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Psicologia,

Ciência e
Profissão

Professora Rafaela Garcia


Sardi
Drive e materiais

 Semanalmente teremos textos para leitura e


participação em aula
 Drive – na descrição do grupo do whats
 25/09 a 29/09– Aplicação Oficial 1º
Bim
Disciplina
 20 a 24/11– Aplicação Oficial 2
Disciplina
 Unidade 1: Psicologia e Profissão
 Seção 1: Representação social da
Psicologia
 Desmistificação da visão social do
Psicólogo
 Representação social da psicologia

 Seção 2: Código de ética do Psicólogo


 Princípios Fundamentais
 Das responsabilidade do psicólogo
 Disposições gerais
 Análise de casos éticos
Disciplina
 Seção 3: Processos de Trabalho do
Psicólogo
 Interfaces da psicologia com outras
profissões
 Olhar ético do uso de terapias
alternativas e crenças religiosas nos
processos de atuação do Psicólogo
 Os principais processos de trabalho do
psicólogo
Disciplina
 Unidade 2: Psicologia e Ciência
 Seção 1: Psicologia como ciência
 O que faz com que a psicologia seja
uma ciência
 Os reflexos das aquisições científicas
na atuação profissional do Psicólogo
 Principais estudiosos da Psicologia
enquanto ciência
Apresentação da Disciplina

 Seção 2: O sujeito psicológico


 O conceito de identidade
 O conceito de individualidade na Biologia, no Direito e
na Psicologia
 O conceito de personalidade na Biologia, no Direito e na
Psicologia
 O conceito de subjetividade
Apresentação da Disciplina

 Seção 3: Pesquisas objetivas e subjetivas


 Metodologia científica de apreensão de subjetividade
 Pesquisas objetivas e subjetivas: compreensão versus
explicação
 Pesquisas quantitativas e qualitativas: Implicações éticas
Apresentação da Disciplina

 Unidade 3: Psicologia e Formação


 Seção 1: Diretrizes curriculares nacionais para o curso de
Psicologia
 Justificativa
 Histórico
 Especificidades regionais
 Análise crítica
 Seção 2: O perfil do estudante de psicologia
 A escolha da profissão
 o processo contínuo de especialização
 A formação no nível de pós-graduação
Apresentação da Disciplina

 Seção 3: Os estágios e as atividades complementares


 A formação do professor de psicologia. Diretrizes
curriculares da formação complementar de Licenciatura no
curso de psicologia
 Tipos e formas de atividades complementares
 Estágios
Apresentação da Disciplina
 Unidade 4: Psicologia e Inovação
 Seção 1: Resoluções éticas
 Serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos de
comunicação à distância
 Relatos de casos
 Seção 2: O papel do psicólogo
 A psicologia por uma sociedade mais democrática e igualitária
 O papel do psicólogo no contexto atual de relações humanas
 Registro de atualidades da Psicologia como ciência e profissão.
Temas atuais de estudos e pesquisas dos psicólogos
Apresentação da Disciplina

 Seção 3: Relatos de contexto de atuação


 Visibilidade de práticas psicológicas atuais em todas as áreas de
atuação
 Relatos de caso de profissionais que atuam em diferentes processos
de atuação
 dinâmica
PSICOLOGIA E PROFISSÃO

 Período pré-profissional- ocorreu até o final do século XIX quando a


Psicologia não era uma prática regulamentada;
 Período de profissionalização: ocorre a institucionalização e regulamentação
da profissão, que aconteceu entre 1890 e 1975;
 Período profissional-momento em que a profissão foi se organizando e
estabelecendo, aconteceu a partir de 1975.
PSICOLOGIA E PROFISSÃO
 Decreto Art. nº 53.464: - São funções do psicólogo:

 1) Utilizar métodos e técnicas psicológicas com o objetivo de: a) diagnóstico psicológico; b)

orientação e seleção profissional; c) orientação psicopedagógica; d) solução de problemas de

ajustamento.

 2) Dirigir serviços de Psicologia em órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos, paraestatais,

de economia mista e particulares.

 3) Ensinar as cadeiras ou disciplinas de Psicologia nos vários níveis de ensino, observadas as demais

exigências da legislação em vigor.

 4) Supervisionar profissionais e alunos em trabalhos teóricos e práticos de Psicologia.

 5) Assessorar, tecnicamente, órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos, paraestatais, de

economia mista e particulares.

 6) Realizar perícias e emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia (Brasil, 1964).


Período profissional (1975)

 A psicologia e a psicanálise entraram no cotidiano das pessoas


através de manuais de comportamento, revistas, programas de TV
e livros sobre sexualidade.
 Deitar no divã significava sinal de status social. Esta atividade foi
incorporada por muitas pessoas das classes média e alta
PSICOLOGIA E PROFISSÃO

 Entre 1970 e 1980, três áreas da Psicologia se destacavam:


educação, trabalho e clínica, sendo esta última a de maior procura
dos profissionais(PEREIRA;NETO,2003).
PSICOLOGIA E PROFISSÃO

 Atualmente, contudo, o espectro de abrangência profissional do


psicólogo é bastante amplo e compreende uma vasta gama de
áreas de atuação, entre elas podem ser citadas as clínicas
particulares, escolas, creches, empresas, hospitais, postos de
saúde, comunidades, setores judiciários, penitenciárias, equipes
desportivas, departamentos de trânsito e outras.
PSICOLOGIA E PROFISSÃO

Resolução CFP nº 013/2007:


 Psicologia Escolar/Educacional;
 Psicologia Organizacional e do Trabalho;
 Psicologia de Trânsito;
 Psicologia Jurídica;
 Psicologia do Esporte;
 Psicologia Clínica;
PSICOLOGIA E PROFISSÃO

 Psicologia Hospitalar;
 Psicopedagogia;
 Psicomotricidade;
 Psicologia Social;
 Neuropsicologia;
 Psicologia em Saúde;
 Avaliação Psicológica.
22 Interfaces da Psicologia com
outras profissões
 Psicologia Organizacional e do Trabalho – Gestores e colaboradores

 Psicologia da Saúde e Hospitalar – A difícil relação com médicos (Reforma


Psiquiátrica e Ato médico)

 Psicologia Social e Comunitária – Embate entre Psicologia e Assistência


Social

 Psicologia Educacional e Escolar – Embate entre Psicologia e Pedagogia


23 Novas Fronteiras

Psicologia Jurídica

Psicologia do Trânsito

Psicologia do Esporte
PSICOLOGIA E PROFISSÃO

 A consolidação da entrada do psicólogo no mercado de trabalho,


no contexto nacional, gerou a necessidade de avaliar essa
profissão, tanto em termos da organização profissional, quanto no
tocante à forma como essa prática vinha sendo percebida. Isso
tem motivado a realização de pesquisas desde então.
PSICOLOGIA E PROFISSÃO
Aula

 Representação social
REPRESENTAÇÃO SOCIAL

 Serge Moscovici (1925- 2014)


 Psicólogo Social
 Raízes na sociologia e na antropologia (Durkheim e Lévy-Bruhl)
quanto na psicologia construtivista, sócio-histórica e cultural
(Piaget e Vygotsky)
28 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

 As representações coletivas designavam um conjunto de


conhecimentos e crenças (mitos, religião, ciência...), que para
Jodelet (1984 apud ALEXANDRE,2004),trata-se de um conjunto,
atualmente reconhecido pelos psicólogos sociais, para designar
“...fenômenos múltiplos que se observam e que se estudam aos
níveis de complexidade, individuais e coletivos, psicológicos e
sociais variados.”
29 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

As representações sociais são “um conjunto de conceitos, frases e explicações


originadas na vida diária durante o curso das comunicações interpessoais” (MOSCOVICI,
1981, apud ALEXANDRE, 2004, p. 131).
São modalidades de conhecimento prático orientadas para a comunicação e para a
compreensão do contexto social, material e ideológico em que vivemos.
30 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

É através da sociedade, da interação e das relações


pessoais, que o indivíduo encontra a expressão de sua
subjetividade.

A estrutura social é compartilhada pela consciência do senso


comum, porque se refere a um mundo que é comum a muitos
indivíduos.

Sujeito com a relação com o mundo, constrói tanto o mundo


como a si próprio” (p.19).

As dimensões cognitiva, afetiva e social estão presentes na


própria noção de representação” (p.20). (Guareschi, 2000)
31 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

 Senso Comum – permite que o indivíduo compreenda e


explique uma realidade. Tenta assimilar um novo
conhecimento.
 Definem o que é aceitável em dado contexto social.
 Essa função assume um papel importante porque permite
reforçar a diferenciação social, uma vez que a justifica,
preservando e mantendo a distância social entre grupos.
32 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

 Diversas mediações realizadas de diferentes formas, como os


meios de comunicação de massa, principalmente os televisivos,
por pessoas que já utilizaram os serviços de um Psicólogo, por
exemplo (BORSEZI, 2006).
33 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

 Maneira específica de compreender e comunicar.


 Tornar familiar algo não familiar.
 O não-familiar incomoda e ameaça; causa curiosidade mais causa
medo.
 Frente ao não-familiar, rejeita-se o desconhecido, já que este
ameaça a ordem estabelecida.
 Então, um meio de transferir o que nos perturba é o ato de
reapresentação, o qual passa de geração em geração.
34
35 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

“Essas representações, que são partilhadas por tantos, penetram e


influenciam a mente de cada um, elas não são pensadas por eles;
melhor, para sermos mais precisos, elas são repensadas, recriadas e
reapresentadas.” (2012, p.37 apud ASSIS: MATTHES, 2014, p.68):
36 Representação social tem como
características:
 1. socialmente elaborado e partilhado;
 2. tem uma orientação prática de organização, de domínio do
meio (material, social, ideal) e de orientação das condutas e da
comunicação;
 3. participa do estabelecimento de uma visão de realidade comum
a um dado conjunto social (grupo, classe, etc.) ou cultural.
37 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

 Três aspectos:
 comunicação, (re)construção do real e domínio do mundo
 O papel que as representações sociais assumem na dinâmica das
relações e práticas sociais cotidianas, o qual se explicita em suas
diferentes funções.
38 Representações sociais da
Psicologia
 Psicólogo dá conselhos (amigo é psicólogo)
 Psicólogo cuida de “maluco”
 Psicólogo tem “cara de paisagem”
 Psicólogo resolve qualquer conflito
 Psicólogo são “videntes”
 Psicólogo não sabe o que eu passo
 Psicólogo analisa todos o tempo todo
 Pastor/Padre é melhor que psicólogo
 Coach é melhor que psicólogo
39 Representações sociais da Psicologia por
estudantes de psicologia e cursos (Psicologia
não é só clínica)

 Psicólogo trabalha com clínica particular


 Psicólogo é profissional liberal
 Só existem duas ou três abordagens de psicologia
 Só existem três áreas da psicologia
Psicologia e profissão
41 Psicologia e profissão

 QUE PROFISSÃO É ESSA?


 A Psicologia, no Brasil, é uma profissão reconhecida por lei, ou
seja, a Lei 4.119, de 1962, reconhece a existência da Psicologia
como profissão.
 São psicólogos, habilitados ao exercício profissional, aqueles que
completam o curso de graduação em Psicologia e se registram no
órgão profissional competente.
Psicologia
42 e profissão
1. O psicólogo adivinha o que os outros pensam?
2. Quando fazemos um curso de Psicologia, passamos a nos conhecer melhor?
3. Que diferença há entre a ajuda prestada por um psicólogo e um bom amigo?
4. O que diferencia o trabalho do psiquiatra do trabalho do psicólogo?
5. Qual a finalidade do trabalho do psicólogo?
6. Quais as áreas e os locais em que o psicólogo atua?
7. Há usos e também abusos da Psicologia. Certo?
43 Psicologia e profissão

 A FINALIDADE DO TRABALHO DO PSICÓLOGO


44 Psicologia e profissão

 Promover a saúde.

 Segundo a Organização Mundial de


Saúde (OMS), saúde é o “estado de
bem-estar físico, mental e social”.
45 Psicologia e profissão

 Reafirmamos que a profissão do psicólogo deve-se caracterizar


pela aplicação dos conhecimentos e técnicas da Psicologia na
promoção da saúde.

 Este trabalho pode estar sendo realizado nos mais diversos locais:
consultórios, escolas, hospitais, creches e orfanatos, empresas e
sindicatos de trabalhadores, bairros, presídios, instituições de
reabilitação de deficientes físicos e mentais, ambulatórios, postos
e centros de saúde e outros
Psicologia e profissão
46

 A prática do psicólogo como


profissional de saúde irá
caracterizar-se pela aplicação dos
conhecimentos psicológicos no
sentido de uma intervenção
específica junto a indivíduos, grupos
e instituições, com o objetivo de
autoconhecimento, desenvolvimento
pessoal, grupal e institucional, numa
47 Psicologia e profissão
Atribuições
48 profissionais do Psicólogo

 Estudo e análise dos processos intrapessoais e das relações interpessoais,


possibilitando a compreensão do comportamento humano individual e de grupo, no
âmbito das instituições de várias naturezas, onde quer que se deem estas relações.
 Aplica conhecimento teórico e técnico da psicologia, com o objetivo de identificar e
intervir nos fatores determinantes das ações e dos sujeitos, em sua história pessoal,
familiar e social, vinculando-as também a condições políticas, históricas e culturais.
49

Atua no âmbito da educação, saúde, lazer,


trabalho, segurança, justiça, comunidades e
comunicação com o objetivo de promover, em seu
trabalho, o respeito à dignidade e integridade do
ser humano.
Contribui para a produção do conhecimento
científico da psicologia através da observação,
descrição e análise dos processos de
desenvolvimento, inteligência, aprendizagem,
personalidade e outros aspectos do
comportamento humano e animal.
50

Analisa a influência de fatores hereditários,


ambientais e psicossociais sobre os sujeitos
na sua dinâmica intrapsíquica e nas suas
relações sociais, para orientar-se no
psicodiagnóstico e atendimento psicológico.
Promove a saúde mental na prevenção e no
tratamento dos distúrbios psíquicos, atuando
para favorecer um amplo desenvolvimento
psicossocial.
51

Aplica técnicas de exame psicológico, utilizando seu


conhecimento e práticas metodológicas específicas,
para conhecimento das condições do desenvolvimento
da personalidade, efetuando ou encaminhando para
atendimento apropriado, conforme a necessidade.
Participa da elaboração, adaptação e construção de
instrumentos e técnicas psicológicas através da
pesquisa, nas instituições acadêmicas, associações
profissionais e outras entidades cientificamente
reconhecidas.
52
O psicólogo desempenha suas funções e tarefas
profissionais individualmente e em equipes
multiprofissionais, em instituições privadas ou públicas, em
organizações sociais formais ou informais, atuando em:
 hospitais , ambulatórios, centros e postos de saúde,
consultórios;
 creches, escolas, associações comunitárias, empresas,;
 sindicatos, fundações, varas da criança e do adolescente,
varas de família, sistema penitenciário;
 associações profissionais e/ou esportivas, clínicas
especializadas, psicotécnicos, núcleos rurais e nas demais
áreas sua atuação seja pertinente.
53 ÁREA ATUAÇÃO

PSICÓLOGO Atua na área específica da saúde, colaborando para a


CLÍNICO compreensão dos processos intra e interpessoais,
utilizando enfoque preventivo ou curativo,
isoladamente ou em equipe multiprofissional.
PSICÓLOGO Atua individualmente ou em equipe multiprofissional,
DO TRABALHO onde quer que se deem as relações de trabalho nas
organizações sociais formais ou informais.

PSICÓLOGO Desenvolve pesquisa científica no campo dos processos


DO TRÂNSITO psicológicos, psicossociais e psicofísicos relacionados ao
problema do trânsito. Realiza exames psicológicos de
aptidão profissional em candidatos a habilitação para
dirigir veículos automotores(“Psicotécnicos
PSICÓLOGO Atua no âmbito da educação, nas instituições formais
EDUCACIONAL ou informais. Realiza pesquisa, diagnóstico e
intervenção psicopedagógica individual ou em grupo.
Participa da elaboração de planos e políticas referentes
ao Sistema Educacional.
PSICÓLOGO Atua no âmbito da Justiça, nas instituições governamentais e
54
JURÍDICO não-governamentai. Sua atuação é centrada na orientação do
dado psicológico repassado não só para os juristas como também
aos sujeitos que carecem de tal intervenção.

PSICÓLOGO DO Procede o exame das características psicológicas dos esportistas,


ESPORTE visando o diagnóstico e a preparação psicológica no desempenho
da atividade física em geral. Elabora e participa de programas e
estudos educacionais, recreativos e de reabilitação física.

PSICÓLOGO Promove estudos sobre características psicossociais de grupos


SOCIAL étnicos, religiosos, classes e segmentos sociais nacionais,
culturais, intra e interculturais, além de assessorar órgãos
públicos e particulares na elaboração e implementação de
programas de mudança de caráter social e técnico, em situações
planejadas ou não.

PROFESSOR DE Leciona Psicologia em cursos de 2º grau e cursos superiores nos


PSICOLOGIA vários campos da Psicologia, os conteúdos teórico-práticos
pertinentes aos objetivos do curso em que insere a disciplina.
Psicologia e misticismo

Aula 3
56 Terapias Alternativas e crenças
religiosas
A proliferação de um mercado terapêutico
alternativo é um fenômeno social de grande
visibilidade no espaço urbano brasileiro e, a
medida que vem conquistando mais adeptos,
cresce a preocupação em torno da
confiabilidade dos seus resultados e da
competência profissional dos chamados
terapeutas alternativos (TAVARES, 2003).
57

Um dos espaços sociais onde há uma


disputa por legitimidade mais acirrada é o
da delimitação das fronteiras entre o
campo das práticas psicológicas: os
terapeutas alternativos (psicólogos ou
não) têm reivindicado a legitimidade social
de uma diversidade de técnicas e práticas
a partir da sua inscrição no vasto campo
das práticas psi.
58

Através dos seus órgãos representativos


profissionais (os conselhos regionais e o
Conselho Federal de Psicologia), a questão
da emergência das terapias alternativas,
seus problemas, seus limites e sua
competência foi adquirindo ampla
repercussão, através das designações de
práticas emergentes e práticas alternativas,
pautado em uma preocupação denunciativa
sobre os riscos que essas terapias poderiam
representar.
59

A estratégia adotada pelos conselhos, portanto,


visava à divulgação e ao esclarecimento, da
população em geral, das fronteiras entre as práticas
psicológicas e aquelas consideradas “práticas alheias
ao campo da psicologia e que poderiam estar sendo
confundidas com ela”. Com isso, a proliferação das
terapias alternativas fazia com que os conselhos
fossem obrigados a dar respostas acerca do saber
psicológico, enquanto ciência e profissão (TAVARES,
2003).
60

 1993 - o Conselho Federal de Psicologia passou


a reconhecer a pouca eficácia da postura
denunciativa e começou a se preocupar com o
impacto das terapias alternativas no âmbito do
exercício profissional da categoria, pois essa
questão passa a configurar um problema
interno à categoria, tensionada entre a
existência de uma diversidade de posições e a
necessidade de uma orientação mais ampla.
61

 1994 - Realizou-se o I Congresso


Nacional Constituinte da categoria, em
que a questão das terapias alternativas
foi discutida, desencadeando nesse
mesmo ano uma reação proibitiva do
Conselho Federal, configurando, assim,
atitude aparentemente paradoxal, já que
a questão estava apenas começando a
ser discutida na categoria.
62

 Maio de 1994 - o CRP-03 (Bahia), emitiu no Diário


Oficial da União uma resolução, baseada em
pesquisa junto à comunidade científica, vetando ao
psicólogo a publicidade de algumas práticas como:
astrologia; numerologia; cristaloterapia; terapia
energética; psicoterapia xamânica; psicoterapia
esotérica; terapia da transmutação energética;
terapia regressiva de vidas passadas; psicoterapia
espiritual; terapia dos chacras; terapia dos mantras;
terapia de meditação; psicoterapia do corpo astral;
e trabalho respiratório monhâmico. (...)
63

Em dezembro de 1994, surgiu uma


resolução do Conselho Federal (Res. CFP n.
016/95) acrescentando-se à lista as
seguintes práticas: tarologia; quiromancia;
cromoterapia; florais; fotografia kirlian;
programação neurolingüística (Jornal do
Psicólogo, n. 64, p. 12).
64

As resoluções fiscalizadoras dos conselhos,


proibindo o exercício profissional vinculado às
técnicas alternativas, surpreenderam muitos
psicólogos que, à época, já faziam largo uso de
várias das técnicas mencionadas. Contudo, o
impacto dessa resolução não deixou de produzir
reações que acabaram se tornando vitoriosas,
como foi o caso dos profissionais que utilizavam
a Programação Neurolingüística (PNL).
65

Em matéria intitulada “CFP retira proibição


de associar título de psicólogo à prática de
PNL”, esse órgão altera sua posição “após
algumas manifestações em que ficaram
mais bem esclarecidos aspectos relativos à
sustentação teórico-técnica da programação
neurolinguística”.
66

 1996 - No II Congresso Regional de Psicologia


da 4ª Região, foi proposto que novas discussões
fossem feitas acerca das terapia alternativas,
considerando o posicionamento do CFP, que
dizia: “o CFP não fiscaliza, orienta ou disciplina
práticas que lhe são alheias por não ter
competência jurídica ou tecno científica para
fazê-lo, por isso jamais elabora qualquer juízo
quanto às técnicas ou práticas que tenham seus
fundamentos em campo distinto do campo da
psicologia” (CRP, 1996, p. 3).
67

Com isso, criou-se uma expectativa quanto a


possibilidade de discussão acerca das práticas
alternativas, pois, ao invés de excluí-las, à priori,
do campo da psicologia, a proposta foi de criar
espaços de discussão e estudos onde os
psicólogos que lidam com essas práticas possam
ter a oportunidade de apresentá-las,
fundamentando-as ou se implicando eticamente
com os seus fazeres.
68

Muitos outros momentos de discussão


vieram depois disso, muitos psicólogos
continuam anunciando sua atividade
profissional vinculada a técnicas não
reconhecidas, como a astrologia e os florais.
Continuam oferecendo consultas e
promovendo simpósios e encontros sobre
outras terapêuticas, como podemos
verificar no interesse crescente de
psicólogos pela “terapia de vidas passadas”.
69
Os conselhos regionais, por sua vez,
continuam promovendo as fiscalizações,
agora com uma perspectiva acentuadamente
mais orientadora do que de advertência em
relação aos psicólogos que não cumpram as
orientações do CFP. No entanto, a
desregulamentação da terapêutica
alternativa vem se tornando objeto de
denúncia por parte dos conselhos, que busca
informar aos usuários que há uma distinção
entre os serviços prestados.
70

Ao longo do processo de discussão das


terapêuticas não-convencionais, esse conjunto
de diferentes técnicas foi recorrentemente
designado por alternativo ou emergente. No
entanto, essas referências não tem sido mais
utilizadas, sendo agora tratadas como práticas
não reconhecidas no campo da psicologia, uma
vez que são práticas que não emergem na
prática psicológica, associadas, são práticas que
não alternam com a técnica psicológica.
71
Psicologia e misticismo não se
misturam
O item "e" do Artigo 2º do Código de Ética, que dispõe
sobre Responsabilidades Gerais do psicólogo, prevê que
a ele é vedado "induzir a convicções políticas, filosóficas,
morais ou religiosas, quando do exercício de suas
funções profissionais".
O item "c" do Artigo 1º determina que o profissional
preste "serviços psicológicos em condições de trabalho
eficientes, de acordo com os princípios e técnicas
reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética
profissional".
72

A onda mística, bateu às portas da Psicologia,


gerando conflitos no exercício profissional.
Cerca de 25% dos processos no Conselho
Regional de Psicologia de São Paulo são
relativos a denúncias contra psicólogos que
inserem práticas místicas ou não
reconhecidas pela profissão em suas sessões
psicoterápicas, comprometendo o trabalho
psicológico e a imagem da profissão no Brasil.
73

Se o psicólogo oferece algum tipo de prática


mística, ou não reconhecida, ele não pode
misturá-la à prestação de serviço psicológico.
Se ele é, ao mesmo tempo, astrólogo e
psicólogo, deve separar constantemente as
duas atividades. Vincular as duas coisas e
oferecer àquele que procura a Psicologia uma
prática que não pode ser reconhecida
enquanto tal é deturpar a profissão.
74

Quando as práticas alternativas, incorporadas à


psicoterapia, envolvem a fé em uma religião, a
situação se torna mais complicada. Por exemplo,
a chamada "terapia de vidas passadas", que
propõe ao paciente a crença na reencarnação, e
é considerada inaceitável pela Psicologia, porque,
ao procurar a origem do problema em "outra
vida do paciente", ao invés da concepção deste
como ser ativo, prega um tipo de passividade, de
desresponsabilização do indivíduo.
75

Além da questão de fé, esses tipos de prática


fogem ao objetivo da Psicologia, que é o de
permitir ao indivíduo controlar e se apropriar de
seu processo de desenvolvimento das relações.
"Para a Psicologia, o indivíduo é partícipe na
construção de sua saúde no processo de
desenvolvimento psicológico, não importando
qual é a linha teórica do profissional. Sendo
assim, a questão não pode ser colocada num
plano do qual ele não possa dar conta.
76

Faz parte do senso comum pensar que o


psicólogo tem “poderes”, como ler mentes e
ver o interior das pessoas. No decorrer da
história social, o psicólogo era visto como um
sucessor ou quase um adjunto do médico que
tinha condições para resolver problemas físicos
e metafísicos. Para o usuário, o psicólogo se
aproxima do médico e às vezes do padre, pois é
sensível, confidente, e não revela os segredos.
77

Se essa imagem se fortaleceu e a categoria não se


empenhou em desfazê-la, é natural que a natureza
da demanda pelos atendimentos psicológicos inclua
soluções de ordem mística. Mas, cabe ao psicólogo
dizer ao usuário, quais são os limites da psicoterapia.
Se o profissional não faz essa explicação, ele estará
alimentando uma expectativa, onde, ao recorrer às
práticas não reconhecidas, está dizendo ao leigo que
a Psicologia não dá conta de resolver seus distúrbios
mentais e seu sofrimento emocional.

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