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1. A existência de Deus
Estabelece-se, portanto, graus do ser: existir, viver e compreender. Com isso, impõe-se
uma pergunta: qual é o superior? Evidentemente, o que entende é superior aos outros, porque é
como que se colocasse um princípio de integração, ou seja, é superior aquele que inclui e
pressupõe todos os outros anteriores, e este é o ser humano, que além de entender, vive e é.
Além do mais, Agostinho procura mostrar no texto também que, além dos graus do ser, que
mostram uma hierarquia presente no mundo de acordo com o grau de perfeição e da atividade
realizada, existem diferentes níveis de conhecimento.
2.1. Sentidos externos
Para se estabelecer esses graus, o Santo parte da dimensão externa e diz que o corpo tem
cinco sentidos externos, que captam qualidades das coisas e suas formas: a visão apreende a
cor; o tato capta o formato etc. Igualmente importante é mencionar que cada um desses sentidos
tem o seu próprio modo de ser e funcionar, apesar de poderem agir sobre a mesma realidade
material. O paladar pode sentir o sabor de uma refeição saborosa, o olfato sentir o seu cheiro,
e, ainda assim, a comida ser a mesma, por exemplo.
2.3. Razão
Mas ainda há algo a mais: é necessário admitir que existe ainda a instância do conhecimento
racional. E é assim porque o homem não só apreende qualidades e formas e as compara entre
si, mas também compreende todo este processo. O ser humano, por exemplo, tem plena
compreensão que os ouvidos não veem cores e os olhos não veem sons e não os podem sentir.
Sendo assim, concebendo a realidade dos sentidos externos, internos e o exercício racional,
impõe-se novamente a mesma pergunta já feita: dentre estes graus de conhecimento, qual seria
o superior? Nesse caso, porém, não se pode aplicar novamente o princípio da integração: se há
o entendimento, necessariamente há algo anterior e em um nível mais baixo (se algo entende, é
porque vive e existe).
O sentido interno é superior aos externos, e, apesar de tudo, ambos estão no mesmo nível
de conhecimento, que é o sensível. A razão da superioridade nestas questões há de ser buscada
a partir de outro princípio, não o da integração, mas o de regulação: o sentido externo em sua
atividade depende totalmente do interno, e, por isso, é inferior, e é assim porque nada daquilo
que é julgado é melhor do que aquele que julga. Assim posto, como a razão compreende todo
esse processo, é fácil ver que ela julga o sentido interno, e, portanto, é o grau supremo do
conhecimento e está ligada a alma do ser humano.
3. Desfecho
Esta é a primeira etapa do argumento agostiniano que se encontra no livro II da obra livre-
arbítrio. O ser humano, portanto, realiza um processo de ascensão a Deus, e, conforme atinge
a consciência clara da razão, aproxima-se mais do Criador. Mas neste momento do diálogo
aparece uma outra questão entre Santo Agostinho e seu interlocutor: há ou não algo superior à
razão?
Desta forma, a segunda etapa do argumento será a de mostrar a resposta para esta questão.
No entanto, ainda na problemática sobre a existência de Deus, bastaria demonstrar isso para
concluir que Ele existe ou não? Esta indagação, pois, será vista na próxima exposição.