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METODOLOGIA

CIENTÍFICA

Karina da Silva Nunes


Coleta de dados
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir população e amostra de pesquisa.


 Caracterizar os tipos de amostras para coleta de dados.
 Aplicar pesquisa-piloto.

Introdução
Uma pesquisa é composta por várias fases que envolvem a definição
do problema, dos objetivos e do referencial teórico. Além disso, há a
coleta de dados, que é o processo de recolhimento de informações
para compor o estudo. Os dados recolhidos são utilizados como base
para comprovar ou não os objetivos da pesquisa. Nesse sentido, a coleta
é realizada conforme o planejamento do estudo do qual faz parte. As
informações coletadas, por sua vez, advêm da população a ser estudada,
isto é, do público que será pesquisado.
Neste capítulo, você vai entender como a coleta de dados funciona
e o que é necessário para sua execução. Você também vai conhecer as
definições de população e amostra de pesquisa.

1 População e amostra de pesquisa


Após definir o foco de uma pesquisa, é preciso delimitar o objeto de estudo, ou
seja, a população. Segundo Gil (2012), a população, também conhecida como
“universo”, é um conjunto de elementos com as mesmas características. Assim,
uma população pode ser o conjunto de alunos de uma escola, os habitantes de
uma cidade ou os funcionários de uma fábrica, por exemplo.
A definição da população do estudo precisa ser clara, pois o conceito de
população não envolve necessariamente pessoas, já que um estudo pode ana-
lisar uma população de abelhas ou de macacos. Conforme Marconi e Lakatos
(2017, p. 206), “[...] universo ou população é o conjunto de seres animados
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ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum”.


Além disso, Hernández Sampieri, Fernandez Collado e Baptista Lucio (2013)
afirmam que a população tem de estar evidentemente situada em relação ao
conteúdo, lugar e tempo.
Um bom exemplo para entender como trabalhar o conceito de população
pode ser extraído dos serviços de assinatura digital. As empresas têm uma
população bem definida, que são os clientes que assinam seus serviços. Porém,
o número de clientes de alguns serviços pode ser enorme, o que significa muitas
pessoas e, consequentemente, muitos dados gerados. Desse modo, para realizar
estudos e analisar os dados de interação desses clientes nas suas plataformas,
as empresas utilizam pequenas parcelas da população. Para traçar objetivos
mais específicos, essas parcelas são divididas em diferentes critérios, como
idade, sexo, localização e interesses. Essa divisão da população do estudo
compõe as amostras da população. Conforme Hernández Sampieri, Fernandez
Collado e Baptista Lucio (2013, p. 192), uma amostra é “[...] simplesmente
uma subdivisão da população, sobre a qual os dados serão coletados e que
deve ser delimitada com precisão, pois será representativa dessa população”.
Assim, é necessário considerar sempre se a amostra representa a população
em sua totalidade, pois, na maioria das vezes, não existe a possibilidade de
estudar todo o conjunto da população. Quando uma amostra caracteriza exata-
mente a população em estudo, é considerada uma amostra representativa. Isso
significa que, com base nos dados de uma amostra representativa e utilizando
procedimentos estatísticos adequados, é possível inferir ou generalizar as
conclusões obtidas para a população (BRUNI, 2011). Portanto, é preciso que
a amostra da população seja representativa, de modo a oferecer conclusões
válidas sobre o universo. Para isso, a amostra deve ser extraída de acordo com
critérios bem delimitados.
Hernández Sampieri, Fernandez Collado e Baptista Lucio (2013) apontam
três erros que podem surgir na seleção da amostra:

 desconsiderar ou não escolher casos que deveriam ser parte da amostra


(participantes que deveriam integrá-la, mas que não foram selecionados);
 incluir casos que não deveriam estar na amostra porque não fazem
parte da população;
 selecionar casos que são verdadeiramente inelegíveis.

Para evitar possíveis equívocos na escolha da amostra, é fundamental


delimitar corretamente o universo ou a população, prevenindo, assim, falhas
na conclusão do estudo.
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Delimitar o universo consiste em especificar quais pessoas, animais, coisas ou fenô-


menos serão pesquisados, listando seus atributos em comum, como sexo, idade, local
onde vivem, empresa a que pertencem, etc. Quanto mais específica for a delimitação,
melhor para o andamento da pesquisa.

2 Tipos de amostras para coleta de dados


Quando a população é muito abrangente, ou seja, quando não é possível
estudá-la em sua totalidade, os pesquisadores trabalham com amostras
extraídas do todo, buscando obter uma amostragem que seja o mais repre-
sentativa possível dessa população, para que os resultados sejam expressivos
e tenham fidelidade ao conjunto total. O Quadro 1 apresenta dois tipos
básicos de amostra.

Quadro 1. Tipos de amostra

Tipo de amostra Definição

Amostra Todos os elementos da população têm a possibilidade


probabilística de fazer parte da amostra e são obtidos pela definição
das características da população. Esse tipo permite a
utilização de dados estatísticos que compensam possí-
veis erros amostrais e outros aspectos importantes para
a significância da amostra.

Amostra não pro- A escolha dos elementos está relacionada com as carac-
babilística ou por terísticas da pesquisa ou de quem faz a amostra. Não há
julgamento fundamentação estatística.

Fonte: Adaptado de Hernández Sampieri, Fernandez Collado e Baptista Lucio (2013).

Por exemplo, suponha-se que se queira saber a intenção de votos dos univer-
sitários brasileiros. Para realizar uma amostra probabilística, seria necessário
falar com universitários de todo o país, selecionar um grupo aleatório e fazer
a pesquisa. Já para realizar uma pesquisa por amostra não probabilística, seria
possível abordar três universidades próximas, representativas da população
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local, e questionar alguns estudantes que concordassem em participar da


investigação. A escolha entre esses tipos de amostras deve ser feita com base
nos objetivos e nos problemas da pesquisa.

Amostra probabilística
As amostras probabilísticas são essenciais em algumas categorias de pesquisa.
Esse tipo de amostra garante fidedignidade, pois a seleção é feita de forma
aleatória e sem a interferência do pesquisador (HERNÁNDEZ SAMPIERI;
FERNANDEZ COLLADO; BAPTISTA LUCIO, 2013). O Quadro 2 apresenta
os tipos de amostras probabilísticas.

Quadro 2. Tipos de amostras probabilísticas

Tipo Definição Exemplo de aplicação

Amostragem aleató- O pesquisador atribui a cada Questionário aplicado


ria simples elemento da população um para saber a satisfação
número único para, depois, dos clientes de um banco,
selecionar alguns desses por exemplo, usando uma
elementos de forma aleatória, amostra do universo total
de modo que todos tenham a de clientes.
mesma possibilidade de serem
sorteados.

Amostragem aleató- A lógica é a mesma do tipo an- Pesquisas “boca de urna”,


ria sistemática terior, mas a população deve isto é, pesquisas rápidas
ser ordenada e identificada com pessoas que acaba-
por posição. ram de sair de um zona
eleitoral específica.

Amostragem O pesquisador divide a popu- Estudo que espera encon-


estratificada lação em segmentos, e uma trar uma posição diferente
amostra é selecionada para entre amostras de homens
cada segmento. e mulheres.

Amostragem por O pesquisador sorteia um con- Pesquisa aplicada em


conglomerados junto e procura estudá-lo em todos os funcionários
sua totalidade. Por exemplo, de uma organização
famílias, organizações. específica.

Fonte: Adaptado de Hernández Sampieri, Fernandez Collado e Baptista Lucio (2013).


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Amostra não probabilística


A amostra não probabilística representa um procedimento de seleção informal
determinado pelas necessidades do pesquisador. Conforme Hernández Sam-
pieri, Fernandez Collado e Baptista Lucio (2013, p. 208), a vantagem de uma
amostra não probabilística, do ponto de vista quantitativo, é sua “[...] utilidade
para um desenho de estudo que não exija tanto uma representatividade de
elementos de uma população, mas sim uma cuidadosa e controlada escolha
de casos especificados na formulação do problema”. O Quadro 3 apresenta
os tipos de amostras não probabilísticas.

Quadro 3. Tipos de amostras não probabilísticas

Tipo Definição Exemplo de aplicação

Amostragem por O pesquisador seleciona os Entrevistas com gerentes


acessibilidade ou elementos a que tem acesso, dos restaurantes A e B,
por conveniência admitindo que representam pois eles autorizaram a
um universo. É indicada para pesquisa.
pesquisas em que não é reque-
rido elevado nível de precisão.

Amostragem por O pesquisador seleciona um Entrevistas com líderes


tipicidade ou subgrupo da população que, de turma específicos,
intencional conforme as informações dis- líderes de comunidade,
poníveis, pode ser considerado etc.
representativo.

Amostragem por O pesquisador realiza a pes- Pesquisas eleitorais e de


cotas quisa por etapas. Ele classifica mercado.
a população, determina a
proporção da população para
cada classe e fixa cotas obser-
vando a proporção das classes
consideradas.

Fonte: Adaptado de Hernández Sampieri, Fernandez Collado e Baptista Lucio (2013).

Como existem vários tipos de amostras, selecionar a forma mais adequada


para cada estudo é uma tarefa complementar à estruturação da fase de coleta
de dados. Após a montagem do projeto na sua totalidade, é necessário utilizar
um recurso metodológico chamado pesquisa-piloto.
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3 Aplicação de pesquisa-piloto
Depois de construir o estudo, o pesquisador pode julgar que ele está pronto
para ser aplicado — todas as etapas foram planejadas, o problema e os objetivos
foram definidos, e, principalmente, a metodologia da pesquisa e o instrumento
de coleta de dados estão prontos e revisados. Porém, antes de aplicar efetiva-
mente a pesquisa, é muito importante testá-la, a fim de identificar possíveis
erros de projeto. Para isso, é possível utilizar uma pesquisa-piloto.
Conforme Mackey e Gass (2005 apud BAILER; TOMITCH; D'ELY, 2011,
p. 130), pesquisa-piloto ou estudo-piloto é “[...] um teste, em pequena escala, dos
procedimentos, materiais e métodos propostos para determinada pesquisa”. Ou seja,
é uma miniaplicação do estudo final, que engloba a realização de todas as etapas
previstas na metodologia, de modo a identificar e melhorar o estudo na fase que
precede a análise propriamente dita. De acordo com Marconi e Lakatos (2017, p. 210):

A importância de conduzir um estudo-piloto está na possibilidade de testar,


avaliar, revisar e aprimorar os instrumentos e procedimentos de pesquisa.
Administra-se um estudo-piloto com o objetivo de descobrir pontos fracos e
problemas em potencial, para que sejam resolvidos antes da implementação
da pesquisa propriamente dita.

Os autores trazem um exemplo muito ilustrativo: as fábricas de carro


sempre constroem protótipos dos novos modelos de veículos que irão lançar
no mercado para testá-los antes de começar a produção em larga escala.
Dessa forma, o automóvel é testado em condições concretas de lançamento
e podem ser encontrados possíveis defeitos, o que poupa tempo e dinheiro,
pois as alterações necessárias podem, assim, ser feitas antes do lançamento.
Portanto, a aplicação de um estudo-piloto permite ao pesquisador chegar
nas fases principais de seu estudo com uma base, sabendo que suas escolhas
metodológicas trarão os resultados esperados.
Uma das finalidades da pesquisa-piloto é observar se a amostragem escolhida
serve para responder aos objetivos do estudo. Para isso, a pesquisa-piloto é
aplicada em uma amostra reduzida, cujo processo de seleção deve ser idêntico ao
que foi previsto para a execução da pesquisa efetiva. Dessa forma, a utilização de
uma pesquisa-piloto possibilita o refinamento dos procedimentos metodológicos
e, com isso, proporciona uma visão ampla da aplicação real do estudo no todo,
principalmente no que tange aos procedimentos de coleta de dados.
De acordo com Gil (2010, p. 3), essa pesquisa prévia “[...] envolve quatro
elementos necessários à sua compreensão: processo, eficiência, prazos e metas”.
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Assim, a pesquisa-piloto proporciona maior eficiência à investigação para


alcançar os resultados esperados dentro do prazo estabelecido. A pesquisa-
-piloto é considerada uma estratégia metodológica que auxilia o pesquisador
a validar os processos planejados para o seu estudo. Yin (2005) reforça que
ela contribui para o aprimoramento do estudo, tanto em relação ao conteúdo
dos dados quanto aos procedimentos que devem ser seguidos.
Existe um debate relativo à necessidade ou não de se realizar um estudo-
-piloto. Entretanto, é preciso ter em mente que, mesmo que sejam tomados
todos os cuidados possíveis durante o planejamento da pesquisa, é somente
no momento da implementação do teste que alguns erros são reconhecidos
(CANHOTA, 2008). Além disso, o pesquisador deve tomar cuidados em re-
lação à metodologia que será utilizada — a ideia é que a pesquisa-piloto seja
um ensaio formal do estudo como um todo. Desse modo, é necessário se ater
também ao tempo a ser usado na pesquisa e aos recursos humanos, materiais
e financeiros necessários à efetivação do estudo (GIL, 2010). Portanto, o
pesquisador deve visualizar o potencial da pesquisa-piloto para o refinamento
das decisões que foram tomadas na metodologia do estudo, encarando essa
pesquisa como uma oportunidade de revisar e aprimorar o planejamento para
a execução do seu trabalho.

BAILER, C.; TOMITCH, L. M. B.; D'ELY, R. C. S. F. Planejamento como processo dinâmico: a


importância do estudo piloto para uma pesquisa experimental em linguística aplicada.
Intercâmbio, v. 24, p. 129–146, 2011. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/
intercambio/article/viewFile/10118/7606. Acesso em: 22 set. 2020.
BRUNI, A. L. Estatística aplicada à gestão empresarial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
CANHOTA, C. Qual a importância do estudo piloto? In: SILVA, E. E. (coord.). Investigação passo
a passo: perguntas e respostas para investigação clínica. Lisboa: APMCG, 2008. p. 69–72.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
HERNÁNDEZ SAMPIERI, R.; FERNÁNDEZ COLLADO, C.; BAPTISTA LUCIO, M. P. Metodologia
de pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São
Paulo: Atlas, 2017.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
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