algo de ruim está
acontecendo. Segundo Romano (1999) “ estar dentro de um hospital, de ambulante ou
internado, saber-se portador (ou mesmo, estar buscando o diagnóstico) atualiza vivências
passadas, sinaliza a realidade da morte, inicia a incapacidade do cuidar-se de si mesmo, conduz
à revisão de valores de vida, isola da família e do seu habitat, dói e amedronta”. Em cada uma
das posições da órbita da doença há um sofrimento.

A negação da doença ocorre por falta de condições psicológicas naquele momento. É


quando se torna insuportável de aceitar. Na revolta um sentimento de injustiça poderá surgir.
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O sujeito sofre por ter que passar por essa situação. Apesar de já ter aceito a doença se sente
inconformado com sua situação. Na depressão há um sofrimento profundo. Sentimentos de
tristeza, desolamento, desesperança, culpa e medo são comuns nesta fase.

A sensação de impotência também pode surgir no sujeito já que esse se encontra


entregue para a doença. No enfrentamento, apesar de ser uma posição de mais consciência, o
sujeito também terá um sofrimento. Apesar de aceitar sua realidade também tem que passar a
conviver com suas limitações. Em todas estas posições há um conflito interno operando no
sujeito.

pode ter consequências além do sofrimento, até mesmo a aquisição de outra doença.
Portanto a questão da subjetividade é outro aspecto importante para pensar o sofrimento
psíquico no processo de hospitalização. O sujeito passa por muitas mudanças e sua
singularidade não é levada em conta. Para Simonetti (2011) “[...] Sua vontade é aplacada, seus
desejos coibidos, sua intimidade invadida, seu trabalho proscrito, seu mundo de relações
rompido. Ele deixa de ser sujeito.” Toda essa angústia provocada no processo de hospitalização
também surge como uma resposta ao medo. Ao ser hospitalizado, a imaginação do sujeito pode
ser um aspecto negativo em muitos casos. Não saber o que vai acontecer nem como vai
acontecer pode levar o sujeito a pensar na solução que mais lhe angustia.

ASPECTOS PSICOSSOMÁTICOS DA DOENÇA

Sofrimento Psíquico

O sofrimento psíquico pode ocorrer devido a vários fatores, com todas as pessoas em
algum momento da vida. Essa situação provoca um sentimento de esgotamento, algo difícil de
suportar. Para Bock (2002) “em muitos momentos de sua vida uma pessoa pode viver situações
difíceis e de sofrimento tão intenso, que pensa que algo vai arrebentar dentro de si mesma...
que vai enlouquecer”. Uma internação repentina ou até mesmo esperada pode provocar este
estado.

Em um caso de doença os sintomas possuem um valor significativo para se pensar o


diagnóstico. Para a medicina pode ser a partir destes sintomas que se chega a um diagnóstico.
Para a psicologia esses sintomas no corpo podem aparecer como forma de sofrimento. Esse
sintoma deve ser observado pois pode apresentar traços singulares do sujeito. Também esse
real pode falar muito do psíquico pois está carregado de subjetividade.

Dantas e Tobler (2003), relatam que: De modo geral, o sofrimento psíquico se manifesta
e se expressa, num primeiro momento, no registro do corpo e através de um sintoma. O sintoma
se faz palavra portadora de uma verdade; o sintoma como função simbólica, como metáfora,
mediador entre a subjetividade e o real. Segundo Pimentel (1988), “[…] o sofrimento evidencia
os processos intelectivos e afetivos comportados no corpo. Nessa perspectiva, a dor não se
restringe à dor física, engloba a dor psíquica [...]”. Segundo o
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autor acima citado, a dor também causa sofrimento psíquico, ela vai muito além do biológico.
Não é apenas o corpo que sofre o psíquico também.

O sujeito com dor está vivenciando um processo angustiante. Essa dor física pode ser
aliviada por medicamentos, porém o sofrimento psíquico não, este deve ser trabalhado pois,
segundo Camon (2001) “o paciente sofre por ter medo de ficar com sequelas, incapacitado, de
ter perdas materiais e sociais e principalmente da morte”. Esse sofrimento também surge devido
às inseguranças do sujeito em relação a seu futuro. Muitas fantasias podem ser criadas devido
a sua condição atual e até mesmo por falta de esclarecimentos referentes ao seu estado de saúde.

O sofrimento desencadeia no sujeito uma tensão. Ele é interno mas pode “falar” através
da dor. Quando o sujeito não consegue elaborar suas questões, esse sofrimento fica em algum
lugar esperando sua resolução. Para Clavreul (1983) “o sofrimento, inclui a dor, mas antes de
tudo parece designar um estado de tensão interna, que deve terminar por uma resolução. O
sofrimento está em suspenso, isto é, à espera”. Segundo Roudinesco (2000) o sofrimento
psíquico se apresenta em forma de depressão. Este estado depressivo impede o sujeito de lidar
com as situações que lhe são impostas. O sujeito “cai”. Seu dia a dia passa a não ter mais graça.

Não há um prazer em fazer as coisas. As soluções tentadas parecem não ser eficazes. O
sujeito não busca entender a origem dessa questão que seria o ideal. O sofrimento psíquico
manifesta-se atualmente sob a forma de depressão. Atingindo no corpo e na alma por essa
estranha síndrome em que se misturam tristeza e a apatia, a busca de identidade e o culto de si
mesmo, o homem deprimido não acredita mais na validade de nenhuma terapia. No entanto,
antes de rejeitar todos os tratamentos, ele busca desesperadamente vencer o vazio de seu desejo.
Por isso passa da psicanálise para a psicofarmacologia e da psicoterapia para a homeopatia,
sem se dar tempo de refletir sobre a origem de sua infelicidade.

(ROUDINESCO, 2000, p.13). Parece haver uma falta no sujeito, um vazio a ser
preenchido. Freud (1930) em “O Mal na Civilização” nos fala desse vazio como a perda do
objeto. E que na depressão a perda é secreta. Em uma hospitalização várias coisas são perdidas
porém não se deve antecipar o motivo. Ele é singular. Freud (1930), quando fala em sofrimento,
aponta que este pode ser um agente ameaçador e que parte de três direções: […] O sofrimento
nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo condenado à decadência e à
dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de
advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição
esmagadoras e impiedosas; e finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens.[...]
(FREUD, 1930, p.95).

Podemos observar que o sofrimento pode surgir por conta de nosso próprio corpo e que
este nos dá sinais de alerta. Provém também do mundo externo com todos os seus fatores
negativos e pesados. E por último mas não menos importante, podemos sofrer devido a nossos
relacionamentos interpessoais.
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A HOSPITALIZAÇÃO

Quando uma pessoa é hospitalizada ela passa por variadas situações. Uma delas é a
despersonalização (é um tipo de transtorno dissociativo que consiste em sentimentos
recorrentes ou persistentes de distanciamento do próprio corpo ou processos mentais,
geralmente com uma sensação de ser um observador externo da própria vida). Essa pessoa,
muitas vezes, passa a ter “outro nome”. É chamada pela equipe pelo nome de sua doença ou
pelo número de seu leito. Passa também a ser rotulado, estigmatizado de doente. O paciente ao
ser hospitalizado sofre um processo de total despersonalização. Deixa de ter o seu próprio nome
e passa a ser um número de leito ou então alguém portador de uma determinada patologia.

O estigma de doente – paciente até mesmo no sentido de sua própria passividade frente
aos novos fatos e perspectivas existenciais – irá fazer com que exista a necessidade premente
de uma total reformulação até mesmo de seus valores e conceitos de homem, mundo e relação
interpessoal em suas formas conhecidas. Deixa de ter significado próprio para significar a partir
de diagnósticos realizados sobre sua patologia. (CAMON, 1995, p. 2).

O sujeito ao ser hospitalizado, passa a adquirir signos. A partir dessa aquisição, ele
poderá sofrer uma transformação. As pessoas com as quais convive também passarão por uma
mudança devido a esse processo. Esses signos levarão o sujeito a desenvolver uma nova
performance existencial. [...] E pelo simples fato de se tornar “hospitalizado” faz com que a
pessoa adquira signos que irão enquadrá-lo numa nova performance existencial e até mesmo
seus vínculos interpessoais passarão a existir a partir desse novo signo.

Seu espaço vital não é mais algo que dependa de seu processo de escolha. Seus hábitos
anteriores terão de se transformar frente à realidade da hospitalização e da doença. (CAMON,
1995, p. 3). Esse novo lugar fará o sujeito perder sua autonomia. Ele não poderá mais fazer
suas próprias escolhas, pois estas dependerão de seu estado de saúde. Seus hábitos também
deverão ficar suspensos pois devido a sua hospitalização terá que manter uma rotina
estabelecida conforme a doença existente.

A hospitalização pode levar o sujeito a considerar algumas práticas comuns em um


ambiente hospitalar em situações invasivas. Segundo Camon (1995), o paciente poderá se
incomodar quando “a enfermeira vem acordá-lo pra aplicar injeção, ou a atendente que
interrompe uma determinada atividade para servir-lhe as refeições.” Isto ocorre quando o
sujeito ainda não está totalmente amarrado nesse processo.

A situação de hospitalização passa a ser determinante de muitas situações que irão ser
consideradas invasivas e abusivas na medida em que não se respeita os limites e imposições
dessa pessoa hospitalizada. E, embora esteja vivendo um total processo de despersonalização,
ainda assim determinadas práticas são consideradas ainda mais agressivas pela maneira como
são conduzidas dentro do âmbito hospitalar. (CAMON, 1995, p. 3. O psicólogo no âmbito
hospitalar, ao trabalhar a questão da despersonalização do paciente, estará auxiliando em um
processo de humanização. Neste caso, a humanização seria um relacionamento adequado
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entre a equipe e o paciente. Proporcionando assim, o bem-estar do doente e também um olhar


por parte da equipe para além da doença em si.

Camon (1995) nos fala que: “Ao trabalhar no sentido de estancar os processos de
despersonalização no âmbito hospitalar, o psicólogo estará ajudando na humanização do
hospital, pois seguramente esse processo é um dos maiores aniquiladores da dignidade
existencial da pessoa hospitalizada”. O psicólogo ao dar um lugar de fala para o paciente,
proporciona condições para ele assumir sua condição de sujeito. Poderá também auxiliar, dando
informações para a família, desfazendo as fantasias que são construídas a partir da falta de
informação.

A PSICOLOGIA COMO SUPORTE NAS RELAÇÕES HUMANAS: RELAÇÕES


HUMANAS NO TRABALHO EM EQUIPE DE SAÚDE; RELACIONAMENTO
INTRA PESSOAL E INTERPESSOAL

As relações interpessoais se estabelecem a partir de um processo de interação entre os


membros de uma mesma equipe, criando-se vínculos profissionais, uma condição relacional
entre trabalhadores, a fim de executarem uma ação coletiva, e alcançarem um objetivo em
comum”. Wagner et al, 2009.
Como a jornada das instituições de saúde é de no mínimo seis horas, e no máximo de
doze horas consecutivas de trabalho, pode-se afirmar que são longos os períodos de interação
entre profissionais, sem levar em conta o desgaste adicional daqueles que tem duplo vínculo
empregatício.
A enfermagem é uma profissão humanista, em seus princípios básicos, seu discurso é
humanista, embora muitas vezes, o profissional encontre-se agindo contra seus princípios
profissionais mais elevados.

O objetivo da enfermagem

O objetivo da enfermagem é suprir a ajuda que o paciente requer para satisfazer suas
necessidades. Tendo alcançado o seu objetivo, o enfermeiro contribui simultaneamente para a
saúde física e mental do paciente.
Como destacam alguns autores, "cuidar é a razão de ser da enfermagem e
consequentemente ética da enfermagem, mas a ética do respeito transcende os limites da
enfermagem, para ter aplicações a todos os níveis da sociedade". Seja qual for a área de
trabalho, temos constatado que pedidos formulados pelos doentes situam-se na esfera
relacional.
Faz parte da profissão de enfermagem competência em desenvolver o relacionamento
interpessoal como uma prática diária, embutida em todo cuidado, clínica ou especialidade.
Atender o paciente de maneira mais humana deveria ser prioridade para todos os profissionais
de saúde.

Trabalho em equipe

O profissional de enfermagem, além do relacionamento entre profissionais da mesma


área, precisa também se relacionar com outras equipes, como a equipe médica, a equipe de
fisioterapia, e a equipe de nutrição.
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Como em qualquer empresa, que reúna pessoas de várias disciplinas, haverá queixas de
várias partes. No entanto, as maiores queixas dos profissionais de enfermagem estão
relacionadas à própria equipe de enfermagem, e à equipe médica.
Queixas em relação à equipe de enfermagem:
▪ Ausência de trabalho em equipe – resulta em um trabalho fragmentado, onde cada
profissional faz a sua parte, não se importando com o todo;
▪ Falta de ética profissional – competição entre pares, egoísmo e individualismo. Tudo
isso deve ser substituído pela verdadeira ética profissional, que não deve ser interpretada
como conivência e ou corporativismo;
▪ Maledicência – criticar o chefe ou os colegas na presença de outros funcionários ou
pacientes. Inconveniência e desrespeito desequilibram as relações. É necessário cultivar
as virtudes, tais como, respeito, cooperação e convivência saudável, para obtermos
dignidade.

Queixas em relação à equipe médica:

▪ Subserviência em relação à medicina – mito que confere subalternidade ao trabalho da


enfermagem em relação à medicina. “No atual momento, a sobreposição do poder médico
sobre as demais profissões, tem-se relativizado em termos de formação e de regras do
exercício profissional, o que contribui para o fortalecimento e reconhecimento das outras
disciplinas que compõem a área da saúde”. (Nascimento. & Erdmann, 2006)
▪ Pouca valorização do profissional enfermeiro – ausência de reconhecimento profissional
tanto pelos médicos, quanto por outros profissionais da saúde.

Talvez isso ocorra porque o enfermeiro realmente não mostra o seu conhecimento e a
importância do que faz.
Acredito que uma forma de melhorar o conflito enfermeiro x médico seja investir na obtenção
de comunicação clara e eficaz, e compreensão de cada um acerca do seu papel no atendimento
ao paciente, além da importância da boa relação para a qualidade da assistência.
A insatisfação no trabalho também interfere nas relações e pode ser decorrente de vários
fatores, entre eles a estrutura física inadequada, recursos materiais insuficientes, falta de
autonomia, sobrecarga de trabalho, baixa remuneração, falta de reconhecimento profissional e
recursos humanos mal dimensionados.
O dimensionamento de pessoal inadequado prejudica o bom andamento do serviço. No
contexto citado, ele provoca insatisfação que, consequentemente, prejudica as relações
interpessoais.
Além desses fatores, relacionamento interpessoal da equipe de enfermagem está
intimamente ligado ao tipo de liderança do seu supervisor ou gestor.
Acredito que a liderança democrática seja a mais apropriada, pois busca atingir seus objetivos
por meio de atitudes que se aproximam do modelo participativo, valorizando as relações
interpessoais e o desenvolvimento profissional.
Entretanto, nem todas as lideranças são democráticas e, às vezes, os enfermeiros têm que lidar
com chefes autoritários, centralizadores, coercitivos, tornando a relação um sofrimento
psíquico.
Portanto, adote atitudes que neutralizem essa situação, como:
▪ Tenha boa comunicação – aperfeiçoe sua comunicação para que o seu superior note que
você é bom naquilo que faz;
▪ Tenha autoconfiança – não deixe que o supervisor duvide das suas capacidades e
habilidades. Dê o seu melhor, trabalhe da melhor maneira possível. Assim, será capaz de
vencer os obstáculos do dia-a-dia;
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▪ Seja um bom ouvinte – demonstre ao seu superior que está ouvindo atentamente o que
lhe foi solicitado, pois isso revela preocupação em desempenhar bem as suas funções,
revelando responsabilidade;
▪ Construa relações – tenha boas relações com os colegas de trabalho, com os pacientes e
familiares. Isso contribuirá para uma imagem positiva sobre você;
▪ Conheça bem seu superior – descubra as atitudes que ele não gosta e tente evitá-las;
▪ Antecipe-se – com o decorrer do tempo você conhecerá bem o seu superior, o que ele tem
hábito de pedir, ou como aprecia a execução de uma atividade. Isso lhe permitirá antecipar
as necessidades e surpreendê-lo com eficiência;
▪ Aceite novas formas de trabalho – se lhe for solicitado alguma atividade nova, não
rejeite. Aperfeiçoe seus conhecimentos para poder realizá-la. Isso vai fazer muita
diferença, pois mostra o quanto você está aberto a novas opções;
▪ Seja flexível – esteja aberto a mudanças e reconheça seus erros. A flexibilidade é vista
como competência e, atualmente, exigida nos ambientes de trabalho;
▪ Empenhe-se – demonstre sua opinião a respeito do que lhe é proposto. Não concorde com
tudo. Dedique-se ao que está fazendo e faça com esmero. Siga seus objetivos até concluí-
los.

O relacionamento enfermeiro-paciente é uma relação entre duas ou mais pessoas, o


profissional e a pessoa que requer ajuda, que se dá através do processo terapêutico (início,
desenvolvimento e final) objetivando a resolução do problema apresentado.
A idolatria pela técnica tornou a enfermagem bastante eficiente, porém, menos humana,
ou seja, o cuidado técnico passou a prevalecer. Assim, atividades relativas ao tratamento e à
cura deixaram o cuidado humano menos visível, menosprezando a pessoa com suas
necessidades de amor e respeito. Além disso, as atividades burocráticas que deveriam ser
atividades-meios para se oferecer uma assistência de enfermagem humanizada, tornaram- se
atividades fins, distanciando a enfermeira do paciente.
As ações de cuidar propiciam que cuidadores e pacientes interajam entre si. Hoje, esta
interação parece tornar-se cada vez mais impessoal, breve e formal. Muitas vezes, os
procedimentos realizados ocorrem de forma mecanizada e rotinizada. Não é incomum que
muitos profissionais não saibam como iniciar uma conversação e como mantê-la de forma
terapêutica.
O profissional de enfermagem desempenha papel importante em relação à planificação
do cuidado executado pelos técnicos e auxiliares de enfermagem. Ele é o elo integrador que
garante o cuidado prestado. Este cuidado deve ser encarado como um valor ético, respeitando
a dignidade dos pacientes, protegendo e preservando sua segurança. O conhecimento científico
e as habilidades manuais só serão considerados efetivos se, junto à eficiência, houver
sensibilidade e humanização.
A educação é essencial para melhorar a qualidade da assistência de enfermagem. À
partir da teoria e da prática podemos desenvolver habilidades que afetarão diretamente os
cuidados prestados ao cliente. Entendemos que vários fatores políticos, sociais e econômicos
interferem na obtenção deste objetivo, não dependendo somente da educação, mas o quanto
esta é fundamental.

A enfermagem é um processo interpessoal terapêutico, onde o processo de cuidar


do paciente encerra um aspecto profissional, a relação enfermeira-paciente. A autora destaca
que falar com o paciente é fácil quando não há preocupações com os efeitos de nossas palavras
e ações sobre o comportamento deste. Portanto a interação só se torna efetiva e terapêutica
quando o enfermeiro está consciente de sua comunicação e assume responsabilidade sobre esta.
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O relacionamento enfermeiro-paciente é uma relação entre o profissional e a pessoa que


requer ajuda, sendo que esta relação se dá através de um processo terapêutico, com início,
meio e final, objetivando a resolução do problema. O sujeito não é tratado como objeto nem do
conhecimento nem da ação, mas como alguém que enfrenta dificuldades. Considera que toda
pessoa possui uma tendência positiva no sentido de se reorganizar, de se dirigir, de se preservar,
o que o leva à busca do equilíbrio, do crescimento e do amadurecimento saudável.
O que qualifica a enfermagem é o seu caráter relacional, conforme atestam algumas teorias
clássicas da enfermagem. Apesar desse enfoque, na relação afetiva com o paciente, a prática
mostra-se contraditória, sendo estes muitas vezes tratados com indiferença pela equipe de
enfermagem.

Relacionamento profissional – Paciente

A relação enfermeiro paciente é uma das questões mais importantes no tratamento de


uma pessoa que se encontra hospitalizada, que muitas vezes está fragilizada e com medo do
tratamento.
Uma equipe de enfermagem humana, atenciosa trará confiança ao paciente e com isso
a relação enfermeiro paciente será potencializada. Por outro lado, se o paciente percebe um
descaso por parte deste profissional, a relação enfermeiro paciente estará abalada e com
certeza esse paciente terá dificuldades de aceitar ou até mesmo continuar o seu tratamento.
Para que a relação enfermeiro paciente seja construída é preciso muito mais do que
carisma do profissional. Este deve desempenhar sua função assistencial e ao mesmo tempo
buscar entender o que se passa com o paciente para poder auxiliá-lo no momento da
internação.
A relação enfermeiro paciente não é apenas importante quando o paciente encontra-se
internado. Na Estratégia da Saúde da Família essa relação torna-se uma arma importante, pois
o enfermeiro acompanha essa família na sua intimidade.
A relação enfermeiro paciente é construída com atenção, carinho, dedicação aliada com
o saber e a intenção em se fazer o melhor para prevenção ou tratamento das doenças.
Na prática de enfermagem, verificamos que toda assistência ao indivíduo se processa
por meio das relações interpessoais (Gattás, 1984). Observamos que a enfermeira, profissional
com alta competência técnica, responsável pela gerência do serviço e administração do pessoal,
ainda não está dando a devida importância às relações interpessoais de sua equipe e à orientação
e supervisão desse pessoal.
Inicialmente, o tema parece bastante rotineiro, familiar, no nosso campo de atuação. No
entanto, o relacionamento interpessoal merece maior atenção devido à sua complexidade, já
que lidamos com relação entre pessoas, cada uma com suas características e personalidades
diferentes.
Furegato (1999) descreve que o relacionamento enfermeiro-paciente é uma relação
entre duas ou mais pessoas, entre o profissional e a pessoa que requer ajuda, que se dá através
do processo terapêutico (início, desenvolvimento e final) objetivando a resolução da crise.
Para Travelbee (1982), toda assistência ao paciente-cliente deveria se dar através das interações
entre duas pessoas: uma que precisa de ajuda e outra que proporciona ajuda. Segundo esta
autora é o enfermeiro que se une ao paciente-cliente para ajudá-lo a revelar e compreender sua
experiência e, a partir daí, desenvolver um relacionamento. O relacionamento enfermeiro-
paciente é meta a ser atingida, é função específica da enfermeira, é a interação planejada com
objetivos definidos entre duas pessoas, na qual ambas modificam seu comportamento,
construtivamente, com a evolução do processo de relacionamento.
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O paciente é uma pessoa, um ser humano único que no momento requer nossa ajuda.
O enfermeiro é uma pessoa, um ser humano único, que adquiriu conhecimentos e habilidades
específicas para cuidar dos outros e dispõe-se a isso. Através da comunicação interpessoal,
ambos poderão atingir seus objetivos.
Sadala & Stefanelli (1996) citam que a comunicação é vista na enfermagem como instrumento
básico, como uma competência e uma habilidade que precisam ser desenvolvidas, praticadas
após terem passado por um aprendizado teórico do relacionamento. Observa-se as dificuldades
de ensino e aprendizagem nesta técnica no nível médio de enfermagem, cujo ensino é mais
elementar que o da graduação nesta profissão (Simpósio, 1990). Acreditamos também que
exista dificuldade em abordar este tema, o que entendemos que possa impedir a valorização
dessa temática. Há de se consider a comunicação como parte integrante do cuidar, portanto é
um instrumento de trabalho do enfermeiro e de sua equipe, que precisa ser pesquisado para que
seus resultados possam contribuir para os avanços esperados no campo da assistência à saúde.

Sabe-se que cabe à enfermagem e às instituições formadoras proporcionarem condições


para o desenvolvimento das habilidades e atitudes específicas, possibilitando aos profissionais
de nível médio de enfermagem às suas ações serem terapêuticas através do relacionamento
interpessoal (Miranda, Rodrigues & Scatena, 1996).
Importância Relacionamento Interpessoal Enfermeiro/ Paciente
A comunicação se dá no processo do relacionamento entre pessoas permitindo-nos um
maior conhecimento no que diz respeito aos sentimentos, emoções e opiniões sobre o outro,
fazendo com que percebamos que a interação é à base desse processo. Concordamos com
Lucena e Goes (1999), quando dizem que a comunicação na área da saúde é uma estratégia de
uso constante no cotidiano do enfermeiro.
Quando a comunicação faz parte do dia a dia do trabalho do enfermeiro, o paciente passa a vê-
lo como uma pessoa capaz de ajudá-lo em todos os momentos, além do que, isto irá possibilitar
uma recuperação mais rápida para o paciente.
O ser enfermeiro requer muita atenção, habilidade e cuidado “a enfermagem precisa
assistir os pacientes com ética e dignidade, utilizando conhecimentos científicos e éticos sendo
criativa, procurando utilizar este atendimento, com menores riscos” (RIBEIRO, 2005, p.38).
Assim destacamos a importância de uma visão holística do enfermeiro sobre o paciente e acerca
do cuidado e do emprego da comunicação terapêutica, devendo-se buscar constantemente a
humanização da assistência combinada aos ganhos tecnológicos na área da saúde.

Inter-relação profissional e Família

A família é um ponto importante no CTI, por este motivo devemos perceber em que
momento a família necessita de cuidados e esclarecimentos, suprindo-lhes suas necessidades e
proporcionando-lhes à atenção necessária.
Os pesquisadores atuam e acreditam que é de extrema importância do enfoque familiar
e assistência intensiva por experiências vivenciadas por elas com o aspecto mecanicista, devido
à errônea utilização de monitores e máquinas, que deveriam ser utilizadas para complementar
a assistência, pertinente ao olhar clínico, e atenção junto do cliente. A enfermagem tem que
perceber que as máquinas isoladas não têm tanto valor quanto o toque e a escuta, que na maioria
das vezes, principalmente, para o familiar é de extrema ajuda para o indivíduo superar
separação momentânea ou não de seu ente querido.
Toda essa impessoalidade massacra os conceitos de humanização, que acarretará em
prejuízos para o paciente e seus familiares, que nesse momento foram exonerados de suas
24

responsabilidades e de sua essência, que é individual, mas, porém é imprescindível a todo ser
humano.
A família deve ser preparada para a sua experiência no CTI. A condição, o estado de
alerta e o aspecto do paciente devem ser descritos em termos adequados para o seu nível de
compreensão. Qualquer equipamento deve ser explicado antes que a família veja o paciente; O
enfermeiro deve acompanhar a família junto ao leito para fornecer explicações. As intervenções
do enfermeiro devem estar direcionadas a prestar suporte ao familiar para enfrentar estes
momentos. O enfermeiro passa a ser um elo indispensável entre o paciente e a família.
Levando então em consideração o cuidado, e em contrapartida o, cuidado com o ser
humano, devemos fazer o possível para que essa assistência seja feita de forma humanizada.
A escuta do profissional de enfermagem vai além do cuidado do cliente, envolve também a
família que sofre pela doença de seu ente, é importante sim, para dar o ponto de partida, para
diagnóstico e tratamento do processo saúde - doença. Mas não é único, não é só isso. O
enfermeiro deve atuar, também, no sentido de reforçar os mecanismos de enfrentamento
desses familiares, com o objetivo de fornecer apoio emocional e mobilizar sentimentos
positivos. A enfermagem, sendo uma profissão que enfatiza o cuidado personalizado e
holístico, deve se preocupar em atender, não apenas as necessidades dos pacientes, mas
também de seus familiares.
O fato de ver seu familiar apenas nos horários de visitas e restrito, é um fator que gera certa
insegurança por não poder estar a todo o momento com seu ente querido. O fato da visita curta
e rápida gera sentimentos questionadores sobre o fato de o seu ente estar bem atendido e bem
cuidado, deixando então na maioria das vezes os familiares tensos, cheios de questionamentos
e em busca de informação. Existe a necessidade das famílias de se comunicar com a equipe de
Enfermagem durante os horários de visita, receber orientações e esclarecer dúvidas, assim
como, ter satisfeita sua necessidade de conforto, receber palavras carinhosas e atenção.

A PSICOLOGIA E A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO.

É notório que ao apresentarmos essas noções de subjetividade, tentamos ampliar e dotar


de complexidade a concepção do humano. Especificamente, quando nos perguntamos sobre a
noção de sujeito e constatamos que a psicanálise surge com a invenção de uma nova
subjetividade, delineada num modelo que tem a falta como referência e a culpa como operador,
isto é, a produção de subjetividade se dá em torno da interdição e do desejo. Temos aí a
subjetividade como sendo uma "invenção" das figuras parentais, ou seja, é o adulto que, no seu
imaginário, pressupõe um psiquismo, fazendo advir um sujeito. Esta situação reflete a
subjetividade dos adultos e nela a cultura em que todos estão imersos. Nasce um sujeito que,
seguindo o seu destino interpretará o mundo, as leis, os outros, impregnado de linguagem,
pensante e sonhador. Um sujeito que deve seu advento ao narcisismo parental e que, como os
pais, terá de aceitar as interdições que a castração simbólica lhe impõe (PINHEIRO; HERZOG,
2003).

Sem pretendermos reduzir a complexidade social à dinâmica libidinal, podemos apostar


que a inscrição dessa diversidade se estrutura no sujeito, de um modo plural e se manifesta no
indivíduo de forma singular, particular e regida por uma construção social e histórica.
25

Ora, esses que exercem as funções paternas e maternas para um novo sujeito e que
sustentam e se sustentam frente a novos modos de subjetivação, somente o fazem a partir de
um discurso que se institui no social e em determinado movimento histórico, em seus saberes
e em suas ignorâncias, seus gozos e seus sofrimentos. É uma construção sempre a mercê do
previsível.

Para pensar nessa proposta de noção de sujeito na atualidade, Pinheiro e Herzog (2003)
afirmam o que vários estudiosos corroboram: estamos em tempos de ritmo alucinante, a partir
do qual se produzem verdades que se tornam mentiras, certezas que não se sustentam. Não se
tem tempo sequer para acreditar seja nos avanços tecnológicos, seja nos rumos que seguem a
humanidade em sua globalização, exploração, consumo, comunicação, alívio de sofrimento e
novas patologias. Na construção desse sujeito contemporâneo, constatamos uma pulverização
na pluralidade de modos de subjetivação.

A partir disto, podemos nos perguntar sobre os efeitos desses fatores presentes na não
rara construção de lugares vazios em que o sujeito se depara na sua construção contemporânea
e, em decorrência, seu aprisionamento na melancolia e na busca de um gozo tão rápido que não
há lugar nem para o prazer e muito menos para o desprazer. É verdade que temos aí a construção
de um narcisismo frágil, mas com potências, possibilidades e dificuldades para serem levadas
em conta nas reflexões sobre a noção de sujeito em nosso tempo. Porém, somos sabedores que
essa é apenas uma das possibilidades de se pensar nos modos de subjetivação na
contemporaneidade.

Ressaltamos aqui outro elemento para pensar essa noção de subjetividade ampliada, ou
seja, que entrelaça o sujeito ao discurso social, e que é pontualmente trabalhado por Foucault,
quando ele teoriza sobre as relações de poder. Para tanto recorremos a Peixoto Júnior (2004),
que, nesta perspectiva, aponta que podemos considerar que o poder não atua simplesmente
oprimindo ou dominando as subjetividades, mas operando na sua própria construção, o que nos
permite investigar de forma detalhada aquilo que se encontra na base de sua formação.
Salientamos que a função materna e as interdições paternas têm lugar primordial. Destacamos
fortemente a possibilidade de realizar um paralelo com o pensamento psicanalítico ao
tomarmos em análise o viés da proibição. Embora estejamos em domínios teóricos diferentes,
ousamos sugerir que as noções de subjetividade e sujeito se enlaçam.

Como diz Peixoto Junior (2004), a subjetividade procura o signo de sua existência fora
de si mesma, num discurso ao mesmo tempo dominante e indiferente. Como estas categorias
sociais são as que supostamente garantem a existência subjetiva, a submissão parece ser o preço
a pagar. À medida que uma verdadeira escolha é aparentemente impossível, tendemos a nos
subordinar como única possibilidade de existência, pois essa somente é possível através dos
cuidados do outro. Somos absurdamente vulneráveis diante do outro e, ao mesmo tempo,
mesmo que paradoxalmente, carregamos a sua potência para o desenlace, mesmo que ilusório,
deste enredamento.

Todo processo de construção deste sujeito é realizado no coletivo e, por ser uma obra
de autoria coletiva, em maior ou em menor medida, a história pode lhe escapar. Assim,
26

inserido neste cenário de múltiplas singularidades que se entrecruzam, ele realiza a sua história
e a dos outros, na mesma medida em que é realizado por ela, sendo, por isso, produto e produtor,
simultaneamente. Ele não a realiza como bem entende, mas também não se constitui como um
objeto dela, podendo realizá-la de uma forma mais ou menos alienada, sempre em função de
um projeto.

Simultaneamente fuga e salto para frente, recusa e realização, o projeto retém e revela
a realidade superada, recusada pelo movimento mesmo que a supera (Sartre, 1984, p. 152).

Ao realizar um ato qualquer, o sujeito o escolhe dentre alguns possíveis, em uma


determinada situação específica. Escolher é, unicamente, atuar, realizar qualquer coisa no
mundo concreto e isto, na maior parte das vezes, não envolve grandes reflexões ou
posicionamentos.

Assim, seu significado corresponde, simplesmente, à objetivação da subjetividade que


se concretiza a partir das determinações do contexto, do passado e em função do ainda-não-
feito, do futuro. Acontecendo sempre de forma mais ou menos alienada, a escolha é a definição
dos possíveis e impossíveis presentes no contexto. Ao escolher, singularizo a possibilidade ou
a impossibilidade coletiva, tornando-a individual, pois a interiorizo e exteriorizo na
coletividade, mesmo que não me reconheça nesta ação.

Constituir-se como sujeito é, nesta perspectiva, realizar a dialética do objetivo e do


subjetivo, já que o sujeito existe como subjetividade objetivada, que pela subjetividade
(negação), se objetiva novamente, encontrando, por meio da subjetividade (negação), uma
nova objetivação e assim infinitamente.

A TEORIA PSICOSSOCIAL DE ERIKSON

Em meados do século XX, Erikson começa a construir sua teoria psicossocial do


desenvolvimento humano, repensando vários conceitos de Freud, sempre considerando o ser
humano como um ser social, antes de tudo, um ser que vive em grupo e sofre a pressão e a
influência deste. A partir desta consideração, Erikson formula sua teoria de forma a deixar suas
importantes contribuições à Psicanálise.
Erik Erikson propôs uma concepção de desenvolvimento humano em 8 fases (ou
estágios) psicossociais, perspectivados, por sua vez, em oito idades que decorrem do
nascimento até a morte, pertencendo as quatro primeiras ao período de bebê e de infância, e as
três últimas aos anos adultos e à velhice. Cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial,
sendo uma vertente positiva e uma negativa.
A teoria de Erik Erikson dá especial importância ao período da adolescência,-
notadamente por ser uma transição entre a infância e a idade adulta, onde ocorrem
acontecimentos relevantes para a o desenvolvimento da personalidade adulta.
Na Teoria Psicossocial do Desenvolvimento, este se dá em 8 fases e cada fase
contribui para a formação da personalidade total (princípio epigenético), consiste nas
modificações das funções genéticas que são herdadas, mas que por sua vez não alteram a
sequência do DNA do indivíduo. O núcleo de cada fase/estágio é uma crise básica, que existe
não só durante aquele estágio específico, apenas será mais proeminente em cada fase, trazendo
raízes prévias dos estágios anteriores e com consequência para os estágios posteriores.
27

Para Erikson, a formação da identidade inicia-se nos primeiros quatro estágios e


o senso desta ocorre na adolescência, evoluindo e influenciando os últimos três estágios.
Erikson perspectivava em sua teoria o desenvolvimento tendo em conta aspectos de
cunho biológico, individual e social.
A teoria psicossocial em análise enfatizava o conceito de identidade, a qual se forma
no 5º estágio, e o de crise que sem possuir um sentido dramático está presente em todas as
idades, sendo a forma como é resolvida determinante para a resolução, na vida futura, dos
conflitos.

As 8 Fases do Desenvolvimento Psicossocial em Erik Erickson

1. Confiança X Desconfiança (até um ano de idade)


Durante o primeiro ano de vida a criança é substancialmente dependente das pessoas
que cuidam dela, requerendo cuidado quanto à alimentação, higiene, locomoção, aprendizado
de palavras e seus significados, bem como estimulação para perceber que existe um mundo em
movimento ao seu redor. O amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir
que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no mundo.

2. Autonomia X Vergonha e Dúvida (segundo e terceiro ano)


Neste período a criança passa a ter controle de suas necessidades fisiológicas e
responder por sua higiene pessoal, o que dá a ela grande autonomia, confiança e liberdade para
tentar novas coisas sem medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou ridicularizada
desenvolverá vergonha e dúvida quanto a sua capacidade de ser autônoma, provocando uma
volta ao estágio anterior, ou seja, a dependência.

3. Iniciativa X Culpa (quarto e quinto ano)


Durante este período a criança passa a perceber as diferenças sexuais, os papéis
desempenhados por mulheres e homens na sua cultura (conflito edipiano para Freud)
entendendo de forma diferente o mundo que a cerca. Se a sua curiosidade “sexual”
e intelectual, natural, for reprimida e castigada poderá desenvolver sentimento de culpa e
diminuir sua iniciativa de explorar novas situações ou de buscar novos conhecimentos.

4. Construtividade X Inferioridade (dos 6 aos 11 anos)


Neste período a criança está sendo alfabetizada e frequentando a escola, o que propicia
o convívio com pessoas que não são seus familiares, o que exigirá maior sociabilização,
trabalho em conjunto, cooperatividade, e outras habilidades necessárias. Caso tenha
dificuldades o próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a inferioridade em vez da
construtividade.

5. Identidade X Confusão de Papéis (dos 12 aos 18 anos)


O quinto estágio ganha contornos diferentes devido à crise psicossocial que nele
acontece, ou seja, Identidade Versus Confusão. Neste contexto o termo crise não possui uma
acepção dramática, por tratar-se de a algo pontual e localizado com pólos positivos e negativos.
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6. Intimidade X Isolamento (jovem adulto)


Nesse momento o interesse, além de profissional, gravita em torno da construção de
relações profundas e duradouras, podendo vivenciar momentos de grande intimidade e entrega
afetiva. Caso ocorra uma decepção a tendência será o isolamento temporário ou duradouro.

7. Produtividade X Estagnação (meia idade)


Pode aparecer uma dedicação à sociedade à sua volta e realização de valiosas
contribuições, ou grande preocupação com o conforto físico e material.

8. Integridade X Desesperança (velhice)


Se o envelhecimento ocorre com sentimento de produtividade e valorização do que foi
vivido, sem arrependimentos e lamentações sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos
haverá integridade e ganhos, do contrário, um sentimento de tempo perdido e a
impossibilidade de começar de novo trará tristeza e desesperança.

INSTRUMENTAÇÃO DOS CONHECIMENTOS NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO

A caracterização do cuidar em enfermagem é antiga e baseia-se na promoção,


manutenção e recuperação das necessidades básicas do indivíduo, em especial quando atingido
em sua integridade física e mental. Uma das primeiras descrições existentes sobre a
enfermagem é de autoria de Florence Nightingale, em 1859, que definiu a enfermagem como
a área que tem a responsabilidade pela saúde de alguém, colocando o paciente em condições
tais que permitam a natureza agir sobre ele.
A enfermagem é uma das profissões da área da saúde cuja essência e especificidade é o
cuidado com o ser humano, individualmente, na família ou na comunidade, desenvolvendo
atividades diversas. Ela se responsabiliza pelo conforto, acolhimento e bem-estar dos pacientes,
seja prestando o cuidado, seja coordenando outros setores para a prestação da assistência e
promovendo a autonomia dos pacientes por meio da educação em saúde. Para que esse cuidado
seja prestado com eficácia, foi necessária a normatização das atividades para que esses
profissionais soubessem qual a sua real função em uma equipe multiprofissional.
De acordo com a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a
regulamentação do exercício da enfermagem, e dá outras providências, a enfermagem e suas
atividades auxiliares somente podem ser exercidas por pessoas legalmente habilitadas e
inscritas no Conselho Regional de Enfermagem, com jurisdição na área onde ocorre o
exercício, sendo exercida privativamente pelo enfermeiro, técnicos e auxiliares de enfermagem
e pelas parteiras, respeitados os respectivos graus de habilitação.
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) tem como objetivo normatizar e
fiscalizar o exercício da profissão de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, zelando
pela qualidade dos serviços prestados pelos participantes da classe e pelo cumprimento da Lei
do Exercício Profissional; já o Conselho Regional de Enfermagem (COREN) é uma entidade
autônoma (autarquia pública federal), vinculada ao Poder Executivo, atuando na esfera da
fiscalização do exercício profissional, sendo que os profissionais de enfermagem (enfermeiros,
técnicos, auxiliares e parteiras) só podem exercer a profissão com o devido registro e
consequente número de inscrição do sistema COFEN/COREN.
Com a normatização e profissionalização da enfermagem, o campo de atuação se
expandiu, passando o enfermeiro e sua equipe a atuar legalmente em vários setores. Um dos
29

campos em ascensão na atuação da enfermagem está na Estratégia Saúde da Família (ESF),


conforme normas do Ministério da Saúde (MS). Para que uma equipe possa existir, dentro dela
deve obrigatoriamente, estar inserido um profissional enfermeiro e um auxiliar e/ou técnico de
enfermagem. A enfermagem está diretamente ligada ao ESF, com o propósito de reorganizar a
prática da atenção à saúde em novas bases e substituir o modelo tradicional, levando a saúde
para mais perto da família, melhorando, com isso, a qualidade de vida dos brasileiros
Em todo o mundo, a enfermagem constitui o maior contingente da força de trabalho em
cuidados à saúde. É o grupo profissional mais amplamente distribuído e com os mais diversos
papéis, funções e responsabilidades.
Sabe-se que, no Brasil, a enfermagem absorve a maioria do cuidado à saúde, dentre os
quais estão os profissionais de enfermagem. A enfermagem trabalha como equipe, mas esta,
por sua vez, apresenta competências bem distintas, contidas na Lei nº 7.498/86 e no Decreto nº
94.406/87.
A enfermagem é exercida por três categorias: o enfermeiro, o técnico e o auxiliar de
enfermagem - e isso pode gerar confusão em relação ao que compete a cada um. Nesse olhar,
é fundamental o conhecimento específico de cada profissional sobre sua função, para que a
população receba um atendimento qualificado e efetivo, bem como seja garantida a legalidade
das ações do profissional e da equipe.
Ao enfermeiro cabem tarefas diretamente relacionadas com sua atuação com o cliente,
liderança da equipe de enfermagem e gerenciamento de recursos físicos, materiais, humanos,
financeiros, políticos e de informação para a prestação da assistência de enfermagem. Do
enfermeiro são exigidos conhecimentos, habilidades, atitude adequada para desempenhar seu
papel e, acima de tudo, idoneidade para que os membros de sua equipe tenham competência
para executar as tarefas que lhes são destinadas.
O enfermeiro líder distingue cada funcionário como um indivíduo único, determinado
por diferentes fatores, identifica os sistemas de valores individuais e coletivos, programa um
sistema de recompensas coerente com esses valores e mantém uma imagem positiva e
entusiasmada como modelo a ser seguido pelos subordinados, no local de trabalho.
Os profissionais de saúde, em seu âmbito de atuação, devem estar aptos a desenvolver
ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual
quanto coletivo. Na visão de Fleury, cada profissional deve assegurar que sua prática seja
realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo
capaz de pensar criticamente, analisar os problemas da sociedade e procurar solucioná-los. Os
profissionais devem realizar seus serviços de acordo com os mais altos padrões de qualidade e
princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se
encerra com o ato técnico, mas, sim, com a resolução do problema de saúde.

PSICOLOGIA E O ATENDIMENTO AOS PACIENTES E FAMILIARES

A atuação do psicólogo no âmbito hospitalar faz parte de uma estratégia da psicologia


da Saúde que busca construir, na atenção terciária, intervenções em uma perspectiva integral
do sujeito, ou seja, em seus aspectos físicos, sociais e psicológicos. A psicologia hospitalar,
então, se ocupa da atuação do psicólogo junto às pessoas que atravessam momentos ou fases
de sofrimento causadas pela experiência de adoecimento e hospitalização (AZEVÊDO;
CREPALDI, 2016).
Para Domingues et al. (2013), a responsabilidade primordial do psicólogo é aliviar o
sofrimento do paciente assim como dos seus familiares. A doença e a hospitalização mudam
significativamente a rotina do paciente assim como da sua família. Ambos tendem a passar
30

por intensas vivências afetivas de medo, pena, culpa e impotência, assim como frequências
elevadas de estresse, distúrbios do humor e ansiedade. Na busca de favorecer o melhor
enfrentamento e respostas a essas experiências, o apoio de outros membros da família, amigos,
vizinhos, representantes religiosos que tendem a ajudar o paciente a enfrentar o dia a dia
angustiante é importante. Ao atravessar esses momentos de crise juntos, o paciente, a família
e os grupos de apoio tendem a se aproximar e fortalecer os vínculos já existentes. Isso pode
operar para tornar a crise um momento de recuperação e até mesmo de crescimento pessoal
(SANTOS et al., 2013; LUSTOSA, 2007).
A necessidade atendimento psicológico torna-se mais evidente quando o processo de
adoecimento mobiliza vivência, frustrações, arrependimentos, preocupações e culpabilidade
nos familiares e cuidadores da doença. Nessas circunstâncias, a atuação do psicólogo no
contexto hospitalar também se refere à mediação na comunicação da tríade paciente-família-
equipe. Quando o psicólogo pode exercer de forma plena as suas funções, a escuta, assim como
a fala do psicólogo e outros profissionais de saúde, tende a mobilizar no paciente e em seus
familiares o sentimento de acolhimento e conforto diante da situação vivenciada (VOLLES;
BUSSOLETTO; RODACOSKI, 2012).
Oferecer apoio psicológico ao familiar faz parte do tratamento e é elemento
fundamental para conseguir lidar com essas necessidades. Sendo assim, Ismael (apud Moreira
et al., 2012) enfatiza a importância de o psicólogo trabalhar com a possibilidade do familiar
acompanhante permanecer próximo ao paciente estando ciente dos fatos que acontecem quanto
aos procedimentos que envolvem a internação, além de o familiar ser coadjuvante na interação
com os outros familiares.
Nesse sentido, Soares (2007, p. 482) ressalta que o familiar acompanhante necessita
[…] estar próximo ao paciente; sentir-se útil para o paciente;
ter ciência das modificações do quadro clínico; compreender o que está
sendo feito no cuidado e porque; ter garantias do controle do sofrimento
e da dor; estar seguro de que a decisão quanto a limitação do tratamento
curativo foi apropriada; poder expressar os seus sentimentos e
angústias; ser confortado e consolado […].

Em vista dessa realidade, o psicólogo deve apresentar-se como mediador qualificado


nesse processo e promover estratégias que possam fortalecer a função dos familiares e
cuidadores frente ao paciente e seus familiares, identificando as necessidades das famílias dos
pacientes hospitalizados e intervindo para auxilia-los (MOREIRA et al., 2012; CREPALDI,
1999). Na busca de compreender melhor essa realidade do atendimento psicológico em
hospitais, foi realizado um levantamento junto aos familiares acompanhantes de pacientes
hospitalizados com o objetivo de verificar, na visão dos familiares acompanhantes, como é
percebido esse atendimento e se esse atendimento é sentido como satisfatório às suas
necessidades.

A presença do Psicólogo Hospitalar se torna fundamental, e pode funcionar como o


diferencial deste momento existencial familiar. Este profissional traz , com sua compreensão
teórica e habilidade técnica, a possibilidade de auxílio na reorganização egóica do todo
familiar, frente ao sofrimento atual. Facilita a elaboração de fantasias, medos e angústias
próprios de um momento como este. Pode dar suporte ao enfrentamento da dor , sofrimento e
medo da perda do paciente.

Tarefa fundamental deste profissional é a detecção de focos de ansiedade e de dúvidas


entre o grupo familiar, levando à sua extinção ou diminuição. Além destas tarefas, ao
Psicólogo Hospitalar deve também caber a aproximação do grupo familiar à equipe de saúde,
31

facilitando a comunicação entre eles , para que contribuam para o tratamento do membro
necessitado.

Enfim, cabe ainda ressaltar a importância da Psicologia Hospitalar neste momento, no


sentido de detecção e reforço de defesas egóicas adaptativas a este momento de crise familiar,
com intuito de facilitar o enfrentamento de todos a este difícil momento vivido.

Este profissional também se faz necessário no apoio à reestruturação da estrutura


familiar, que neste momento pode ter sido fortemente abalada, e consequentemente,
comprometer o enfretamento de toda esta situação de crise.

Como o Psicólogo Hospitalar funciona aqui como ponto de referência entre Saúde e
Doença, sua presença se faz de importante valia para o apoio psicológico necessário aos
parentes do enfermo internado.

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E PREVENÇÃO EM SAÚDE MENTAL:


NA INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA FASE ADULTA, GRAVIDEZ, PARTO,
PUERPÉRIO, VELHICE E AS FUNÇÕES DO TÉCNICO EM ENFERMAGEM

A Psicologia do Desenvolvimento Humano, estuda o desenvolvimento do ser


humano nos aspectos: intelectual, social, físico, emocional, desce o nascimento até a idade
adulta. Ela estuda como a cognição se desenvolve e como o comportamento muda durante a
fase de crescimento, trazendo uma multiplicidade de conhecimentos para o campo da
psicologia aplicada.
O desenvolvimento é um processo contínuo que tem início desde a concepção, e tem
continuidade após a fecundação do óvulo, percorrendo a partir da subdivisão celular até que
milhões de células sejam formadas. À medida que as células assumem funções especializadas,
dá-se início a formação dos sistemas que dão base para a parte física do desenvolvimento.
Porém, o desenvolvimento físico, cognitivo, social, afetivo tem continuidade durante todas as
fases da vida de um sujeito e termina com a morte.
A psicologia do desenvolvimento traz uma compreensão sobre as transformações
psicológicas que ocorrem no decorrer do tempo, com auxílio de algumas teorias e teóricos, bem
como Jean Piaget, esses modelos se propõem em explicar como as mudanças ocorrem na vida
do sujeito e de que modo podem ser compreendidas e descritas.
Tradicionalmente, os primeiros estudos referentes à psicologia do desenvolvimento
faziam menção somente ao desenvolvimento da criança e do adolescente. Entretanto, esse foco
vem mudando ao longo dos anos, e hoje, tem-se uma ideia que o estudo sobre o
desenvolvimento humano deve abranger todo processo de ciclo vital.
De acordo com GERRIG (2005) os psicólogos do desenvolvimento propõem teorias
para explicar como e por que as pessoas mudam durante a vida. Eles utilizam investigações
normativas para descrever as características de determinadas idades ou estágios do
desenvolvimento. Os estudos longitudinais acompanham os mesmos indivíduos com o passar
do tempo; os modelos transversais estudam simultaneamente diferentes grupos etários.
Papalia e Olds (2000), por exemplo, definem desenvolvimento como “o estudo
científico de como as pessoas mudam ou como elas ficam iguais, desde a concepção até a
morte” .
Biaggio (1978) argumenta que a especificidade da psicologia do desenvolvimento
humano está em estudar as variáveis externas e internas aos indivíduos que levam as
32

mudanças no comportamento em períodos de transição rápida (infância, adolescência e


envelhecimento).
As investigações normativas se caracterizam como um conjunto de procedimentos que
avaliam como seria uma pessoa, em termo de aparência física, habilidades cognitivas, com a
finalidade de descrever aquilo que caracteriza uma determinada idade ou estágio do
desenvolvimento.

Prevenção em saúde mental: na infância

Do ponto de vista da saúde mental infantil, a compreensão das etapas de


desenvolvimento do ciclo vital é fundamental, é nela que se estrutura o psiquismo e se
constituem os recursos essenciais numa perspectiva de evolução. Dentro deste âmbito é
necessário percebermos que se tornaram comuns os problemas infantis de foro psiquiátrico,
que um número significativo destes problemas podem ter um mau prognóstico e que muitas
das perturbações da idade adulta têm as suas raízes em fatores de risco da infância.
Uma intervenção inicial na promoção de competências que visem aumentar o bem- estar
pode ter efeitos preventivos importantes, como é o caso do aumento da autoestima e da
diminuição do comportamento antissocial.
Estima-se que milhões de crianças apresentando sintomas psicológicos relacionados a
problemas de aprendizagem, de conduta, de depressão; o transtornos do desenvolvimento, do
apego, de ansiedade; a transtornos alimentares; a abuso de substâncias, entre outros, não sejam
identificadas e não recebam atendimento (OMS, 2003). A longo prazo, esses transtornos podem
reduzir sua capacidade durante quase um terço das suas vidas. Em termos de prevalência, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que cerca de 20% de crianças e adolescentes
sofrem de algum transtorno mental. Além disto, o suicídio é a terceira causa de morte entre os
adolescentes, estando associado também ao surgimento de manifestações de Depressão Maior,
com efeitos ao longo da vida adulta. Outras manifestações são as condutas antissociais,
delinquência e uso de drogas que podem estar associadas às manifestações na infância de
agressividade e distúrbio do comportamento. Nos últimos anos, também têm sido mais
frequentes os quadros de transtornos alimentares e ansiedade.
As diretrizes da OMS (2003) apontam para uma abordagem dos problemas de saúde
mental na infância a partir da perspectiva da compreensão, da intervenção e da elaboração de
políticas públicas para o enfrentamento da questão. Portanto, planejar intervenções visando à
saúde mental da criança e do adolescente, incrementando e potencializando serviços de
atendimento nesta área, analisar a complexidade das situações adversas e de risco, identificando
seu reflexo nas trajetórias de desenvolvimento (individual, familiar, escolar, social e
comunitária), são estratégias fundamentais tanto no âmbito de prevenção dos problemas como
de intervenção.
Os fatores de risco para problemas de saúde mental a que as crianças e adolescentes
estão expostos podem ser agrupados da seguinte forma: fatores biológicos, relacionados a
anormalidades do sistema nervoso central, causadas por lesões, infecções, desnutrição ou
exposição a toxinas; fatores genéticos, relacionados à história familiar de depressão,
esquizofrenia, por exemplo; fatores psicossociais, relacionados a disfunções na vida familiar,
discórdia conjugal, psicopatologia materna, criminalidade paterna, falta de laços afetivos entre
pais e filhos; eventos de vida estressantes, relacionados à morte ou à separação dos pais, entre
outros; exposição a maus-tratos (abuso físico e sexual, por exemplo); e fatores ambientais,
relacionados a comunidades desorganizadas.
O trabalho do psicólogos está focado no fortalecimento dos vínculos familiares de afeto,
confiança e segurança, constitui recurso potente para se alcançar o desenvolvimento
33

integral das crianças. Visa também à promoção das competências da família para cuidar,
proteger e educar suas crianças, impactando na autoestima e saúde emocional intrafamiliar.
A ciência tem comprovado a importância dos vínculos saudáveis no ambiente familiar
como elemento crucial para a saúde psicoemocional da criança e, por extensão, das relações
desta com o mundo. A qualidade das relações iniciais tem um impacto vital de longo prazo no
modo como as pessoas desenvolvem suas habilidades para aprender e regular emoções.
Vínculos afetivos adequados têm um valor adaptativo para o bebê, garantindo que suas
necessidades socioemocionais e físicas sejam satisfeitas, ao mesmo tempo que permanecem
em parâmetros de dinâmica de funcionamento saudável.
Famílias afetivas, cuidadosas e coerentes constituem referência segura para o
desenvolvimento integral de suas crianças. Sabe-se que um forte e seguro apego têm a função
biológica protetiva de “imunizar” o bebê em algum nível de proteção contra as adversidades
causadas por futuros estresses ou traumas. A ausência desta proteção faz surgir na criança
vulnerabilidades que lhe dificultarão o desenvolvimento socioemocional e até mesmo físico. O
impacto da indisponibilidade dos adultos para cuidar e proteger o bebê, afeta toda a estrutura
psíquica e cerebral, suas emoções e sentimentos para o resto da vida.

Prevenção em saúde mental: na gravidez, parto e puerpério

A gestação é um período de transição que faz parte do processo normal do


desenvolvimento humano. Há grandes transformações, não só no organismo da mulher, mas
no seu bem-estar, alterando seu psiquismo e o seu papel sócio-familiar.

A literatura indica que o período gravídico-puerperal é a fase de maior incidência de


transtornos psíquicos na mulher, necessitando de atenção especial para manter ou recuperar o
bem-estar, e prevenir dificuldades futuras para o filho. A intensidade das alterações
psicológicas dependerá de fatores familiares, conjugais, sociais, culturais e da personalidade
da gestante.

A depressão pós-parto é problema que afeta cerca de 10 a 15% de mulheres em muitos


países, havendo um número expressivo de pesquisas na área. Estudos atuais sugerem que a
depressão pré-natal pode ter sido negligenciada, havendo poucos estudos científicos que
procuram identificar alterações psicológicas durante a gestação.

Embora os resultados dos estudos sejam por vezes contraditórios e ainda insuficientes
do ponto de vista epidemiológico, há sugestões documentadas de que fatores psicológicos
podem acarretar complicações durante a gestação, o parto e o puerpério, bem como para o
concepto. Particularmente, esses fatores podem ser o estresse vivencial e ansiedade, atuando
principalmente durante a gravidez.

Zucchi, em revisão sobre a depressão na gestação nos últimos 10 anos, encontrou dois
grandes grupos de estudos. Aqueles que pesquisaram os fatores de risco para depressão na
gravidez, como as dificuldades econômicas e a falta de parceiro ou de suporte familiar e social;
e os que buscaram associar a depressão como fator de risco para certos desfechos obstétricos,
como prematuridade, o baixo peso ao nascer, a irritabilidade do bebê, ou mesmo a mortalidade
neonatal.

Estudos recentes referem que a tensão da gestante estimula a produção de determinados


hormônios que atravessam a barreira placentária atingindo o organismo do feto
34

em desenvolvimento. Dessa maneira, alteram a própria composição placentária e do ambiente


fetal.

É sabido que prejuízos na saúde mental da gestante podem também alterar a relação
mãe-feto e futuramente o desenvolvimento da criança, que inicialmente pode se expressar no
recém-nascido em forma de choro, irritabilidade ou apatia e futuramente provocar distúrbios
afetivos na idade adulta.

A atuação multiprofissional com gestantes deve abarcar a interação de muitos fatores.


Entre eles, a história pessoal, os antecedentes ginecológicos e obstétricos, o momento histórico
da gravidez, as características sociais, culturais e econômicas vigentes e qualidade da
assistência. A assistência integral deve ser capaz de proporcionar à mulher e ao concepto um
período satisfatório de bem-estar, visando o fortalecimento do vínculo mãe-feto.

Os profissionais que atuam com gestantes devem vê-las com uma "concepção de pessoa
humana", procurar estabelecer mecanismos de interação que desvelem as verdadeiras
necessidades e seus significados. Não devem assumir uma posição superior, vendo as gestantes
como pessoas indefesas, fracas e submissas. Se o serviço e os profissionais assumirem essa
posição de igualdade, respeito e confiança em relação às suas experiências e aprendizagens
adquiridas, a relação será de desenvolvimento emocional e de crescimento mútuo. Portanto, o
aspecto fundamental da assistência pré-natal eficiente, deve incluir o cuidar da mulher grávida
considerando as suas necessidades biopsicossociais e culturais.

Prevenção em saúde mental: na velhice

Para a saúde coletiva, o envelhecimento populacional se apresenta como um dos


maiores desafios, nos países em desenvolvimento, onde a pobreza e a desigualdade social
ganham destaque. Contudo, é importante ressaltar que essa transição demográfica reflete
ganhos para o Estado e para a sociedade, pois esse envelhecimento da população é produto da
redução da fecundidade, da mortalidade infantil e da mortalidade nas idades mais avançadas.

O envelhecimento deve ser percebido com a naturalidade que lhe é intrínseca. E as


pessoas envelhecidas deverão aprender a conviver positivamente com as limitações adquiridas,
mantendo-se em atividade até alcançar idades mais avançadas. Esse envelhecimento deve ser
compreendido como um processo, e a pessoa idosa como um indivíduo.

Ao alcançar a terceira idade, alguns indivíduos podem apresentar quadros psiquiátricos


que chegam a ser comuns nessa faixa etária. Tais prejuízos mentais, de modo geral, incluem a
demência, estados depressivos ou quadros psicóticos que são iniciados tardiamente. Contudo,
há casos em que o transtorno teve início na juventude e o indivíduo alcançou a terceira idade,
como por exemplo, a esquizofrenia, o transtorno afetivo bipolar, a distimia e transtornos
ansiosos.

Logo, qualquer das situações referidas acarreta prejuízo sob a ótica funcional, assim
como para a qualidade de vida. Vale salientar que parte considerável desses transtornos
apresenta significativa melhora através de tratamento medicamentoso, somente, ou em
35

conjunto com outras formas de terapia. A depressão é uma das doenças que atingem
frequentemente os idosos, potencializando a probabilidade do desenvolvimento de
incapacidade funcional. É uma patologia que demanda atenção, particularmente quando se dá
pela primeira vez na terceira idade. Além de que, há casos em que os estados depressivos não
são percebidos e, consequentemente, não tratados. E isso, compromete a saúde do idoso em
intensidade relevante, a ponto de acarretar aumento da mortalidade por essa causa nessa faixa
etária.

É sabido que o tratamento da depressão no idoso deve primar primeiramente pela


promoção da saúde e reabilitação psicossocial, e ainda prevenir possíveis recorrências,
agravamento de outras patologias presentes e até mesmo o suicídio. Além disso, deverá
melhorar a condição cognitiva e funcional do idoso e auxiliá-lo no enfrentamento das
dificuldades. De tal modo que, para melhor tratar o idoso, deve-se fazer uso de algumas opções
terapêuticas, como o atendimento individual, em que são prestadas orientações e
acompanhamento, psicoterapia e farmacoterapia; atendimento em grupo; atividades
comunitárias e atendimento à família.

Saúde mental do técnico de enfermagem

Além de todos os conhecimentos próprios da sua área de atuação, o auxiliar de


enfermagem precisa estar atento para o seu estado interno, isto é, como vem se sentindo, como
anda sua relação com os colegas de trabalho, com os pacientes, seus relacionamentos fora do
trabalho, pois quando trabalhamos com Saúde Mental nós mesmos passamos a ser nosso mais
importante instrumento de trabalho.

Como é que podemos saber como vamos nós, enquanto “instrumentos de trabalho”?
Estando atentos para nós mesmos e para o retorno que outras pessoas nos dão. Estando atentos
para a maneira como nos sentimos com cada pessoa, não achando sempre, por exemplo, que se
nos sentimos irritados com tal paciente é porque ele é que é difícil ou chato, mas tentar perceber
o que se passa conosco. Nesse sentido, as reuniões com a equipe podem ser um bom momento
de auto-avaliação, se for criado o “clima” adequado para isso (com o objetivo voltado para a
integração da equipe e para a qualidade do atendimento, e não para a competitividade e
comparações improdutivas).

Esse ir-e-vir emocional causa aos enfermeiros desgastes emocionais e estresse que
precisam ser gerenciados. Por isso, é importante considerar a dimensão emocional do cuidado,
sem se esquecer de cuidar das próprias emoções.

Ao lidar diariamente com a situação de saúde e com os contextos emocionais e


significados desse adoecer para o cliente, além de ter que lidar com as próprias emoções
pessoais, o enfermeiro precisa aprender a gerenciar as emoções geradas no ambiente de
trabalho pelo ato de cuidar.

Quando esse gerenciamento de emoções falha, os profissionais acabam experimentando


as respostas emocionais do sofrimento dos outros. Para tanto, precisam
36

considerar o trabalho emocional como parte do serviço, para que se mantenham


emocionalmente estáveis e possam continuar a cuidar do outro.

O trabalho emocional é definido como a indução ou supressão de sentimentos, a fim de


manter uma aparência exterior que produz nos outros uma sensação de segurança e bem- estar
ao ser cuidado. Caracteriza-se pelo contato face a face e pela voz, com o uso da linguagem
verbal e não verbal, intencionando suscitar no outro boas emoções.

A estratégia facilita a relação entre o enfermeiro e o paciente e possibilita um processo


de trabalho mais fluido e prazeroso. Consiste em uma habilidade a ser treinada para que o
trabalhador exerça controle sobre suas próprias emoções e sobre as emoções do paciente.

Apesar do manejo de emoções não ser uma atitude bem-vista socialmente, o trabalho
emocional precisa ser considerado uma realidade necessária ao bom andamento dos serviços
de enfermagem. Pois o lidar diário com pacientes, acompanhantes e colegas de trabalho aflora
emoções diversas no profissional, que muitas vezes são contraditórias e prejudicam o clima
organizacional.

Dentre os fatores causadores destes sintomas, encontramos facilmente o estresse. Além


de todo o estresse do dia-a-dia, o auxiliar de enfermagem que trabalha com Saúde Mental está
sujeito a um fator de estresse adicional, que é o fato de lidar frequentemente com pessoas com
transtorno mental, que além de solicitarem muito de nossas energias ainda “mexem” com
coisas mal resolvidas em nossas vidas, pois todos somos humanos e, no contato com o outro,
sempre descobrimos muitos pontos em comum.

Talvez algumas “DICAS” possam fazer com que você reflita e consiga algumas
mudanças que podem reduzir o nível de estresse a que você se expõe. Embora sejam para seu
uso pessoal, podem colaborar para o seu desempenho profissional:

Procure ser cooperativo - Perceber que trabalhamos (e vivemos!) junto de outras pessoas e
que elas são tão importantes quanto nós, ajuda a estabelecer um clima de cooperação.

Ouça as razões do outro e expresse as suas - Evitar acumular mágoas e mal entendidos
diminui em muito a carga de tensão que temos que carregar.

Não “empaque” diante dos problemas - Ao invés de ficar se queixando da vida (ainda que
seja só em pensamento), tome uma atitude, mude algo que esteja ao seu alcance. Pode não
resolver todo o problema, mas uma mudança sempre nos dá uma nova visão do problema.

Reconheça e aceite os seus limites - Você não pode resolver tudo, sempre. Diante de algo que
está fora do seu alcance, aprenda a aguardar. Diante de uma tarefa muito grande, aprenda a
dividir e a pedir ajuda.

Fale de você, compartilhe seu estresse - Falar sobre o problema nos ajuda a pensar melhor
sobre ele, alivia e acalma. Procure alguém de sua confiança ou um profissional, se você achar
que seu problema é muito grave.
37

Cuide de você mesmo - Reserve um tempo para fazer o que você gosta. Pode ser que nem
sempre você consiga fazer tudo o que gosta, mas sempre poderá descobrir alguma coisa. Faça
exercícios físicos (caminhar é grátis e é ótimo), melhore sua alimentação, evite álcool, cigarros,
meios inadequados de baixar a ansiedade. Medicações psicoativas? Só depois de uma boa
avaliação médica.

Comemore cada vitória - Não fique esperando o ideal de sua vida para ser feliz. Procure
perceber as pequenas vitórias e alegrar-se com elas. Com isso você se dá pequenas “folgas” no
estresse diário.

DESENVOLVENDO O PAPEL DO TÉCNICO EM ENFERMAGEM NO CAMPO


EMOCIONAL

A dimensão emocional do cuidado de enfermagem

A dimensão emocional do cuidado de enfermagem perpassa por diversas formas de


cuidar. É de difícil identificação na literatura quando buscada pelo termo dimensão emocional,
mas facilmente encontrada em referência ao cuidado subjetivo ou emocional. Pode ser definida
como aquela que vai além do tratamento do corpo e acontece no encontro entre duas pessoas,
em que uma delas busca atender às necessidades da outra se utilizando de instrumentos
científicos e, principalmente, de um posicionamento sensível e humano.
É preciso existir uma inter-relação entre o cuidado científico objetivado e o cuidado
subjetivo, afetivo e implicado. Este último inclui um olhar atento aos diversos aspectos da
humanidade, pois além de um fazer técnico fundamentado em princípios científicos, precisa
estar envolvido em ternura e respeito.
Entre as habilidades que os enfermeiros são estimulados a cultivar no exercício do
cuidado, estão: empatia, amor, devoção, compreensão. Ou seja, tudo aquilo que os ligue
emocionalmente aos sujeitos foco do cuidado.
A enfermagem, como ciência do cuidar, não pode permanecer desligada ou indiferente
às emoções humanas, pois o processo de cuidar é relacional e as relações são um meio de
comunicação e libertação de sentimentos humanos.6
As emoções sempre estão presentes nas relações de cuidado e conferem humanidade às ações
de enfermagem, pois o cuidar só existe à medida que existe envolvimento, interesse e
engajamento ao buscar conhecer o sujeito.
A arte de cuidar pressupõe empatia, ou seja, o envolvimento e a participação na
experiência do outro, a compreensão dos significados e vivência de seus sofrimentos e
angústias por solidariedade.
O atendimento de enfermagem a pacientes em situações de saúde complicadas requer do
enfermeiro disposição e equilíbrio que o permitam oferecer apoio e conforto além dos cuidados
básicos de saúde.
Em situações em que a cura não é mais uma possibilidade, o cuidado emocional se faz
ainda mais necessário. Por isso, a atenção à dimensão emocional do paciente deve assumir,
juntamente com o exímio controle de dor e sintomas, papel central na assistência oferecida
pelos profissionais de saúde.
38

O potencial terapêutico do envolvimento interpessoal entre enfermeiros e pacientes é


um possível espaço de intervenção e escuta, uma vez que a enfermagem é a profissão cuja
característica prioritária é a permanência junto ao paciente para o qual se desenvolve o cuidado.
Realizar um cuidado de enfermagem a partir de uma dimensão emocional implica ir além do
obvio. É ser capar de detectar e reconhecer o subjetivo por trás das palavras e estar atento e
sensível a cada gesto, olhar e expressão.
A atenção às necessidades mais elevadas do ser humano requer escuta ativa e interações
mais prolongadas que permitam a formação de relacionamento terapêutico, vínculo e
confiança. Assim, os cuidados de atenção à saúde são reajustados de forma que o indivíduo se
torna centro do processo de cuidado, participando de seu planejamento e execução.

Técnico de enfermagem na atuação da Saúde mental do paciente

O princípio que rege a Enfermagem é a responsabilidade de se solidarizar com as


pessoas, os grupos, as famílias e as comunidades, objetivando a cooperação mútua entre os
indivíduos na conservação e na manutenção da saúde.

É comum que a grande maioria dos enfermeiros reconheça como ações dentro de um
tratamento de saúde mental apenas a administração de remédios e o encaminhamento do
paciente para serviços especializados. No entanto, o atendimento da enfermagem deve ir muito
além, acolhendo e escutando o paciente com atenção e cuidado.

O enfermeiro que está tendo o primeiro contato com um paciente que sofre de
transtornos mentais deve aprender a direcionar a sua atenção em primeiro lugar no paciente e
nas suas necessidades. Como esse primeiro contato pode ser estressante, uma assistência
humanizada e diferenciada será de grande valia para o sucesso do tratamento.

Escutar o paciente com atenção e interesse e, principalmente, valorizar a comunicação


não verbal, devem ser peças-chaves em todos os atendimentos.

Para o enfermeiro que nunca teve nenhum contato com a área de saúde mental, a falta
de procedimentos invasivos parece incoerente. No entanto, a comunicação é um poderoso
instrumento transformador nas relações entre profissionais e pacientes.

A construção de um vínculo de confiança entre enfermeiro e paciente é a melhor ação


terapêutica para esses casos.

Além disso, é preciso que o enfermeiro esteja preparado para:

• Realizar avaliações biopsicossociais da saúde;


• Criar e implementar planos de cuidados para pacientes e familiares;
• Participar de atividades de gerenciamento de caso;
• Promover e manter a saúde mental;
• Fornecer cuidados diretos e indiretos;
• Controlar e coordenar os sistemas de cuidados;
• Integrar as necessidades do paciente, da família e de toda equipe médica.
39

Todos esses pontos, juntamente com uma relação terapêutica, trazem muitos benefícios
ao tratamento, como a redução da ansiedade e do estresse, o aumento do bem- estar, a melhora
da memória, da qualidade de vida e das funções psíquicas e a reintegração social do paciente.

Nestes casos, as ações de enfermagem devem começar com uma entrevista, com o
profissional ouvindo atentamente a queixa do paciente, mas também a sua história de vida, o
seu processo de adoecimento e os seus problemas emocionais. É preciso conversar com o
paciente e com a família para orientá-los sobre as ações mais eficazes para o tratamento
terapêutico.

Um enfermeiro deve estar qualificado para desenvolver as suas atividades com


pacientes com transtornos mentais, pois a demanda varia de acordo com estado psíquico de
cada paciente. O profissional deve estar preparado para saber lidar com as intercorrências que
podem acontecer, ficando muitas vezes mais vulnerável a efeitos negativos do trabalho.

Diante de uma situação como essa, é possível que apareça a dúvida de como atuar em
uma área que pode causar estresse e desgaste emocional, dificultando o desempenho no
trabalho e até a vida pessoal do enfermeiro.

A necessidade de uma constante capacitação para que os enfermeiros possam desenvolver


as habilidades necessárias para impedir que o seu trabalho diário com pacientes com
transtornos mentais influencie negativamente na sua vida pessoal, além da sua saúde física e
emocional, se faz fundamental.

PAPEL DO PROFISSIONAL DE SAÚDE E SUAS REAÇÕES FRENTE AO


PACIENTE E A EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

A Enfermagem constitui-se em um importante componente da equipe de saúde que


presta assistência a pacientes internados em instituições hospitalares, uma vez que é ela que
permanece as 24 horas do dia no hospital e que maior contato mantém com o paciente. Assim,
por ser a enfermagem que se faz mais presente junto ao paciente internado, poderia estabelecer
com ele a relação de ajuda necessária para prestar o cuidado.

A relação enfermeiro-paciente, também denominada relação de ajuda, relação de


pessoa-a-pessoa ou relacionamento terapêutico, tem sido não só objeto de estudo, mas também
um componente importante no discurso do ensino de enfermagem em várias áreas. Porém ela
tem sido mais aprofundada nas áreas de Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica uma vez
que nestas áreas se enfatiza a relação como o principal papel do enfermeiro.

O ser humano, como objeto de cuidado da enfermagem, é entendido como um ser


biopsicossocial, constituído de corpo, alma e espírito, que precisa ser cuidado em toda sua
complexidade. Entretanto, atender a toda a complexidade humana constitui-se para o
enfermeiro um desafio, pois suas demandas nunca cessam nem poderão ser atendidas por
completo.
40

O cuidado precisa ir além da assistência ao doente ou à doença, mas ter em foco a saúde
sob uma perspectiva holística. Por isso, torna-se impensável prestar-lhe cuidado humano e
integral sem considerar os aspectos subjetivos de sua humanidade. Durante o processo de
adoecimento, quando surgem fragilidades, medos, ansiedades e desconfortos, a atenção à
dimensão emocional do ser humano se faz mais necessária.

Para cuidar na perspectiva da saúde emocional, o enfermeiro deve se deslocar da


postura de quem já tem respostas prontas para os problemas de saúde dos indivíduos. Muitas
vezes é preciso renunciar à fala, à justificativa, ao desejo de explicar, de convencer e de ser
aquele que soluciona o sofrimento do outro. Mais que isso, as pessoas carecem de cuidado
individualizado, implicado, profundo. Precisam de um profissional que permanece ao lado, que
inspira confiança e que, além de conhecimento científico, também tem carisma, amor,
compaixão e um cuidado humanizado.

EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

A equipe multidisciplinar de saúde é formada por um grupo de profissionais de saúde


que trabalham em conjunto a fim de chegar a um objetivo comum.
Por exemplo, normalmente a equipe é formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,
nutricionistas, fonoaudiólogos e/ou terapeutas ocupacionais que se reúnem para decidir quais
serão os objetivos para um determinado paciente, que pode ser, por exemplo, comer sozinho.

Tendência no setor de saúde, a formação de uma equipe multidisciplinar hospitalar


tem como objetivo ampliar o cuidado e aperfeiçoar o tratamento dos pacientes. Na prática,
trata-se de um grupo de profissionais de áreas distintas – não necessariamente da área da saúde
ou com um vínculo lógico – que irão atuar de forma conjunta para tratar o paciente com o
máximo de eficiência e de forma humanizada.

A formação de uma equipe multidisciplinar hospitalar permite que a unidade ofereça


um tratamento diferenciado aos seus pacientes, com maior qualidade dos serviços e o
acompanhamento integral por uma equipe de profissionais diferenciados. Ademais, com o
apoio de tecnologias para saúde e softwares de gestão, há maior segurança para os pacientes e
também uma redução no tempo de permanência na unidade – minimizando os riscos de eventos
adversos.

Como funciona uma equipe multidisciplinar na saúde?


41

Não há um modelo fixo para compor uma equipe multidisciplinar, pois cada caso irá
exigir a atuação de profissionais específicos de acordo com as necessidades do paciente. Em
uma mesma equipe podem atuar nutricionistas, fonoaudiólogos, dentistas, psicólogos ou até
mesmo assistentes sociais, além dos médicos especialistas.

Um paciente que teve um derrame, por exemplo, e precisa recuperar a fala pode ser
atendido por uma equipe composta por um enfermeiro, dentista, terapeuta ocupacional, médico
e um fonoaudiólogo. Nesse caso, os profissionais vão atuar juntos para que o paciente volte a
falar de um modo menos traumático e no menor tempo possível.

Diferente de uma equipe interdisciplinar que é focada em apenas uma especialidade,


como o tratamento cardíaco de um paciente, uma equipe multidisciplinar irá abranger outras
áreas que podem não ter uma relação direta entre si.

A principal vantagem desse modelo é a percepção e o tratamento integral do paciente,


a partir de diferentes visões dos profissionais envolvidos no caso. Esse modelo amplia a
qualidade da saúde e o bem-estar dos pacientes.

Os principais benefícios dessa abordagem, são:

– Tratamento ágil e recuperação em menor tempo dos pacientes;


– Redução de eventos adversos e de erros médicos;
– Otimização do atendimento;
– Percepção diferenciada do quadro clínico do paciente;
– Maior colaboração entre os profissionais, etc.

A combinação de diferentes percepções e conhecimentos permite alcançar


rapidamente os objetivos de cada caso, trabalhando vários aspectos de forma conjunta. Vale
destacar, contudo que os profissionais envolvidos não trabalham necessariamente ao mesmo
tempo. Cada especialista irá prestar seus serviços de forma individual, mas irá compartilhar
os avanços do paciente com os demais membros da equipe. Essas trocas ampliam a
compreensão do caso e a qualidade do atendimento.

Trata-se de um grupo de profissionais clínicos que trabalham conjuntamente em prol


do diagnóstico, tratamento e recuperação do paciente. Além disso, as decisões são tomadas em
consenso conforme a contribuição de cada profissional.

As equipe de profissionais clínicos, trabalhando em suas respectivas áreas de formação,


evitará o protagonismo de alguns especialistas, o que pode comprometer o prognóstico do
paciente.

Isso, porque, quando um grupo de profissionais trabalha conjuntamente, a percepção de


problemas clínicos é maior, pois cada um avalia objetiva e subjetivamente o paciente,
abordando questões específicas de sua área de atuação.

Acontece que se esse processo for realizado por um número insuficiente de


profissionais, alguns problemas ou distúrbios podem não ser detectados, impactando a
recuperação do doente.
42

Esse é o caso de pacientes com transtornos respiratórios graves ou desnutridos que necessitam
de aporte fisioterapêutico e nutricional específico para melhorar o prognóstico de sua condição
clínica.

A formalização de uma equipe multidisciplinar na saúde é uma condição que traz


benefícios significativos para os pacientes e a instituição. Ao tomar decisões mediante uma
junta de profissionais alinhados entre si e atualizados em conhecimento, o paciente terá melhor
recuperação e mais qualidade de vida. Ao passo que a instituição reduzirá tempo de internação,
principalmente a relacionada a erros evitáveis e falta de diagnóstico de profissionais.

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