Você está na página 1de 18

PSICOLOGIA

Caroline Gonçalves Nascimento


Pesquisa em psicologia
e seus desafios
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os campos de atuação profissional do psicólogo no Brasil.


 Reconhecer a psicologia como ciência e como ela se relaciona com
a sociedade e seus desafios.
 Relacionar os conceitos de pesquisa na psicologia e os tipos de
investigação.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a pesquisa em psicologia, bem como
alguns elementos históricos da construção da psicologia como ciência.
Primeiramente, você vai ver as diversas possibilidades de atuação do
psicólogo no Brasil e os desafios enfrentados em cada área. Após, vai
acompanhar uma contextualização histórica do processo de construção
da psicologia como ciência e verificar o papel da profissão na sociedade.
Por fim, vai refletir sobre a pesquisa em psicologia no Brasil, conhecendo os
diferentes métodos de pesquisa existentes e alguns desafios encontrados
pelos pesquisadores.
A psicologia, desde que emergiu enquanto ciência e campo de atua-
ção profissional, trilhou os mais diversos caminhos, enfrentando as limi-
tações e os desafios que surgiram na sua trajetória enquanto ciência e
profissão. Porém, ela sempre foi uma ciência que atua em prol do bem-
-estar e da saúde mental das pessoas, independentemente da abordagem
utilizada.
170 Pesquisa em psicologia e seus desafios

Campo de atuação da psicologia no Brasil


O psicólogo, dentro de suas especificidades profissionais, atua nas áreas de
educação, saúde, lazer, trabalho, segurança, justiça, comunidades e comunica-
ção. Ele tem o propósito de promover, em seu trabalho, o respeito à dignidade
e à integridade das pessoas. Pode-se dizer que o psicólogo possui um campo
bastante amplo de atuação. Conforme documento encaminhado pelo Conse-
lho Federal de Psicologia ao Ministério do Trabalho para integrar o catálogo
brasileiro de ocupações, o psicólogo:

[…] contribui para a produção do conhecimento científico da psicologia através


da observação, descrição e análise dos processos de desenvolvimento, inte-
ligência, aprendizagem, personalidade e outros aspectos do comportamento
humano e animal; analisa a influência de fatores hereditários, ambientais
e psicossociais sobre os sujeitos na sua dinâmica intrapsíquica e nas suas
relações sociais, para orientar-se no psicodiagnóstico e atendimento psico-
lógico; promove a saúde mental na prevenção e no tratamento dos distúrbios
psíquicos, atuando para favorecer um amplo desenvolvimento psicossocial;
elabora e aplica técnicas de exame psicológico, utilizando seu conhecimento
e práticas metodológicas específicas, para conhecimento das condições do
desenvolvimento da personalidade, dos processos intrapsíquicos e das relações
interpessoais, efetuando ou encaminhando para atendimento apropriado,
conforme a necessidade (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2008,
documento on-line).

O psicólogo desempenha suas atividades profissionais, tanto de forma


individual quanto em grupo (equipes multiprofissionais, por exemplo), em
diversos locais (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2008). Ou seja,
a formação em psicologia habilita o profissional psicólogo a trabalhar em
diversos ambientes, nas mais variadas áreas. Portanto, torna-se fundamental
que a formação profissional proporcione aos futuros psicólogos uma articulação
entre a teoria e a prática, pois essa relação é essencial para definir o processo
de construção e desenvolvimento das atribuições e responsabilidades desse
profissional (CRUZ, 2016).

Campos de atuação da profissão


O psicólogo muitas vezes é conhecido pelo trabalho que desempenha dentro
do consultório, mas a formação em psicologia pode ir muito além da prática
clínica. Segundo a Resolução CFP 3/2016, o psicólogo está capacitado a atuar
em qualquer uma destas áreas da psicologia: psicologia escolar/educacional;
Pesquisa em psicologia e seus desafios 171

psicologia organizacional e do trabalho; psicologia de trânsito; psicologia


jurídica; psicologia do esporte; psicologia clínica; psicologia hospitalar; psico-
pedagogia; psicomotricidade; psicologia social; neuropsicologia; e psicologia
em saúde (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2016).
Por mais que a profissão seja apenas uma, a prática muda dependendo do
local de atuação do psicólogo. As atividades realizadas em alguns locais soam
parecidas, porém cada área tem uma especificidade. Um estudo realizado no
Nordeste do Brasil (OLIVEIRA et al., 2014) pontua que, enquanto o psicó-
logo clínico define o paciente em sua individualidade e dinâmicas internas,
o psicólogo social intervém na política social e exige um reposicionamento
social e político sobre as pessoas que estão sendo atendidas. Isso demonstra
que dois profissionais com a mesma profissão podem assumir vieses distintos.
Outro estudo, realizado no estado do Paraná, salienta o fato de que toda
formação em psicologia deve abranger ao menos dois domínios de atuação
para o futuro psicólogo. Nesse sentido, o objetivo de ampliar os campos de
atuação desse profissional nas diversas áreas do saber é fundamental para que
o psicólogo esteja apto a atuar em qualquer situação que venha a encontrar
(FIRBIDA; FACCI, 2015).
Portanto, conforme a Resolução 3, o psicólogo especialista em psicologia
escolar/educacional pode atuar na área da educação tanto auxiliando pais,
professores e alunos quanto resolvendo problemas de aprendizagem (CON-
SELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2016). O psicólogo escolar também
contribui na elaboração de programas educacionais em todo o âmbito escolar.
Já o psicólogo especialista em psicologia organizacional e do trabalho pode
atuar selecionando funcionários para empresas, bem como acompanhando
e desenvolvendo essas pessoas. O psicólogo organizacional e do trabalho
orienta carreiras e contribui em programas de reestruturação do trabalho. O
psicólogo especialista em psicologia de trânsito atua na realização de avaliações
psicológicas com motoristas e futuros condutores. Além disso, realiza estudos
e ações educativas com funcionários de centros de formação de condutores e
examinadores de trânsito, bem como ações socioeducativas com condutores
infratores, pedestres e ciclistas.
Por sua vez, o psicólogo especialista em psicologia jurídica pode atuar no
âmbito da Justiça, contribuindo para o planejamento e a execução de políticas
voltadas para cidadania, direitos humanos, prevenção e combate à violência. O
psicólogo jurídico também orienta os juristas e os que vão passar por alguma
intervenção na avaliação das características dos indivíduos e no fornecimento
de subsídio ao processo judicial. O psicólogo especialista em psicologia do
esporte pode atuar na orientação de atletas e na preparação emocional deles
172 Pesquisa em psicologia e seus desafios

para atividades esportivas e competições. O psicólogo do esporte trabalha


também para maximizar o rendimento do atleta e promover a harmonia entre
os membros das equipes e dos times.
O psicólogo especialista em psicologia clínica atua auxiliando os pacientes
na compreensão, na prevenção e no alívio do sofrimento de base psicoló-
gica. O psicólogo clínico também costuma realizar atendimentos em grupos,
com jovens, casais, crianças, famílias e outros. O psicólogo especialista em
psicologia hospitalar atua no atendimento a pacientes hospitalizados e seus
familiares e também ao lado de outros profissionais da saúde, contribuindo na
assistência à saúde e fortalecendo pacientes e familiares para a recuperação da
saúde física e mental. O psicólogo especialista em psicopedagogia atua investi-
gando e intervindo nos processos de aprendizagem de habilidades e conteúdos
acadêmicos. Esse profissional também tem o papel de detectar a dificuldade
dos alunos e fazer as devidas intervenções para que eles consigam prosseguir
estudando, além de contribuir para a redução do índice de fracasso escolar.
O psicólogo especialista em psicomotricidade atua nas áreas de educação,
reeducação e terapia psicomotora e auxilia as pessoas no seu desenvolvimento,
na prevenção e na reabilitação. Esse profissional também participa do planeja-
mento das atividades das clínicas de reabilitação e realiza parecer psicomotor.
O psicólogo especialista em psicologia social atua realizando pesquisas sobre a
relação do indivíduo com a sociedade, podendo trabalhar em diversos espaços.
O psicólogo social também propõe políticas e ações para a comunidade em
geral, movimentos sociais, consumidores, entre outros.
O psicólogo especialista em neuropsicologia estuda as relações entre o
cérebro e os comportamentos, utilizando instrumentos para avaliar habilidades
de atenção, memória, percepção, raciocínio, linguagem, afeto, funções motoras
e outras. O neuropsicólogo também pode acompanhar o tratamento de pessoas
que sofreram lesões traumáticas, ajudando-as a retomar a vida produtiva.
E, por fim, o profissional especialista em psicologia em saúde trabalha em
equipes multiprofissionais e interdisciplinares no campo da saúde, utilizando
princípios, técnicas e conhecimentos relacionados à produção de subjetividade
para analisar, planejar e intervir nos processos de saúde e doença, em dife-
rentes estabelecimentos e contextos da rede de atenção à saúde (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2016).
Conforme Firbida e Facci (2015), as competências e habilidades dos profis-
sionais psicólogos caminham para uma atuação generalista e flexível, pois o
estudante de psicologia obtém aprendizados em sua trajetória acadêmica que
posteriormente irá utilizar em diferentes contextos de sua vida profissional.
Além dos campos tradicionais de atuação do psicólogo, também existe a
Pesquisa em psicologia e seus desafios 173

área acadêmica, na graduação e na pós-graduação (mestrado, doutorado e


especialização) (PIRES et al., 2018). Dessa forma, você pode considerar que
a psicologia é uma formação que oferece inúmeras possibilidades de atuação
para o psicólogo.

A seguir, você pode ver outras formas de atuação do psicólogo.


 Orientação profissional: é um processo que auxilia e orienta o estudante ou o
profissional que está em transição de uma profissão para outra. A ideia é que que
ambos consigam refletir sobre o que vai influenciar na escolha de determinada
carreira. O psicólogo que realiza orientação profissional também tem o papel de
desenvolver o autoconhecimento daquele indivíduo, bem como ampliar seu co-
nhecimento acerca da realidade do mundo do trabalho e ajudá-lo a solucionar e
encarar dificuldades que surjam em sua decisão (SILVA; FARIA; FOCHESATO, 2017).
 Acompanhamento Terapêutico (AT): é um método clínico presente no processo
de reabilitação psicossocial. O processo de AT faz com que as pessoas que procuram
esse método e que estão em sofrimento mental circulem por diferentes espaços
físicos e sociais junto ao seu acompanhante terapêutico. Esse profissional tem o
papel de possibilitar maior autonomia e inserção social do paciente, resgatando
seus vínculos sociais, bem como questões de cidadania (ALBERTI et al., 2017).

O processo de construção da psicologia como


ciência e seu papel na sociedade
A primeira concepção de psicologia decorre de sua ligação histórica com a
filosofia, que se refere aos “[...] comportamentos do homem em termos de
substância e de faculdades inatas transcendentes” (PIRES et al., 2018, p. 14).
Portanto, é nítido o quanto a psicologia teve suas raízes na filosofia. Um fato
marcante do nascimento da psicologia científica foi a construção do primeiro
laboratório de psicologia experimental, no ano de 1875, na Universidade de
Leipzig, Alemanha, proposto por Wilhelm Wundt (1832–1920). Após os ex-
perimentos de Wundt nesse laboratório, foram surgindo outros pesquisadores
que acabaram ajudando a psicologia a constituir-se como ciência.
A partir daí, diferentes correntes teóricas da psicologia tornaram-se conhe-
cidas (PIRES et al., 2018). Entre as correntes que constituíram o movimento
da psicologia científica, estão: estruturalismo; funcionalismo; associacio-
nismo; behaviorismo; gestalt e psicanálise (PEREIRA, [1999]). Cada corrente
174 Pesquisa em psicologia e seus desafios

de pensamento denomina a sua própria orientação teórica e metodológica,


compreendendo o estudo do comportamento a partir de diferentes técnicas.
Todas as teorias têm um valor fundamental para a construção da psicologia
como ciência e, como você deve imaginar, nenhuma possui todas as soluções
ou é perfeita. Contudo, as limitações existentes entre uma abordagem e outra
não desqualificam o fato de a psicologia ter se tornado ciência, mas possibi-
litam que haja desafios às teorias mais clássicas, proporcionando, assim, que
se continuem buscando repostas científicas para os mais variados problemas
(FERRARINI; CAMARGO, 2014). A psicologia é uma ciência em constante
processo de construção, e seu papel na sociedade é compreender como o ser
humano constrói sua história, quais são as suas expectativas para o futuro,
qual é a sua relação com o passado e o que ele está vivenciando e construindo
no presente.

Os desafios enfrentados pela psicologia


A psicologia está presente em inúmeros contextos de atuação. Portanto, cada
contexto de inserção de psicólogos enfrenta múltiplos desafios. Na maio-
ria das vezes, esses desafios têm relação com as especificidades presentes
em cada área. No contexto escolar, por exemplo, são muitas as dificuldades
para a atuação do psicólogo. Tais dificuldades vão desde uma representação
equivocada das formas de atuação desse profissional e de sua importância
no ambiente educacional até um descompromisso do poder público, com a
negação do psicólogo como membro obrigatório da equipe multidisciplinar
na escola (GOMES, 2015).
No meio clínico, um dos maiores desafios da psicologia está no reconhe-
cimento de sua efetividade, e isso depende de a prática clínica ser sustentada
somente por um corpo de teorias cientificamente validadas. A psicologia clínica
é frequentemente confundida com métodos leigos e meramente intuitivos de
tratamento. Isso acaba tornando a prática muitas vezes inadequada e sem o
respaldo científico apropriado (LEONARDI, MEYER, 2015).
No âmbito hospitalar, as dificuldades enfrentadas pelo psicólogo também
são várias. Entre elas, você pode considerar as dificuldades relacionadas à
compreensão do trabalho do psicólogo pelos demais profissionais da equipe,
bem como a relação do psicológico com o médico e os desafios que cada
um encontra. Nesse sentido, é necessário que o interesse da psicologia pelos
ambientes tradicionais de saúde e doença (não mental) seja paralelo ao de-
senvolvimento da consciência acerca do papel do comportamento na saúde e
nas doenças mais comuns (MOURA et al., 2016).
Pesquisa em psicologia e seus desafios 175

No meio social, por mais que o psicólogo tenha inúmeras possibilidades


de atuação, ele vai acabar se deparando com desafios a serem enfrentados.
Por exemplo: ter de desenvolver seu trabalho junto a uma comunidade que se
encontra em vulnerabilidade social e de risco, de forma a promover a autonomia
dos indivíduos a partir da realidade em que vivem, despertando o interesse e a
conscientização e levando-os a sair da passividade, tornando-os pessoas que
conhecem seus direitos e deveres. Como você deve imaginar, esse processo
é difícil, pois são traçados objetivos que muitas vezes não correspondem
à realidade da população atendida (LAURIANO; SILVA; PESSINI, 2011).
Também são pontuados, nesse campo, problemas em relação à baixa frequência
do acompanhamento sociofamiliar e à articulação intersetorial nos espaços de
atuação do psicólogo social, que acaba encontrando desafios para a execução
dos trabalhos em rede no campo das políticas sociais (OLIVEIRA et al., 2014).
Nesse sentido, cada espaço de atuação da psicologia apresenta suas sin-
gularidades e desafios distintos, comprovando assim que cada meio de inser-
ção possui limitações no desenvolver do ofício de uma profissão com tantas
possibilidades de prática. No Quadro 1, a seguir, você pode ver as principais
vertentes da psicologia.

Quadro 1. Principais correntes e teorias psicológicas

Behaviorismo John Watson (1878–1958), Ivan Pavlov (1849–1936) e


Burrhus Frederic Skinner (1904 1990): o comportamento
é visto como uma reação ou resposta do “sujeito”
observado (homem ou animal) a determinada situação;
isto é, resposta do sujeito observado a um estímulo.

Gestalt Max Wertheimer (1880–1943), Wolfgang Kohler


(1887–1967) e Kurt Koffka (1886–1941): postulam que
toda percepção é um gestalt (um todo) que não
pode ser compreendido pela separação das partes,
pois o todo é maior que a soma das partes.

Psicanálise Sigmund Freud (1956–1939): descobriu o inconsciente


a partir da análise dos sonhos, atos falhos e lapsos. Essa
teoria apresenta um complexo entendimento estruturado
da vida psíquica, utilizando o método interpretativo.

Fonte: Adaptado de Pires et al. (2018).


176 Pesquisa em psicologia e seus desafios

Assista ao vídeo disponível no link a seguir e conheça mais sobre a história e a evolução
da psicologia. O vídeo apresenta as diferentes correntes psicológicas e seus respec-
tivos fundadores, além de trazer aspectos fundamentais sobre as primeiras raízes da
psicologia e seu reconhecimento como ciência.

https://goo.gl/XeSyCW

Métodos de pesquisa em psicologia


Existem diversas ferramentas metodológicas que podem ser utilizadas pelos
psicólogos. A metodologia científica é caracterizada por diferentes métodos
de pesquisa, tanto no contexto de estudos clássicos quanto no contexto de
estudos contemporâneos.
A metodologia descritiva da pesquisa de observação é feita sob condições
precisamente definidas, de maneira sistemática e objetiva e com registros
cuidadosos. O principal objetivo dos métodos observacionais é descrever o
comportamento. Os métodos observacionais podem ser classificados como
observação direta ou observação indireta.
Os métodos observacionais diretos são a observação sem intervenção e
a observação com intervenção. No entanto, na observação participante, os
observadores desempenham um papel duplo. Eles observam o comportamento
das pessoas e participam ativamente da situação que estão observando. Na
observação estruturada, os pesquisadores intervêm para exercer um nível de
controle sobre os acontecimentos que estão observando. Nos experimentos
de campo, o pesquisador manipula uma ou mais variáveis em uma situação
natural para determinar o seu efeito sobre o comportamento. Os métodos
observacionais indiretos (não obstrutivos) têm a vantagem de não serem
reativos. Contudo, as observações indiretas ou não obstrutivas podem ser
feitas analisando-se traços físicos e registros de arquivos (SHAUGHNESSY;
ZECHMEISTER; ZECHMEISTER, 2012).
A metodologia descritiva da pesquisa de levantamento é usada para avaliar
pensamentos, opiniões e sentimentos das pessoas. Os levantamentos podem
ser específicos e de âmbito limitado ou mais globais em seus objetivos. A
melhor maneira de determinar se os resultados de um levantamento contêm
vieses é analisar os seus procedimentos e análises.
Pesquisa em psicologia e seus desafios 177

Os levantamentos por correio são utilizados para distribuir questionários


autoadministrados, que as pessoas respondem por conta própria. Contudo,
os levantamentos por entrevistas pessoais permitem maior flexibilidade para
fazer as perguntas do que aqueles realizados pelo correio. Durante uma entre-
vista, o respondente pode obter esclarecimentos quando as questões não estão
claras, e o entrevistador pode esclarecer respostas incompletas ou ambíguas a
questões abertas. As entrevistas telefônicas, apesar de algumas desvantagens,
são utilizadas com frequência para levantamentos rápidos. Os levantamen-
tos pela internet são um método eficiente e de baixo custo para se obterem
respostas de amostras grandes, potencialmente diversas e sub-representadas
(SHAUGHNESSY; ZECHMEISTER; ZECHMEISTER, 2012).
Na metodologia da pesquisa experimental, os pesquisadores fazem expe-
rimentos para testar hipóteses sobre as causas do comportamento. Os experi-
mentos permitem que os pesquisadores decidam se um tratamento ou programa
altera o comportamento efetivamente. Os desenhos de pesquisa com grupos
independentes podem ser classificados em: desenhos de grupos aleatórios
(utilizados para formar grupos comparáveis, balanceando ou calculando a
média das características dos sujeitos entre as condições da manipulação
da variável independente); desenhos de grupos pareados (podem ser usados
para criar grupos comparáveis quando existem poucos sujeitos, para que a
designação aleatória funcione efetivamente); desenho de grupos naturais (os
pesquisadores procuram covariações entre variáveis de grupos naturais e
variáveis dependentes).
Os desenhos de pesquisa com medidas repetidas são designados aleato-
riamente a uma condição nos desenhos de pesquisa de grupos aleatórios e
grupos pareados, ou são selecionados para um grupo do desenho de grupos
naturais. Esses desenhos de grupos independentes são ferramentas poderosas
para estudar os efeitos de uma ampla variedade de variáveis independentes.
Os desenhos complexos são utilizados para estudar os efeitos de duas ou mais
variáveis independentes em experimento. Com desenhos complexos, pode-se
estudar cada variável independente com um desenho de grupos independentes
ou com um desenho de medidas repetidas (SHAUGHNESSY; ZECHMEISTER;
ZECHMEISTER, 2012).
Na metodologia da pesquisa aplicada, no contexto de desenhos de caso
único e pesquisas com número pequeno de participantes, pode-se mencionar
o método do estudo de caso. Ele é uma fonte de hipóteses e ideias sobre o
comportamento normal e o anormal. Contudo, estudos de caso, descrições
e análises intensivas de indivíduos não possuem o mesmo grau de controle
encontrado em desenhos experimentais de número pequeno. Há também os
178 Pesquisa em psicologia e seus desafios

desenhos experimentais de sujeito único, em que o controle experimental é


demonstrado organizando-se as condições experimentais de modo tal que o
comportamento do indivíduo mude sistematicamente com a manipulação de
uma variável independente. Os desenhos quase experimentais e a avaliação
de programas definem como um experimento verdadeiro aquele que leva a
um resultado claro sobre o que causou um fato. Além disso, as pesquisas que
visam a determinar a eficácia de mudanças feitas por instituições, agências
governamentais e outras organizações fazem parte dos objetivos da avaliação
de programas (SHAUGHNESSY; ZECHMEISTER; ZECHMEISTER, 2012).
No Quadro 2, a seguir, você pode ver uma síntese dos métodos e tipos de
pesquisa em psicologia.

Quadro 2. Métodos e tipos de pesquisa em psicologia

Métodos de pesquisa em psicologia

Método dedutivo Explica as particularidades.

Método indutivo Observa e experiencia.

Método hipotético Constitui-se em conjecturas.

Método dialético Equivale ao diálogo.

Tipos de pesquisa em psicologia

Pesquisa bibliográfica Baseada em documentos.

Pesquisa documental Baseada em documentos que não receberam


tratamento de análise e síntese.

Pesquisa experimental Determina o objeto de estudo.


ou de laboratório

Pesquisa ex post facto Nela, o experimento é efetivado depois dos fatos.

Pesquisa levantamento No estudo, interroga-se de forma clara e direta.

Pesquisa estudo de caso Analisa com profundidade um ou poucos casos.

Pesquisa-ação Há estreito relacionamento com a realidade.

Pesquisa participante Ocorre interação do pesquisador


que participa do estudo.

Fonte: Adaptado de Breakwell et al. (2011).


Pesquisa em psicologia e seus desafios 179

No link a seguir, leia a entrevista da professora Ana Mercês Bahia Bock, doutora em
psicologia e presidente do Conselho Federal de Psicologia por três gestões. Nessa
entrevista, ela fala sobre o desenvolvimento da profissão, pontuando também alguns
desafios presentes nessa trajetória.

https://goo.gl/IlSft5

Os desafios enfrentados pela pesquisa


em psicologia no Brasil
As exigências da comunidade científica nacional têm enfatizado a urgência de
sua participação nas decisões que definem e orientam a atividade de pesquisa.
Escolher a atividade de pesquisa e seu objeto-alvo é responsabilidade coletiva
dos cientistas do País (BOTOMÉ, 2007). De acordo com Kohlsdorf e Costa
Junior (2009), em algumas pesquisas em psicologia, o participante não compre-
ende inteiramente os itens que compõem o instrumento a ser utilizado, o que
acaba resultando em significações diferentes para participante e pesquisador.
Conforme Zambenedetti e Silva (2011), um dos desafios da pesquisa em
psicologia é não resumir a análise a uma descrição cronológica e linear dos
fatos apreendidos por meio de verdades sólidas, isto é, não sistematizar uma
análise que tem de ser abrangente. Outro desafio se refere às incertezas em
torno do procedimento de mediação entre dados descritivos e interpretações
analíticas, pois é fundamental que fique clara a forma como o pesquisador
interpretou seu fenômeno de estudo. Nesse sentido, são feitos questionamen-
tos em torno de como é possível avaliar ou mesmo dialogar com a aplicação
de um método investigativo se a lógica instrumental desse método não está
claramente descrita (CASTRO; GOMES, 2011).
Outra dificuldade presente no cenário da pesquisa brasileira é que, em
alguns casos, o primordial tem sido fazer pesquisas que forneçam informações
para a tecnologia que vai ser desenvolvida fora do País. Esse fato provoca uma
perda no desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, fazendo com
que existam grupos de pesquisadores isolados, produzindo pesquisa que não
é necessariamente fundamental e/ou produtiva para o País. Por mais que os
problemas sejam coletivos, ainda são pensados de forma individualizada. Você
também deve ter em mente que os desafios na pesquisa tendem a aumentar,
180 Pesquisa em psicologia e seus desafios

especialmente se for considerado o fato de que o Brasil é um país em desen-


volvimento e fazer pesquisa nesse contexto é mais difícil (BOTOMÉ, 2007).

Mariana é psicóloga e pós-graduanda em psicologia social. Desde a graduação, ela


sempre fez parte de grupos de pesquisa e esteve envolvida em diferentes estudos
e pesquisas na área da psicologia social, que é o campo de atuação com que mais
se identifica. Entre o desenvolvimento do conhecimento científico que produz com
suas pesquisas na universidade em que estuda e a situação da população, Mariana
percebe uma grande lacuna. Quanto mais esse conhecimento se aproxima de ser
transformado em tecnologia, maior é a distância em relação à situação da população.
Nesse sentido, a construção científica que Mariana produz não se torna uma inovação,
pois os resultados, os produtos de seus estudos na pós-graduação, dificilmente ultrapas-
sam as fronteiras da própria universidade. O conhecimento pode até estar disponível, mas
dificilmente se tornará acessível ou útil à população. Pode-se perceber aqui que um dos
desafios enfrentados muitas vezes pela pesquisa é a construção científica ultrapassar a
barreira da universidade e se tornar acessível para cada vez mais pessoas usufruírem dela.

1. A psicologia é uma ciência 2. As competências profissionais


relativamente nova, com princípios da psicologia são muitas. Entre
e compromissos firmados com a elas, destaca-se uma que diz
sociedade. Nesse sentido, quais são os respeito à atitude ética. Qual
princípios primordiais dessa profissão? competência diz respeito à ética?
a) Construção e desenvolvimento a) Pesquisa.
do conhecimento. b) Diagnóstico.
b) Atuação em diferentes contextos, c) Atitude.
tendo em vista a promoção d) Intervenção.
da qualidade de vida. e) Planejamento.
c) Múltiplos referenciais e interfaces 3. O método da psicologia define-se
do conhecimento psicológico. como um caminho ou ordem de uma
d) Respeito à ética nas relações, atividade, com vistas a chegar a um
na pesquisa e na divulgação fim determinado. Nesse sentido, qual
de informações. regra não corresponde ao método?
e) Todas as alternativas a) Rejeitar o subjetivismo.
correspondem aos princípios e b) Descartar o argumento
compromissos da psicologia. de autoridade.
Pesquisa em psicologia e seus desafios 181

c) Rejeitar as verdades d) Método dialético.


eternas e infalíveis. e) Nenhuma das alternativas
d) Analisar o pesquisado, de corresponde ao método de
acordo com sua necessidade. observação e experimentação.
e) Acreditar que a verdade surge por 5. Quanto ao tipo, a pesquisa em
procedimentos metodizados. psicologia pode ser um estudo que
4. Que método de pesquisa se relaciona analisa com profundidade um ou
à observação e à experimentação, poucos fatos, com vistas à obtenção
obrigando o pesquisador a seguir de um grande conhecimento pela
etapas de experimentação, criação riqueza de detalhes do objeto
de hipóteses, repetição, teste das estudado. Essa definição refere-se à:
hipóteses, generalização e formação a) pesquisa bibliográfica.
das leis? Sua base essencial é fazer b) pesquisa documental.
afirmações do particular para o geral. c) pesquisa de estudo de caso.
a) Método dedutivo. d) pesquisa de levantamento.
b) Método indutivo. e) pesquisa-ação.
c) Método hipotético-dedutivo.

ALBERTI, S. et al. O acompanhamento terapêutico e a psicanálise: pequeno histórico


e caso clínico. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 20, n. 1,
p. 128-141, mar. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1415-47142017000100128&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 21 jul. 2018.
BOTOMÉ, S. P. Onde falta melhorar a pesquisa em psicologia no Brasil sob a ótica
de Carolina Martuscelli Bori. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 23, 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ptp/v23nspe/05.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2018.
BREAKWELL, G. M. et al. Métodos de pesquisa em psicologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
CASTRO, T. G.; GOMES, W. B. Aplicações do método fenomenológico à pesquisa em
psicologia: tradições e tendências. Estudos de Psicologia, v. 28, n. 2, 2011. Disponível
em: <http://www.redalyc.org/pdf/3953/395335656003.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2018.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Atribuições profissionais do psicólogo no Brasil.
Contribuição do Conselho Federal de Psicologia ao Ministério do Trabalho para integrar
o catálogo brasileiro de ocupações, 1992. [2008]. Disponível em: <https://site.cfp.org.
br/wp-content/uploads/2008/08/atr_prof_psicologo.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2018.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP nº. 3 /2016. Altera a Resolução CFP
n.º 013/2007, que institui a Consolidação das Resoluções relativas ao Título Profissio-
nal de Especialista em Psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos para seu
registro. 2016. Disponível em: <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2016/04/
Resolu%C3%A7%C3%A3o-003-2016.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2018.
182 Pesquisa em psicologia e seus desafios

CRUZ, R. M. Formação científica e profissional em Psicologia. Psicologia: Ciência


e Profissão, v. 36, n. 1, mar. 2016. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1982-
3703003512016>. Acesso em: 21 jul. 2018.
FERRARINI, N. L.; CAMARGO, D. O professor de psicologia diante da multiplicidade e
diversidade teórica da psicologia: lugar de incertezas e de desafios. Psicologia Ensino
& Formação, v. 5, n. 1, p. 32-49, 2014. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S2177-20612014000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso
em: 21 jul. 2018.
FIRBIDA, F. B. G.; FACCI, M. G. D. A formação do psicólogo no estado do Paraná para
atuar na escola. Psicologia Escolar e Educacional, v. 19, n. 1, 2015. Disponível em: <http://
www.redalyc.org/articulo.oa?id=282339482019>. Acesso em: 8 jul. 2018.
GOMES, F. V. F. Reflexões sobre os desafios na atuação do psicólogo escolar. In:
CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2. 2015. Anais..., Campina Grande, 2015.
Disponível em: <http://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRA-
BALHO_EV045_MD1_SA6_ID8189_09092015140601.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2018.
KOHLSDORF, M.; COSTA JUNIOR, Á. L. O autorrelato na pesquisa em psicologiada
saúde: desafios metodológicos. Psicologia Argumento, v. 27, n. 57, nov. 2017. Dis-
ponível em: <https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/
view/19763/19075>. Acesso em: 21 jul. 2018.
LAURIANO, C. V.; SILVA, M. C. O.; PESSINI, M. A. Os desafios e as perspectivas da inserção
do psicólogo no centro de referência de assistência social (CRAS). Akrópolis Umuarama,
v. 19, n. 4, p. 229-239, out./dez. 2011. Disponível em: <http://revistas.unipar.br/index.
php/akropolis/article/viewFile/4271/2650>. Acesso em: 21 jul. 2018.
LEONARDI, J. L.; MEYER, S. B. Prática baseada em evidências em psicologia e a história
da busca pelas provas empíricas da eficácia das psicoterapias. Psicologia: Ciência e
Profissão, v. 35, n. 4, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v35n4/1982-
3703-pcp-35-4-1139.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2018.
MOURA, B. M. et al. Os desafios enfrentados pelo profissional de psicologia no contexto
hospitalar. Monografia (Graduação em Psicologia) - UNIFAVIP, 2016.
OLIVEIRA, I. F. et al. Atuação dos psicólogos nos CRAS do interior do RN. Psicologia &
Sociedade, v. 26, n. 2, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0102-71822014000600011&lng=en&nrm=iso >. Acesso em: 21 jul. 2018.
PEREIRA, M. E. História da psicologia: linha do tempo das ideias psicológicas. [1999].
Disponível em: < http://pablo.deassis.net.br/wp-content/uploads/TimelineHistoria-
DaPsicologia.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2018.
PIRES, L. R. et al. Psicologia. Porto Alegre: SAGAH, 2018.
SHAUGHNESSY, J. J; ZECHMEISTER, E. B.; ZECHMEISTER, J. S. Metodologia de pesquisa
em psicologia. 9. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2012.
Pesquisa em psicologia e seus desafios 183

SILVA, M. B. da; FARIA, R. R. de; DE ABREU FOCHESATO, I. C. A orientação profissional


(OP) como elo entre a universidade e a escola. Psicologia Argumento, v. 30, n. 68, nov.
2017. Disponível em: <https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/
article/view/19757>. Acesso em: 21 jul. 2018.
ZAMBENEDETTI, G.; SILVA, R. A. N. Cartografia e genealogia: aproximações possíveis
para a pesquisa em psicologia social. Psicologia & Sociedade, v. 23, n. 3, 2011. Disponível
em: <http://hdl.handle.net/10183/100237>. Acesso em: 21 jul. 2018.

Leituras recomendadas
BOCK, A. A psicologia no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 30, n. especial,
dez. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi
d=S1414-98932010000500013>. Acesso em: 21 jul. 2018.
É PSICOLOGIA. História da psicologia. Youtube, fev. 2018. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=o03Mc0U7giY>. Acesso em: 21 jul. 2018.

Você também pode gostar