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CURSO DE FORMAÇÃO
TÉCNICO
EM
ENFERMAGEM
MÓDULO I
PSICOLOGIA APLICADA A ENFERMAGEM
.
Professora: Maria Ercilena de A. Batista
Profissão: Professora /Psicóloga/ Palestrante
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A psicologia, por se tratar de uma ciência que lida justamente com as questões
afetivas do ser humano e suas relações sociais, está diretamente ligada à área de enfermagem
e também intimamente relacionada a seus profissionais.
É necessário aplicar a psicologia na área de enfermagem para que os futuros
profissionais possam aprender e compreender um novo olhar ao estabelecer seu
relacionamento com o paciente e também com seus familiares, e não deixar essas práticas
somente com o profissional da área de assistência social.
O cuidado com o ser humano através da enfermagem se mostra necessário ao se
associar à outra área, neste caso a área de psicologia, pois é esse conhecimento que vai ajudar
na forma de tratar esse paciente, não apenas nos cuidados básicos como dar banho, realizar a
troca de uma roupa, mas sim no contato que o profissional passa a ter com o outro indivíduo,
como por exemplo, dar um conselho, orientar, ou simplesmente lhe proporcionar um sorriso.
Quando o profissional de enfermagem estabelece essa comunicação com o paciente,
usando todo o conhecimento de psicologia que foi introduzido em seu curso, é então criado
um vínculo de confiança com esse paciente. E muitas vezes através desse relacionamento o
tratamento pode apresentar melhores resultados e uma recuperação mais satisfatória.
CONCEITO DA PSICOLOGIA
O que é Psicologia?
ÁREA DE ATUAÇÃO
Psicologia Clínica: A psicologia clínica tem como fim diagnosticar, tratar e aliviar o
sofrimento e as disfunções psicológicas ou outros problemas das pessoas, intervindo
geralmente ao nível da saúde mental. Esta especialização da Psicologia é, portanto, muito
importante ao promover o bem estar e o desenvolvimento pessoal dos indivíduos.
A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
Segundo FREUD, a estrutura da personalidade é formada por três instâncias, o id, o ego e
o superego, descritas a seguir.
ID
O Id contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento e está presente
na constituição, acima de tudo os instintos que se originam da organização somática e
encontram expressão psíquica sob formas que nos são desconhecidas. O id é o sistema
original da personalidade, a matriz o qual se originam o ego e o superego. O id é o
reservatório inconsciente das pulsões, as quais estão sempre ativas. Ele está diretamente
relacionado à satisfação das necessidades corporais. Para Freud, ele age de acordo com
o princípio do prazer.
O id não tolera aumentos de energia, que são experienciados como estados de tensão
desconfortáveis. Consequentemente, quando o nível de tensão do organismo aumenta, como
resultado ou de estimulação externa ou de excitações internamente produzidas, o id funciona
de maneira a descarregar a tensão imediatamente e fazer o organismo voltar a um nível de
energia confortavelmente constante e baixo. Esse princípio de redução de tensão pelo qual o
id opera é chamado de princípio do prazer. (HALL, LINDZEY, CAMPBELL, 1998, p.53)
O id representa o mundo interno da realidade subjetiva, não tendo conhecimento da
realidade objetiva (função do ego). Para atingir seu objetivo de satisfação, o id tem sob seu
comando as ações reflexas (inatas e automáticas, como piscar e espirrar, por exemplo) e o
processo primário, que envolve uma reação psicológica mais complexa. Outro exemplo é
quando a pessoa está faminta. O processo primário apresenta à pessoa a imagem mental de
um alimento, sendo essa alucinação chamada de realização do desejo. O processo primário
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sozinho não é capaz de reduzir a tensão, pois a pessoa faminta não pode comer as imagens
mentais. Desenvolve-se, então, um processo secundário e começa a tomar forma o ego.
EGO
As características do processo secundário (raciocínios maduros necessários para lidar
racionalmente com o mundo exterior) estão contidas no ego, que é a segunda estrutura da
personalidade freudiana e o mestre racional da personalidade. Enquanto o id obedece ao
princípio do prazer, o ego obedece ao princípio da realidade. “O objetivo do princípio da
realidade é evitar a descarga de tensão até ser descoberto um objeto apropriado, para a
satisfação da necessidade.” (HALL, LINDZEY, CAMPBELL, 1998, p. 54).
O ego controla o acesso à ação e decide que instintos serão satisfeitos e de que
maneira. Ele é a porção organizada do id, e existe para atingir os objetivos do id e não frustrá-
los.
SUPEREGO
O último sistema da personalidade a se desenvolver é o superego, força moral da
personalidade, obtida por meio da introjeção dos valores e padrões dos pais e da sociedade.
“Ele é o representante interno dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade conforme
interpretados para a criança pelos pais e impostos por um sistema de recompensas e
punições” (HALL, LINDZEY, CAMPBELL, 1998, p. 54).
A principal preocupação do superego é decidir se uma coisa é certa ou errada, para
poder agir de acordo com os padrões morais da sociedade, desenvolvendo-se em respostas às
recompensas e punições dadas pelos pais por volta dos cinco ou seis anos de idade. Para
receber recompensas e evitar punições, a criança passa a orientar seu comportamento de
acordo com os pais. Quando ela é punida, seu comportamento fica incorporado à consciência.
Quando ela é recompensada ou elogiada, esse comportamento fica incorporado no seu ideal
de ego. A consciência pune, fazendo-a se sentir culpada e o ideal de ego recompensa,
fazendo-a se sentir orgulhosa.
Com isso, a criança aprende um conjunto de regras que são aceitas ou rejeitadas por
seus pais, introjetando esses ensinamentos, as recompensas e castigos, tornam-se auto-
administráveis.
O controle dos pais é substituído pelo autocontrole. Nós passamos a nos comportar,
pelo menos em parte, de acordo com as diretrizes morais agora em grande parte
inconscientes. Como resultado dessa introjeção, experimentamos culpa ou vergonha sempre
que agimos (ou pensamos em agir) em desacordo com esse código moral. (SCHULTZ,
SCHULTZ, 2002, p. 51)
As principais funções do superego são inibir os impulsos do id (principalmente
sexuais e agressivos); persuadir o ego a substituir objetivos realistas por objetivos moralistas;
buscar a perfeição. Apesar das aparentes diferenças entre o id e o ego, na verdade, o superego
é como o id ao não ser racional e como o ego ao tentar exercer um extremo controle sobre os
instintos.
O superego não busca prazer (como o id), nem a obtenção de metas realistas (como o
ego), mas apenas a perfeição moral. O id pressiona por satisfação, o ego tenta adiá-la e o
superego coloca a moralidade acima de tudo. (SCHULTZ, SCHULTZ, 2002, p. 51)
Id, ego e superego, na verdade, são apenas nomes para vários processos psicológicos. A
personalidade, normalmente, funciona como um todo e esses diferentes princípios trabalham
juntos, sob a liderança do ego. O id seria o componente biológico da personalidade, o ego o
componente psicológico e o superego o componente social. O ego, por ficar no meio, é
pressionado pelo id, pela realidade e pelo superego e o “resultado inevitável desse confronto,
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Traços de Personalidade
1. Aberto
2. Reservado
3. Introvertido
4. Extrovertido
5. Seguro
6. Hesitante
7. Submisso
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9. Relaxado
10. Excitável
O que é Afetividade:
Emoções
A emoção é um estado de excitação física e psíquica acompanhadas de breves reações
em resposta a um acontecimento inesperado. Elas podem ser positivas e negativas,
dependendo de como ocorre, o momento em que acontecem e o modo como chegam a ser
decodificadas de acordo com as experiências das pessoas. Algumas emoções podem ser
vistas como positivas e negativas como o choro, riso, etc. Em toda conduta, nunca há uma
ação puramente intelectual, assim como não há atos que sejam puramente afetivos.
Ansiedade
Um dos maiores problemas da mente é encontrar meios para resolver ou amenizar a
ansiedade. A ansiedade é um aumento esperado ou previsto de tensão e pode aparecer em
uma situação real ou imaginária.
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A ansiedade é uma sensação que se manifesta através de vários sintomas, fazem parte
da vida de muitas pessoas, principalmente moradoras os centros urbanos. Sintomas Físicos –
falta de ar, taquicardia, nervosismo, suores, problemas digestivos (prisão de ventre, enjoos,
gases), fome exagerada, falta de apetite, etc. Esses sintomas indicam que seu emocional não
esta bem, portanto não adianta tratar as causas emocionais que geram esta ansiedade.
Sintomas Psicológicos – medos sem sentido, sentimento exagerado de irritação,
ingestão exagerada de bebidas alcoólicas ou calmantes, mania de perfeição, medo de críticas,
medo de errar, sentimentos de inveja, etc.
TEMPERAMENTO E CARÁTER
A teoria de Hipócrates
Sanguíneo
Este temperamento é expansivo, otimista e impulsivo, extrovertidos e sensíveis, os
sanguíneos são indivíduos que não passam desapercebidos, pois são espontâneos e gostam de
interagir. Além disso, costumam fazer gestos largos e falar bem em público.
Pontos fortes: são comunicativos, resiliente, adaptáveis e entusiastas;
Pontos que precisam ser trabalhados: impulsividade, falta de atenção, superficialidade e
exagero.
Fleumático
Este temperamento é sonhador, pacífico, dócil. Os fleumáticos prezam a rotina, o
silêncio e dificilmente perdem o controle, pois costumam avaliar antes de reagir. São
pacientes, observadores, disciplinados, preferem não manifestar suas opiniões em público e
não costumam reagir bem às críticas.
Pontos fortes: são equilibrados e confiáveis;
Pontos que precisam ser trabalhados: lentidão, resistência as mudanças e indecisão.
Colérico
Este temperamento é explosivo, ambicioso e dominador. Indivíduos coléricos são
determinados e possuem grande capacidade de planejamento, além de muita energia e
impulsividade. São líderes natos e explosivos.
Pontos fortes: determinação, habilidade de liderança e praticidade;
Pontos que precisam ser trabalhados: egocentrismo, intolerância e impaciência.
Melancólico
Este temperamento é tímido, artístico e solitário. Os melancólicos têm a sensibilidade
muito aflorada, e são pessoas profundas, detalhistas e introvertidas, com tendência a guardar
seus sentimentos. São fiéis, desconfiados e tendem a escolher profissões que possam exercer
sozinhos.
Pontos fortes: lealdade, dedicação e sensibilidade;
Pontos que precisam ser trabalhados: egoísmo, pessimismo e inflexibilidade.
A doença é um aspecto que faz parte da vida do ser humano. Todas as pessoas em
algum momento da vida poderão adoecer ou já adoeceram. Ela é entendida como algo que se
manifesta no corpo biológico do sujeito. Este é o entendimento mais comum na sociedade.
Apesar de ser um aspecto biológico, também pode ser entendida como social pois implicará
nas relações que este sujeito possui. A doença sempre se apresenta de forma negativa na vida
do sujeito. Ela se faz da perda da saúde impedindo o sujeito de dar uma sequencia normal as
suas atividades. O sujeito psíquico munido de sua subjetividade enfrentará o adoecimento de
forma singular.
A DOENÇA
a doença aguda pode se desenvolver rapidamente mas, tem um período curto de duração. Já a
doença crônica se desenvolve lentamente porém, ela poderá ser contínua ou se prorrogar por
longos períodos.
Conhecer essa diferença se torna essencial para o trabalho do psicólogo, pois tais
doenças geram aspectos psicológicos distintos e o seu tratamento implicará em longos ou
breves períodos de hospitalização. Segundo Ávila (1996, p.31), “A doença se caracteriza
fundamentalmente por um estado negativo, de ausência de saúde.” A doença é um mal na
vida do indivíduo, pois afeta o seu bem-estar. Ter o estado de saúde alterado provoca no
sujeito sentimentos diversos. Para a medicina, estar doente é ter seu estado saudável
modificado, algo que para o indivíduo é crucial. Segundo o referido autor “do ponto de vista
da medicina, pode-se caracterizar o indivíduo doente abstraindo completamente as categorias
que este próprio indivíduo considera como definidoras do seu bem-estar.”
O sujeito sofre por ter que passar por essa situação. Apesar de já ter aceito a doença se sente
inconformado com sua situação. Na depressão há um sofrimento profundo. Sentimentos de
tristeza, desolamento, desesperança, culpa e medo são comuns nesta fase.
pode ter consequências além do sofrimento, até mesmo a aquisição de outra doença.
Portanto a questão da subjetividade é outro aspecto importante para pensar o sofrimento
psíquico no processo de hospitalização. O sujeito passa por muitas mudanças e sua
singularidade não é levada em conta. Para Simonetti (2011) “[...] Sua vontade é aplacada,
seus desejos coibidos, sua intimidade invadida, seu trabalho proscrito, seu mundo de relações
rompido. Ele deixa de ser sujeito.” Toda essa angústia provocada no processo de
hospitalização também surge como uma resposta ao medo. Ao ser hospitalizado, a
imaginação do sujeito pode ser um aspecto negativo em muitos casos. Não saber o que vai
acontecer nem como vai acontecer pode levar o sujeito a pensar na solução que mais lhe
angustia.
Sofrimento Psíquico
O sofrimento psíquico pode ocorrer devido a vários fatores, com todas as pessoas em
algum momento da vida. Essa situação provoca um sentimento de esgotamento, algo difícil
de suportar. Para Bock (2002) “em muitos momentos de sua vida uma pessoa pode viver
situações difíceis e de sofrimento tão intenso, que pensa que algo vai arrebentar dentro de si
mesma... que vai enlouquecer”. Uma internação repentina ou até mesmo esperada pode
provocar este estado.
autor acima citado, a dor também causa sofrimento psíquico, ela vai muito além do biológico.
Não é apenas o corpo que sofre o psíquico também.
O sujeito com dor está vivenciando um processo angustiante. Essa dor física pode ser
aliviada por medicamentos, porém o sofrimento psíquico não, este deve ser trabalhado pois,
segundo Camon (2001) “o paciente sofre por ter medo de ficar com sequelas, incapacitado,
de ter perdas materiais e sociais e principalmente da morte”. Esse sofrimento também surge
devido às inseguranças do sujeito em relação a seu futuro. Muitas fantasias podem ser criadas
devido a sua condição atual e até mesmo por falta de esclarecimentos referentes ao seu estado
de saúde.
O sofrimento desencadeia no sujeito uma tensão. Ele é interno mas pode “falar”
através da dor. Quando o sujeito não consegue elaborar suas questões, esse sofrimento fica
em algum lugar esperando sua resolução. Para Clavreul (1983) “o sofrimento, inclui a dor,
mas antes de tudo parece designar um estado de tensão interna, que deve terminar por uma
resolução. O sofrimento está em suspenso, isto é, à espera”. Segundo Roudinesco (2000) o
sofrimento psíquico se apresenta em forma de depressão. Este estado depressivo impede o
sujeito de lidar com as situações que lhe são impostas. O sujeito “cai”. Seu dia a dia passa a
não ter mais graça.
Não há um prazer em fazer as coisas. As soluções tentadas parecem não ser eficazes.
O sujeito não busca entender a origem dessa questão que seria o ideal. O sofrimento psíquico
manifesta-se atualmente sob a forma de depressão. Atingindo no corpo e na alma por essa
estranha síndrome em que se misturam tristeza e a apatia, a busca de identidade e o culto de
si mesmo, o homem deprimido não acredita mais na validade de nenhuma terapia. No
entanto, antes de rejeitar todos os tratamentos, ele busca desesperadamente vencer o vazio de
seu desejo. Por isso passa da psicanálise para a psicofarmacologia e da psicoterapia para a
homeopatia, sem se dar tempo de refletir sobre a origem de sua infelicidade.
(ROUDINESCO, 2000, p.13). Parece haver uma falta no sujeito, um vazio a ser
preenchido. Freud (1930) em “O Mal na Civilização” nos fala desse vazio como a perda do
objeto. E que na depressão a perda é secreta. Em uma hospitalização várias coisas são
perdidas porém não se deve antecipar o motivo. Ele é singular. Freud (1930), quando fala em
sofrimento, aponta que este pode ser um agente ameaçador e que parte de três direções: […]
O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo condenado à
decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade
como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de
destruição esmagadoras e impiedosas; e finalmente, de nossos relacionamentos com os outros
homens.[...] (FREUD, 1930, p.95).
Podemos observar que o sofrimento pode surgir por conta de nosso próprio corpo e
que este nos dá sinais de alerta. Provém também do mundo externo com todos os seus fatores
negativos e pesados. E por último mas não menos importante, podemos sofrer devido a
nossos relacionamentos interpessoais.
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A HOSPITALIZAÇÃO
Quando uma pessoa é hospitalizada ela passa por variadas situações. Uma delas é a
despersonalização (é um tipo de transtorno dissociativo que consiste em sentimentos
recorrentes ou persistentes de distanciamento do próprio corpo ou processos mentais,
geralmente com uma sensação de ser um observador externo da própria vida). Essa pessoa,
muitas vezes, passa a ter “outro nome”. É chamada pela equipe pelo nome de sua doença ou
pelo número de seu leito. Passa também a ser rotulado, estigmatizado de doente. O paciente
ao ser hospitalizado sofre um processo de total despersonalização. Deixa de ter o seu próprio
nome e passa a ser um número de leito ou então alguém portador de uma determinada
patologia.
O sujeito ao ser hospitalizado, passa a adquirir signos. A partir dessa aquisição, ele
poderá sofrer uma transformação. As pessoas com as quais convive também passarão por
uma mudança devido a esse processo. Esses signos levarão o sujeito a desenvolver uma nova
performance existencial. [...] E pelo simples fato de se tornar “hospitalizado” faz com que a
pessoa adquira signos que irão enquadrá-lo numa nova performance existencial e até mesmo
seus vínculos interpessoais passarão a existir a partir desse novo signo.
Seu espaço vital não é mais algo que dependa de seu processo de escolha. Seus
hábitos anteriores terão de se transformar frente à realidade da hospitalização e da doença.
(CAMON, 1995, p. 3). Esse novo lugar fará o sujeito perder sua autonomia. Ele não poderá
mais fazer suas próprias escolhas, pois estas dependerão de seu estado de saúde. Seus hábitos
também deverão ficar suspensos pois devido a sua hospitalização terá que manter uma rotina
estabelecida conforme a doença existente.
A situação de hospitalização passa a ser determinante de muitas situações que irão ser
consideradas invasivas e abusivas na medida em que não se respeita os limites e imposições
dessa pessoa hospitalizada. E, embora esteja vivendo um total processo de despersonalização,
ainda assim determinadas práticas são consideradas ainda mais agressivas pela maneira como
são conduzidas dentro do âmbito hospitalar. (CAMON, 1995, p. 3. O psicólogo no âmbito
hospitalar, ao trabalhar a questão da despersonalização do paciente, estará auxiliando em um
processo de humanização. Neste caso, a humanização seria um relacionamento adequado
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Camon (1995) nos fala que: “Ao trabalhar no sentido de estancar os processos de
despersonalização no âmbito hospitalar, o psicólogo estará ajudando na humanização do
hospital, pois seguramente esse processo é um dos maiores aniquiladores da dignidade
existencial da pessoa hospitalizada”. O psicólogo ao dar um lugar de fala para o paciente,
proporciona condições para ele assumir sua condição de sujeito. Poderá também auxiliar,
dando informações para a família, desfazendo as fantasias que são construídas a partir da
falta de informação.
O objetivo da enfermagem
O objetivo da enfermagem é suprir a ajuda que o paciente requer para satisfazer suas
necessidades. Tendo alcançado o seu objetivo, o enfermeiro contribui simultaneamente para a
saúde física e mental do paciente.
Como destacam alguns autores, "cuidar é a razão de ser da enfermagem e
consequentemente ética da enfermagem, mas a ética do respeito transcende os limites da
enfermagem, para ter aplicações a todos os níveis da sociedade". Seja qual for a área de
trabalho, temos constatado que pedidos formulados pelos doentes situam-se na esfera
relacional.
Faz parte da profissão de enfermagem competência em desenvolver o relacionamento
interpessoal como uma prática diária, embutida em todo cuidado, clínica ou especialidade.
Atender o paciente de maneira mais humana deveria ser prioridade para todos os
profissionais de saúde.
Trabalho em equipe
Como em qualquer empresa, que reúna pessoas de várias disciplinas, haverá queixas
de várias partes. No entanto, as maiores queixas dos profissionais de enfermagem estão
relacionadas à própria equipe de enfermagem, e à equipe médica.
Queixas em relação à equipe de enfermagem:
Ausência de trabalho em equipe – resulta em um trabalho fragmentado, onde cada
profissional faz a sua parte, não se importando com o todo;
Falta de ética profissional – competição entre pares, egoísmo e individualismo. Tudo
isso deve ser substituído pela verdadeira ética profissional, que não deve ser
interpretada como conivência e ou corporativismo;
Maledicência – criticar o chefe ou os colegas na presença de outros funcionários ou
pacientes. Inconveniência e desrespeito desequilibram as relações. É necessário cultivar
as virtudes, tais como, respeito, cooperação e convivência saudável, para obtermos
dignidade.
Talvez isso ocorra porque o enfermeiro realmente não mostra o seu conhecimento e a
importância do que faz.
Acredito que uma forma de melhorar o conflito enfermeiro x médico seja investir na
obtenção de comunicação clara e eficaz, e compreensão de cada um acerca do seu papel no
atendimento ao paciente, além da importância da boa relação para a qualidade da assistência.
A insatisfação no trabalho também interfere nas relações e pode ser decorrente de
vários fatores, entre eles a estrutura física inadequada, recursos materiais insuficientes, falta
de autonomia, sobrecarga de trabalho, baixa remuneração, falta de reconhecimento
profissional e recursos humanos mal dimensionados.
O dimensionamento de pessoal inadequado prejudica o bom andamento do serviço. No
contexto citado, ele provoca insatisfação que, consequentemente, prejudica as relações
interpessoais.
Além desses fatores, relacionamento interpessoal da equipe de enfermagem está
intimamente ligado ao tipo de liderança do seu supervisor ou gestor.
Acredito que a liderança democrática seja a mais apropriada, pois busca atingir seus objetivos
por meio de atitudes que se aproximam do modelo participativo, valorizando as relações
interpessoais e o desenvolvimento profissional.
Entretanto, nem todas as lideranças são democráticas e, às vezes, os enfermeiros têm que
lidar com chefes autoritários, centralizadores, coercitivos, tornando a relação um sofrimento
psíquico.
Portanto, adote atitudes que neutralizem essa situação, como:
Tenha boa comunicação – aperfeiçoe sua comunicação para que o seu superior note
que você é bom naquilo que faz;
Tenha autoconfiança – não deixe que o supervisor duvide das suas capacidades e
habilidades. Dê o seu melhor, trabalhe da melhor maneira possível. Assim, será capaz de
vencer os obstáculos do dia-a-dia;
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Seja um bom ouvinte – demonstre ao seu superior que está ouvindo atentamente o que
lhe foi solicitado, pois isso revela preocupação em desempenhar bem as suas funções,
revelando responsabilidade;
Construa relações – tenha boas relações com os colegas de trabalho, com os pacientes e
familiares. Isso contribuirá para uma imagem positiva sobre você;
Conheça bem seu superior – descubra as atitudes que ele não gosta e tente evitá-las;
Antecipe-se – com o decorrer do tempo você conhecerá bem o seu superior, o que ele
tem hábito de pedir, ou como aprecia a execução de uma atividade. Isso lhe permitirá
antecipar as necessidades e surpreendê-lo com eficiência;
Aceite novas formas de trabalho – se lhe for solicitado alguma atividade nova, não
rejeite. Aperfeiçoe seus conhecimentos para poder realizá-la. Isso vai fazer muita
diferença, pois mostra o quanto você está aberto a novas opções;
Seja flexível – esteja aberto a mudanças e reconheça seus erros. A flexibilidade é vista
como competência e, atualmente, exigida nos ambientes de trabalho;
Empenhe-se – demonstre sua opinião a respeito do que lhe é proposto. Não concorde
com tudo. Dedique-se ao que está fazendo e faça com esmero. Siga seus objetivos até
concluí-los.
O paciente é uma pessoa, um ser humano único que no momento requer nossa ajuda.
O enfermeiro é uma pessoa, um ser humano único, que adquiriu conhecimentos e habilidades
específicas para cuidar dos outros e dispõe-se a isso. Através da comunicação interpessoal,
ambos poderão atingir seus objetivos.
Sadala & Stefanelli (1996) citam que a comunicação é vista na enfermagem como
instrumento básico, como uma competência e uma habilidade que precisam ser
desenvolvidas, praticadas após terem passado por um aprendizado teórico do relacionamento.
Observa-se as dificuldades de ensino e aprendizagem nesta técnica no nível médio de
enfermagem, cujo ensino é mais elementar que o da graduação nesta profissão (Simpósio,
1990). Acreditamos também que exista dificuldade em abordar este tema, o que entendemos
que possa impedir a valorização dessa temática. Há de se consider a comunicação como parte
integrante do cuidar, portanto é um instrumento de trabalho do enfermeiro e de sua equipe,
que precisa ser pesquisado para que seus resultados possam contribuir para os avanços
esperados no campo da assistência à saúde.
A família é um ponto importante no CTI, por este motivo devemos perceber em que
momento a família necessita de cuidados e esclarecimentos, suprindo-lhes suas necessidades
e proporcionando-lhes à atenção necessária.
Os pesquisadores atuam e acreditam que é de extrema importância do enfoque
familiar e assistência intensiva por experiências vivenciadas por elas com o aspecto
mecanicista, devido à errônea utilização de monitores e máquinas, que deveriam ser
utilizadas para complementar a assistência, pertinente ao olhar clínico, e atenção junto do
cliente. A enfermagem tem que perceber que as máquinas isoladas não têm tanto valor quanto
o toque e a escuta, que na maioria das vezes, principalmente, para o familiar é de extrema
ajuda para o indivíduo superar separação momentânea ou não de seu ente querido.
Toda essa impessoalidade massacra os conceitos de humanização, que acarretará em
prejuízos para o paciente e seus familiares, que nesse momento foram exonerados de suas
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responsabilidades e de sua essência, que é individual, mas, porém é imprescindível a todo ser
humano.
A família deve ser preparada para a sua experiência no CTI. A condição, o estado de
alerta e o aspecto do paciente devem ser descritos em termos adequados para o seu nível de
compreensão. Qualquer equipamento deve ser explicado antes que a família veja o paciente;
O enfermeiro deve acompanhar a família junto ao leito para fornecer explicações. As
intervenções do enfermeiro devem estar direcionadas a prestar suporte ao familiar para
enfrentar estes momentos. O enfermeiro passa a ser um elo indispensável entre o paciente e a
família.
Levando então em consideração o cuidado, e em contrapartida o, cuidado com o ser
humano, devemos fazer o possível para que essa assistência seja feita de forma humanizada.
A escuta do profissional de enfermagem vai além do cuidado do cliente, envolve também a
família que sofre pela doença de seu ente, é importante sim, para dar o ponto de partida, para
diagnóstico e tratamento do processo saúde - doença. Mas não é único, não é só isso. O
enfermeiro deve atuar, também, no sentido de reforçar os mecanismos de enfrentamento
desses familiares, com o objetivo de fornecer apoio emocional e mobilizar sentimentos
positivos. A enfermagem, sendo uma profissão que enfatiza o cuidado personalizado e
holístico, deve se preocupar em atender, não apenas as necessidades dos pacientes, mas
também de seus familiares.
O fato de ver seu familiar apenas nos horários de visitas e restrito, é um fator que gera certa
insegurança por não poder estar a todo o momento com seu ente querido. O fato da visita
curta e rápida gera sentimentos questionadores sobre o fato de o seu ente estar bem atendido e
bem cuidado, deixando então na maioria das vezes os familiares tensos, cheios de
questionamentos e em busca de informação. Existe a necessidade das famílias de se
comunicar com a equipe de Enfermagem durante os horários de visita, receber orientações e
esclarecer dúvidas, assim como, ter satisfeita sua necessidade de conforto, receber palavras
carinhosas e atenção.
Ora, esses que exercem as funções paternas e maternas para um novo sujeito e que
sustentam e se sustentam frente a novos modos de subjetivação, somente o fazem a partir de
um discurso que se institui no social e em determinado movimento histórico, em seus saberes
e em suas ignorâncias, seus gozos e seus sofrimentos. É uma construção sempre a mercê do
previsível.
A partir disto, podemos nos perguntar sobre os efeitos desses fatores presentes na não
rara construção de lugares vazios em que o sujeito se depara na sua construção
contemporânea e, em decorrência, seu aprisionamento na melancolia e na busca de um gozo
tão rápido que não há lugar nem para o prazer e muito menos para o desprazer. É verdade que
temos aí a construção de um narcisismo frágil, mas com potências, possibilidades e
dificuldades para serem levadas em conta nas reflexões sobre a noção de sujeito em nosso
tempo. Porém, somos sabedores que essa é apenas uma das possibilidades de se pensar nos
modos de subjetivação na contemporaneidade.
Ressaltamos aqui outro elemento para pensar essa noção de subjetividade ampliada,
ou seja, que entrelaça o sujeito ao discurso social, e que é pontualmente trabalhado por
Foucault, quando ele teoriza sobre as relações de poder. Para tanto recorremos a Peixoto
Júnior (2004), que, nesta perspectiva, aponta que podemos considerar que o poder não atua
simplesmente oprimindo ou dominando as subjetividades, mas operando na sua própria
construção, o que nos permite investigar de forma detalhada aquilo que se encontra na base
de sua formação. Salientamos que a função materna e as interdições paternas têm lugar
primordial. Destacamos fortemente a possibilidade de realizar um paralelo com o pensamento
psicanalítico ao tomarmos em análise o viés da proibição. Embora estejamos em domínios
teóricos diferentes, ousamos sugerir que as noções de subjetividade e sujeito se enlaçam.
Como diz Peixoto Junior (2004), a subjetividade procura o signo de sua existência
fora de si mesma, num discurso ao mesmo tempo dominante e indiferente. Como estas
categorias sociais são as que supostamente garantem a existência subjetiva, a submissão
parece ser o preço a pagar. À medida que uma verdadeira escolha é aparentemente
impossível, tendemos a nos subordinar como única possibilidade de existência, pois essa
somente é possível através dos cuidados do outro. Somos absurdamente vulneráveis diante do
outro e, ao mesmo tempo, mesmo que paradoxalmente, carregamos a sua potência para o
desenlace, mesmo que ilusório, deste enredamento.
Todo processo de construção deste sujeito é realizado no coletivo e, por ser uma obra
de autoria coletiva, em maior ou em menor medida, a história pode lhe escapar. Assim,
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inserido neste cenário de múltiplas singularidades que se entrecruzam, ele realiza a sua
história e a dos outros, na mesma medida em que é realizado por ela, sendo, por isso, produto
e produtor, simultaneamente. Ele não a realiza como bem entende, mas também não se
constitui como um objeto dela, podendo realizá-la de uma forma mais ou menos alienada,
sempre em função de um projeto.
Simultaneamente fuga e salto para frente, recusa e realização, o projeto retém e revela
a realidade superada, recusada pelo movimento mesmo que a supera (Sartre, 1984, p. 152).
por intensas vivências afetivas de medo, pena, culpa e impotência, assim como frequências
elevadas de estresse, distúrbios do humor e ansiedade. Na busca de favorecer o melhor
enfrentamento e respostas a essas experiências, o apoio de outros membros da família,
amigos, vizinhos, representantes religiosos que tendem a ajudar o paciente a enfrentar o dia a
dia angustiante é importante. Ao atravessar esses momentos de crise juntos, o paciente, a
família e os grupos de apoio tendem a se aproximar e fortalecer os vínculos já existentes. Isso
pode operar para tornar a crise um momento de recuperação e até mesmo de crescimento
pessoal (SANTOS et al., 2013; LUSTOSA, 2007).
A necessidade atendimento psicológico torna-se mais evidente quando o processo de
adoecimento mobiliza vivência, frustrações, arrependimentos, preocupações e culpabilidade
nos familiares e cuidadores da doença. Nessas circunstâncias, a atuação do psicólogo no
contexto hospitalar também se refere à mediação na comunicação da tríade paciente-família-
equipe. Quando o psicólogo pode exercer de forma plena as suas funções, a escuta, assim
como a fala do psicólogo e outros profissionais de saúde, tende a mobilizar no paciente e em
seus familiares o sentimento de acolhimento e conforto diante da situação vivenciada
(VOLLES; BUSSOLETTO; RODACOSKI, 2012).
Oferecer apoio psicológico ao familiar faz parte do tratamento e é elemento
fundamental para conseguir lidar com essas necessidades. Sendo assim, Ismael (apud Moreira
et al., 2012) enfatiza a importância de o psicólogo trabalhar com a possibilidade do familiar
acompanhante permanecer próximo ao paciente estando ciente dos fatos que acontecem
quanto aos procedimentos que envolvem a internação, além de o familiar ser coadjuvante na
interação com os outros familiares.
Nesse sentido, Soares (2007, p. 482) ressalta que o familiar acompanhante necessita
[…] estar próximo ao paciente; sentir-se útil para o paciente;
ter ciência das modificações do quadro clínico; compreender o que
está sendo feito no cuidado e porque; ter garantias do controle do
sofrimento e da dor; estar seguro de que a decisão quanto a limitação
do tratamento curativo foi apropriada; poder expressar os seus
sentimentos e angústias; ser confortado e consolado […].
facilitando a comunicação entre eles , para que contribuam para o tratamento do membro
necessitado.
Como o Psicólogo Hospitalar funciona aqui como ponto de referência entre Saúde e
Doença, sua presença se faz de importante valia para o apoio psicológico necessário aos
parentes do enfermo internado.
integral das crianças. Visa também à promoção das competências da família para cuidar,
proteger e educar suas crianças, impactando na autoestima e saúde emocional intrafamiliar.
A ciência tem comprovado a importância dos vínculos saudáveis no ambiente familiar
como elemento crucial para a saúde psicoemocional da criança e, por extensão, das relações
desta com o mundo. A qualidade das relações iniciais tem um impacto vital de longo prazo
no modo como as pessoas desenvolvem suas habilidades para aprender e regular emoções.
Vínculos afetivos adequados têm um valor adaptativo para o bebê, garantindo que suas
necessidades socioemocionais e físicas sejam satisfeitas, ao mesmo tempo que permanecem
em parâmetros de dinâmica de funcionamento saudável.
Famílias afetivas, cuidadosas e coerentes constituem referência segura para o
desenvolvimento integral de suas crianças. Sabe-se que um forte e seguro apego têm a função
biológica protetiva de “imunizar” o bebê em algum nível de proteção contra as adversidades
causadas por futuros estresses ou traumas. A ausência desta proteção faz surgir na criança
vulnerabilidades que lhe dificultarão o desenvolvimento socioemocional e até mesmo físico.
O impacto da indisponibilidade dos adultos para cuidar e proteger o bebê, afeta toda a
estrutura psíquica e cerebral, suas emoções e sentimentos para o resto da vida.
Embora os resultados dos estudos sejam por vezes contraditórios e ainda insuficientes
do ponto de vista epidemiológico, há sugestões documentadas de que fatores psicológicos
podem acarretar complicações durante a gestação, o parto e o puerpério, bem como para o
concepto. Particularmente, esses fatores podem ser o estresse vivencial e ansiedade, atuando
principalmente durante a gravidez.
Zucchi, em revisão sobre a depressão na gestação nos últimos 10 anos, encontrou dois
grandes grupos de estudos. Aqueles que pesquisaram os fatores de risco para depressão na
gravidez, como as dificuldades econômicas e a falta de parceiro ou de suporte familiar e
social; e os que buscaram associar a depressão como fator de risco para certos desfechos
obstétricos, como prematuridade, o baixo peso ao nascer, a irritabilidade do bebê, ou mesmo
a mortalidade neonatal.
É sabido que prejuízos na saúde mental da gestante podem também alterar a relação
mãe-feto e futuramente o desenvolvimento da criança, que inicialmente pode se expressar no
recém-nascido em forma de choro, irritabilidade ou apatia e futuramente provocar distúrbios
afetivos na idade adulta.
Os profissionais que atuam com gestantes devem vê-las com uma "concepção de
pessoa humana", procurar estabelecer mecanismos de interação que desvelem as verdadeiras
necessidades e seus significados. Não devem assumir uma posição superior, vendo as
gestantes como pessoas indefesas, fracas e submissas. Se o serviço e os profissionais
assumirem essa posição de igualdade, respeito e confiança em relação às suas experiências e
aprendizagens adquiridas, a relação será de desenvolvimento emocional e de crescimento
mútuo. Portanto, o aspecto fundamental da assistência pré-natal eficiente, deve incluir o
cuidar da mulher grávida considerando as suas necessidades biopsicossociais e culturais.
Logo, qualquer das situações referidas acarreta prejuízo sob a ótica funcional, assim
como para a qualidade de vida. Vale salientar que parte considerável desses transtornos
apresenta significativa melhora através de tratamento medicamentoso, somente, ou em
35
conjunto com outras formas de terapia. A depressão é uma das doenças que atingem
frequentemente os idosos, potencializando a probabilidade do desenvolvimento de
incapacidade funcional. É uma patologia que demanda atenção, particularmente quando se dá
pela primeira vez na terceira idade. Além de que, há casos em que os estados depressivos não
são percebidos e, consequentemente, não tratados. E isso, compromete a saúde do idoso em
intensidade relevante, a ponto de acarretar aumento da mortalidade por essa causa nessa faixa
etária.
Como é que podemos saber como vamos nós, enquanto “instrumentos de trabalho”?
Estando atentos para nós mesmos e para o retorno que outras pessoas nos dão. Estando
atentos para a maneira como nos sentimos com cada pessoa, não achando sempre, por
exemplo, que se nos sentimos irritados com tal paciente é porque ele é que é difícil ou chato,
mas tentar perceber o que se passa conosco. Nesse sentido, as reuniões com a equipe podem
ser um bom momento de auto-avaliação, se for criado o “clima” adequado para isso (com o
objetivo voltado para a integração da equipe e para a qualidade do atendimento, e não para a
competitividade e comparações improdutivas).
Esse ir-e-vir emocional causa aos enfermeiros desgastes emocionais e estresse que
precisam ser gerenciados. Por isso, é importante considerar a dimensão emocional do
cuidado, sem se esquecer de cuidar das próprias emoções.
Apesar do manejo de emoções não ser uma atitude bem-vista socialmente, o trabalho
emocional precisa ser considerado uma realidade necessária ao bom andamento dos serviços
de enfermagem. Pois o lidar diário com pacientes, acompanhantes e colegas de trabalho
aflora emoções diversas no profissional, que muitas vezes são contraditórias e prejudicam o
clima organizacional.
Talvez algumas “DICAS” possam fazer com que você reflita e consiga algumas
mudanças que podem reduzir o nível de estresse a que você se expõe. Embora sejam para seu
uso pessoal, podem colaborar para o seu desempenho profissional:
Procure ser cooperativo - Perceber que trabalhamos (e vivemos!) junto de outras pessoas e
que elas são tão importantes quanto nós, ajuda a estabelecer um clima de cooperação.
Ouça as razões do outro e expresse as suas - Evitar acumular mágoas e mal entendidos
diminui em muito a carga de tensão que temos que carregar.
Não “empaque” diante dos problemas - Ao invés de ficar se queixando da vida (ainda que
seja só em pensamento), tome uma atitude, mude algo que esteja ao seu alcance. Pode não
resolver todo o problema, mas uma mudança sempre nos dá uma nova visão do problema.
Reconheça e aceite os seus limites - Você não pode resolver tudo, sempre. Diante de algo
que está fora do seu alcance, aprenda a aguardar. Diante de uma tarefa muito grande, aprenda
a dividir e a pedir ajuda.
Fale de você, compartilhe seu estresse - Falar sobre o problema nos ajuda a pensar melhor
sobre ele, alivia e acalma. Procure alguém de sua confiança ou um profissional, se você achar
que seu problema é muito grave.
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Cuide de você mesmo - Reserve um tempo para fazer o que você gosta. Pode ser que nem
sempre você consiga fazer tudo o que gosta, mas sempre poderá descobrir alguma coisa. Faça
exercícios físicos (caminhar é grátis e é ótimo), melhore sua alimentação, evite álcool,
cigarros, meios inadequados de baixar a ansiedade. Medicações psicoativas? Só depois de
uma boa avaliação médica.
Comemore cada vitória - Não fique esperando o ideal de sua vida para ser feliz. Procure
perceber as pequenas vitórias e alegrar-se com elas. Com isso você se dá pequenas “folgas”
no estresse diário.
É comum que a grande maioria dos enfermeiros reconheça como ações dentro de um
tratamento de saúde mental apenas a administração de remédios e o encaminhamento do
paciente para serviços especializados. No entanto, o atendimento da enfermagem deve ir
muito além, acolhendo e escutando o paciente com atenção e cuidado.
O enfermeiro que está tendo o primeiro contato com um paciente que sofre de
transtornos mentais deve aprender a direcionar a sua atenção em primeiro lugar no paciente e
nas suas necessidades. Como esse primeiro contato pode ser estressante, uma assistência
humanizada e diferenciada será de grande valia para o sucesso do tratamento.
Para o enfermeiro que nunca teve nenhum contato com a área de saúde mental, a falta
de procedimentos invasivos parece incoerente. No entanto, a comunicação é um poderoso
instrumento transformador nas relações entre profissionais e pacientes.
Todos esses pontos, juntamente com uma relação terapêutica, trazem muitos
benefícios ao tratamento, como a redução da ansiedade e do estresse, o aumento do bem-
estar, a melhora da memória, da qualidade de vida e das funções psíquicas e a reintegração
social do paciente.
Nestes casos, as ações de enfermagem devem começar com uma entrevista, com o
profissional ouvindo atentamente a queixa do paciente, mas também a sua história de vida, o
seu processo de adoecimento e os seus problemas emocionais. É preciso conversar com o
paciente e com a família para orientá-los sobre as ações mais eficazes para o tratamento
terapêutico.
Diante de uma situação como essa, é possível que apareça a dúvida de como atuar em
uma área que pode causar estresse e desgaste emocional, dificultando o desempenho no
trabalho e até a vida pessoal do enfermeiro.
EQUIPE MULTIPROFISSIONAL
Não há um modelo fixo para compor uma equipe multidisciplinar, pois cada caso irá
exigir a atuação de profissionais específicos de acordo com as necessidades do paciente. Em
uma mesma equipe podem atuar nutricionistas, fonoaudiólogos, dentistas, psicólogos ou até
mesmo assistentes sociais, além dos médicos especialistas.
Um paciente que teve um derrame, por exemplo, e precisa recuperar a fala pode ser
atendido por uma equipe composta por um enfermeiro, dentista, terapeuta ocupacional,
médico e um fonoaudiólogo. Nesse caso, os profissionais vão atuar juntos para que o paciente
volte a falar de um modo menos traumático e no menor tempo possível.
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