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Fundamentos de Análise do Comportamento

Profa: Raquel Maria de Melo

Unidade VI: Motivação e Emoção


Emoção

Ríco, V. V., Golfeto, R., & Hamasaki, E. I. M. (2012). Temas clássicos da psicologia e análise do
comportamento (pp. 88-99). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Noções comuns sobre sentimentos e
emoções

• São coisas que o indivíduo traz dentro de si

• Têm relação com estados corporais/cerebrais


específicos

• São causas para o que as pessoas fazem


Emoção como causa?
1 - O Homem chutou o gato porque estava com raiva?
2 - Judite fugiu porque estava com medo?
Explicação circular
• O homem chutou o gato porque estava com raiva
– “Por que ele chutou o gato?” “Porque estava
com raiva!” “E como você sabe que ele estava
com raiva?” “Porque chutou o gato!”

• A menina entendeu o texto porque é inteligente.


– “Por que ela entendeu o texto?” “Porque é
inteligente” “Por que é inteligente?” “Porque ela
entendeu o texto!”
Explicação circular
• Explicação incompleta e pouco pragmática
• Se a raiva levou a agressão, o que produziu a raiva?
• Se o sentimento é a causa, como poderíamos intervir?
– O que fazer com a raiva? Remédio?

• Para a Análise do Comportamento, as causas do


comportamento estão nas contingências
– O homem sentiu raiva (Respondentes: taquicardia,
sensação de dor no estômago, contração dos músculos
da face) e chutou o gato (Operante) porque foi criticado
no emprego (Evento Ambiental)
Emoções como causa?
• Colega de classe pega a borracha do Pedrinho e
se recusa a devolver (Estímulo Antecedente)
• Pedrinho o empurra, fala alguns palavrões e toma
a borracha de volta (Comportamentos Operantes)
• e, AO MESMO TEMPO, sente reações
fisiológicas: coração dispara, respiração acelera,
fica vermelho (Comportamentos Respondentes)
Emoções como causa?
• Por que é atribuído papel de causa para os
sentimentos?
– Ocorrência de eventos contíguos: sentimentos surgem ao
mesmo tempo que outros comportamentos; pode ser
estabelecida, de modo impreciso, uma relação causal
– Dificuldade para identificar eventos antecedentes do
comportamento alvo; relato verbal permite apenas acesso
parcial a história de reforçamento
• Causalidade múltipla: poucas informações
• Papel da cultura: Sentimento como
causa
– Tristeza è Choro
– Paixão è Sorrir, cantar
Emoção: Análise do Comportamento
• Skinner (1989/1991):
– Sentimentos não são fenômenos mentais, de natureza
diferente dos outros comportamentos
– Sentimentos são manifestações físicas do organismo,
como “ações sensoriais”
– São eventos privados, acessíveis apenas à pessoa que
sente (ex: Paixão - taquicardia, tremor das pernas, “frio
na barriga”)
– Pode ocorrer reação observável por outras pessoas
(ex: expressão facial “x”; suspiro)
Emoção é Comportamento
• Ex: Lucy disse “x” enquanto conversava pelo
celular com Pedro. Pedro sentiu raiva e jogou o
celular na parede
– Raiva: se refere a um conjunto de respostas
(públicas e privadas)
– Respostas públicas (observáveis): tensão dos
músculos da fala, “forma de falar”; jogar o celular na
parede
– Respostas encobertas (privadas): Estado corporal –
aumento da frequência cardíaca, sudorese.....

Sentimentos são produto de contingências; é


comportamento porque depende da interação
com outros eventos
Emoção é Comportamento
Aquilo que sentimos são condições do nosso corpo que
resultam da exposição a determinadas contingências
(presentes e passadas); discriminar aquilo que
sentimos e falar sobre o que é sentido são
comportamentos aprendidos
Emoções

• Na terapia são frequentes as queixas a respeito


de estados emocionais/sentimentos

• Skinner (1989) diz:

“como as pessoas sentem é frequentemente tão


importante quanto aquilo que elas fazem” (p. 3).
Emoções

• Ex: Cliente relata sentimentos de tristeza profunda,


perda de apetite, desânimo, desinteresse pela vida ...
• Se “tristeza profunda” for a causa dos sintomas
depressivos, como deve ser “eliminada”?
– Alternativa: Remédio indicado por psiquiatra
– Pode acontecer: Recaída após supressão do remédio

• Para a Análise do Comportamento, o sentimento e


as ações são produto da exposição a determinadas
contingências.
• Acesso aos sentimentos - Relato verbal
Análise do Comportamento

• Sentimentos são respostas fisiológicas eliciadas pelos


eventos ambientais
• Sentimentos ocorrem quase ao mesmo tempo que
comportamentos públicos operantes
– Som dos pneus em uma freada (US) è Sobressalto,
taquicardia (UR) - Respondentes
– Olhar e xingar o motorista - Operantes
• Processos operantes (após o incidente na faixa)
– Olhar atentamente a faixa antes de atravessar
– Falar que sente medo de atravessar a pista em horários
de pico de movimento
Interação Operante-Respondente

Respondentes

Eventos ambientais Suar, sentir mãos


tremendo, voz
Situação geradora “embargada”
de ansiedade:
Falar em público, Operantes (Fuga ou Esquiva)
Chegar perto da
sala Simular choro e cara triste;
Faltar aula;
Dizer que a mãe estava
doente.
Interação entre Contingências
• Tomada: Colocar o dedo na tomada è choque
SA: R è SR- (OPERANTE - punição)
• Choque è Taquicardia, sudorese, choro (medo)
US è UR (RESPONDENTE)
• Tomada (NS) foi pareada com choque, logo pode
funcionar como CS e eliciar CR (medo)
• Choque tem dupla função:
– Estímulo aversivo
– Estímulo eliciador
Emoção como comportamento
• O que denominamos de comportamento
emocional são:
– Comportamentos respondentes
– Comportamentos operantes (ou tendências a
agir de determinadas maneiras)

• O indivíduo não precisa estar sob controle de


todos esses comportamentos para descrever um
sentimento específico (relato verbal)
Emoção como comportamento
• Por que denominamos comportamentos tão
parecidos de raiva em um caso e paixão no
outro??
– Importância do CONTEXTO/CONTINGÊNCIA
Como aprendemos a falar sobre os
sentimentos?

• Informações sobre como o outro se sente favorece


a interação social
• Sentimento - Evento privado
• Comunidade verbal não tem acesso direto (na
maioria das vezes!)
• Eventos públicos acompanham eventos privados e
podem ser comuns em diferentes emoções. Ex:
• Choro pode ocorrer: raiva, medo, alegria
• Importância do relato verbal
Como aprendemos a falar sobre os
sentimentos? (Skinner)

• Comunidade verbal ensina comportamento verbal


sob controle de eventos privados, ou relato dos
próprios sentimentos e pensamentos, a partir de:
1) Resposta pública eliciada por evento privado
2) Evento público antecedente
3) Uso de metáforas
4) Relato do que é sentido sem atribuir nome ao
sentimento
Como aprendemos a falar sobre os
sentimentos? (Skinner)
• Como ensinar a relatar um evento privado (“dor”)?
1) A partir de resposta pública eliciada por evento privado
• Ex: Criança franze a testa e põe a mão na barriga
(evento público); chora (resposta pública) e sente dor
(evento privado)
Mãe: “Sua barriga está doendo?” e entrega o remédio
Depois:
Dor semelhante elicia franzir testa e mão na barriga
Dor (SD): falar “Estou com dor de
barriga” è Mãe dá remédio + término da dor
Como aprendemos a falar sobre
os sentimentos?
2) A partir de um evento público antecedente
• Ex: Criança cai e machuca o joelho (evento público),
e sente dor (evento privado)
Mãe: “Está doendo?” e faz curativo
Em situações futuras:
Machucado e as sensações provocadas (SD): Dizer
“está doendo” è Cuidados da mãe (curativo,consolo)
Como aprendemos a falar sobre
os sentimentos?
3) Uso de metáforas
• Relatos verbais a partir de propriedades comuns entre
um estímulo público e um estímulo privado. Ex:
o “Minha cabeça está latejando”
o “Meu estômago está embrulhado”
o “Senti um alívio quando ele partiu”
o “Me senti leve depois que confessei o que fiz de
errado”
Como aprendemos a falar sobre
os sentimentos?
4) Relatar o que sente sem atribuir nome ao sentimento
• Descrever a situação que provoca a condição sentida
(sensação) e as respostas emitidas
• Ênfase nas variáveis ambientais relacionadas com
os sentimentos
• Exemplo:
o “Quando vi o assaltante, sai correndo. Meu
coração batia forte e minha respiração ficou
ofegante ..”
Como aprendemos a falar sobre
os sentimentos?
• Dizer o que está sentindo nem sempre é suficiente para
que o outro saiba o que você realmente sente
• A palavra usada por uma pessoa para designar seu
sentimento foi aprendida a partir da inferência de outra
pessoa
• Diferença entre certos sentimentos é tão sutil que se
torna difícil ser compreendido pelo outro
– Tristeza, angústia ou frustração?
• Por isso a preocupação do analista do comportamento
não é com o termo que a pessoa utiliza e sim com os
eventos correlacionados (contextuais e consequências)
Descrição de sentimentos
• Sentimento não pode ser reduzido a uma única classe
de respostas ou a um conjunto de operações
• Muitas variáveis estão relacionadas com a produção dos
sentimentos e com o relato verbal
o Ex: Uma mesma pessoa pode ficar paralisada diante
de um assalto, mas grita e sai correndo diante de uma
cobra
• Embora as classes de respostas apresentadas em cada
situação tenham sido diferentes, ambas as situações
produziram o sentimento de medo nesta pessoa
Alegria
• Sentimento de alegria tende a ocorrer em situações que
no passado produziram reforçadores positivos com alta
probabilidade. Ex:
o Conversar com amigo que conta histórias e piadas
o Quando o time ganha um campeonato
o Receber um buquê de flores
• Ocorre pareamento de determinadas respostas fisiológicas
com estímulos condicionados (presença do
amigo, vitória do time, buquê de flores)
Tristeza

• Sentimento de tristeza está relacionado com o término


ou interrupção de reforçadores. Ex:
o Brinquedo preferido da criança quebra
o Perda do emprego
o Rompimento de um relacionamento amoroso
Raiva

• Sentimento de raiva está relacionado com a presença


de estimulação aversiva ou privação de reforçador
positivo. Ex:
o Adolescente de castigo - não pode ir a uma festa
o Ser alvo de agressão verbal e física
o Raiva na presença de pessoa que trata você mal
(piadas, respostas grosseiras ...)
Frustração
• Sentimento de frustração ocorre em situações em que o
comportamento habitualmente reforçado deixa de ser
reforçado. Ex:
o Quando um aluno que estuda e sempre tira notas
altas, tira uma nota mediana em uma prova
o Quando o namorado que sempre dava presente na
data de aniversário de namoro esquece a data
Ansiedade

• Sentimento de ansiedade ocorre diante de situação que


sinaliza apresentação de estímulo aversivo. Ex:
o Na sala de recepção do dentista, enquanto aguarda
atendimento
o Situação de paquera - possibilidade de ser “rejeitado”
Medo

• Sentimento de medo ocorre diante do estímulo aversivo.


Ex:
o Na presença de um rato
o Durante um assalto
Vergonha e Culpa
• Ocorrem diante da apresentação de estímulo aversivo
ou retirada de reforçadores positivos por outra pessoa
• A comunidade verbal estabelece normas em relação a
comportamentos que são (ou não) aceitáveis. Ex:
o Filho desobedeceu o pai e foi a uma festa. Pai
repreende, diz que foi desrespeitado (estímulos
aversivos) e corta a mesada (retirada de
reforçador). Pode ser que o filho sinta vergonha e
culpa e não volte a desobedecer.
o Receber multa de um policial por estacionar em
vaga de deficiente. Sentir vergonha e culpa e não
repetir mais este comportamento
Amor
• Sentimento de amor ocorre diante de pessoa (ou animal
ou algo) que proporciona uma variedade de reforços ou
reforços de alta intensidade. Ex:
o Namorado que elogia, dá atenção, carinho e
presentes
o Animal de estimação

Os reforços para cada pessoa dependem


de sua história de reforçamento e punição
Dúvidas?

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