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1. Introdução
Nesta aula será exposto de forma simples o que se entende por Teologia Moral e a
importância de Santo Afonso Maria de Ligório no contexto da moral cristã e católica.
Inicialmente, será visto o projeto de Deus na criação do ser humano. Quando se lê o livro
do Gênesis é possível ver que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Mas em que
o ser humano é semelhante a Deus, seu Criador? Pode-se resumir em três palavras, em três
momentos importantes.
2. Imagem e semelhança
Deus cria o ser humano dotando-o de razão. O ser humano é o único ser vivo que é capaz
de saber que existe, é capaz de olhar para si mesmo no espelho e ter consciência de sua
existência, de sua realidade; a razão como atividade intelectiva do ser humano que o capacita
a se projetar não somente em si mesmo, mas se projetar para a realidade que o cerca, dá ao
homem a capacidade de raciocinar; é capaz, portanto, de arbítrio. Não é como os outros seres
vivos que simplesmente reagem ao estimulo que está inscrito em sua natureza; os homens
possuem o pensamento criativo, possuem o raciocínio que se aplica a si próprios e à realidade
que os cercam e que é capaz de se projetar em futuro. A inteligência, a racionalidade é
característica do ser humano e é um dos elementos que o dignificam. O homem irracional, que
perde a sua razão de alguma maneira adultera a finalidade de seu próprio ser.
O segundo elemento correspondente à semelhança e imagem de Deus no ser humano é a
vontade. A vontade é uma capacidade, que também somente o ser humano possui, de decidir
iluminado pelo raciocínio; este raciocínio move a vontade humana para fazer ou deixar de
fazer, para agir ou não agir. O ser animal, ou seja, o ser irracional age pelo instinto. Num
exemplo simples e banal: se for colocado um pedaço de carne em frente à um animal faminto,
a sua reação, guiada pelo instinto, será a de devorá-lo; agora, colocado o pedaço de carne em
frente a um ser humano, as reações serão diferentes; o homem que costuma seguir seus
impulsos naturais simplesmente pegará tal pedaço e o devorará, porém, o homem racional que
está acima do peso normal e tem consciência deste fato, sabe que precisa emagrecer para
cuidar de sua saúde; irá raciocinar sobre tudo isso, olhará aquele pedaço de carne que o faz
salivar – sinal de seus instintos naturais – e este raciocínio moverá a sua vontade para
renunciar ao pedaço de carne. É isto que distingue o ser humano do resto dos animais:
raciocínio e vontade.
Se estas duas realidades - razão e vontade - estão presentes no ser humano, a sua junção
leva a uma terceira realidade que faz parte da imagem e semelhança de Deus trazida pelo
homem como criatura criada por Ele. A razão e a vontade geram a liberdade.
O ser humano completo, maduro, é aquele que analisa sua vida pelo raciocínio, influencia
a sua vontade iluminada pelos valores da razão e decide de acordo com estes mesmos valores.
A verdadeira definição de liberdade não é a simples realização de qualquer capricho, qualquer
vontade banal, mas é fazer aquilo que faz o homem ser mais verdadeiro, mais coerente com o
seu próprio ser e com a finalidade de sua existência.
Nestes três elementos, trabalha-se no campo no qual a linguagem teológica chama de
Teologia Moral. A Teologia Moral é a ciência que, iluminada pela Fé, busca os princípios do
agir reto. A Fé faz o homem perceber na revelação de Deus, em primeiro lugar, a Lei Natural,
a consciência. A consciência é, como o Concílio Vaticano II chama, no documento Gaudium
et spes, o mais íntimo santuário do ser humano onde apenas Deus pode penetrar até o fundo.
Neste santuário íntimo, que é a consciência, através de sua racionalidade, o homem descobre e
percebe os mandamentos e a orientação de Deus que iluminam o reto agir, e que condicionam
a vontade para agir na verdadeira liberdade. É para ser livre que Cristo libertou a humanidade;
para agir coerentemente com a vontade de Deus e com o sentido de sua existência.
5. Conclusão
O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, ou seja, dotado de razão, de
arbítrio e de liberdade. Dentre todas as criaturas corpóreas somente o homem é capaz de
raciocinar, de ter vontade e de ser livre.
Tem-se a comum noção errônea de que os mandamentos são tão somente impositivos,
restritivos, ou seja, proíbe o homem de fazer aquilo que deseja. Ora, se é dito “não matarás”,
significa que o dever é respeitar o próximo; se é dito “não cometerás adultério”, significa que
o dever é ser fiel ao parceiro, entre outros exemplos que mostram o lado positivo das Leis,
pois, com efeito, a Lei existe para a liberdade do homem.
Pois bem, o papel da Teologia Moral é facilitar o caminho diário à liberdade.
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[1]“Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm
sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são
indesculpáveis”.– Romanos 1, 20.