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CONTEXTOS E

POSSIBILIDADES EM
PSICOLOGIA COMO
CIÊNCIA E PROFISSÃO

Cynthia Schwarcz Berlim

Psicóloga (PUCRS), Mestre em Psicologia Social e da Personalidade (PUCRS) e Especialista em Psicologia Jurídica
(ULBRA). Membro do corpo docente, supervisora de estágios obrigatórios e Coordenadora do Curso de Psicologia
da Universidade Feevale. E-mail: berlim@feevale.br
O mundo de hoje não é o mesmo de um século atrás.
Tampouco é a Psicologia. Muitos conceitos se mantêm os
mesmos, consolidados, ampliados. Outros foram sendo
modificados ou abandonados ao longo do tempo. E
muitos outros surgiram ou passaram a ser estu-
dados.
A Psicologia é uma ciência viva que acompa- Pro-
nha a evolução e o desenvolvimento da socie- fessor
dade ao longo do tempo. E, na medida em que de Psico-
permeia todas as relações humanas, o surgi- logia em
mento de novos espaços de interação social ensino mé-
desafia a Psicologia a se estruturar nesse novo dio e em en-
campo, a produzir conhecimento científico e a sino superior.
intervir em favor da qualidade das interações Cada um tem
sociais ali desenvolvidas, bem como de suas suas atribuições
repercussões individuais. específicas. To-
O escopo de atuação do psicólogo, como dos em busca de
profissional, compreende diversas áreas de um mundo me-
atuação com diferentes atribuições. Conhe- lhor. Cabe ao psi-
cer esse mapeamento, a delimitação de cólogo, respeitan-
suas fronteiras, seus conceitos e suas do as atribuições
técnicas cientificamente compro- estabelecidas, a
vadas e aceitas, assim como o ética profissional
compromisso ético que nos e o arcabouço te-
acompanha a cada instan- órico-prático que fun-
te é fundamental para um damenta seu trabalho, de-
exercício responsável da senvolver sua prática regrada
profissão de psicólogo. por esses princípios.
Nesse sentido, o Conselho Assim, a partir do respeito a esses
Federal de Psicologia re- princípios nas diferentes possibilida-
gulamenta as atribui- des de atuação profissional, reconhe-
ções profissionais ce-se a condição de levar a Psicologia
do psicólogo nas aos diferentes contextos nos quais a
diversas áreas de vida acontece. Para tanto, buscando
atuação. Psicólogo orientar as atividades desenvolvidas
Clínico, Psicólogo do nos diferentes espaços, o Conselho Fe-
Trabalho, Psicólogo deral de Psicologia organizou o documento
do Trânsito, Psicólogo Atribuições Profissionais do Psicólogo no Bra-
Educacional/Escolar, sil - Contribuição do Conselho Federal de Psi-
Psicólogo Jurídico, cologia ao Ministério do Trabalho para integrar
Psicólogo do Es- o catálogo brasileiro de ocupações – enviado em
porte, Psicólo- 17 de outubro de 1992 (CFP, 1992), norteando o
go Social e fazer profissional do psicólogo.
Inicialmente e contextualizando o fazer profis-
sional do psicólogo, o documento refere que o psi-
cólogo desempenha suas atividades profissionais
tanto individualmente como em equipes multipro-
fissionais, em instituições no âmbito privado ou pú-
blico, em organizações sociais formais ou informais,
podendo atuar em ambientes como instituições de
saúde, ensino, empresas, sindicatos, instituições ju-
diciárias, sistema penitenciário, associações (comuni-
tárias, profissionais e esportivas), núcleos rurais e nas demais áreas em que as questões
concernentes à profissão se façam presentes e sua atuação seja pertinente.
Bock, Furtado e Teixeira (2001) contribuem, nesse sentido, reconhecendo que o exercí-
cio da profissão, na forma como se apresenta na Lei nº 4.119 (que regulamenta a profissão
de psicólogo no Brasil), está relacionado ao uso de métodos e técnicas da Psicologia para
fins de diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional, orientação psicopedagó-
gica e solução de problemas de ajustamento. Podemos, assim, reconhecer que, embora se
apresentando em diferentes contextos, a Psicologia carrega em si um conjunto de possibi-
lidades de atuação, que, dirigida a cada uma das especificidades da realidade que a cerca,
reúne características que a orientam ética e tecnicamente em todos os contextos.
Nas diferentes áreas do fazer profissional do psicólogo, essas atribuições podem estar
presentes, delineando assim as características mais marcantes de cada uma das áreas de
atuação. Justamente a partir da especificidade de cada área é que o documento foi orga-
nizado, constituindo-se em um documento de extrema importância para a organização da
atividade profissional do psicólogo. Esse documento será, a partir de agora, apresentado
resumidamente a fim de auxiliar no entendimento e no reconhecimento das diferentes
áreas da Psicologia.

Psicólogo Clínico
Dentre a caracterização da área, ressalta- e acompanhar, individualmente ou em equi-
-se a atuação na área específica da saúde, co- pe, tecnologias próprias ao treinamento em
laborando para a compreensão dos proces- saúde mental, com o objetivo de qualificar
sos intra e interpessoais, utilizando enfoque o desempenho dos profissionais da área da
preventivo ou curativo, isoladamente ou em saúde.
equipe multiprofissional, em instituições Ao psicólogo clínico cabe ainda participar
formais e informais, bem como a realização e acompanhar a elaboração de programas
de pesquisa, diagnóstico, acompanhamento educativos e de treinamento em saúde men-
psicológico e intervenção psicoterápica in- tal, colaborar, em equipe multiprofissional,
dividual ou em grupo, através de diferentes no planejamento das políticas de saúde, em
abordagens teóricas. nível de macro e microssistemas; coordenar
Podemos citar, dentre as atribuições do e supervisionar as atividades de Psicologia
psicólogo clínico, a realização de avaliações em instituições e estabelecimentos de ensi-
e diagnóstico psicológicos (podendo utilizar no e/ou de estágio que incluam o tratamen-
testes psicológicos); atendimento psicotera- to psicológico em suas atividades; realizar
pêutico individual, familiar, de casal ou em pesquisas visando à construção e
grupo nas diferentes etapas do ciclo vital; à ampliação do conhecimento
acompanhamento psicológico a gestantes
durante a gravidez, o parto e o puerpério e
preparação do paciente para entrada, per-
manência e alta hospitalar, inclusive em
hospitais psiquiátricos.
Nessa área, o psicó-
logo pode participar da
elaboração de programas
de pesquisa sobre a saú-
de mental da população,
bem como sobre a ade-
quação das estratégias
diagnósticas e terapêu-
ticas à realidade psicos-
social da clientela; pode
também criar, coordenar
teórico e aplicado no campo da saúde mental.
O psicólogo clínico pode, ainda, atuar junto a equipes multiprofissionais no sentido de
levá-las a identificar e compreender os fatores emocionais que intervêm na saúde geral
dos indivíduos; participar dos planejamentos e da realização de atividades culturais, tera-
pêuticas e de lazer com o objetivo de propiciar a reinserção social da clientela egressa de
instituições; realizar triagem e encaminhamentos para recursos da comunidade sempre
que necessário; participar da elaboração, execução e análise da instituição, realizando pro-
gramas, projetos e planos de atendimentos, em equipes multiprofissionais, com o objetivo
de detectar necessidades, perceber limitações e desenvolver potencialidades.
Vê-se assim o quão ampla é a gama de possibilidades que o psicólogo clínico possui a
fim de que seu trabalho possa ser levado aos diferentes espaços onde a Psicologia Clínica
pode contribuir para a saúde, o bem-estar e o incremento da qualidade de vida daqueles
que por esse profissional são atendidos ou que venham a ser, através de projetos e equipe
em que o profissional atue no planejamento e/ou na execução das práticas ali organizadas.

Psicólogo do Trabalho
Nessa especificidade, o psicólogo atua portamentos requeridos no desempenho de
individualmente ou em equipe multiprofis- cargos e funções; participação de atividades
sional, em organizações sociais formais ou de recrutamento e seleção de pessoal, utili-
informais, visando à aplicação do conheci- zando métodos e técnicas de avaliação, com
mento da Psicologia para a compreensão, a o intuito de assessorar as chefias a identi-
intervenção e o desenvolvimento das rela- ficar os candidatos mais adequados ao de-
ções e dos processos intra e interpessoais, sempenho das funções, bem como o desen-
intra e intergrupais e suas articulações com volvimento de ações destinadas às relações
as dimensões política, econômica, social e de trabalho no sentido de maior produtivi-
cultural que perpassam as relações e as or- dade e da realização pessoal dos indivídu-
ganizações. os e dos grupos, intervindo na elaboração
No detalhamento das atribuições profis- de conflitos e estimulando a criatividade na
sionais desse profissional, identificam-se busca de melhor qualidade de vida no tra-
atividades de assessoramento na formação balho.
e na implantação da política de recursos hu- Elaborar, executar e avaliar, em equipe
manos das organizações; planejamento, ela- multiprofissional, programas de treinamen-
boração e avaliação de análises de trabalho to, capacitação e formação, visando à otimi-
para descrição e siste- zação de recursos humanos, também está
matização dos com-
nas atribuições desse profissional, assim
como participar, assessorar, acompanhar e
elaborar instrumentos para o processo de
avaliação pessoal, objetivando subsidiar as
decisões organizacionais. Ao psicólogo do
trabalho cabe ainda participar do processo
de movimentação pessoal, analisando o
contexto atual, os antecedentes e as pers-
pectivas em seus aspectos psicológicos e
motivacionais, assessorando na indicação
da locução e integração funcional. O pro-
fissional pode participar de programas
e/ou atividades na área de segurança do
trabalho, subsidiando-os quanto a aspectos
psicossociais; participar e assessorar estu-
dos, programas e projetos relativos à orga-
nização do trabalho e à definição de papéis ção. Elabora diagnósticos psicossociais das
ocupacionais: produtividade, remuneração, organizações, emite pareceres e realiza pro-
incentivo, rotatividade, absenteísmo e eva- jetos de desenvolvimento da organização
são em relação à integração psicossocial no âmbito da Psicologia.
dos indivíduos e dos grupos de trabalho. Ainda nas atribuições profissionais cita-
Promove estudos para identificação das das no documento-referência, observam-se
necessidades humanas em face da constru- as atividades de coordenação e supervisão
ção de projetos e equipamentos de trabalho das atividades de Psicologia do Trabalho
(ergonomia); participa de programas educa- ou setores em que elas se inserem e acom-
cionais, culturais, recreativos e de higiene panhamento à formulação e à implantação
mental; encaminha e orienta os empregados de projetos de mudanças nas organizações,
e as organizações, quanto ao atendimento com o objetivo de facilitar ao pessoal a sua
adequado, no âmbito da saúde mental, nos absorção. No âmbito dessa especificidade,
níveis de prevenção, tratamento e reabilita- cabe ao Psicólogo do Trabalho participar
do processo de desligamento de funcioná-
rios e do preparo para aposentadoria. Pode
também participar, como consultor, no de-
senvolvimento das organizações sociais,
atuando como facilitador de processos
de grupo e de intervenção psicossocial,
bem como realizar pesquisas visando à
construção e à ampliação do conheci-
mento teórico-prático da área.
Pode-se, assim, reconhecer que, no
âmbito da Psicologia do Trabalho, o
psicólogo possui uma diversidade de
atuação que se dirige aos processos
humanos que acontecem nas organiza-
ções de trabalho, na busca constante da
ampliação de recursos pessoais e or-
ganizacionais que possam con-
tribuir com as organizações e,
sobretudo, com a equipe que
nela desenvolve suas ativi-
dades.
Psicólogo do Trânsito
De acordo com o detalhamento das
atribuições do Psicólogo do Trânsito,
cabe a esse profissional desenvolver pes-
quisa científica no campo dos processos
psicológicos, psicossociais e psicofísicos
relacionados ao problema do trânsito; rea-
lizar exames psicológicos de aptidão profis-
sional em candidatos à habilitação para dirigir
veículos automotores; aplicar e avaliar novas técnicas
de mensuração da capacidade psicológica dos motoris-
tas no processo de elaboração e implantação de siste-
mas de sinalização de trânsito, assessorar no processo
de elaboração e implantação de sistemas de sinaliza-
ção de trânsito, especialmente
no que concerne a questões de
transmissão, recepção e reten-
ção de informações.
Pode ainda participar de equi-
pes multiprofissionais voltadas à
prevenção de acidentes de trânsi-
to; desenvolver estudos e projetos
de educação de trânsito; contribuir nos estudos e nas pesquisas relacionados ao comporta-
mento individual e coletivo na situação de trânsito e nas implicações psicológicas do alco-
olismo e de outros distúrbios nessas situações; avaliar a relação causa-efeito na ocorrência
de acidentes de trânsito, levantando atitudes-padrão nos envolvidos nessas ocorrências
e sugerindo formas de atenuar as suas incidências. O psicólogo do trânsito, dentre suas
atribuições, colabora com a justiça, apresentando, quando solicitado, laudos, pareceres
e depoimentos, bem como atua como perito em exames para motorista, objetivando sua
readaptação ou reabilitação profissional.
Identifica-se, assim, no escopo de suas atribuições, o quanto o psicólogo do trânsito
pode contribuir com a sociedade a partir dessa especificidade de atuação, voltando-se para
ações que trabalhem na prevenção de acidentes, em políticas públicas e conscientização
frente à problemática social tão relevante. Reconhece-se essa área da Psicologia como uma
área que pode - e deve - ainda se desenvolver e repensar suas
possibilidades de atuação a fim de ampliar suas perspectivas de
contribuição social e acadêmica. Como Silva e Güinther (2009)
afirmam, os psicólogos do trânsito

deverão dar sub-


sídios teóricos e técnicos às novas
demandas do trânsito que surgem a
partir do aumento do uso do automóvel,
o que, em décadas anteriores, não se confi-
gurava como problema (congestionamentos,
poluição atmosférica e sonora). A Psicologia
do Trânsito avança em seu itinerário por vias
promissoras e sua necessidade será cada
vez mais reconhecida pela sociedade
e pelas autoridades (p. 171).
dizagem e o desenvolvimento;
planejar, executar e/ou partici-
par de pesquisas relacionadas à
compreensão de processo ensino-
-aprendizagem e ao conhecimento
das características psicossociais
da clientela, visando à atualização
e à reconstrução do projeto peda-
gógico da escola, assim como à su-
pervisão e orientação na área de Psi-
cologia Educacional.
Pode também participar do traba-
Psicólogo Educacional/ lho das equipes de planejamento peda-
gógico, currículo e políticas educacio-
Escolar nais, atentando para os processos de
desenvolvimento humano, de apren-
O psicólogo educacional/escolar atua dizagem e das relações interpessoais.
no âmbito da educação, colaborando para Está na alçada desse profissional o de-
a compreensão e para a mudança do com- senvolvimento de programas de orien-
portamento de educadores e educandos no tação profissional fundamentados no
processo de ensino-aprendizagem, nas re- conhecimento psicológico e numa vi-
lações interpessoais e nos processos intra- são crítica do mundo do trabalho.
pessoais, integrando as dimensões política, Ao psicólogo educacional/escolar
econômica, social e cultural envolvidas nes- cabe, também, o diagnóstico das difi-
se contexto, visando, através de suas ações, culdades dos alunos, encaminhando-
a promover a qualidade, a valorização e a -os aos serviços de atendimento em
democratização do ensino. situações que requeiram diagnóstico e
No detalhamento de suas atribuições, a tratamento de problemas psicológicos
partir da síntese do documento do CFP (CFP, específicos, cuja natureza ultrapasse
1992) que é utilizado neste capítulo, verifi- a possibilidade de solução na escola,
cam-se diversas possibilidades de atuação, buscando sempre a atuação integrada
entre elas: colaborar com a adequação, por entre a escola e os serviços da comu-
parte dos educadores, de conhecimentos da nidade.
Psicologia que lhes sejam úteis na conse- No âmbito dessa área da Psicologia,
cução crítica e reflexiva de seus papéis; de- reconhece-se, assim, a importância das
senvolver trabalhos com educadores e alu- intervenções do psicólogo no sentido
nos, visando à explicitação e à superação de de contribuir para o desenvolvimento
entraves institucionais ao funcionamento de práticas que se dirijam ao entendi-
produtivo das equipes e ao crescimento in- mento e acolhimento das necessidades
dividual de seus integrantes, bem como de- dos sujeitos (equipe, alunos, familia-
senvolver, com os participantes do trabalho res) envolvidos no
escolar, atividades visando a prevenir, iden- processo educa-
tificar e resolver problemas psicossociais cional.
que possam bloquear, na escola, o desenvol-
vimento de potencialidades, a autorrealiza-
ção e o exercício da cidadania consciente.
Ao psicólogo educacional/escolar cabe
também elaborar e executar procedimen-
tos destinados ao conhecimento da relação
professor-aluno, visando, através de uma
ação coletiva e interdisciplinar, à imple-
mentação de uma metodologia de
ensino que favoreça a apren-
Psicólogo Jurídico
O psicólogo jurídico atua no âmbito da das em situa-
Justiça, nas instituições governamentais e ções que chegam
não governamentais, colaborando no plane- às Instituições
jamento e na execução de políticas de cida- de Direito, visan-
dania, direitos humanos e prevenção da vio- do à preserva-
lência. Soma-se a essas ações a possibilidade ção de sua saú-
de contribuir para a formulação, as revisões de mental, bem
e a interpretação das leis, bem como a rea- como participa
lização de pesquisas visando à construção da elaboração
e ampliação do conhecimento psicológico e execução de
aplicado ao campo do Direito. programas socioe-
Nessa área, o psicólogo avalia as condi- ducativos destinados a crianças que vivem
ções intelectuais e emocionais de crianças, nas ruas, abandonadas ou infratoras.
adolescentes e adultos em conexão com No âmbito da Psicologia penitenciária,
processos jurídicos, atuando como perito o psicólogo jurídico presta atendimento
judicial nas varas cíveis, criminais, na jus- e orientação a detentos e seus familiares;
tiça do trabalho, da família, da criança e do orienta a administração e os colegiados do
adolescente. sistema penitenciário. Sob o ponto de vista
O psicólogo jurídico, em seu trabalho, psicológico, quanto às tarefas educativas e
elabora laudos, relatórios e pareceres, cola- profissionais que os internos possam exer-
borando não só com a ordem jurídica como cer nos estabelecimentos penais. Participa
com o indivíduo envolvido com a Justiça, da elaboração e do processo de Execução
através da avaliação da personalidade deste Penal, assessorando a administração dos
e fornecendo subsídios ao processo judicial estabelecimentos penais quanto à formula-
quando solicitado pela autoridade compe- ção da política penal e no treinamento de
tente. Assessora, também, autoridades judi- pessoal para aplicá-la. Atua em pesquisas
ciais no encaminhamento a terapias psicoló- e programas de prevenção à violência e de-
gicas, quando necessário. senvolve estudos sobre a pesquisa criminal,
Realiza atendimento psicológico através construindo ou adaptando instrumentos de
de trabalho acessível e comprometido com investigação psicológica.
a busca de decisões próprias na organiza- Por fim, entendendo a área da Psicologia
ção familiar dos que recorrem a Varas de Jurídica como uma área de aproximação
Família para a resolução de questões, bem ao Direito, podemos, a partir das ideias de
como atendimento a Souza (1998), dizer que, à Psicologia, cabe-
crianças en- ria compreender o comportamento humano
volvi- e, ao Direito, regular e prever determinados
tipos de comportamentos com o objetivo
de estabelecer um contrato social de convi-
vência comunitária. Nesse sentido, mais
que servir ao Direito, e com base no
arcabouço de suas atribuições, a
Psicologia Jurídica busca, em sua
essência, contribuir para a Justi-
ça e a promoção da cidadania,
reconhecendo a especificida-
de de atuação que se destina a
cada um dos atores envolvidos
nos diferentes enquadres dessa
área.
Psicólogo do Esporte
Ao psicólogo do esporte compete proce-
der ao exame das características psicológi-
cas dos esportistas, visando ao diagnóstico
individual ou do grupo; desenvolver ações
utilizando-se de técnicas psicológicas con- (se necessário) do comportamento de edu-
tribuindo, em nível individual, para a reali- cadores no processo de ensino-aprendiza-
zação pessoal e a melhoria do desempenho gem e nas relações inter e intrapessoais que
do esportista e, em nível grupal, favorecen- ocorrem no contexto esportivo.
do a otimização das relações entre esportis- Pode ainda elaborar e emitir pareceres
tas, pessoal técnico e dirigentes. sobre aspectos psicológicos envolvidos na
O psicólogo, nessa área específi- situação esportiva, quando solicitado;
ca, acompanha, assessora e ob- encaminhar o esportista a atendi-
serva o comportamento dos mento clínico, quando houver
esportistas, visando ao es- necessidade de uma interven-
tudo das variáveis psico- ção psicológica que trans-
lógicas que interferem cenda as atividades espor-
no desempenho de suas tivas, e ministrar aulas de
atividades. Orienta Psicologia no esporte em
pais ou responsáveis cursos de Psicologia e
buscando facilitar o Educação Física.
acompanhamento e Conforme Rubio
o desenvolvimento (2007), a Psicologia do
dos esportistas, bem Esporte vem conquis-
como realiza estudos tando espaço e força em
e pesquisas visando outros contextos, além
ao conhecimento teó- daquele dirigido a práti-
rico-prático do compor- cas competitivas, como as
tamento dos esportistas, ações de psicólogos do es-
dirigentes e públicos no porte desenvolvidas junto a
contexto da atividade espor- projetos sociais, ao fitness, à
tiva. reabilitação, à iniciação esporti-
Cabe ao psicólogo do esporte va, aos programas de qualidade de
elaborar e participar de programas e es- vida e à medicina preventiva. Confirma-
tudos educacionais, recreativos e de reabili- -se, assim, o compromisso da Psicologia de
tação física, orientando a efetivação de um se desenvolver a partir das novas demandas
trabalho de caráter profilático ou corretivo, sociais e dirigir seus esforços para que essa
visando ao bem-estar dos indiví- construção se dê embasada nos princí-
duos, bem como colaborar pios científicos e éticos que a
para a compreensão e sustentam.
a mudança
Psicólogo Social
O psicólogo social é aquele que, segundo do trabalho e da segurança. Assessora ór-
o CFP (1992), entende o sujeito desde uma gãos públicos e particulares, organizações
perspectiva histórica, considerando a per- de cunhos políticos ou comunitários, na ela-
manente integração entre o indivíduo e o boração e implementação de programas de
social. Nesse sentido, operar como psicólo- mudança de caráter social e técnico, em si-
go social significa desenvolver um trabalho tuações planejadas ou não.
desde essa perspectiva de homem e de so- Pode ainda, a partir do detalhamento de
ciedade, possibilitando atuar em qualquer suas atribuições, atuar junto aos meios de
área da Psicologia. comunicação, assessorando quanto aos as-
Dentre suas atividades, promove estu- pectos psicológicos nas técnicas de comuni-
dos sobre características psicossociais de cação e propaganda e pesquisar, analisar e
grupos étnicos, religiosos, classes e seg- estudar variáveis psicológicas que influen-
mentos sociais nacionais, culturais, intra ciam o comportamento do consumidor.
e interculturais; atua junto a organizações Conforme Scorsolini-Comin, Souza e San-
comunitárias, em equipe multiprofissional tos (2008), é preciso ver qualquer interven-
no diagnóstico, no planejamento, na execu- ção, seja no nível individual, no grupal ou no
ção e avaliação de programas comunitários, institucional, como uma intervenção social,
no âmbito da saúde, do lazer, da educação, para que sua visão seja ampliada, na medi-
da em que seus agentes não vivem isolados,
mas estão imersos em uma realidade social,
construindo-a e sendo construídos por ela.
Licenciatura em Psicologia
Por fim, há ainda, no Documento utiliza- processo de construção ao longo da histó-
do como referência (CFP, 1992), as áreas de- ria.
signadas ao professor de Psicologia (Ensino Entende-se, assim, ao finalizar a síntese
Médio) e professor de Psicologia (Ensino Su- do documento relativo às atribuições do
perior). psicólogo (1992), que este, dentro de suas
A atribuição do professor de Psicologia especificidades profissionais, atua, confor-
de Ensino Médio, que deve possuir como me o próprio documento, no âmbito da edu-
habilitação mínima o Curso de Licenciatura cação, da saúde, do lazer, do trabalho, da
em Psicologia, é lecionar Psicologia no Ensi- segurança, da justiça, das comunidades e da
no Médio, selecionando, nos vários campos comunicação com o objetivo de promover,
da ciência psicológica, os conteúdos teórico- em seu trabalho, o respeito à dignidade e à
-práticos pertinentes aos objetivos do cur- integridade do ser humano, sem deixar de
so em que se insere a disciplina, transmi- atentar para as diferentes teorias que nor-
tindo-os através de técnicas didáticas, para teiam as práticas e orientam as interpreta-
proporcionar aos alunos condições de com- ções de dados e consequentes possibilida-
preensão e utilização dos conhecimentos des de técnicas e métodos utilizados.
gerados pela ciência psicológica. Como acrescentam Bock, Furtado e Tei-
Já ao professor de Psicologia em nível su- xeira (2001), na atualidade, a Psicologia pos-
perior, cabem as mesmas orientações acima sui instrumentos próprios para obter dados
apresentadas frente a sua prática docente, sobre a vida psíquica, como os testes psi-
porém sem a necessidade de Curso de Li- cológicos; as técnicas de entrevista (indivi-
cenciatura, tendo, nessa esfera de atuação, dual ou grupal); as técnicas de observação
a necessidade de ter habilitação e registro de dados do comportamento hu-
mínima de Bacharel em Psi- mano. E, ainda, que estes recursos possam
cologia ou grau de Psicó- ser utilizados em diferentes contextos. Re-
logo. conhece-se que os achados encontrados por
No caso de lecionar meio desses recursos devam ser sempre
disciplinas nos cursos compreendidos a partir de modelos psico-
destinados à formação lógicos específicos, ou seja, de acordo com
em Psicologia, deve- o referencial teórico escolhido. Assim, cada
rá transmitir o corpo teoria em Psicologia tem ou se constitui em
de conhecimento da um modelo de análise dos dados coletados.
Psicologia e seu Daí a importância do estudo e da identifica-
ção das diferentes teorias psicológicas que
nos ajudam a entender o homem e sua sub-
jetividade e que serão trabalhadas na conti-
nuidade deste livro.
Ao encerrar o capítulo, sugere-se a leitura
da resolução do CFP no 13, de 2007 (CFP,
2007), que institui a consolidação das re-
soluções relativas ao título profissional de
especialista em Psicologia e dispõe sobre
normas e procedimentos para seu registro.
No anexo II desse documento, encontramos
as definições das especialidades concedi-
das pelo Conselho Federal de Psicologia e,
a partir dessa leitura, podemos conferir as
atribuições do psicólogo nas áreas da Psi-
cologia Escolar, Organizacional e do Traba-
lho, do Trânsito, Jurídica, do Esporte, Social,
Clínica e Hospitalar (que nessa resolução é
caracterizada distintamente). É acrescentada ainda, nesse documento, a especialidade de
Psicólogo especialista em Psicopedagogia, em Psicomotricidade e em Neuropsicologia.
Evidencia-se, enfim, que a ciência psicológica, a partir desses diferentes documentos e
reconhecida nas práticas desenvolvidas pelos psicólogos na atualidade, muito pode contri-
buir para o desenvolvimento de nossa sociedade. Entender, mediar, intervir e, sobretudo,
construir caminhos para que possamos, cada vez mais, acompanhar os avanços sociais e
tecnológicos no ritmo em que esses acontecem, respondendo com eficiência e ética cons-
tantes, é o compromisso assumido por essa profissão de corresponder às necessidades
sociais e humanas à luz do conhecimento psicológico.
REFERÊNCIAS
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