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DO LIVRO INICIAÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA

AUTOR: DANILO MARCONDES

FILOSOFIA DA GRÉCIA ANTIGA

A PASSAGEM DO PENSAMENTO MÍTICO PARA O


FILOSÓFICO CIENTÍFICO

O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um


povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive:
a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos
processos naturais e as origens deste povo, bem como seus
valores básicos.
O próprio termo grego mythos (μυθoσ) significa um tipo
bastante especial de discurso, o discurso ficcional ou
imaginário, sendo por vezes até mesmo sinônimo de
“mentira”.
As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor
ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de
um povo.
Homero, com a Ilíada e a Odisseia (séc. IX a.C.), e Hesíodo
(séc. VIII a.C.), com a Teogonia, registraram
poeticamente lendas recolhidas das tradições dos
diversos povos que sucessivamente ocuparam a Grécia
desde o período arcaico.
FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA
A filosofia era vista essencialmente como discussão,
debate, e não como texto escrito.
ESCOLA JÔNICA: interesse pela physis, pelas teorias
sobre a natureza.
Tales de Mileto (fl.c.585 a.C.)
ESCOLA ITALIANA: visão de mundo mais abstrata,
prenunciando em certo sentido o surgimento da lógica e da
metafísica.
Pitágoras de Samos (fl.c.530 a.C.),
Parmênides de Eleia (fl.c.500 a.C.),
SEGUNDA FASE DO PENSAMENTO PRÉ-SOCRÁTICO
Anaxágoras de Clazômena (c.500-428 a.C.)
Escola atomista: Leucipo de Abdera e Demócrito de
Abdera (c.460-370 a.C.) Empédocles de Agrigento (c.450
a.C.)
SÓCRATES E OS SOFISTAS
Sócrates e os sofistas compartilham, embora com visões
diferentes, o interesse fundamental pela problemática
ético-política, pela questão do homem enquanto cidadão da
polis, que passa a se organizar politicamente no sistema
que conhecemos como democracia.
A democracia representa exatamente a possibilidade de
se resolverem, através do entendimento mútuo, e de leis
iguais para todos, as diferenças e divergências existentes
nessa sociedade em nome de um interesse comum.
As deliberações serão tomadas, assim, em reuniões de
cidadãos, as assembleias. Isso significa que as decisões
são tomadas por consenso, o que acarreta persuadir,
convencer, justificar, explicar.
Não se dispõe mais da força, dos privilégios, da autoridade
de origem divina. Anteriormente, havia a imposição, a
violência, a obediência, o privilégio, a tradição, o medo
como formas do exercício do poder.
A linguagem, o diálogo, a discussão rompem com a violência,
o uso da força e do medo, na medida em que, em princípio,
todos os falantes têm no diálogo os mesmos direitos:
interrogar, questionar, contra-argumentar.
A razão se sobrepõe à força, é uma forma de controlar o
exercício do poder. A linguagem precisa ser racional, as
discussões pressupõem a apresentação de justificativas,
de argumentos, sendo abertas à interpelação, ao
questionamento.
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UMA CENA DA DEMOCRACIA BRASILEIRA (2017)
https://www.youtube.com/watch?v=PaPvwxMF5jI
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O surgimento da filosofia corresponde portanto à busca
de bases para essa discussão legítima, tais como: o que é a
verdade? Quais os princípios da razão? Com base em que
critérios se pode justificar aquilo que se diz?

Surge também a ciência, em especial a física e a


astronomia, além da medicina, com Hipócrates (470-360
a.C.).
Surgem ainda as artes do discurso, a retórica e a oratória.

OS SOFISTAS surgem exatamente nesse momento de


passagem da tirania e da oligarquia para a democracia. São
os mestres de retórica e oratória. Percorrem as cidades-
Estado fornecendo seus ensinamentos, sua técnica, suas
habilidades aos governantes e aos políticos em geral.
Há portanto uma paideia, um ensinamento, uma formação
pela qual os sofistas foram responsáveis, consistindo
basicamente numa determinada forma de preparação do
cidadão para a participação na vida política.

A concepção filosófica de Sócrates pode ser


caracterizada como um método de análise conceitual. Isso
pode ser ilustrado pela célebre questão socrática “o que
é…?” – encontrada em todos esses diálogos –, através da
qual se busca a definição de uma determinada coisa,
geralmente uma virtude ou qualidade moral.
O método socrático envolve um questionamento do senso
comum, das crenças e opiniões que temos, consideradas
vagas, imprecisas, derivadas de nossa experiência, e
portanto parciais, incompletas, o que se reflete nos
exemplos dados. O entendimento prático, intuitivo,
imediato se revela inadequado.
O método socrático revela a fragilidade desse
entendimento e aponta para a necessidade e a
possibilidade de aperfeiçoá-lo através da reflexão. Ou
seja, partindo de um entendimento já existente, ir além
dele em busca de algo mais perfeito, mais completo.
PENSAMENTO se gera através de sucessivos graus de
abstração.
REFLEXÃO é um exercício intelectual em que a razão
humana deve descobrir aquilo que busca.
FILOSOFIA busca a verdade, o que implica se afastar da
doxa (opinião).

PLATÃO
QUESTÕES FILOSÓFICAS
1. A questão da possibilidade do conhecimento: é possível
conhecer a realidade, o mundo, tal qual ele é?
2. A questão do método: como é possível esse
conhecimento? Ou seja, como se justifica uma
determinada pretensão ao conhecimento como legítima,
verdadeira?
3. A questão dos instrumentos do conhecimento: os
sentidos e a razão.
4. A questão do objeto do conhecimento: o mundo material
ou a realidade superior, de natureza inteligível, a realidade
mutável e perecível ou a essência eterna e imutável?
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Epistemologia: o papel crítico da filosofia.
A principal tarefa da filosofia seria estabelecer como
podemos avaliar determinadas pretensões ao
conhecimento.
A filosofia adquire então uma função de análise crítica dos
fundamentos, do discurso legitimador.
O conhecimento pode ser caracterizado como a posse de
uma representação correta do real.
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OUTRAS QUESTÕES FILOSÓFICAS
— O que significa a democracia?
— Qual o estatuto civil da religião?
— O que significa ensinar?
— Qual o valor da arte?
— Como se definem as virtudes?
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PRA QUE SERVE DA FILOSOFIA?
PROFESSOR MAURÍCIO MARSOLA (UNIFESP)
https://www.youtube.com/watch?v=1yuL7jcxMzg
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A obra de Platão se caracteriza como a síntese de uma
preocupação com a ciência (o conhecimento verdadeiro e
legítimo), com a moral e a política.
Sua conclusão é que o conhecimento em seu sentido mais
elevado identifica-se com a visão do Bem.
OPINIÃO X VERDADE
DESEJO X RAZÃO
INTERESSE PARTICULAR X INTERESSE UNIVERSAL
SENSO COMUM X FILOSOFIA
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A filosofia não deve apenas dizer e afirmar, mas
preocupar-se em chegar à verdade, à certeza, à clareza,
através da razão. Constitui um discurso que se funda na
legitimidade, que deve ser aceito por todos (tendo
portanto um caráter universal), que se impõe pela
argumentação racional, que produz um consenso legítimo,
que se opõe à violência do poder e à ilusão e mistificação
ideológicas que caracterizariam o discurso dos sofistas.
A filosofia, segundo o modelo platônico, vai ser esse
discurso legítimo que se instaura como juiz, como critério
de validade de todos os discursos.

DUALISMO PLATÔNICO: O MUNDO INTELIGÍVEL


(MUNDO DAS IDEIAS) E O MUNDO SENSÍVEL
(MUNDO MATERIAL).

A filosofia visa expor e denunciar a fragilidade, a ausência


de fundamento, o caráter de aparência das opiniões e
preconceitos dos homens habitualmente em seu senso
comum. Visa, portanto, superar esses obstáculos, fazer
com que o interlocutor tenha consciência disso.
O diálogo é a forma pela qual tal consenso pode se
estabelecer.
A Escola de Atenas (PLATÃO E ARISTÓTELES) é uma
das mais famosas pinturas do renascentista italiano
Rafael e representa a Academia de Atenas. Foi pintada
entre 1509 e 1510 na Stanza della Segnatura sob
encomenda do Vaticano.
ARISTÓTELES
Discípulo de Platão, Aristóteles rompe com esses

ensinamentos após a morte do mestre e elabora o seu

próprio sistema filosófico a partir de uma crítica ao

pensamento de Platão, sobretudo à teoria das ideias.

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Metafísica, sua principal obra filosófica.

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O ponto central da crítica de Aristóteles a Platão consiste

na rejeição do dualismo (o mundo inteligível, ou das ideias,

e o mundo sensível, ou material).

PARA ARISTÓTELES, A REALIDADE É SUBSTÂNCIA

INDIVIDUAL.

A realidade é composta por um conjunto de indivíduos

materiais concretos. Os indivíduos são, por sua vez,

compostos de matéria (hyle) e forma (eidos).

A matéria é o princípio de individuação e a forma a maneira

como, em cada indivíduo, a matéria se organiza. Assim,

todos os indivíduos de uma mesma espécie possuem a

mesma forma, mas difeririam do ponto de vista da matéria,


já que se trata de indivíduos diferentes. É como se, de

certo modo, Aristóteles jogasse o dualismo platônico para

dentro do indivíduo, da substância individual.

...

Matéria e forma são entretanto indissociáveis,

constituindo uma unidade (o sentido literal de “indivíduo”):

a matéria só existe na medida em que possui uma

determinada forma, a forma por sua vez é sempre forma

de um objeto material concreto.

...

Não existem formas ou ideias puras como no mundo

inteligível platônico. É o intelecto humano que, pela

abstração, separa matéria de forma no processo de

conhecimento da realidade, relacionando os objetos que

possuem a mesma forma e fazendo abstração de sua

matéria, de suas características particulares. Tipos

gerais, gêneros e espécies (animal, mamífero etc.) só

existem como resultado deste processo de abstração a

partir da forma de cada um desses objetos concretos.


...

Assim, o cavalo não existe, o que existe é este cavalo,

aquele cavalo etc. O cavalo, enquanto tipo geral, é apenas

resultado desse processo de abstração que identifica e

separa a forma do cavalo em cada cavalo individual. As

formas ou ideias não existem em um mundo inteligível,

independente do mundo dos objetos individuais.

....

CATEGORIAS DA FILOSOFIA DE ARISTÓTELES

1. Essência e acidente.

As características da substância individual: a essência é

aquilo que faz com que a coisa seja o que é, a unidade que

serve de suporte aos predicados, “aquilo que subjaz”. Os

acidentes são as características mutáveis e variáveis da

coisa, que explicam portanto a mudança, sem que isso

afete sua natureza essencial, que é estável. P.ex., a

distinção entre “Sócrates é um ser humano”, o que designa

sua essência, e “Sócrates é calvo”, o que descreve uma

característica acidental: Sócrates não foi sempre calvo.


2. Necessidade e contingência. É correlata à distinção

entre essência e acidente. As características essenciais

são necessárias, ou seja, a coisa não pode deixar de tê-las,

caso contrário deixaria de ser o que é, ao passo que as

contingentes são os aspectos variáveis e mutáveis.

3. Ato e potência. Essas categorias explicam a mudança e

a transformação. A semente é, em ato, semente, mas

contém em potência a árvore. A árvore é árvore em ato,

mas em potência pode ser lenha.

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Teoria das Quatro Causas

1. Causa formal. Trata-se da forma ou modelo que faz com

que a coisa seja o que é. É a resposta à questão: o que é x?

2. Causa material. É o elemento constituinte da coisa, a

matéria de que é feita. Responde à questão: de que é feito

x?
3. Causa eficiente. Consiste na fonte primária da mudança,

o agente da transformação da coisa. Responde à questão:

por que x é x?, ou o que fez com que x viesse a ser x?

4. Causa final. Trata-se do objetivo, propósito, finalidade

da coisa. Responde à questão: para que x? A visão

aristotélica é fortemente teleológica (do grego telos,

finalidade), isto é, supõe que tudo na realidade possui uma

finalidade. A natureza apresenta uma regularidade, uma

ordem, e isso não pode ser obra do acaso: deve existir um

propósito.

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